Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Seguiram pela floresta por cerca de vinte minutos. O caminho era
iluminado pelas lanternas amarelas, exaltando o dourado das folhas de
outono caídas pelo caminho. Os elfos iam na frente. Eram de estatura
normal e esguios.
As orelhas ligeiramente pontudas e um rosto mais
aquilino eram a única coisa que os diferenciava dos humanos. Dulce se
lembrou que o único elfo com quem tivera mais contato tinha sido Asram, o
noivo de Analice. E não tinha sido uma experiência muito boa,
especialmente quando ela o chamou de frutinha...
– Maite vai ficar feliz em ver você de novo! – disse Christian, enquanto
caminhavam. – E vai ficar contente em conhecer sua família.
– E como está Maite? – perguntou Dulce.
– Para uma garota que não era popular, até que você conhece
bastante gente, hein, Dulce! – comentou seu tio Marcos ao seu lado.
– Pois saiba que eu estava ficando popular, viu? – reclamou Dulce.
– Já explicou as regras a eles? – perguntou Christian.
– Expliquei o que eu pude – respondeu Dulce, insegura. – Viemos
meio às pressas pra cá, sabe?...
– É mesmo? – respondeu Christian. – O que aconteceu?
– A Corte Unseelil sequestrou Chris.
Christian parou de andar e a encarou com o cenho franzido.
– Isso não é possível, minha cara.
– Por quê?
– Porque a Corte Unseelil deixou de existir.
Assim que Christian disse isso, saíram da floresta e caminharam para a
pequena vila iluminada por lanternas. Preferiram prosseguir o assunto
quando já estivessem mais ou menos instalados em algum lugar. Naquele
momento, havia muitas distrações. Sátiros, fadas de todos os tamanhos,
elfos, humanos e anões os olhavam com curiosidade e canecas na mão.
– Era uma festa? – perguntou Dulce.
– Não, só uma pequena comemoração – respondeu Christian.
– Estão comemorando o quê? – perguntou Marcos. – Dois dias sem
acidentes?
Chegaram na porta da casa de Christian onde uma linda mulher abriu a porta para eles.
– Comemoramos que o Rei do Norte e o Rei do Sul aceitaram
conversar sobre um tratado de paz – concluiu Christian.
– Dulce!
Maite e Dulce se abraçaram fortemente, os cabelos dourados da
primeira caindo sobre os cabelos escuros da segunda.
Christian lhes deu passagem e eles entraram na bela casa iluminada
por velas e lanternas. Na grande sala de estar, uma mesa de madeira
aguardava com frutas, tortas, vinho e leite.
– Achei que teríamos visitas! – explicou Maite. – Só não sabia que
eram vocês! Sei que não podem comer nada do reino, se pretendem voltar.
Marcos arregalou os olhos para toda aquela comida que parecia
maravilhosa.
– Bem, não sei se quero tanto voltar assim... – disse ele, repensando
suas opções.
– Marcos, não brinque! – ralhou Fernando.
– Estou falando sério! – respondeu Marcos. – Estou cheio de dívidas
no cartão de crédito! Quero ver aqueles cretinos virem me cobrar aqui!
Eles se sentaram à mesa e Dulce aproveitou para tirar uma dúvida.
– Há quanto tempo eu parti daqui?
– Cerca de duas semanas – respondeu Christian.
– Ué! – espantou-se Marcos. – Você disse que esteve aqui há quatro
meses!
– É que o tempo é fluido aqui – respondeu Maite, servindo-se uma
xícara de leite com mel – Ah, Dulce!
Dulce, que, assim como Marcos estava hipnotizada pela comida,
olhou para ela.
– Você pode comer, sabe disso, não?
– Posso?! – perguntou a menina, arregalando os olhos.
– Claro que pode! – riu Maite. – Você recebeu esse presente das
Asrais, não lembra?
– Claro que lembro! Mas achei que tinha perdido a validade ou coisa
assim.
– Não, querida – explicou Maite, tomando seu leite com mel. – Nada
aqui é temporário. O que você conquista é mantido, não importa quantas
vezes você vá ou volte.
Dulce olhou para a mesa, feliz em poder comer qualquer coisa. Mas
percebeu que não estava com fome. Olhou um dos bolinhos famosos da
Vila, e pegou-o, sentindo-se subitamente infeliz.
– Que foi? – perguntou Marcos, irritado em não poder comer nada
dali. – Tá pensando nas calorias?
– Não... – respondeu Dulce com voz infeliz. – Lembrei do Chris... Eu
enfiei um bolinho desses na cara dele... Duas vezes...
A mesa mergulhou em silêncio.
– Suas recordações românticas são muito esquisitas... – respondeu
Marcos.–
O que houve com o Chris? – perguntou Maite. – Ele não veio com
você?
Dulce colocou o bolinho no prato e respirou fundo. Então ela
contou o que tinha acontecido quando estavam quase deixando o mundo
das fadas. Dava para ver nos rostos de Christian, Maite e Eileen que foi
doloroso saber o que houve com Chris assim que deixaram a Vila.
Também
viram como o rosto deles se iluminou com a esperança quando Dulce
contou que encontrou um rapaz muito parecido com Chris em seu mundo.
Alguém com o mesmo nome e cicatrizes nas costas no lugar onde poderiam
ter havido asas. Contaram sobre o ataque dos trolls e sobre como e porque
estavam ali.
– Achei que a Corte Unseelil o tivesse pegado – disse Dulce. – Mas
Christian disse que a Corte Unseelil não existe mais!
– Sim, a Corte Unseelil desapareceu – confirmou Maite. – Não
sabemos como, mas o covil deles foi destruído e o rei, o último descendente
da linhagem real deles, foi morto.
– Mas se não foram eles, quem foi? – perguntou Fernando. – Também
fomos atacados por criaturas bem zangadas lá na floresta.
Christian e Maite se entreolharam. Ali, naquela noite, Dulce, Blanca,
Fernando e Marcos foram inteirados de tudo o que estava acontecendo no
Reino das Fadas.
Quando a Corte Unseelil acabou, houve um breve período de paz. Os
terríveis ataques a vilas e a viajantes cessaram abruptamente e assim tudo
ficou calmo por algum tempo. Os trolls e goblins passaram a atacar
isoladamente, e nunca eram tão terríveis quanto juntos na Corte Unseelil.
Seus ataques eram raros, eles deixaram de ser um perigo. Não sabiam
explicar porque eles foram atacados na floresta. O que preocupava o
mundo deles naquele momento não eram os trolls, mas uma crise política.
O Reino era dividido em quatro grandes territórios. Viviam em
harmonia o Rei do Sul, o Rei do Norte, a Rainha do Leste e a Rainha do
Oeste. Essa harmonia, no entanto, andava um tanto estremecida. O Rei do
Norte e o Rei do Sul têm se estranhado ultimamente.
Foram pequenas
coisas, como um emissário de um que não voltou de sua viagem ao reino do
outro, carregamentos desaparecendo do território do Norte e invasões
perpetradas pelo povo do Sul. A cada ação, havia uma retaliação,
aumentando os rancores e esquentando os ânimos.
Com tudo isso, uma
guerra começava a se aproximar do reino e isso nunca era bom. Isso tudo já
estava acontecendo há algum tempo, muito antes de Dulce chegar ao
Reino das Fadas pela primeira vez.
– Mas e a Rainha Belinda? – perguntou Dulce.
– Belinda é como uma Imperatriz. Nós a chamamos de rainha, mas
ela só tem poder real sobre o seu território. Quando aos outros reinos, ela
tem conversado com todos os reis e rainhas, mas não há muito mais que ela
possa fazer. Ela não pode destituir um rei sem privilegiar o outro – Christian
deu um suspiro. – Eu não queria ser ela agora...
– Mas você disse que hoje houve uma comemoração por um acordo
de paz... – lembrou Blanca.
– Uma pequena comemoração... – respondeu Christian, sem muito
entusiasmo, servindo-se de mais hidromel. – Tão pequena quanto a chance
desse acordo dar certo...
– Não liguem para o mau humor do meu querido marido! – disse
Maite, tentando animá-los com um sorriso e afastar a preocupação que
começava a pairar sobre eles. – Ele tem andado rabugento ultimamente. O
fato é que O Rei do Sul tem uma filha, uma moça muito bonita. E o Rei do
Norte tem um filho. Hoje, os reis firmaram o compromisso de casamento
entre seus filhos, o que fará com que os reinos se tornem aliados.
– Ah, que bonito! – disse Fernando. – Casamentos arranjados sempre
dão tão certo!... Mas então por que Christian parece tão preocupado?
Christian olhou diretamente para os olhos negros do homem que
esperava sua resposta.
– Por que há algo acontecendo no reino. Enquanto os reinos do
Norte e o Sul se bicam, os reinos do Leste e Oeste parecem um tanto
apáticos. Se todos se estranhassem, acho que eu ficaria mais tranquilo. De
qualquer maneira, eu quero acreditar que a paz reinará! Entende por que
não nos preocupamos mais com os trolls? Temos tido problemas com
retaliações de ambos os lados em todos os lugares. E, por algum motivo
bizarro, a violência parece ter aumentado entre os habitantes do reino.
Temos visto mais saques, assassinatos, sequestros e espancamentos do que
nunca... Coisas que nos fazem perder o sono.
– Vocês não tinham nada disso aqui antes? – perguntou Marcos.
– Tínhamos. Mas, além da Corte Unseelil, tínhamos goblins e alguns
encantados cuja natureza é realmente malévola, como Jenny Dentes-Verdes
e Peg Powler, que afogam crianças por prazer. Agora, temos uma crescente
violência entre homens, elfos, anões... Temos até tráfico de escravos! Antes,
ao menos sabíamos onde o perigo estava. Sabíamos como reconhecer o
ataque antes dele acontecer e sabíamos como nos defender. Agora, ele
parece estar em qualquer lugar.
Maite e Christian mostraram a sala de banhos para seus convidados e
lhes apresentou seus quartos. Era uma grande casa de dois andares com
profusão de quartos. Eileen fez questão de dormir com Dulce e Maite lhe
deu um beijo de boa noite. Por mais que amasse a menina, não conseguia
com ela a ligação que ela parecia ter com Dulce e Chris.
No corredor, Marcos esticou a cabeça para ver Maite descendo as
escadas.
– Nossa! Que mulher linda! Não dá vontade de parar de olhar!
– É porque ela era uma sereia! – explicou Dulce.
Marcos a olhou perplexo.
– Jura? Rapaz, como é que o Christian pescou uma dessas???
Eles se despediram e, depois de um banho, foram dormir. Fernando
estava especialmente moído e Maite lhe deu um chá especial para dor que
ele tomou com prazer.
Pela manhã, haveria muito a fazer. Precisavam achar Chris. E algo lhes
dizia que não ia ser tão fácil quanto tinham planejado.
– Ele partiu?
Deitada de costas em sua cama, Dulce olhava longamente pela
janela o céu que era mais negro do que a noite mais profunda, salpicado
por estrelas brilhantes que perfaziam desenhos e caminhos. Dulce olhou
para Eileen que estava deitada, abraçada a ela.
– Achei que estava dormindo... – disse Dulce, ao se deparar com
aqueles grandes olhos amendoados e brilhantes.
– Você disse que Chris morreu... Ele morreu mesmo?
Dulce suspirou.
– Sim, Eileen... Chris morreu...
– Os olhos de Eileen se encheram de água e ela se aconchegou nos
braços de Dulce. Dulce olhou de volta para a janela e deixou que as
lágrimas caíssem. Talvez fosse o cansaço, talvez fosse toda a conversa do
jantar que envolvia guerras e perdas, mas Dulce se sentia sem esperanças.
Estar ali a aproximou muito mais do que vivera com Christopher e,
consequentemente, do que perdera. Via o olhar de incredulidade nos pais e
nos tios quando dissera que o rapaz que conhecera podia ser o anjo que
morrera em seus braços.
Talvez fosse hora de encarar a realidade. Christopher
havia morrido. O novo Chris ainda estava vivo e ela faria tudo para trazê-lo
de volta.
Abraçou mais forte a fadinha, sentindo a textura aveludada de suas
asas delicadas. E assim, entre lágrimas e aconchegada no abraço de uma
fada, adormeceu.
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Autor(a): vondynatica
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Na manhã seguinte, eles finalmente puderam se espantar com a beleza do lugar. Marcos se surpreendeu com o fato da comida que tirava de sua mochila simplesmente reaparecer intocada lá dentro. Olhou com os olhos arregalados para os outros na mesa. – Que bruxaria é essa??? Blanca não comera ainda. Admirava o ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA