Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Ela o abraçou de volta e ficaram assim por alguns segundos, até que
ele a soltou. Então ela o olhou e de todas as palavras que pensou que diria
quando o encontrasse, não esperava que fossem essas:
– Mas que diabo!!!
Ele tentou explicar. Retirou a coroa pesada e desconfortável da
cabeça e a jogou num canto.
– Eles me trouxeram para cá e estão tentando me convencer de que
sou um deles, de que sou o único herdeiro do trono de uma tal de Corte
Unseelil! Eu estava apavorado demais pra contrariá-los, então estou
fingindo. Mas Kajinski é muito esperto! Ele não está confiando em mim!
Dulce queria não pensar nisso agora, mas era a única coisa que lhe
vinha à mente.
– Então é você mesmo!...
– O quê? – ele se virou para ela sem entender.
– Você é Christopher! Eles sabem! Por isso o trouxeram pra cá!
– Dulce, você já viu essas criaturas? Eu vi uma gritando palavrões
para o fogo porque se queimou! Vi outra conversando com uma
samambaia! Não são exatamente criaturas brilhantes! Poderiam ter trazido
um manequim de loja no meu lugar e nem iam notar.
Dulce tentou se concentrar no problema mais premente. A mesa de
comida chamou sua atenção.
– Você comeu ou bebeu alguma coisa?
– Não... – respondeu, ele, parecendo exausto. – Eu li naquele livro
que você me emprestou que não se deve fazer isso ao visitar o mundo das
fadas...
– Há quanto tempo você está aqui?
– Não sei... Eles me trancaram aqui desde que cheguei, não sei
quando é dia ou noite... Parecem dias...
Ele se sentou no degrau diante do trono, nitidamente exaurido.
Dulce se aproximou dele e retirou do pescoço uma garrafinha. Era a
garrafinha que o Urisk lhe dera da outra vez e que guardara com muito
carinho. Aquela garrafinha, ou melhor, seu conteúdo, mudara tudo. Como já
possuía o formato ideal para ser carregado num cordão, Dulce achou que
seria sábio colocar a água das asrais dentro dele. Ela não sabia o quanto
estava certa.
– Tome! – disse ela. – Beba isso!
Ele a olhou confuso.
– É a água encantada das asrais! – explicou ela. – Tomando isso, você
fica imune à regra da comida e bebida e pode comer e beber o que quiser
deste mundo.
Ele pegou a garrafinha e retirou a tampa. Olhou pra ela mais uma
vez e ela lhe deu um olhar confiante. Então ele bebeu todo o conteúdo.
Assim que terminou, levantou-se e olhou para a mesa repleta de frutas e
jarras de cerâmica cheias de água fresca.
– Vá comer e beber! – ordenou ela. – Nós vamos sair daqui e não
quero você desmaiando de fome no caminho!
Chris correu para a mesa e bebeu água direto da jarra, deixando-a
escorrer pelo rosto. Pegou a primeira fruta que viu e comeu, misturando
com um pedaço de pão que pegou com a outra mão. Se engasgou quando
ouviu um grito. Virou-se com a boca cheia e viu Dulce jogando coisas e
gritando.
– NÃÃO!!! PARE!!! EU NÃO QUERO!!! AAAAAAH!! ME DEIXE EM
PAZ!!!!
– O que está fazendo??? – disse ele, cuspindo farelos.
– Ganhando tempo! – sussurrou ela, fazendo um movimento com as
mãos para que ele continuasse comendo.
Então, gritando como se estivesse sendo atacada, Dulce revirou os
baús repletos de saques, jogando as coisas pelo chão e procurando algo que
pudesse lhe ser útil. Dulce temia que Kajinski desconfiasse se ficassem
tempo demais em silêncio e entrasse a qualquer momento. Ela precisava
convencê-lo de que Chris era o que ele queria que ele fosse, e isso requereria
mais do que a péssima interpretação de Chris.
Dulce achou uma espada, grande e pesada demais para que ela
pudesse usá-la, mas ideal para seu pai. Achou também uma sacola de
moedas de ouro.
Ainda gritando, e sentindo-se uma maluca, Dulce levantou a saia.
Chris continuou comendo e bebendo água para empurrar. Precisou parar
quando viu a moça levantando a saia de costas para ele e amarrar uma
espada em uma das pernas. Engoliu o que estava comendo e esperou que
ela não fosse maluca como estava parecendo naquele momento, ou iam
acabar todos mortos. Dulce foi até a mesa, ainda gritando, e escolheu
algumas frutas escuras. Deu uma dentada e passou a fruta mordida em
partes do corpo. Puxou a parte de cima do vestido de forma que os ombros
ficassem nus.
– O que você está fazendo, pelo amor de Deus??! – perguntou ele, um
tanto chocado.
– Confie em mim! – respondeu ela.
Os dois trolls de três metros com clavas gigantes cheias de pregos se
entreolharam quando ouviram alguém bater na porta. Ouviram a voz do rei
mandando-os abrir aquela porta imediatamente.
Hesitaram, mas a
insistência e a firmeza da voz do rei terminaram por convencê-los. Abriram
a porta e de lá saíram o rei e a moça que lhe entregaram. Ela estava
descabelada, com várias marcas pelo colo nu e mantinha a cabeça baixa
enquanto abraçava a si mesma. O rei a segurava firmemente pelo braço.
– Acabei de saber por esta humana estúpida que temos um traidor
entre nós! – disse o rei.
Os trolls se entreolharam de novo e Chris temeu que eles nem
estivessem entendendo o que estava lhes dizendo. Procurou parecer
indignado.
– Kajinski é um traidor! Ele está armando uma conspiração! Quero
que o tragam aqui imediatamente!
– Kajinski manda! – disse um dos trolls.
– Kajinski é o rei? – perguntou Chris.
Os trolls pareceram confusos.
– Isso mesmo! EU sou o rei! E Kajinski é um traidor! Tragam-no
aqui! Eu o quero na sala do trono AGORA!
Os trolls deram um passo hesitante para trás.
– VÃO!
E o grito de Chris foi o bastante para convencê-los de vez. Os trolls
correram pelos grandes corredores em busca de Kajinski, deixando o rei
prisioneiro e sua humana livres.
Assim que viraram as costas, Chris desmontou, respirando e se
apoiando na parede.
– Acho que vou vomitar... – murmurou ele.
– Vomita depois! – disse Dulce, ajudando-o a seguir em frente. – E
volte para o seu personagem! Você precisa ser rei dos trolls por mais
alguns minutos.
Chris respirou fundo e se empertigou, tentando disfarçar o fato de ter
pavor daquelas criaturas. Estava com a mesma roupa com que chegara,
mas usava a coroa rústica de ouro puro e um pesado manto de pele negra
de algum animal. Caminhou arrastando Dulce pelo braço e Dulce voltou a
se portar como uma escrava abatida. Eles passaram por alguns corredores
e logo encontraram um troll que parecia estar de guarda. Este, felizmente,
ultrapassava apenas um pouco a altura deles, embora fosse tão feio quanto
os outros.
– Guarda! Preciso ter com os outros prisioneiros! Leve-me até eles!
O troll hesitou, olhando para os lados, talvez buscando a presença de
Kajinski para confirmar essa ordem do rei que nunca saíra da sala real.
– AGORA!!! – gritou Chris, assustando o troll. – Ou você vai querer
irritar seu rei?!
O troll então os guiou por outros corredores, felizmente desertos,
até chegarem num corredor mais escuro. Talvez pelo tamanho dos trolls
maiores, não havia corredores estreitos ou salas pequenas por ali. Tudo era
grande. Grande e opressor. Caveiras de animais e humanos enfeitavam as
paredes e as tochas davam um ar assombrado ao lugar.
Havia uma cela com grades e, dentro dela, Fernando estava sentado
recostado na parede, ninando a fadinha e tentando acalmá-la. Arregalou os
olhos quando viu Chris trazendo sua filha de ombros nus e cabisbaixa.
– Me dê as chaves! – ordenou Chris para o troll.
O troll lhe entregou as chaves, embora parecesse confuso.
– Há outra saída?
O guarda lhe explicou como chegar lá.
– Muito bem, guarda! – respondeu Chris. – Vá até a sala do trono e
sirva-se da mesa real! Há bom vinho lá!
O troll arregalou os olhos e concordou com a cabeça, saindo
correndo a seguir. Chris abriu rapidamente o cadeado e ele e Dulce
entraram. Quer dizer, Dulce entrou. Chris foi arrastado pelo pescoço para
dentro por um Fernando muito, muito zangado.
O homem o agarrou pelo pescoço e o jogou com violência contra a
parede da cela.
– O que você fez com minha filha? – rosnou ele.
Chris responderia, se pudesse. Sentiu o ar faltar e se debateu,
tentando se livrar de Fernando, que, por sua vez, demorou para perceber que
sua filha pulava em seu braço, pedindo para parar. Quando finalmente
olhou para ela, percebeu que ela estava tirando os hematomas
simplesmente esfregando as mãos sobre eles. E somente então ele
conseguiu ouvi-la.
– Estamos fingindo! Estamos fingindo! É só um truque para
fugirmos!
Fernando ainda demorou alguns segundos para assimilar a notícia.
Olhou desconfiado para o rapaz que estava estrangulando, até finalmente
soltá-lo. Chris se apoiou na parede com a mão no pescoço, as pernas dobrando,
tentando recuperar o fôlego.
Dulce abraçou o pai e Eileen, mas sabia que
não tinham muito tempo. O plano era frágil e contava unicamente com a
burrice dos trolls. Assim que Kajinski entrasse em cena, possivelmente
estariam novamente em desvantagem. Dulce levantou a saia, revelando a
espada amarrada na perna direita. Desamarrou-a e entregou-a ao seu pai.
– Muito bem! – disse Fernando, consertando o vestido da filha e
cobrindo seus ombros com um olhar acusador. – O plano de vocês continua
a partir daqui ou temos que improvisar?
– As duas coisas, acho... – respondeu Dulce.
Saíram da cela e seguiram o caminho contrário de onde vieram. O
guarda disse que havia uma saída usada para os prisioneiros descendo o
corredor das celas até o final, passando pelo salão da comida. Eles não
sabiam o que era o salão da comida, mas imaginaram que fosse um lugar
onde estocavam alimentos.
Seguiram pelos corredores escuros. As celas estavam vazias, para
seu alívio. Não gostavam da ideia de mais alguém estar nas garras daqueles
monstros. O lugar ficou mais escuro, fazendo com que eles diminuíssem o
passo. Acharam uma porta. Chris tentou abri-la.
– Trancada! – constatou.
Fernando o afastou e com um único golpe de espada quebrou a tranca e
abriram a porta, para se depararem com uma centena de trolls se
alimentando como animais. Todos pararam para olhar para eles.
– Ah... – deduziu Dulce. – A sala da comida é o refeitório...
Chris passou a frente de Fernando e entrou, com o rosto altivo.
– Continuem, trolls! Só estou passando para inspecionar!
Então eles foram passando ante os olhares curiosos dos trolls. Eles
comiam em longas mesas de madeira com pratos de madeira e canecas de
metal. Ossos de animais estavam espalhados pela mesa e carcaças estavam
jogadas ao chão. Estavam no meio do caminho quando ouviram uma voz
atrás deles.
– Os humanos enfeitiçaram nosso rei! Detenham-nos!
Eles se viraram e viram Kajinski apontando-lhes o dedo ossudo com
os dois trolls de três metros de pé atrás dele. Dulce, que trazia Eileen pela
mão, imediatamente pegou o saco de moedas de ouro e quando os trolls
que comiam começavam a se levantar para atacá-los, ela jogou punhados
de moedas no meio deles.
– Um presente do seu rei generoso!!! – gritou ela.
Os trolls saltaram em cima das moedas, se atracando e brigando
entre si para ficar com uma. Com uma ordem de Kajinski, os dois guardas
correram atrás deles. Enquanto eles mesmos corriam para a saída, Dulce
ia jogando moedas no caminho atrás deles, fazendo com que trolls
ambiciosos atrapalhassem a passagem dos dois guardas.
Um terceiro guarda de três metros surgiu diante deles quando
estavam a apenas alguns passos da porta. Fernando assumiu a frente e atacouo
com a espada. O guarda era grande, porém pesado. Sua clava passou
raspando por eles nas duas vezes em que tentou. Fernando precisava tirá-lo
do caminho, antes que os outros dois guardas chegassem.
Deu-lhe um corte
na perna que irritou a criatura e então Fernando deu vários passos para a
direta. Furioso, o troll partiu para cima dele, que gritou para os outros
passarem pela porta. Dulce hesitou, mas Chris a puxou e eles passaram.
– Não podemos deixá-lo para trás! – gritou Dulce, parando assim
que entraram num túnel escuro e úmido.
Chris parou também, ofegante, e esperaram alguns segundos. Ouviram
passos apressados de alguém correndo. Não eram passos pesados, mas de
um humano comum e respiraram aliviados ao ver o rosto de Fernando.
– O que estão fazendo aqui?? Corram!
O caminho foi ficando cada vez mais escuro, até que a voz de Eileen
foi ouvida.
– Estrelinha, estrelinha, que ilumina a noite escura, me dá sua luz
agora e manda a escuridão embora!
Então ela bateu palminhas e, antes de acharem aquele versinho
muito bonitinho, ela mesma se iluminou, jogando luz no caminho.
Correram pelo único caminho possível. O lugar estava mais úmido e
havia um barulho conhecido.
– Isso é água? – perguntou Dulce.
Chegaram finalmente a um grande rio subterrâneo. Pararam,
ofegantes, e olharam em volta.
– O que é isso? – perguntou Dulce, colocando Eileen no chão
ofegante.
– Acho que é um rio! – respondeu Chris, que tinha perdido a coroa na
correria.
– Eu sei que é um rio, seu idiota, eu quero saber por que ele está
aqui! – Dulce perdeu a paciência. – Isso aqui era pra ser uma saída para os
prisioneiros!
– Peraí... – pensou Fernando. – E desde quando os prisioneiros saem?
– Quando morrem!
Todos olharam para quem deu a resposta. Atrás deles alguns
metros, Kajinski sorria vitorioso.
– Isso sempre foi prático! Quando os prisioneiros morrem, é só jogar
os corpos que o rio dá seu jeito. Agora, que tal voltarem conosco agora?
Trolls do tamanho de humanos normais passaram por Kajinski e
Fernando ergueu sua espada. Com dois golpes circulares muito rápidos,
derrubou dois. O terceiro, no entanto, conseguiu atingi-lo com uma clava.
Fernando perdeu o equilíbrio e esbarrou em Chris. Os dois caíram na água.
Apavorada, Dulce fez a única coisa que achou que poderia fazer. Um dos
trolls saltou em sua direção e ela agarrou Eileen e saltou na água abraçada
à menina, segundos antes de um troll quase agarrar seu vestido.
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Autor(a): vondynatica
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Seguiam em seus cavalos em silêncio, alheios à beleza do caminho. Quando a tristeza faz ninho em nosso coração, retira de tudo a beleza e a poesia. Não é surpresa que tudo fique subitamente cinza. Essa é a cor da tristeza e ela a empresta a tudo que toca. Blanca tentava manter sua mente livre dos seus piores ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA