Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
O vento era gelado e cortava seus rostos como lâminas de espadas
numa guerra no inverno. Dulce se agarrava ao animal gritando para ele
parar, mas só ouvia como resposta um relincho assustador que se parecia
com uma gargalhada demoníaca.
Galhos passaram por eles, arranhando
seus rostos e braços, até que, num movimento brusco, o animal parou,
jogando os dois jovens vários metros a frente.
Chris e Dulce deram várias cambalhotas até pararem em um terreno
úmido e pegajoso. Foi Dulce a primeira a perceber que a viscosidade do
chão em que foram atirados era também rubra.
Seu grito se misturou ao de
Chris ao verem o belo cavalo que conheceram crescer diante deles. Seus
olhos eram vermelhos como lanternas flamejantes e sua bocarra se alargou
de uma maneira que não parecia possível, revelando dentes tortos e
disformes.
Apavorados, os dois se arrastaram para trás, enquanto a criatura
não parava de crescer. Dulce tentou correr, mas escorregou e caiu assim
que se levantou. Chris tentou segurá-la e caiu também. Perceberam que
estavam em algum tipo de poça.
A luz da lua revelou uma poça cercada de
pedras e ossos, cuja água ainda estava vermelha de sangue e fígados e
corações estavam espalhados perto dos ossos. Eles gritaram e tentaram
sair, mas à frente deles havia apenas pedras e crânios em pilhas tão altas
que teriam que escalar.
Um som tenebroso os fez virar novamente para a criatura, que agora
se mantinha de pé nas patas traseiras. As patas dianteiras se mostraram
garras e a cara de cavalo, antes doce e amistosa, era agora enrugada,
descarnada e má.
O monstro olhou para suas presas, exibindo uma espécie de sorriso
malicioso, babando. Parecia escolher com qual dos dois ia começar seu
banquete. Avançou para Dulce num salto que fez e menina esconder o
rosto de terror.
Dulce ouviu o grito de Chris e quando abriu os olhos, o viu em cima
dela. Ele havia saltado para protegê-la, mas agora as presas tortas da
criatura se fincavam no ombro dele. Ela olhou em seus olhos e tentou
segurá-lo quando o monstro o puxou para trás e o jogou contra as pedras e
ossos próximos.
Segurou-o com uma das garras e olhou para a menina com
uma baba de sangue a escorrer pela bocarra ainda aberta em algum sorriso
demoníaco. Dulce olhou em volta, o desespero a empurrando para uma
ação.
Qualquer ação. Mesmo uma ação estúpida.
A criatura voltou sua atenção para o rapaz em seu poder. Desceu a
cabeça até sentir seu cheiro. O medo sempre dava um sabor especial às
suas vítimas, como um tempero.
Rasgou sua camisa e, ignorando os gritos
do garoto, se preparou para mais uma mordida na carne tenra.
Um grito horrendo se elevou acima das pedras e ossos, da água
sangrenta e das árvores mortas e mudas. O monstro que emitira o grito se
virou com olhos cintilantes de ódio e viu a moça que tinha acabado de
fincar em sua perna um osso quebrado de alguma de suas vítimas
anteriores.
A criatura saiu de cima de Chris devagar. Arrancou com facilidade o
osso de sua perna e o jogou longe. Caminhou lentamente na direção da
garota. Ele tinha mais de três metros e ainda estava curvado. Chris tentou se
levantar, mas a primeira mordida tinha feito um estrago terrível em seu
ombro. Virou-se e tentou de novo, a tempo de ver o monstro se
aproximando de Dulce.
Ela deu alguns passos para trás, sabendo que não teria a menor
chance de fugir. A criatura não falava, mas deixava claro em seu olhar que
sua vida tinha chegado ao fim. Dulce sentiu os olhos se encherem de água,
enquanto o vento frio da floresta chicoteou seu corpo e cabelos. Havia
cheiro de sangue e de morte, de sonhos não vividos e de amores que não
tiveram chance.
E era ali, naquele lugar desolado, naquele pequeno mar de
ossos e pedras, que seu coração e o de Chris terminariam. Ela olhou para ele,
se arrastando na direção dela por trás daquele cavalo monstruoso de duas
patas. A única coisa que confortou seu coração é que, ao menos dessa vez,
ela não precisaria ver Chris morrer.
A criatura estava mais perto e ela sentiu
seu hálito de coisas mortas. Não, ela não o veria morrer. Tentou se
concentrar nisso para dominar o terror, o medo e a tristeza imensa que
sentia em ver sua estrada chegando ao fim.
Um homem saltou na sua frente. Ele era alto e tinha um manto
escuro. Com um cetro nas mãos, ele traçou um símbolo no ar diante da
criatura que imediatamente retrocedeu.
– ADONAI!!! – gritou ele, empunhando o cetro cuja pedra na ponta
brilhou.A criatura gritou e cobriu os olhos, como se tivesse visto a própria
morte no brilho do cristal.
– ADONAI!!! – repetiu o homem, e o cristal brilhou ainda mais
fortemente.
A criatura gritou novamente e se jogou para o lado, caindo de quatro
e correndo floresta adentro. O homem ainda manteve o cetro no alto por
alguns segundos, até ver que não havia mais perigo.
Dulce estava
paralisada, lágrimas já descendo pelo seu rosto. Queria dizer obrigada,
queria falar alguma coisa, mas só conseguiu emitir um soluço.
O homem se virou para ela e Dulce o reconheceu imediatamente.
– F-Fra-Frabato?... – disse ela.
O homem sorriu para ela.
– Soube que estava com problemas.
Eles foram até Chris, que segurava o próprio ombro ferido na
tentativa de deter o sangramento, recostado numa pedra.
– Quem... O que é você? – perguntou o rapaz, ao ver Frabato tentar
tocá-lo.
– Que memória ruim você tem, jovenzinho! – retrucou o homem. –
Quem já comeu de minha mesa e dormiu em meu castelo não costuma se
esquecer.
– Longa história! – explicou Dulce. – Pode dar um jeito nisso?
Frabato olhou o ferimento e fez uma careta.
– Preciso de umas ervas que estão no castelo. Vamos, eu os levo até
lá.
Ajudaram Chris a se levantar e ele gritou com a dor. A quantidade de
sangue preocupou Dulce, mas ela confiava em Frabato. Não sabia bem
porque, mas confiava.
– O que era aquilo?!... – perguntou o rapaz.
– Aquilo? Aquilo era um kelpie – respondeu o mago.
– Um??! – apavorou-se Chris. – E tem mais?!!
– Ah, tem! Um monte!...
– Odeio esse lugar... – foi o que ele disse, antes de parar de sentir as
pernas e tudo escurecer.
O mago o ergueu desacordado nos braços e seguiu com mais
velocidade. Dulce o acompanhou, olhando em volta para ver se a criatura
não os espreitava da floresta escura.
Fernando correra com Eileen pela floresta, sabendo que a nuvem de
trolls chegaria em poucos minutos. Precisava de um lugar para se esconder,
ou ao menos para esconder a menina, caso não encontrasse um lugar para
os dois.–
Ali! – disse Eileen, apontando para uma pequena área da floresta
repleta de flores.
Fernando hesitou. Era um lugar lindo, mas nem passava perto de um
lugar que pudesse escondê-los. Mas a menina puxou seu cabelo como se
fossem as rédeas de um cavalo e insistiu, apontando para o lugar. Sem
alternativa, ele correu para lá.
Colocou a fadinha no chão e ela correu na
frente dele, apontando o meio do que seria aquele pequeno jardim natural
de dedaleiras, flores que nasciam na ponta de um caule, cobrindo-o até a
ponta, formando pequenos pinheiros de dedais coloridos.
Ele foi até ela e a
menina o puxou pela mão, pedindo que se sentasse. Ele o fez, já ouvindo o
bater de asas se aproximando. Eileen pulou no colo dele e ele a abraçou.
Percebeu que estava tremendo. Seriam capturados, não tinha dúvidas
disso.
Trolls pousaram a alguns metros deles. Eram cerca de 15, pousando
um a um. Alguns sacudiram as árvores, enquanto outros procuravam em
moitas e amontoados de pedras.
Fernando não entendia como não os haviam
visto ainda, e foi quando um troll de dentes de javali pousou bem na frente
deles. Fernando se afastou instintivamente, mas a fadinha apertou sua mão e
virou-se para ele, fazendo-lhe um sinal para fazer silêncio.
Então, ele
permaneceu quieto, quase paralisado de terror, enquanto a criatura o
olhava, sem, no entanto, vê-lo. Ele sentiu o hálito da criatura, que estava
agora a menos de dez centímetros de seu rosto.
Prendeu a respiração por longos segundos, até que o troll
simplesmente se virou e foi embora. Os trolls se embrenharam na floresta,
deixando-os finalmente para trás.
Quando Fernando conseguiu respirar de novo, passou a mão na testa
fria, onde os cabelos negros se grudavam ainda molhados.
– Dedaleiras! – explicou Eileen, apontando para as flores. Como
Fernando continuasse sem entender, ela sorriu e continuou. – São as flores
das fadas!
Estava entardecendo e a visão do sol partindo era linda da ilha. Eles
estavam em um jardim suspenso do palácio de onde podiam ver toda a
beleza da Ilha. Infelizmente, nenhum deles estava prestando atenção.
Marcel ouvira todos os detalhes do que acontecera.
Compartilhou com
Oisin e o Capitão Swenney o que Marcos e Marcel lhe contaram e as
perspectivas não eram boas. Trolls não costumavam liberar suas presas
sem luta. Marcel se levantou e olhou para o Sol avermelhado entre as
montanhas ao longe.
– Está escurecendo – disse ele, enfim. – Amanhã sairemos cedo e
iremos até o fauno.
– Você vai embora?
A voz sentida era de Oisin. Ele se virou para ela e pegou em suas
mãos, olhando em seus olhos.
– Preciso ir. Mas eu voltarei.
Ela o abraçou e eles se beijaram apaixonadamente, o que causou
espanto em Blanca e Marcos. Oisin os deixou, avisando que teriam um
banquete em uma hora. Ela parecia abalada, embora tentasse não
demonstrar. Assim que ela e Capitão Swenney deixaram o lugar, Blanca o
interpelou.
– Ficou maluco?!
– Que foi?
– Você a beijou! – explicou Marcos.
– E o que é que tem?
– Esqueceu das regras?! Não pode beijar ninguém desse mundo, ou
você fica preso aqui pra sempre!
– Não era beijar! – explicou Marcel. – Era comer ou beber! E eu não
comi e bebi nada!
– Seu burro! – Blanca bateu nele. – Era comer, beber E beijar!!!
Marcel pareceu confuso.
– Era?!...
– Era, seu idiota! – sussurrou Marcos. – E agora?! O que vamos
fazer?!
Marcel passou as mãos nos cabelos escuros e deu alguns passos.
Então, subitamente se virou para eles.
– Uma crise de cada vez! Primeiro, precisamos achar Fernando, Dulce,
Chris e a menininha! Pra isso, precisamos achar o fauno! Depois veremos
como saio dessa enrascada!
Então ele se sentou num parapeito de mármore onde uma hera
verde escura fazia desenhos intricados. Olhou o Sol se despedindo e
pareceu melancólico. Aparentemente, o que ele mais temia acontecera.
Estava preso ali.
Blanca e Marcos se sentaram ao lado dele e se abraçaram.
– Nós vamos dar um jeito... – murmurou Blanca. – Vai ficar tudo
bem...
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Autor(a): vondynatica
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Não demoraram muito para chegar no Castelo de Frabato. Felizmente para Dulce, que tinha horror a assombrações, o castelo parecia normal. Não havia pedaços de corpos caindo do nada nem barulhos sinistros. Era um lugar iluminado e repleto de quadros de belezas naturais. Assim que chegou com o rapaz sangrando e desac ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
-
kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA