Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
O plano era simples. Iriam até o portal, chegariam ao mundo das
fadas, resgatariam Chris e voltariam pra casa antes do jantar. Era o que
ficavam se repetindo no caminho, como se a simplicidade do plano
acalmasse suas almas.
Porém, conforme se aproximavam do lugar, as
palavras foram rareando. Marcos estava empolgado, mas em dado
momento, mesmo ele aderiu ao silêncio que revelava que, na verdade,
estavam todos preocupados.
Deixaram o carro num estacionamento 24 horas e Fernando pagou
adiantado por uma semana. Se ainda não tivessem voltado nesse período,
Joana fora instruída a buscar o Citröen prata e levá-lo para casa. Claro que
ela estranhou o pedido.
E foi quando pressionou o genro e a filha a lhe
contarem a verdade. E eles contaram.
O fato é que Joana já sabia do passado surreal dos quatro amigos e
ouvir que estavam indo para outra dimensão não chegava a ser assim uma
grande surpresa. Mesmo assim, ela se preocupou.
– Vou rezar por vocês – disse ela.
Fernando a abraçou. Gostava demais daquela senhora que o recebera
em sua família como um filho, apesar de seu passado. Não contaram tudo à
Dulce. Por pressa, urgência ou desespero, não contaram a ela que seu pai
fizera muitas coisas ruins, coisas das quais se arrependia até hoje.
Saíram do carro com suas mochilas e iniciaram sua caminhada pela
floresta escura. Passo após passo, o peso daquela decisão começava a se
apresentar em suas feições.
Fernando demonstrava uma incrível resistência,
não parecendo que na manhã daquele mesmo dia estivesse no hospital
sendo remendado. Na verdade, ele estava sendo movido a analgésicos e
adrenalina. Marcel observou que Blanca estava conversando com Dulce,
que parecia também muito tensa. Marcel aproximou-se de Fernando.
– Você está bem? – perguntou ele.
Fernando olhou para ele por um segundo quase surpreso em vê-lo ali e
voltou a olhar para a frente.
– Eu devia tê-lo segurado... Se eu fosse mais forte, nada disso estaria
acontecendo.
– Você disse que ele o soltou.
– Soltou. Mas eu deveria ter sido capaz de segurá-lo assim mesmo.
Diabo! Por que ele soltou minha mão?
– Porque percebeu que ia arrastá-lo com ele – comentou Marcel. – Se
ele for mesmo o anjo que guiou Dulce, estava só seguindo sua natureza. Se
não for, estava seguindo seu caráter.
– Achei que eram demônios... – respondeu Fernando.
– Com motivos...
Entraram na mata, reconhecendo o caminho que percorreram até o
lugar onde fizeram o piquenique naquela manhã. Colocaram num saco
plástico lanternas, dois celulares desligados e algumas notas de dinheiro.
Cavaram um buraco ao pé de uma árvore e colocaram uma pedra em cima.
Assim, quando voltassem, supondo que voltassem pelo mesmo caminho,
seriam capazes de usar as lanternas, se fosse de noite, e de ligar para
alguém ou usar o dinheiro para pegar um táxi.
Com tantos detalhes, se apegavam à ideia de que tudo iria correr
bem.
Quanto aos trolls que levaram o garoto, tentariam primeiro conversar.
Então tentariam barganhar. Na impossibilidade de um acordo, os
matariam. Dulce não sabia, mas quando seus pais diziam que iam para as
aulas de dança de salão, estavam indo a encontros com alguns aficionados
por espadas e armas brancas onde aprendiam e ensinavam novos golpes.
Havia muita coisa que Dulce não sabia sobre um professor de História e
Literatura Francesa e uma restauradora de livros, aquelas duas pessoas
que moravam na sua casa e que achou conhecer tão bem.
Seguiram Fernando pela mata, além do ponto que conheciam.
Chegaram então na pequena clareira. O céu começou a escurecer e a
passarinhada fazia alvoroço voltando para seus ninhos. Viram a árvore com
a fenda no tronco por onde Chris foi levado.
– É aqui – disse Fernando.
Marcel se abaixou para ver melhor e enfiou a mão. Antes do seu
braço terminar, tocou o fundo da árvore. O buraco tinha cerca de um metro
e sessenta de altura com meio metro de largura. E, segundo a constatação
de Marcel, menos de um braço de profundidade. Ajeitaram as coisas para o
ritual.
As invocações teriam que ser feitas precisamente ao pôr do sol.
Traçaram um pentagrama grande dentro de um círculo e acenderam
uma pequena fogueira no meio. Cada qual se sentou em uma ponta do
pentagrama.
– Se meus inimigos me vissem agora, teriam motivos reais para me
mandar para fogueira... – disse Fernando, que definitivamente não se sentia à
vontade com a ideia de estar fazendo um ritual de magia.
– Fernando, meu caro, se você tiver que ir para o inferno, acredite, não
será por isso... – retrucou Marcos, que sabia de cor a longa lista de pecados
do ex-padre.
Respiraram profundamente. Deram-se as mãos e iniciaram as
invocações em uma língua morta, mas que Fernando dominava perfeitamente:
latim.
As árvores farfalharam e o vento agitou o fogo. Espirais cresceram e
as labaredas assobiaram. Com a surpresa, Fernando parou de falar.
– Não pare, pai! – pediu Dulce. – Está funcionando!
Fernando continuou, enquanto os outros respondiam aos
encantamentos, conforme combinado. Acima deles, uma revoada de
pássaros voou em círculo e a floresta inteira se agitou. Quando terminaram,
o fogo desceu e faiscou, diminuindo até apagar-se por completo.
– É só isso? – perguntou Marcos, um tanto decepcionado.
Fernando e Dulce se levantaram e foram até a árvore. Fernando enfiou o
braço no buraco. E não encontrou o fim.
– Está aberto!
Eles se entreolharam por um minuto.
– Agora a coisa ficou séria... – murmurou Marcos.
Até aquele momento, de certa forma, havia a possibilidade de nada
dar certo e portal nenhum se abrir. Agora, o portal estava aberto. Bastava
atravessar. Dulce se precipitou, mas Fernando a puxou de volta.
– Existe alguma forma de vocês duas ficarem e me deixarem
resolver isso? – perguntou para a esposa e a filha.
– Nem pelo capeta! – respondeu Dulce.
Blanca cruzou os braços.
– Se perguntar isso de novo, vou te chutar até você morrer.
Fernando já esperava ouvir isso, mas achou que valeria a pena a
tentativa. A passagem na árvore só permitia uma pessoa por vez.
– Eu vou primeiro. Vocês me seguem. Nos encontramos... sei lá onde.
E então ele entrou. Dulce o seguiu. Blanca então olhou para o céu,
que começava a ganhar tons dourados, e se virou para Marcel e Marcos.
– Vocês já vieram até aqui – disse ela. – Se não quiserem vir, eu vou
compreender.
– Tá maluca, mulher? – disse Marcos, empurrando-a pra sair do
caminho e entrando pelo buraco sem pestanejar.
Que Marcos ia cair dentro daquela aventura sem pensar nas
consequências, Blanca já sabia. O que dissera se dirigia a Marcel. Olhou
para ele mais uma vez e lhe deu um sorriso e um beijo no rosto. Ele a olhou
com pesar.
Ela sabia que ele estava feliz com sua vida e não queria
conhecer outra dimensão. Também sabia que havia riscos de não voltarem,
por mais que Dulce tivesse evitado falar sobre isso. E que Marcel não
queria correr esses riscos.
Blanca entrou no tronco e desapareceu. Marcel ficou parado alguns
segundos. Ele não queria ir. Lamentava pelo rapaz, mas tinha um mau
pressentimento quanto aquilo tudo. Virou-se para ir embora e seu coração
doeu de tal forma que se perguntou se seria impossível viver sabendo que
os deixara para trás.
Dulce tateou as paredes ásperas do interior da árvore e caminhou
em passos hesitantes, lembrando-se de quando ela e Chris caíram num poço
sem fundo inesperado. Não ouvia nenhum som além de sua própria
respiração e seus sapatos tocando pequenas poças de água. As paredes
ganharam uma textura mais aveludada e ela imaginou que fosse musgo,
pois podia sentir a umidade.
Já tinha dado mais de quinze passos quando
viu uma luminosidade muito fraca adiante. Em apenas dois passos, saiu de
dentro de uma imensa árvore e sentiu o perfume da floresta do reino
encantado. Era como se o lugar a reconhecesse e ela reconhecesse o lugar.
Sorriu, sentindo-se feliz em estar de volta, embora as circunstâncias não
fossem das melhores.
Era noite, mostrando mais uma vez as confusões que
o tempo apronta entre os dois mundos. A Lua iluminava fracamente a
floresta e Dulce ia se virar para procurar pelo pai quando, de repente,
alguém a empurrou e ela caiu no chão. Olhou para o lado e viu seu pai, os
cabelos longos ao vento e o rosto atento com a espada em mãos.
– Pai? O que está...
Um som de metal se batendo a interrompeu. Blanca, que tinha
acabado de sair da árvore, defendia-se de um troll de seu tamanho que
empunhava uma tosca espada de metal escuro. A criatura era horripilante,
com a cara comprida e dentes afiados escancarados numa careta de ódio.
Ao lado de Dulce, novos sons surgiram e ela viu seu pai protegendo-a de
outros dois seres que o atacavam com espadas.
Quando Marcos saiu do buraco, ainda tinha o rosto iluminado pela
ansiedade do que poderia encontrar nesse mundo fantástico. Abaixou-se a
tempo de não ter a cabeça acertada por um pesado martelo de pedra.
Arrastou-se de costas, tentando se afastar da criatura vestida com trapos e
couro, mas ela continuou atrás dele.
Quando a criatura ergueu o martelo para esmagá-lo, Marcos usou as
pernas para chutá-lo com toda a sua força. O chute com os dois pés pegou o
troll no peito, jogando-o para trás, dando tempo a Marcos de se levantar.
– Tio Marcos!!!
Ele se virou para Dulce, que, recebendo cobertura de Blanca e
Fernando, desembrulhava às pressas o tecido que envolvia espadas, punhais e
facas que haviam trazido. Fernando e Blanca haviam insistido para já levarem
as deles consigo, e agora todos viam que tinha sido uma ótima ideia. Dulce
jogou uma espada para Marcos que a agarrou no ar. E então, ela pegou uma
pra si mesma e se preparou.
Mais criaturas surgiram, e estavam todas muito zangadas. Golpes de
espada foram trocados e, apesar de Dulce não ser uma especialista, tinha
agilidade e reflexos rápidos. Isso evitou que sua cabeça fosse cortada uma
vez ou duas.
Um som estranho foi ouvido. Era como o soar de um berrante,
daqueles que tocam em filmes. Os trolls pararam imediatamente ao ouvir o
som que se estendia e se espalhava por toda a floresta escura. Luzes
surgiram flutuando além das árvores e as criaturas correram, saltando para
a escuridão das folhagens e desaparecendo.
Com o coração aos pulos, eles se uniram novamente, ainda em
guarda, esperando alguma coisa ainda atacá-los.
– Droga, Grandier! – gritou Marcos, assim que recuperou o fôlego. –
Não tem 30 segundos que chegamos nesse lugar e você já arrumou
inimigos?!
– Foram eles que começaram! – respondeu Fernando.
– Vejam! – apontou Blanca para as luzes amarelas que se
aproximavam.
– São fadas? – perguntou Marcos.
– Não... – respondeu Dulce. – São lanternas...
Dulce tinha visto várias dessas nas cidades por onde passaram.
Eram como lampiões, movidas a velas, e muito usadas por elfos e humanos.
– Será que são mais trolls? – perguntou Blanca.
– Não – respondeu Dulce. – Trolls usam tochas. Nunca vi um
usando uma lanterna. Ainda mais colorida!
As lanternas se aproximaram o bastante para verem quem as
traziam.
– Abaixem suas armas! – disse a voz grave e imponente.
Fernando e Blanca se olharam, indecisos sobre o que fazer. Então,
Dulce apertou os olhos e deu um passo a frente, não acreditando no que
via.
– Christian?
O homem deu um passo a frente, aproximando a lanterna do próprio
rosto que também tinha uma expressão de surpresa.
– Dulce?!
A menina correu e abraçou o alto homem branco e os que o seguiam
se aproximaram. Eram cerca de oito homens armados de espadas. Marcos
apertou os olhos e então percebeu que não eram exatamente homens.
Quatro eram elfos, dois eram anões.
– Gente! – disse Dulce, animada em ver um rosto familiar. – Este é
Christian! O Alcaide da Vila das Fadas D’Água! Christian, esses são meus pais,
Fernando e Blanca. E esse é o meu tio Marcos!
E foi somente então que Dulce procurou com os olhos a outra
pessoa para apresentar. Fernando e Marcos olharam em volta, mas Blanca
apenas baixou os olhos.
– Onde está Marcel? – perguntou Marcos.
– Acho que ele não veio – respondeu Blanca. – Desculpe, querida...
Mas acho que seu tio Marcel foi até onde pôde.
A decepção no rosto deles era evidente, mas em nenhum era mais
dolorosa do que no rosto de Dulce. Ela anuiu levemente com a cabeça,
como se compreendesse. Ou perdoasse.
– Como nos achou? – perguntou Blanca.
– Estávamos numa festa e alguém se esforçou muito para que
viéssemos até aqui.
Somente então Christian deixou a pequena que se escondia atrás dele
aparecer. Ele abaixou a lanterna, mostrando o pequeno rosto que surgia
por trás de suas pernas. A decepção no rosto de Dulce deu lugar a uma
alegria que ela nem sabia ser possível sentir.
– Eileen!!!
A pequena fadinha, do tamanho de uma criança de uns seis anos,
correu e se jogou nos braços de Dulce que se ajoelhou e a abraçou forte.
Tinha morrido de saudades daquela menina-fada e achou que nunca mais a
veria. Quando se separaram, a fadinha sorria para ela. Virou as costas e
mostrou suas asas.
– Olha! Tá crescendo!
– Que lindas!
As asas eram pequenas ainda, mas coloridas e Dulce se lembrou do
pequeno milagre que um pouco de fé e amor conseguiram na primeira vez
que se encontraram.
– Vamos – disse Christian. – É melhor voltarmos. Temos tido alguns
ataques por aqui, não é bom ficarmos longe da Vila.
– Ataques da Corte Unseelil? – perguntou Dulce.
Christian virou-se para ela com o rosto preocupado.
– Não... A Corte Unseelil não nos preocupa mais.
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Autor(a): vondynatica
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Seguiram pela floresta por cerca de vinte minutos. O caminho era iluminado pelas lanternas amarelas, exaltando o dourado das folhas de outono caídas pelo caminho. Os elfos iam na frente. Eram de estatura normal e esguios. As orelhas ligeiramente pontudas e um rosto mais aquilino eram a única coisa que os diferenciava dos human ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA