Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Não demoraram muito para chegar no Castelo de Frabato.
Felizmente para Dulce, que tinha horror a assombrações, o castelo parecia
normal. Não havia pedaços de corpos caindo do nada nem barulhos
sinistros.
Era um lugar iluminado e repleto de quadros de belezas naturais.
Assim que chegou com o rapaz sangrando e desacordado nos braços,
Frabato foi recebido por duas mulheres e um homem que pareciam
serviçais. Ele mandou que eles pegassem certas ervas e unguentos que ele
tinha estocado.
Dulce não sentiu urgência na voz do mago que sempre
parecia calmo e confiante, mas sentiu urgência no homem e na mulher que
correram para buscar o que ele pediu. A segunda mulher o guiou até o
quarto que Dulce só reconheceu ao entrar. Era o mesmo quarto em que
tinham ficado da primeira vez.
Colocaram Chris na cama e Frabato cortou sua camisa com uma
tesoura que a mulher lhe dera. No ombro, quase chegando ao peito, havia
uma horrível marca de dentada de onde vertia sangue abundantemente. A
mulher pegou uma bacia de água e Frabato começou a retirar o sangue com
uma toalha que tingia a água da bacia de vermelho.
O casal que havia ido
buscar o material voltava correndo carregando algumas coisas.
Dulce olhava atentamente a movimentação. Frabato passou um
unguento escuro no ferimento, estancando o sangue. Por cima, ele colocou
grandes folhas frescas de um verde profundo, até cobrir o ombro e parte
das costas do garoto, sempre com a ajuda da mulher que tinha a precisão
de uma enfermeira bem treinada.
Então, ele colocou as mãos sobre o
ferimento e ficou em silêncio por alguns minutos. Ninguém se movia na
sala e nada era ouvido. Dulce temeu que sua respiração nervosa
atrapalhasse, então tentou se controlar.
Quando Frabato terminou, deu um suspiro e um olhar para a mulher
que o ajudava. Então ele se levantou e ela assumiu seu lugar, enfaixando o
ombro de Chris. Frabato foi até Dulce, limpando as mãos em uma outra
toalha.
– Não foi tão ruim!... – disse ele. – É como uma picada de mosquito!
Dulce ficou olhando para ele, incrédula.
– Bem, um mosquito bem grande... E com dentes enormes... –
continuou ele, olhando para o rapaz na cama.
– Ele vai ficar bom?
– Vai, sim. Você precisa de um banho. Está horrível!
Só então Dulce se lembrou de olhar para si mesma. Estava suja de
terra e de sangue de Chris e das vítimas desconhecidas do kelpie, além de
muito molhada. Ela se virou para Chris e viu que estavam tirando todas as
roupas dele. Virou o rosto, querendo lhe dar privacidade.
– Vá tomar um banho – disse o mago, apontando com o queixo a
porta da sala de banhos que ela já conhecia, contigua ao quarto. – Annete
vai levar toalhas e uma camisola para você.
Dulce anuiu com a cabeça e foi, deixando que assim cuidassem de
Chris. Na sala de banhos – pois não havia banheiros no mundo das fadas,
apenas aposentos para se tomar banho. Aparentemente, seus corpos
consumiam totalmente alimentos e líquidos ingeridos, – Dulce se olhou no
espelho por um minuto. Então respirou fundo e começou a tirar a roupa. Se
Frabato não tivesse aparecido, estariam mortos, não tinha a menor dúvida
disso.
O banho renovou suas forças. Annete levou-lhe toalhas, uma
camisola e um penhoar, levando suas roupas sujas embora. Quando voltou
ao quarto, Chris parecia dormir pesadamente na cama, com curativos bem
feitos e um pijama de flanela branca. As três pessoas que cuidaram dele não
estavam mais ali.
Apenas Frabato estava sentado em uma cadeira
aguardando com um sorriso, tomando uma xícara de chá. Dulce foi até a
cama, ao lado de Chris, e o olhou longamente. Então, acariciou seus cabelos e
virou-se para o mago.
– Obrigada... – disse.
– Não tem de quê – respondeu prontamente Frabato.
Dulce se aproximou dele, intrigada.
– Como... Como soube que estávamos com problemas? – perguntou
ela, que não acreditava que ele estava simplesmente passando por ali
quando eram estripados pelo cavalo do demônio.
– Eu estava com meus espelhos mágicos e vi quando foram
abordados pelo kelpie. Tentei chegar antes, mas...
– Espelhos?
– Venha comigo, eu vou lhe mostrar!
Ele pousou a xícara sobre uma mesinha de madeira com gavetas e se
levantou. Ela o seguiu por um corredor e subiram uma escada acarpetada.
– O kelpie é muito perigoso – continuou ele. – Vocês deram muita
sorte!
– O que é um kelpie, exatamente? – perguntou Dulce, enquanto
subiam os degraus.
– É um ser muito mau. Ele toma a forma de um pônei inofensivo ou
de um cavalo bonito e tenta convencer alguém a montá-lo. Uma vez que o
consegue, leva a presa para seu ninho da morte, onde abate e devora suas
vítimas.– Ele come as pessoas??!!!
– Come! Menos o coração e o fígado. De resto, não sobra nada.
Dulce se lembrou que, além de ossos e crânios, havia corações e
fígados pelo chão.
– Por que ele não come coração e fígado? – perguntou ela.
– Sei lá – respondeu Frabato com um movimento de ombros. – Vai
ver que ele está preocupado com o colesterol. Pronto, chegamos.
Frabato abriu uma porta e acendeu uma luz que iluminou um
aposento de bom tamanho repleto de espelhos. Dulce queria perguntar
como ele conseguia eletricidade, mas acabou se distraindo com a visão dos
espelhos.
Havia espelhos com molduras de madeira, com molduras
prateadas e até um grande espelho com moldura de ouro. Estavam
pendurados nas paredes, de maneira que de qualquer lugar onde você
estivesse, poderia ver seu reflexo em vários espelhos de uma vez.
– Eles são mágicos? – perguntou Dulce.
– Claro que são!
E então Frabato fez um movimento de mãos e disse algumas
palavras. Imediatamente, os espelhos esfumaçaram e começaram a
aparecer imagens de pessoas que Dulce não conhecia, em vários lugares.
– Que fantástico! – balbuciou ela, caminhando pelos espelhos. –
Quem são essas pessoas.
– Gente que conheci. Gente que me conheceu. Gente de quem eu
gosto. Gente de quem eu não gosto.
– Foi assim que você nos viu?
– Sim. Vocês pipocaram na minha programação de TV sem que eu
esperasse.
A moça continuou andando pela sala, quando se virou de repente.
– Você pode ver qualquer pessoa nesses espelhos?
– Não qualquer pessoa... Mas posso ver alguém que eu conheço ou
que já tenha visto.
Dulce murchou os ombros, voltando a olhar para os espelhos.
– Gostaria de ver onde estão meus pais e meu tio Marcos...
O mago pensou um pouco e então se aproximou dela.
– Talvez você possa ver ao menos um deles – ele a segurou
gentilmente pelos ombros e então a instruiu. – Escolha uma dessas pessoas
e feche seus olhos.
Dulce pensou que entre os três, seu pai era um assunto mais
premente. Bem ou mal, sua mãe e tio Marcos estavam em segurança na Vila
da última vez que os viu.
– Esvazie sua mente... Ouça a minha voz...
Ela se sentiu em alguma sessão de hipnose, dessas que acontecem
em filmes, mas queria muito ver se Fernando e Eileen estava bem e não se
importava se Frabato a hipnotizasse e a fizesse agir como uma galinha num
palco, desde que pudesse vê-los nos espelhos.
– Pense nas pessoas que deseja ver. Concentre-se em uma.
Dulce pensou logo em seu pai. Será que eles teriam conseguido
despistar os trolls que os perseguiam?
– Abra os olhos.
Dulce abriu os olhos e, num espelho diante dela, uma fumaça
espessa começou a rodopiar. Como se um vento tivesse passado, a fumaça
se dissipou, dando lugar à imagem de Fernando caminhando numa floresta
escura de mãos dadas com a menina fada ao seu lado. O coração de Dulce
se aliviou. Estavam vivos.
Percebeu que seu pai ainda tinha uma marca
perto do olho de seu encontro com os trolls no dia anterior e alguns
arranhões de seu encontro com os trolls pela manhã. Ele também parecia
cansado, quase tão mal quanto ela quando se viu no espelho antes do
banho. Eileen parecia exausta. Estavam andando numa floresta escura. Mas
estavam vivos. E isso era tudo o que tinha e teria que ser o bastante por
hora.
Fernando caminhava pela floresta escura, a mãozinha quente apertada
na sua. Estavam andando por horas e quando nuvens encobriam a lua, ele
não enxergava nada a sua frente. Não havia um lugar para parar, então ele
simplesmente continuava. Até que Eileen começou a diminuir o passo.
Quando tentou puxá-la gentilmente, a fadinha se revoltou. Puxou sua mão
da dele e gritou.
– Eileen com fome! E cansada! E com sono! E com frio!
E começou a chorar.
– Eileen quer ir pra casa!
Fernando se ajoelhou rapidamente ao lado dela, tentando fazê-la parar
de chorar antes que alguma coisa naquela floresta a ouvisse e encarasse
isso como uma sineta para o jantar.
– Shhh, está bem, está bem! – disse ele. – Está tudo bem, nós vamos
achar um lugar! Um lugar com comida e roupas quentes!
– Vamos mesmo? – perguntou a criança, ainda chorosa.
Fernando sorriu seu melhor sorriso, aquele que convenceria você a
comprar ações da Betamax e da Eurodisney (hoje!).
– Vamos, sim, querida. Venha!
Ele a pegou no colo e a carregou. Ele também estava úmido e com
frio, e com fome, e cansado, e dolorido. Mas não sentia nada disso porque
estava preocupado demais com a menina em seus braços.
Continuou andando por mais alguns minutos, fazendo orações
silenciosas para que alguém o orientasse naquele estranho mundo, com
dúvidas se seu Deus o ouviria ou poderia intervir, mesmo se ouvisse. Foi
quando viu um brilho por trás das árvores a sua frente.
Apurou os olhos e
continuou na mesma direção, percebendo que mais luzes apareciam. Abriu
um sorriso de alívio quando discerniu as luzes de uma taverna.
Apertou o passo, o vento batendo em suas costas, deixando-o gelado.
Apertou a menina em seus braços, tentando aquecê-la um pouco mais e
prosseguiu, animado com a perspectiva de encontrar um lugar aquecido
para passar a noite.
Quando a porta da Taberna Andarilhos se abriu, uma lufada de
vento frio fez com que as pessoas lá dentro se virassem para ver quem
tinha entrado. A figura do homem vestido de preto espantou alguns.
O fato
dele estar com uma menina fada no colo espantou os restantes.
Fernando fechou a porta atrás de si e, assim que o fez, pôde sentir o
calor do lugar. Havia um aroma de comida, algo que ele identificou como
carne assada ou algo parecido. Havia também cheiro de bebida. Numa
rápida olhada para o recinto, ele viu que o lugar, não muito grande, estava
cheio.
Quase todas as mesas rústicas de madeira estavam ocupadas. Havia
homens fortes de cujo olhar ele não gostou. Eram grandes e fortes, talvez
lenhadores ou trabalhadores braçais.
Havia também outros homens,
menores, esguios, com cabelos ruivos quase laranja e um sorriso de dentes
amarelados malicioso. No canto mais à esquerda, viu um pequeno grupo de
anões jogando cartas com grandes canecas de cerveja. Mais ao fundo, um
tipo estranho de anão atarracado de pernas finas observava o visitante e
sua inesperada acompanhante.
O silêncio que se fez permaneceu e Fernando não se sentiu bem-vindo.
Pelo contrário, seu faro para encrenca o alertou de que aquele poderia ser
um lugar ruim para eles. Bem ruim. O vento aumentou e sacolejou as
janelas. Imaginar o frio lá fora afastou seu primeiro pensamento de virar as
costas e sair dali.
Caminhou pelo lugar e seus passos fizeram barulho na madeira que
rangeu. Eillen dormia em seu ombro e ele a balançou levemente,
acordando-a. Colocou gentilmente a menina num banco diante da única
mesa vazia e sentou-se diante dela.
Esperou que o silêncio preocupante que
se estabelecera desde que entrara, aquele silêncio que diz que você não
pertence àquele lugar e isso dá direito àquelas pessoas – ou fosse lá o que
fossem – de expulsá-lo ou fazer alguma coisa ruim com você, passasse. Mas
não passou. Ao invés disso, ouviu uma cadeira sendo arrastada e um dos
homens se levantou e caminhou pesadamente até ele.
Fernando tinha seu histórico de encrencas. E era um currículo bem
longo. Nunca fugira de uma briga. Pelo contrário, fazia questão de procurar
por elas. Era um ímã de encrencas, como dizia Blanca, e eles sabiam que ele
era ainda pior antes de se conhecerem.
Em outra ocasião, Fernando adoraria
começar uma briga e jogar alguns daqueles homens janela afora. Mas agora,
ele olhava para Eileen, esfregando os olhos miúdos de sono, e rezava para
que simplesmente os deixassem em paz. As coisas mudam quando você
tem algo a perder.
O homem parou perto deles e colocou a mão no cinto de couro
marrom.
– Ouvi dizer que Feiticeiros da Lua Negra só andam em bandos... –
disse o homem. – Como corvos...
Fernando não ergueu os olhos para ele, mas retesou os músculos,
preparando-se para agir.
– Então, o que faz sozinho por essas bandas, feiticeiro?... Se perdeu
do seu bando?
Algumas risadas ecoaram pela taberna. A coisa não estava boa. Se
não se impusesse naquele momento, seria sua ruína. Não sabia do que
aquela gente era capaz, mas sabia que Eileen precisava dele.
Fernando colocou as mãos sobre a mesa e empurrou levemente a
cadeira para trás, levantando-se.
Ficou de pé e encarou o homem, cerca de
vinte centímetros mais alto que ele. Ele tinha uma barba rala e um rosto
quadrado com olhos tortos que lhe davam um ar de pintura inacabada.
Uma cicatriz marcava seu rosto, feita provavelmente pela ponta de uma
espada. E era forte, disso não havia dúvida.
No passado, Fernando Espinoza havia sido um padre. Não um padre
qualquer. Um padre superstar. Ele atraía toda uma cidade e seus sermões
eram atração até para cidades vizinhas. Uma espécie de estrela do rock
religiosa da época, ele era capaz de conquistar quem ele quisesse com sua
forte presença. Isso lhe abriu muitas portas. E o livrou de muitas ciladas.
Algumas pessoas possuem esse carisma, esse brilho pessoal capaz de
passar um recado com um simples olhar. E era isso que ele esperava fazer
naquele minuto.
Seus olhos negros se cravaram no homem e imediatamente ele
sentiu que o sujeito diminuiu a pompa.
– Tem razão – respondeu ele em alto e bom tom, - nós andamos em
bando. E estamos por toda a parte, sempre observando, como a Lua. Por
isso sempre sabemos o que acontece com cada um de nós.
– Acha que tenho medo dos seus amigos? – perguntou o homem, se
aproximando de Fernando .
Fernando não se moveu. Ao invés disso, projetou o corpo para a frente
e rosnou em tom ameaçador.
– Não. Seria mais sábio ter medo de mim.
O homem sustentou o olhar por alguns instantes, até que uma voz
feminina interrompeu o concurso de testosterona.
– Ninguém vai brigar na minha taberna! – disse uma senhora negra
acima do peso de cabelos que alternavam o grisalho com o preto presos
num coque frouxo. – Não quero meus pratos quebrados nem minhas mesas
destruídas!
Ela se interpôs entre Fernando e o grandalhão, dirigindo-se ao segundo
com as mãos na cintura.
– Se quer brigar, Cadman, brigue lá fora!
O homem levou alguns segundos para desviar o olhar de Fernando e
finalmente voltar ao seu lugar. Lentamente, as conversas voltaram, assim
como o som de canecas pousando sobre as mesas.
Espinoza sentou-se novamente, ainda com a adrenalina correndo em
seu corpo, fazendo-o tremer levemente. Percebeu que a mulher parou ao
lado deles.
– O que vão comer? – perguntou ela.
Fernando olhou para a fadinha, nitidamente faminta. Hesitou por um
instante, e então fez seu pedido.
– Uma coisa quente para a menina, por favor.
A mulher continuou esperando.
– E para você, bonitão?
Ele olhou a comida nas outras mesas e sentiu a boca se encher
d’água.
– Um copo d’água, por favor.
– Tem certeza?
– Tenho, eu não estou com fome, obrigado.
A mulher os deixou e desapareceu atrás do balcão. Eileen se inclinou
para a frente e sussurrou como se contasse um segredo.
– Você não está com fome?...
– Não querida, eu estou bem.
Passaram-se poucos minutos até que o pedido fosse atendido. A
mulher chegou com uma enorme bandeja. Colocou diante de Eileen uma
cuia com um creme fumegante com cheiro de queijo que a menina já ia se
precipitando em tomar. Fernando a impediu, avisando que estava muito
quente, para que ela soprasse primeiro.
Para sua surpresa, uma cuia de creme foi colocada diante dele
também e antes que pudesse dizer qualquer coisa, um prato foi colocado no
meio de sua mesa com pedaços de frango assado e pães quentinhos. Ele se
virou para a mulher que os servia.
– Desculpe, eu só pedi para a menina! – disse ele.
A mulher colocou dois copos sobre a mesa e uma jarra de barro de
água.
– Querido, eu criei oito filhos – respondeu a mulher com um sorriso
que esbanjava espontaneidade. – Acha que eu não sei reconhecer uma cara
faminta?
Ela se preparou para se afastar, mas Fernando a puxou discretamente
de volta pelo braço. Falou baixo, em tom de confidência, e com um pouco de
vergonha.
– Eu não tenho como pagar...
Ela o olhou nos olhos por alguns segundos. E então sorriu de novo,
dando tapinhas em sua mão como uma tia querida.
– Não se preocupe com isso, filho!
E saiu para atender outros clientes que pediram cerveja. Fernando
observou Eileen pegando um pão quente com um bigodinho de creme. O
aroma do frango e do pão se misturaram e ele começou a comer também,
com as mãos, já que não havia talheres. Como nos velhos tempos.
Três horas se passaram e a mesa ficou vazia, assim como a taberna.
O homenzinho de cabelos vermelhos ainda dançava com sua caneca
sempre cheia, e anões discutiam de vez em quando, mas o homem que
enfrentara Fernando , assim como seus amigos, já tinham ido embora.
Fernando
esfregou os olhos, tentando afastar o sono. Ia pedir à boa senhora que os
deixasse pernoitar ali mesmo, naquela mesa, mas não queria atrapalhá-la.
Quando ela finalmente se aproximou deles, ele se preparou para o pedido.
Antes, porém, que ele dissesse qualquer palavra, ela perguntou:
– Vocês não tem pra onde ir, não é?
– Na verdade, temos pra onde ir... – respondeu Fernando com um
sorriso gentil. – Só não temos onde passar a noite!
A mulher riu e, com um movimento de mãos, falou para segui-la.
Fernando se levantou e pegou Eileen, que dormitava com a cabecinha sobre os
braços na mesa. Colocou-a no colo e seguiu a mulher.
– Não sei o seu nome...
A mulher se virou para ele subindo as escadas de madeira. Ela tinha
o rosto rechonchudo e um olhar que esbanjava sabedoria. Seu decote era
grande e o avental marcava uma cintura distante.
– Dana – disse ela. – Pode me chamar de Dana.
– Eu sou Fernando Espinoza, e essa é Eileen.
Ela olhou para a menina adormecida em seus braços com
curiosidade.
– Vocês formam uma família estranha...
E voltou-se para a porta que abria com uma chave que trazia num
molho.
– Você ainda não viu nada... – murmurou Fernando .
Ela deu passagem para eles e Fernando viu um quarto aconchegante
com duas camas, lençóis limpos, cobertores quentes e cheiro de madeira.
– O banheiro é ali e eu vou pegar toalhas.
Ela apertou o braço do homem e fez uma cara de espanto.
– Menino, você está molhado! Se dormir assim, vai acabar ficando
doente! Vou ver o que posso arrumar para vocês.
Ela os deixou no quarto e Fernando colocou Eileen numa das camas.
Sentou a menina delicadamente, mas ela estava mole de tanto sono. Retirou
o vestido molhado e secou-a com uma toalha que estava sobre a cama.
Lembrava muito Dulce quando era pequena e ele se viu invadido por uma
onda de nostalgia que o levou imediatamente à preocupação com a filha.
Teria ela conseguido escapar dos trolls? Claro que sim! Era sua filha! Ele
não criara nenhuma imbecil. Ela sabia se virar.
A porta voltou a se abrir depois de umas leves batidas e Dana estava
de volta com roupas dobradas e mais toalhas..
– Para você, consegui um velho pijama de meu filho mais novo. Para
a menina, só achei essa camisa de algodão de quando um deles, não lembro
mais qual, era criança. É o bastante para dormir. Amanhã suas roupas já
estarão secas!
Fernando recebeu as roupas e olhou-a com o peito cheio de gratidão.
– Dana... – disse ele. – Eu não sei como lhe pagar por isso tudo...
– Não se preocupe! – disse ela, dando-lhe tapinhas no braço. – Posso
ver que você é um bom homem num mau momento! Não precisa pagar por
nada.
Ela o deixou sozinho. Fernando ainda ficou parado alguns instantes
com as roupas nas mãos, então se virou e foi vestir Eileen. A menina nem
acordou e quando ele terminou de vesti-la, ela se virou para o lado e
continuou a dormir. Ele a cobriu com o cobertor e arrastou os pés para o
banheiro. No espelho, assustou-se consigo mesmo.
O rosto ainda estava
ferido, embora ele não sentisse mais nada. Estava pálido demais em
contraste com os cabelos negros que agora estavam desgrenhados, caindo
pelo rosto formando caracóis. Molhou o rosto numa bacia e respirou
profundamente.
Alguns minutos depois, ele se arrastou de volta, depois de um banho
de gato e com as roupas do filho da boa senhora. Um filho que deveria ser
enorme, pois as roupas estavam tão grandes nele que se sentia uma criança
vestindo o pijama do pai.
Fernando se deitou na outra cama e cobriu-se,
pensando que, se há alguns dias alguém lhe dissesse onde estaria naquele
momento, ele riria. Agora, não estava com muita vontade de rir...
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
-
kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA