Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Na manhã seguinte, eles finalmente puderam se espantar com a
beleza do lugar. Marcos se surpreendeu com o fato da comida que tirava de
sua mochila simplesmente reaparecer intocada lá dentro. Olhou com os
olhos arregalados para os outros na mesa.
– Que bruxaria é essa???
Blanca não comera ainda. Admirava o céu incrivelmente azul. Ao
longe, nuvens multicoloridas coroavam o topo das montanhas. Diminutas
flores voavam com a brisa e havia um misto de perfume de magnólias e
cheirinho de pão quente no ar.
Fernando apareceu atrás dela e lhe beijou o
pescoço, carinhosamente, também percebendo a estonteante beleza de sua
esposa naquele cenário perfeito. Ela perguntou sobre os ferimentos,
percebendo que, apesar do rosto ainda ferido, ele parecia mais disposto.
Aparentemente, o chá de Maite e uma boa noite de sono o ajudaram a
renovar as forças.
Maite e Christian pensaram sobre a missão de seus convidados e
estavam prontos para ajudarem no que pudessem. Sabiam que o tempo
urgia, pois cada minuto que passasse nas garras dos trolls diminuía
consideravelmente as chances de Chris. Por isso, enquanto Maite levava
Dulce para o bosque, os outros permaneceram na Vila para traçar um
plano com Christian.
Dulce fazia um caminho muito parecido com o que já fizera antes
ao lado de Maite. Naquele tempo, Maite já percebia os sentimentos de
Dulce para com o anjo, antes mesmo de Dulce percebê-los. Agora,
andavam ambas caladas. Mas Dulce sabia que Maite não ia ficar em
silêncio por muito tempo.
– Como sabe que não é ele? – perguntou Maite.
Dulce fez um movimento com os ombros.
– Porque não é possível – respondeu por fim.
– Só por isso? – perguntou novamente a outra.
Dulce não respondeu. O coração estava doendo, mas ela ainda não
sabia muito bem por quê.
– Ouça, criança... Há alguns séculos, eu tinha um rabo de peixe. Há
alguns meses, você nunca achou que estaria brigando com trolls e voando
em dragões. E algo me diz que seus pais também têm provas que depõem
contra o que as pessoas chamam de “possível”. Então, se este for o único
motivo, acho que você pode rever sua decisão de acreditar ou não se ele é o
anjo que você perdeu.
Dulce pensou nas sábias palavras da bela mulher de cabelos da cor
do sol. Elas chegaram numa linda cachoeira cristalina que desenhava um
arco-íris em seu caminho.
– Tenho medo de acreditar e me decepcionar – respondeu Dulce. –
Está sendo muito difícil viver isso tudo, estar aqui sem ele. Não pensei que
fosse ser tão difícil! Tão doloroso! Se eu acreditar que ele voltou pra mim, e
não for verdade, como vou suportar essa dor?
Maite baixou a cabeça. Dulce achou que ela estava pensando em
alguma frase inspiradora, algo que mudasse sua ideia, algo que fizesse com
que Dulce dissesse “Puxa! É mesmo! Como nunca vi as coisas desse ponto
de vista antes?”, embora Dulce não tivesse a menor ideia de que tipo de
coisa pudesse ser dita capaz de fazer isso.
Porém, Maite não disse nada.
Apenas levantou a cabeça e sorriu para ela. Virou-se para a água e disse
finalmente.
– As asrais estão aqui...
Dulce viu as formas esguias e fluidas, dançando na transparência da
água que corria. Sentou-se na beirada e tocou a superfície da água com a
mão delicada, deixando que a água levasse um pouco de sua dor.
Maite ergueu a barra do vestido leve e caminhou nas águas. Dulce
arregalou os olhos e deixou o queixo cair.
– Senhora dessas águas, sou Maite, filha de Abandinus, Senhor dos
Rios, e de Oxum, Senhora das Cachoeiras. Estou aqui para lhe pedir um
favor...
O véu cristalino que a cachoeira vertia então se abriu como uma
cortina e Maite deu mais alguns passos, atravessando-o. A cortina de água
se fechou atrás dela e Dulce ficou na dúvida se deveria ir atrás ou se
esperava. Achou que se houvesse algum problema, Maite gritaria ou lhe
mandaria algum sinal. Então ela esperou.
Olhou em volta e se lembrou de ter visto ali, da primeira vez, Bean-
Nighl, a banshee agourenta que era vista lavando as roupas
ensanguentadas de alguém que ia morrer. Voltou os olhos lentamente para
o ponto onde a tinha visto, o coração batendo mais rápido, temendo vê-la
de novo. Não havia nada lá.
O lugar era belíssimo, um bosque de grandes
árvores de troncos cor de cobre e copas verdejantes. Viu pequenas fadas
voarem como beija-flores, brincando no ar, derrubando algumas folhas que
já tinham assumido a cor amarela.
Água respingou no rosto de Dulce e ela
percebeu que elementais podem ser muito ciumentos. As asrais, as
pequenas sereias d’água que se transformavam em poças quando eram
tocadas por mãos humanas, continuavam a cercá-la, divertidas com sua
presença, e jogavam água em seu rosto quando ela se distraía com outra
coisa.
A cachoeira se abriu novamente e de dentro das águas saiu Maite,
os cabelos loiros refletindo a água, o vestido longo se misturando com a
superfície luminosa, o rosto desenhado harmoniosamente sem nenhuma
expressão. Ela caminhou até Dulce, ficando diante dela ainda em cima da
água. Somente então, abriu um sorriso e disse:
– Conseguimos!
Na Vila das Fadas D’Água, Blanca, Fernando e Marcos já tinham
terminado seu café e caminhado pela Vila, conhecendo alguns de seus
curiosos moradores. Estavam espantados com a beleza do lugar e as várias
espécies que viviam juntas em harmonia.
Uma humana de cabelos lisos e
negros entregou a Fernando um pedaço de queijo, que ele aceitou com um
sorriso. Um elfo deu à Blanca uma flor e ela se encantou com seu gesto.
Marcos subiu na colina e cantou The Sound of Music, girando com os braços
abertos na relva verdejante.
Mas eles sabiam que precisavam se concentrar no que era
importante e agora observavam com atenção o mapa que Christian estendia
diante deles.
– Vejam – disse ele. – Vocês estão aqui, na Vila das Fadas D’Água.
Aqui é a Floresta dos Antigos, onde vocês chegaram. Aqui há o grande Rio
de Ouro. Ele é tão grande que parece o mar e suas vertentes se espalham
por todo o reino. Agora, se margearem este rio até aqui... vão chegar na
Floresta Perdida.
– Não gostei desse nome... – disse Marcos.
– Por que está nos mostrando como chegar lá? – perguntou Fernando. –
É para onde aqueles monstros levaram o rapaz?
Christian o olhou com sinceridade.
– Não fazemos ideia de quem levou o garoto ou por quê. Ele pode
estar em qualquer canto de qualquer um dos vários reinos daqui. Pode ter
sido vendido como escravo, ou estar trabalhando nas minas dos kobolds.
Pode estar sendo torturado pelos trolls, muitos deles são sádicos. Ou já
pode ter sido destroçado por eles. Se não souberem exatamente onde ele
está, podem nunca encontrá-lo.
Houve um silêncio perturbador com as notícias dadas de forma tão
direta.
– Isso era para nos animar? – perguntou Marcos. – Porque você está
fazendo isso errado.
– Não, é para explicar porque vocês precisam ir até a Floresta
Perdida antes de sair procurando pelo garoto embaixo de toda pedra que
encontrarem. Nessa floresta há um fauno. Não é um fauno qualquer. É o
Fauno Ancião. Ele traz a sabedoria de todos os faunos e dizem que ele está
aqui desde que a Grande Criadora sonhou este mundo, trazendo-o à
existência. Este fauno pode ajudá-los, dando a vocês um meio de saber
onde exatamente Chris está.
– Levaremos dois dias inteiros pra chegar lá à pé... – calculou Fernando
olhando o mapa.
– Nós lhes daremos cavalos. São velozes, vão poupar muito tempo.
Mas tomem cuidado. Este fauno tem tanta sabedoria quanto esperteza. Não
se deixem engambelar.
A porta se abriu e Dulce e Maite entraram como duas crianças.
– Maite conseguiu! – gritou empolgada Dulce.
– Na verdade, NÓS conseguimos. A Senhora daquela cachoeira não
teria me dado nada se não tivesse visto valor e sinceridade em você, Dulce.
– Legal! – comemorou Marcos. – E o que vocês conseguiram?
Com um olhar de Maite, Dulce entendeu que ela podia dar a
notícia.
– Consegui o presente das asrais! Passe livre para comer, beber ou
beijar no reino! – então ela mostrou o cantil e o sacudiu, mostrando que
tinha água dentro.
Blanca e Fernando esperavam algo mais... relevante. Sorriram como
quem recebe uma caixa de bombom de supermercado no amigo oculto da
empresa.
– O quê? – disse Marcos. – Então eu vou ter que trocar meu incrível
sanduíche de mortadela pelas iguarias mais fantásticas e divinas que o
paladar humano já provou??? Puxa! Estou muito triste agora!
Maite buscou pequenos copos e distribuiu entre eles, enquanto
Dulce os servia.
– Vocês podem não achar grande coisa agora – disse Dulce. – Mas
nós não sabemos para onde estamos indo e pelo que vamos passar.
Ficarmos dependentes do que está na nossa mochila para beber e comer
pode ser muito limitador! E preocupante...
Todos tomaram a água encantada e Dulce sacudiu o cantil para ter
certeza de que havia o bastante.
– É para o Chris! – disse ela. – Precisamos encontrá-lo antes que ele
coma ou beba alguma coisa! Aí é só darmos isso aqui pra ele.
Christian mandou preparar quatro dos melhores cavalos e Maite os
chamou no quarto de Dulce. Eileen brincava com os vestidos sobre a cama
quando eles entraram.
– A Corte Unseelil pode ter acabado, mas há muitos trolls e goblins
soltos por aí competindo para ver qual o grupo mais poderoso, e vocês são
iscas apetitosas com essas roupas – disse Maite.
Eles olharam para si mesmos e Marcos quase se sentiu ofendido,
pois sempre confiara em seu gosto para a moda.
– Então eu separei essas roupas para que vocês possam passar mais
discretamente por aí.
Ela estendeu um vestido para Blanca e outro para Dulce. Para
Marcos, ela estendeu uma blusa branca com um colete de couro, calças de
algodão escuro e botas. Para Fernando, ela estendeu uma espécie de túnica
preta com botas.
– Por que a minha é tão diferente da deles? – perguntou Fernando.
– Porque essa é uma roupa de um Feiticeiro da Lua Negra.
Fernando a olhou e Maite sorriu, como se soubesse exatamente
porque a revelação o incomodara.
– Feiticeiros da Lua Negra são muito poderosos entre os encantados,
eles os respeitam e dificilmente mexerão com vocês se estiverem ao lado de
um – explicou ela.
– E o que faz um Feiticeiro da Lua Negra? – perguntou curioso
Marcos.– Eles trabalham com cura e purificação. Podem limpar uma casa de
assombrações ou seres malévolos, por exemplo. Costumam andar em
grupo, mas isso não é importante. É só um disfarce para que vocês sejam
evitados por seres encantados mal intencionados.
Os homens foram para o outro quarto se trocarem, deixando Blanca
e Dulce se vestindo ali mesmo. Quando se encontraram, Fernando teve que
desamarrar a cara ao ver Blanca com um lindo vestido azul de mangas
largas e longas. Dulce estava com um vestido parecido com o que Maite
lhe emprestara da outra vez.
A saia rodada era de tecido mais leve e o
colete era de veludo vermelho bordado em dourado, desenhando-lhe a
cintura e deixando livre o colo. As mangas eram bufantes de um tecido tão
leve que era quase transparente.
– Vocês estão lindas! – disse Fernando.
– Ah, se eu estivesse com a minha câmera! – reclamou Marcos.
– Ficaram ótimos! – comemorou Maite, feliz com sua produção. –
Vou mandar servir o almoço e vocês estarão prontos para ir.
Blanca achou de bom tom ajudar Maite a pôr a mesa, embora
houvesse criados para fazerem isso. Marcos quis dar mais uma olhada na
Vila antes de ir, provavelmente para tentar fazer algum negócio para levar
algum cacareco de lembrança que pudesse vender no Mercado Livre.
Eileen puxou Dulce e Fernando pelas mãos para lhes mostrar uma
coisa. Eles correram até o alto da pequena colina verdejante de onde
desceram várias vezes na brincadeira improvisada com Zac da outra vez. Lá
em cima, a fadinha se afastou alguns passos e então se concentrou. Suas
pequenas asinhas bateram com muita força e muita velocidade, como as
asas de um beija-flor. E, com grande dificuldade, ela conseguiu se erguer
alguns centímetros do chão.
E então ela caiu de traseiro no chão, decepcionada. Dulce correu até
ela e a obrigou a olhar em seus olhos.
– Você está quase conseguindo! Não desanime! – disse Dulce.
– Mas... – disse a fadinha. – Todos dizem que não é possível...
Dulce desmontou um pouco, percebendo que sabia exatamente
como a fadinha se sentia. Então ela abriu um sorriso confiante e olhou nos
olhos da menina.
– Não ligue para o que os outros dizem... Eles sabem menos que
você. Tenha um pouco mais de confiança, querida... Coisas incríveis
acontecem o tempo todo!
Eileen abriu seu sorriso, os cabelos finos caindo sobre o rostinho
iluminado por aquela bela tarde. Fernando, que observava a cena a uma certa
distância, se aproximou.
– Você quer voar, minha linda fadinha? – perguntou ele.
A fada-menina olhou para cima e balançou a cabeça numa afirmativa
cheia de expectativa.
– Então é melhor treinar primeiro! – disse ele, agarrando-a com uma
risada e jogando-a para o alto.
A menina soltou um gritinho de entusiasmo que se transformou
numa sonora e deliciosa gargalhada de criança. Fernando a jogava bem alto e
a segurava de volta, girando-a no ar, embalando-se em sua risada.
Dulce
sentou-se na relva e sua alma sorriu, lembrando-se de quando seu pai
brincava assim com ela, jogando-a pelos ares, e ela não tinha medo de cair e
acreditava que poderia chegar até o céu. Dulce sentiu os olhos se
encherem de água, vendo a fadinha voar mais uma vez, em saltos para o
céu azul, para quem ela abria os bracinhos e o sorriso, voltando a cair nos
braços confiantes e fortes de Fernando.
Na Vila, Marcos se aproximava da casa de Christian e Maite com a
alegria de ter feito um bom negócio, quando viu Maite e Blanca de pé na
porta, observando alguma coisa com um sorriso. Ele chegou perto delas e
acompanhou o olhar das duas mulheres. Elas viam Eileen em sua
brincadeira, ouvindo seus risos, sentindo sua alegria.
– Eles destruíram as asas dela, sabia? – disse Maite, com a voz
triste.
– Dulce me contou – respondeu Marcos.
– Nós achamos que ela não ia mais voar. Nem viver. Fadas não vivem
sem suas asas. São como borboletas, ou pássaros. Mas Dulce se recusou a
aceitar isso. E olhe só... Minha menina fada está viva! E suas asas vão
crescer e um dia ela vai voar de novo! E tudo porque essa menina nos disse
para não desistir...
Marcos olhava a cena, permitindo ao momento todo o seu lirismo,
quando viu uma coisa se aproximando.
– O que é aquilo?
Eileen subiu mais uma vez, mais alto, o céu azul a esperando... Uma
coisa a agarrou e ela gritou. Fernando gritou seu nome, mas antes que desse
um passo, algo saltou sobre ele, derrubando-o. Dulce levantou-se gritando,
vendo os piores momentos que já vivera se repetirem numa cena dantesca.
Trolls que se pareciam com gárgulas troncudos mostraram-lhe os dentes.
Ela não sabia se estavam rosnando ou exibindo um sorriso de vitória.
Arrastaram a fada e seu pai para o mato e Dulce correu atrás deles. Algo a
agarrou por trás e, quando viu, estava voando, enquanto garras afiadas
machucavam seu corpo.
Blanca, Marcos e Maite correram gritando para a pequena elevação
onde tudo aconteceu e foram seguidos rapidamente por um anão com um
martelo de forjar e alguns elfos com arcos que ainda tentaram acertar os
raptores, mas estes já estavam há muito fora de alcance.
Blanca estava
desesperada, não conseguia parar de gritar os nomes do marido e da filha.
Maite a abraçou e deixou que ela caísse de joelhos na relva, consolando-a
por aquela perda dolorosa e totalmente inesperada.
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Autor(a): vondynatica
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Blanca acabara de tomar um copo de água na sala de Christian e Maite. Estavam todos atônitos e simplesmente perdidos. Ninguém dizia nada e Christian andou pela sala com passos pesados. – Eu sinto muito, Blanca... – murmurou Maite, apertando as mãos da mulher que ainda não levantara os olhos do ch&atild ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA