Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
A semana foi ensolarada e Dulce e Chris estabeleceram rapidamente
uma rotina de encontros ao fim da tarde, quando ele saía do trabalho. Às
vezes, ela ligava para o setor de reclamações e inventava que tinha
mandado alguma coisa maluca que não tinha chegado.
Ela também se
divertia com as histórias que ele contava, como a mulher que tentou
mandar uma cobra por Sedex para um desafeto, ou o sujeito que tentou
mandar a si mesmo dentro de uma caixa com água e sanduíches.
Também foi uma semana corrida, pois no sábado seria o aniversário
de Dulce e a festa precisava ser preparada. Dulce convidou cerca de 20
pessoas de sua escola e esperava que eles aparecessem. Chamou um DJ e
lhe passou a lista do que ela gostaria que tocasse.
A lista incluía Nirvana,
Metallica, The Smiths, Aerosmith, Ramones, Raul Seixas, Skank e Mamonas
Assassinas, que ela considerava um clássico indispensável.
Além disso, era
permitido tocar qualquer coisa das décadas passadas, exceto os gêneros
proibidos na casa de Dulce, como funk, pagode do abandono (cantados
com voz anasalada lamentando a dor da amada que partiu, fugiu com outro,
foi embora, escafedeu-se), axé e sertanejo (universitário, C.A. ou ensino
fundamental). O DJ a olhou com as sobrancelhas cerradas e os lábios
repuxados.
– Aí, gata! A galera vai pedir pra tocar um pagode, um funk...
Dulce sorriu e se aproximou do rosto do sujeito com boné para trás.
– Amigo, preste bastante atenção. Existe um dispositivo no meu
cérebro que disparará ao som de qualquer um desses ritmos mencionados
como proibidos. Se você tocar algum deles na minha festa, eu pegarei sua
aparelhagem e jogarei por aquela janela ali.
Blanca quis cup cakes, mas considerando seu histórico em enfiar
bolinhos na cara de Chris, Dulce preferiu bolos inteiros, grandes e de
sabores diferentes, com um especialmente grande e bonito no meio pra
apagar as velinhas.
Bebidas não foram permitidas, pois a maioria era
menor de idade e Dulce não ligou, uma vez que ela mesma não fazia muita
questão. No sábado, seu tio Marcos trouxe uma máquina de fazer fumaça e
seu tio Marcel instalou lâmpadas coloridas.
A casa sofreu uma metamorfose
para receber os convidados e estavam todos animados com os preparos,
embora ela soubesse que sua família iria para o segundo andar para deixála
à vontade em sua própria festa.
Eles sabiam o quanto adolescentes
desprezam a presença dos pais em seus eventos, por mais que Dulce
também não compreendesse muito bem por que.
Quando a Lua chegou para seu turno da noite, Marcos flagrou Dulce
roendo as unhas recém-pintadas.
– Por que está nervosa?
– Não estou nervosa!
Ele riu e ela desmontou. Tio Marcos não era irmão de seu pai, ou de
sua mãe, mas um velho amigo de ambos. Tinha 38 anos, mas gostava de
caminhadas e escaladas, o que o tornou um quase quarentão muito sarado.
No entanto, quando abria a boca, parecia um garoto de 20 anos, sempre
pegando no pé de Fernando, irritando Marcel e fazendo piada com tudo.
Dulce o adorava e sempre se sentia mais feliz quando ele estava presente.
– Tá, eu tô nervosa... E se ninguém aparecer?
– Por que acha que ninguém vai aparecer?
– Porque eu nunca fui popular, e é sábado à noite, as pessoas têm
programas!
Ele olhou para o céu estrelado pela janela onde estavam.
– Se ninguém vier... Teremos que comer todos aqueles bolos e
salgadinhos sozinhos... Terei que entrar numa dieta depois. Então, acho
melhor alguém aparecer! – ele apontou para um carro estacionando.
– Olha lá! Alguém está chegando! Estamos salvos da obesidade
mórbida!
Dulce esticou o pescoço e reconheceu Chris quando ele saiu do carro.
Era um Passat velho, mas cuidadosamente limpo. Assim que saiu, ele a viu
na janela e acenou com um enorme sorriso.
– Nossa! Quantos dentes! Parabéns, Dulce! Você conseguiu ganhar
um sorriso com mais dentes do que é possível ter numa boca humana!
Chris caminhou rapidamente e eles se encontraram na varanda. Já
tinha música, mas não tinha ninguém, além de alguns adultos conversando
animadamente entre si.
– Cheguei cedo?
– Não, chegou na hora! – respondeu Dulce. – Se não aparecer mais
ninguém, você será minha testemunha de que essa casa estava lotada de
gente e que foi a melhor festa do mundo!
– Claro! Direi que tinha até gente caindo pela janela! – concordou
ele.
Dulce o apresentou aos dois tios, Marcel, primo de sua mãe, e
Marcos. Eles conversaram animadamente, até que mais pessoas
apareceram na porta. E, depois delas, mais pessoas começaram a chegar e,
quando menos se esperou, a casa de Dulce virou um lugar cheio de gente,
música, fumaça e luzes piscando.
Adriana, a Dri, chegou perto de Dulce com os olhos arregalados e
uma lata de refrigerante na mão. Yvy estava ao seu lado.
– Dulce!! Que festa maneira!!! Quem diria!!! A Cláudia ia morrer de
inveja! Agora, vem cá! Quem é aquele moreno maravilhoso que eu vi
passando na sua casa?
Dulce seguiu os olhos de Dri e Ivy e realmente viu um homem alto,
moreno, de cabelos ondulados brilhantes até os ombros, vestido
elegantemente numa camisa de seda e calça de grife pretos, passando com
um sorriso gentil e uma garrafa de refrigerante.
– É o meu pai!
As duas olharam atônitas para Dulce, que continuou sorrindo,
balançando o corpo no ritmo da música que tocava.
– Jura? – perguntou Ivy, incrédula. – Me apresenta?
– Não posso! – respondeu Dulce. – Minha mãe não deixa!
E foi então que a música se acalmou. O DJ tomou algumas liberdades
com a lista de Dulce, mas acrescentou coisas que não fariam com que a
garota jogasse seu equipamento janela afora. Uma balada em espanhol fez
com que alguns casais começassem a dançar juntinhos. Marcel diminuiu as
luzes e ligou a luz negra.
Chris chegou perto de Dulce com um sorriso e um convite para
dançar.– Olha! – disse ele. – Voltamos para os anos 80!
– Que bom! – respondeu Dulce, aceitando o convite para dançar. –
Vamos aproveitar e comprar as ações da Google!
Então eles ficaram em silêncio e se deixaram embalar ao som de Por
que te Vas. Dulce sentiu as mãos dele em sua cintura e olhou em seus
olhos. Seu coração batia mais forte e esperou que o mesmo estivesse
acontecendo com ele.
Ele estava com uma camisa branca de manga
comprida de seda e ela ficou acesa com o efeito da luz negra. Dulce
escolhera uma minissaia de cintura alta e franzida com renda sobreposta e
uma saia interna mais comprida que a saia em si.
A blusa era branca
também, um tomara-que caia que deixava os ombros e colo nus onde
brilhava um cordão de ouro com um solitário cristal swarovsky que
combinava com pequenos brincos do mesmo cristal. E ela também estava
de saltos. Os cabelos presos graciosamente para trás deixavam o rosto
livre, mas cascateavam pelas costas, roçando as mãos dele.
– Você está linda! – disse ele.
Ela corou e baixou os olhos. Ele continuava olhando para ela como
se não conseguisse desviar a atenção de seu rosto. Ele a puxou mais para si
e ela sentiu o calor do corpo dele. Chris se inclinou levemente e ela sentiu
com o coração aos pulos o beijo que chegava. Com a fumaça e as luzes
coloridas, sentiu-se novamente no mundo das fadas, flutuando com ele
num beijo eterno.
A porta se abriu e um burburinho chamou a atenção deles. Rapazes
de sua classe, do tipo que ela não convidaria – e não convidou – entraram
vestidos de... fadas.
Eles estavam com camisolas e asinhas, com varinhas de condão com
estrela na ponta e dançavam um balé desengonçado. Depois da surpresa
inicial, todos riram. Menos Dulce. Atrás deles, Cláudia entrou, vestida de
fada. De onde estava, viu Dulce e falou bem alto:
– Oi, Dul! O Chris me falou que você acredita em fadas, então resolvi te
fazer uma surpresa e encher sua festa com elas!
Tina entrou distribuindo asas de fadas de todas as cores para os
convidados, que aderiram à brincadeira. Dulce olhou para Chris que
gaguejou alguma coisa. Então ela se virou e saiu.
Ela foi até a biblioteca, lugar que foi considerado proibido para
qualquer um naquela festa, entrou e fechou a porta atrás de si, lutando
contra as lágrimas que subiam rapidamente. Alguém bateu na porta atrás
dela e ela vociferou um “Vai embora!” tão convincente que Marcos quase foi
mesmo. Assim que se identificou, porém, ela abriu a porta e o deixou
entrar.
– O que foi?
– Estão rindo de mim!
– Estão? Achei que estavam rindo com você! Claro que pra isso é
preciso que você ria, o que não está acontecendo.
– Olha, tio Marcos, é uma longa história, mas, num resumo da ópera,
aquela piriguete safada que entrou agora não foi convidada e acabei de
descobrir que Chris contou um segredo meu pra ela!
– Que você acredita em fadas? E isso era segredo? Por que eu
acredito também e nunca pedi segredo de ninguém.
– Você acredita?
– Claro! Por que não acreditaria? Há inúmeros relatos de portais
para o reino delas e sobre pessoas que foram até lá! Muito interessante, um
dia eu te mostro meus livros! Mas, no momento, há uma festa maneiríssima
acontecendo lá fora e você está aqui dentro, o que me parece muito errado!
Dulce respirou fundo, secando com cuidado os vestígios das
lágrimas que quase caíram. Não podia dar o gostinho à Cláudia de ter
conseguido expulsá-la da própria festa. Empertigou-se e saiu.
– Isso aí, garota! Vai lá e arrebenta!
Dulce atravessou a sala onde as asas de borboleta deram um
colorido divertido à festa. Caminhou até Tina e com o sorriso mais falso que
conseguiu abrir, escolheu um par de asas.
– Tina e Cláudia, que ideia maravilhosa vocês tiveram! – disse,
enquanto vestia as asas, que aliás, lhe caíram muito bem.
– Mas não vá querer sair voando por aí, né, querida? – disse Cláudia.
Chris chegou nesse exato momento, tentando falar com Dulce, mas
foi Cláudia quem falou.
– Chris, querido! Tem uma festa super legal numa boate aqui perto,
que tal irmos pra lá?
– Tá, Cláudia, senta lá! – respondeu ele em tom ríspido.
Puxou Dulce para longe delas.
– Dulce, me desculpe!
A moça cruzou os braços e não respondeu.
– Ela disse que era sua amiga há muito tempo e que poderia ajudar!
Achei que se contasse a ela, ela poderia me ajudar a...
Ele parou, como se tivesse falado demais.
– A quê?
– A me aproximar de você – completou ele, deixando os ombros
caírem.
– Pensei que achasse que eu era maluca...
E nesse momento, num timing no mínimo esquisito, começou a tocar
uma versão animada de “Você é Doida Demais”. Eles olharam para o DJ e
encontraram tio Marcos no seu lugar, todo animado de óculos escuros,
tocando o que lhe dava na telha e usando uma linda asa de fada púrpura.
– Na verdade, achei... – respondeu Chris. – Mas alguma coisa me atrai
para você de tal maneira que eu começo a pensar que o doido sou eu!
Dulce tentou segurar o riso, mas não conseguiu. Ela começou a rir e
ele a abraçou. Cláudia soltou um grunhido e bateu os pés, saindo
irritadíssima dali. Tina foi atrás dela, embora estivesse começando a gostar
daquela festa estranha. Então, Dulce o puxou para o meio da casa e se
juntaram à dança de outras cinquenta fadas ao som de Você é Doida
Demais, que emendou em Dee-Lite, “Vamos Quebrar Tudo”, “I Like to
Move” e outras músicas estranhas do igualmente estranho tio Marcos.
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Autor(a): vondynatica
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Se Cláudia soubesse os resultados de suas tramoias, teria ficado em casa lavando o cabelo. Quando Dulce chegou na escola na segunda-feira, espantou-se em ser cumprimentada entusiasticamente por...todo mundo! Mesmo pessoas que ela não fazia ideia de quem eram sabiam seu nome e sorriam quando ela passava. O fato é que sua festa tinha si ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA