Fanfics Brasil - Capítulo 10 - Que As Verdades Sejam Ditas O Trono Sem Rei

Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada


Capítulo: Capítulo 10 - Que As Verdades Sejam Ditas

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Fernando deu entrada no hospital com muito sangue escorrendo pelo

rosto e vários ferimentos de arranhões profundos por todo o corpo, o que o

tornava uma visão assustadora. Enquanto Marcos e Marcel o apoiavam,

levando-o pelos corredores, Blanca e Dulce corriam na frente, pedindo um

médico, uma maca, qualquer coisa.

 

O socorro logo veio. Fernando foi colocado numa maca, os olhos ainda

arregalados. Dulce ainda tentou perguntar mais uma vez.

 

– Pai! Onde está Chris?

 

Fernando a olhou com olhos sentidos e seus lábios se abriram, mas

nenhum som saiu. Os médicos afastaram Dulce e levaram a maca para

dentro de corredores brancos.

 

Cerca de uma hora depois, um médico muito jovem apareceu para

informar a família da situação.

 

– Seu marido vai ficar bem, mas nós ficamos confusos com os

ferimentos – disse o médico. – O que aconteceu exatamente?

 

Todos eles se entreolharam. Não tinham a menor ideia do que tinha

acontecido. De repente, Fernando apareceu vindo da mata todo

ensanguentado, o rosto apavorado, parecendo que estava fugindo do diabo

em pessoa.

 

– Achamos que ele caiu... – respondeu insegura Blanca, já que

ninguém falava nada.

 

O médico pareceu hesitar.

 

– Tem certeza?

 

Como ninguém respondesse, o médico continuou.

 

– Nesse caso, acho melhor pedir umas chapas. A princípio, o

sangramento está controlado e ele precisará tomar alguns antiinflamatórios.

 

– Ele está acordado?

 

– Sim, já podem vê-lo!

 

A família entrou no pequeno quarto onde Fernando estava. Ele estava

sentado na cama, os dois braços enfaixados e uma bandagem na cabeça.

 

Repararam que seu olho estava roxo, e agora entendiam a estranheza do

médico. Fernando não parecia ter caído. Parecia ter sido atacado.

 

– Fernando, o que aconteceu? – perguntou Blanca.

 

– Se alguém atacou vocês dois, temos que falar com a polícia! – disse

Marcel.

 

Apenas nesse momento Fernando pareceu voltar para o presente. Até

então, seus olhos pareciam fitar alguma coisa invisível e aterradora. Ele

levantou a cabeça e olhou para as pessoas diante dele com uma expressão

de urgência.

 

– Temos que sair daqui – disse.

 

Então ele se levantou e procurou suas roupas, agora farrapos em

frangalhos manchados de sangue. Blanca e Dulce tentaram impedi-lo, mas

sabiam que seria inútil, conhecendo Fernando Grandier como conheciam.

 

Marcel nem se deu ao trabalho. Marcos desistiu também, vendo que ele

sairia dali de qualquer jeito e lhe emprestou sua camisa, ficando apenas

com a camiseta que usava por baixo. Blanca o ajudou a colocar os sapatos e

saíram dali o mais rápido que puderam.

 

A viagem de carro até em casa foi rápida e cheia de perguntas e

conjecturas em tom de desespero, mas Fernando não respondeu a nada.

Continuava a olhar em volta, como se algo pudesse estar em seu encalço.

 

Em apenas quinze minutos já estavam diante do portão da garagem. Dulce

insistiu em perguntar novamente o que tinha acontecido com Chris. Ela

estava se esforçando muito para não ter um ataque de choro, imaginando

que coisa terrível poderia ter apavorado tanto seu pai e porque ele não

dizia o que tinha acontecido a Chris.

 

Ela tinha motivos para se apavorar. Fernando Grandier não era só um

homem bonito, mas alto e imponente. Não era nenhum halterofilista, mas

não era alguém que fugia de um confronto. 

 

Dulce já presenciara algumas

vezes seu pai enfrentando homens em maior número e bem mais fortes e

vencendo-os simplesmente com seu olhar e sua presença. Sim, ele tinha

aquele olhar de quem vai avançar no seu pescoço e apertá-lo até você

morrer, se não se comportar. Fernando não tinha medo de nada.

 

Sem olhar nos olhos da filha, Fernando saiu do carro e manquitolou até

a casa. Entrou e foi direto para a geladeira, ignorando Cacau que latia feito

uma louca, como sempre fazia quando alguém chegava em casa. Eles

acharam que ele ia pegar água, mas pegou uma garrafa de vinho seco e

encheu um copo.

 

– Você não deveria beber isso por causa dos remé... Ah, deixa pra lá!

 

– Marcel desistiu assim que percebeu que o outro nem o estava ouvindo.

 

Bebeu quase tudo de um gole só e puderam ver que suas mãos

tremiam. Então foi para a sala e se sentou num sofá único, olhando em volta

como se procurasse uma solução. Os outros foram até lá.

 

– Fernando... – disse Marcel, que estava com sérias dificuldades para

não entrar em pânico, apesar dos esforços. – Eu acho que você já sabe, mas

nós estamos ficando um pouco apavorados e a cada minuto que você fica

em silêncio, piores ficam os cenários que surgem em nossas cabeças! Então,

pelo amor de Deus... Onde está o garoto?

 

Fernando ergueu os olhos para ele, sem responder. Cacau parou de

latir e correu atrás de alguma coisa debaixo de uma estante do outro lado

da sala, provavelmente um dos vários brinquedinhos de cachorro que

viviam espalhados pela casa.

 

– Pai... – Dulce sentiu a voz tremer e segurou as lágrimas. – Ele está

bem? Só me diga isso, por favor!

 

Fernando olhou para a filha e viu sua dor. Não sabia como ia dizer

aquilo.

 

– Nós fomos atacados... – disse por fim, a voz rouca e tensa.

 

– Então temos que ir à polícia! – disse Marcel. De certa forma, todos

esperavam algo assim, e o fato de Fernando ainda parecer em choque só os

apavorava em imaginar a natureza ou brutalidade desse ataque – Aos

bombeiros! Qualquer um, esse menino ainda está nas mãos deles! Você

pode fazer um retrato falado e...

 

– Não eram homens! – interrompeu Fernando.

 

A sala mergulhou em silêncio e Fernando concluiu seu relato.

 

– Eram demônios...

 

Eles tinham dado o segundo passo para fora daquela estranha

clareira. Fernando ainda sentia calafrios e o vento subitamente se agitou,

fazendo as árvores farfalharem. Ele se lembra de ter olhado para as copas

que se moviam em ondas verdes, sem emitir nenhum som. Tudo estava em

silêncio, como se o mundo tivesse parado de repente.

 

 Lembrou de ter

apertado um pouco o rapaz em seu abraço protetor, como se pressentisse o

que ia acontecer.

 

E foi quando o garoto caiu num movimento rápido. Fernando não teve

tempo de segurá-lo, mas assim que olhou para ele, viu que ele não tinha

caído, mas sido puxado pelas pernas por um ser monstruoso. Tinha cerca

de um metro e meio e a pele cinzenta. Não tinha cabelos e as orelhas eram

pontudas. A boca sem lábios estava aberta numa carranca, mostrando

dentes afiados e disformes.

 

 A criatura usava trapos e peles de animais

como roupas e suas mãos e pés eram muito maiores do que deveriam. A

coisa puxou o garoto para trás e Fernando tentou ir atrás dele depois dos

primeiros três segundos de choque.

 

Porém, assim que deu o primeiro passo e segurou as mãos de Chris,

dois outros seres saltaram em cima dele, forçando-o de costas no chão.

Deitado, Fernando viu suas bocarras escancaradas em gritos e gargalhadas.

 

Outra criatura surgiu diante dele com um pedaço de tronco e bateu em seu

rosto. Ele viu tudo escurecer, mas sabia que se não reagisse, seria o fim

para ele e o garoto. Usou seus pés para chutar a criatura que o agredia e

teve que usar toda a sua força para se soltar dos dois que o prendiam ao

chão. 

 

Levantou-se e viu que Chris tinha se agarrado a um galho e tentava

chutar a criatura que ainda o puxava. Fernando correu e em três passos largos

alcançou a criatura. Chutou-a na cara e sua boca se encheu de sangue, ou

algo assim, pois era uma espécie de fluido viscoso negro. A criatura soltou o

rapaz e avançou contra Fernando.

 

Ele ouviu o som de asas batendo, como uma revoada de morcegos

muito grandes e então uma dezena deles estavam ali. Eram diferentes uns

dos outros, disformes, monstruosos, e todos começaram a atacar Fernando.

Chris pegou um pedaço de tronco do chão e começou a atacá-los, mas logo

outras criaturas estavam em cima dele também.

 

Fernando tentou se defender, mas eram muitos. Gritou várias vezes,

hora de dor com os cortes que recebia de garras e dentes afiados, hora

chamando por ajuda. Quando conseguiu se desvencilhar dos seres que o

atacavam, viu que todos estavam passando por um buraco dentro de uma

enorme árvore velha. E, junto com eles, estavam arrastando Chris, que

resistia agarrando-se a tudo que pudesse no caminho.

 

O homem reuniu as forças que tinha e, ignorando a dor, correu e

saltou no chão, agarrando a mão do rapaz. Ele começou a ser arrastado

junto e agarrou-se a uma moita que tinha espinhos. Trincou os dentes e

segurou-se, sem soltar a mão do rapaz. 

 

A mão que segurava a moita

espinhenta se encheu de sangue e começou a escorregar. Fernando sentiu que

não ia conseguir se segurar. Percebeu que o garoto também vira isso. Viu

seus olhos cheios de lágrimas, e então Chris o soltou.

 

Fernando gritou e correu, seguindo a algazarra de gargalhadas que

abafavam o grito do rapaz. Foi até a grande fenda na árvore centenária e

gritou seu nome várias vezes, mas não houve resposta.

 

Quando ele terminou de falar, ainda olhava para a própria mão

enfaixada. Deveria ter segurado com mais força... E o garoto não deveria ter

largado...

 

– Ele não devia ter soltado a minha mão... – murmurou.

 

– É, e agora nós estaríamos desesperados abrindo picada no meio do

mato procurando vocês dois! – respondeu Marcos, andando pela sala.

 

Blanca se sentou, perplexa. Marcel ficou parado, como se ainda

tentasse assimilar o que ouvira.

 

– Pai, não eram demônios... – disse Dulce, sentindo que também

estava meio trêmula.

 

Eles olharam para ela, esperando o resto da explicação.

 

– Eram trolls!

 

A sala ficou em silêncio e o único ruído ouvido foram os ganidos de

Cacau que não conseguia alcançar alguma coisa embaixo da estante.

 

– O quê? – perguntou Marcel.

 

– Trolls! São seres do mundo das fadas, às vezes se unem na Corte

Unseelil! Eu já os vi antes!

 

– Como? Quando? – Fernando nem sabia por onde começar.

 

Dulce então respirou fundo. Não podia mais esconder. Era a hora

de contar a sua história do outro mundo.

 

– Quando Anahí sumiu, eu fui procurá-la no mundo das fadas. Eu

recebi a ajuda de um anjo que me guiou lá por todo o caminho. Esse anjo

era o Chris. Nós passamos por um monte de coisas, e achamos Anahí, mas

ela ia casar com um elfo antipático bonitão e não quis voltar. E os trolls...

Bem, os trolls mataram o Chris!

 

Estavam todos de olhos arregalados olhando para ela. Ninguém

falou nada.

 

– O quê? – perguntou de novo Marcel, que começava a achar que

estava com algum tipo de filtro bizarro no cérebro, pois toda história que

ouvia parecia um filme surreal.

 

Dulce saiu e pegou um caderno numa gaveta numa estante. Abriu

numa página.

 

– Eu voltei sabendo desenhar! Eu nunca desenhei! Nem casinha! E

olha, esse aqui é o Chris!

 

– Nossa! Ficou bom! Você usou foto? – perguntou Marcos, perdendo

um pouco o foco do assunto.

 

– Olhe a data, tio Marcos! Esse desenho é de meses atrás. Eu o

conheci há algumas semanas! E, pai, veja se não eram assim as criaturas

que atacaram vocês!

 

Dulce mostrou vários monstros à lápis em seu caderno e Fernando

arregalou os olhos, confirmando com a cabeça.

 

– Mas você disse que os trolls mataram Chris... – disse Blanca,

tentando entender aquela história contada às pressas.

Dulce perdeu o entusiasmo de falar e sua boca ficou subitamente

amarga.– É... mataram...

 

– Então... Quem é esse que andou comendo com a gente esse tempo

todo? – continuou Blanca.

 

Dulce jogou os braços para o ar.

 

– Eu não sei! Eu achei que era ele, porque ele é igualzinho, olhem os

desenhos! Mas ele não acredita em nada disso! Fadas, anjos, O Segredo, é

tudo bobagem pra ele. E ele parece ter um passado, então... Sinceramente,

eu não sei se ele é o anjo Christopher que eu conheci e amei... Ou alguém

parecido por quem me apaixonei...

 

– Espere um momento... – disse Fernando. – Quando tudo isso

aconteceu? Acho que eu teria notado seu desaparecimento durante alguns

dias...

 

– Vocês não notaram porque o tempo lá flui diferente – explicou

Dulce. A história era bem mais complicada que isso, mas ela não tinha

tempo para detalhes.

 

Eles ficaram em silêncio. Era preciso tempo para digerir aquela

história. Principalmente a parte em que sua filha adolescente estava

apaixonada por alguém que foi assassinado num outro mundo e

sequestrado nesse.

 

– Desculpe, eu não acredito em nada disso – disse Marcel, com os

braços cruzados.

 

– Porque você é um chato cético! – retrucou Marcos. – Como pode

não acreditar nela depois do que todos nós passamos?

 

– Aquilo foi diferente! – alterou-se Marcel.

 

– Calem-se, vocês dois! – gritou Blanca.

 

E Dulce continuava ali, olhando-os como se cobrasse impostos

atrasados.

 

– O que aconteceu afinal?

 

Ninguém respondeu. Apenas trocaram olhares de cumplicidade.

Dulce cruzou os braços e respirou fundo, impaciente.

 

– Acho que já é hora de vocês me contarem esse segredo, seja lá o

que for!

 

Há 18 anos, Marcos, Marcel e Blanca eram simples universitários.

Marcos tinha assistido a uma palestra de psicobiofísica sobre portais

dimensionais e os convidou para irem a um desses portais, localizado em

Cachoeira de Macacú. E eles foram.

 

Para sua surpresa, eles realmente atravessaram um portal, mas ele

não foi para o reino das fadas. Foi para o passado. Nas conjecturas em

muitas conversas durante os anos seguintes ao fato, acreditaram que só

foram parar em Loudun, uma cidade francesa, em pleno século XVII, porque

todos estavam de certa forma com aquele lugar na cabeça, pois todos

estavam lendo o mesmo livro que contava um caso de Inquisição

acontecido naquele lugar.

 

Tudo o que precisavam era encontrar um jeito de voltar para seu

próprio tempo, mas enquanto tentavam fazer isso, cruzaram com a história

de um jovem padre condenado por bruxaria. 

 

O padre era um mulherengo

incorrigível e, apesar de ter muitos amigos influentes, também tinha

inimigos ferrenhos. Numa conspiração cruel, seus inimigos conseguiram

acusá-lo de bruxaria. Naquele tempo, uma acusação era o bastante para um

interrogatório.

 

O padre foi preso, torturado e humilhado e teria sido morto de

maneira horrível se eles não tivessem interferido. Eles lutaram com

espadas, tacaram fogo na cidade, invadiram uma festa no covil dos inimigos

e viveram a aventura de uma vida numa distante cidade francesa em 1634.

 

– E foi assim que conheci seu pai – concluiu Blanca.

 

Dulce estava de queixo caído. E ela que achava que sua história era

inacreditável...

 

 


 

 


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Autor(a): vondynatica

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    Já tinham terminado a história – resumida por questão de urgência – há vários segundos. Talvez minutos. Dulce continuava de pé olhando para eles, a boca aberta, os olhos arregalados. Em sua cabeça, algumas peças começavam a se juntar.   – Então meu pai era ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 8



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  • vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26

    Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada

  • vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31

    Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada

  • kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13

    Continua!!!!

  • kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14

    CONTINUA


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