Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Chris achou que iria se machucar quando chegasse ao fundo, mas para
sua surpresa, caíram os dois num tufo macio de mato verde. Dulce caiu
por cima dele e ele a segurou pelos braços, buscando um contato visual.
– Você está bem?
Dulce, por cima dele, com o cabelo por cima do rosto, anuiu com
um sorriso. Esperar pela queda não tinha adiantado em nada. Levara o
mesmo susto de antes. Eles se levantaram e ela o viu massageando o
ombro.
– E o seu ombro? – preocupou-se ela.
– Está bem! – respondeu ele, surpreso em realmente não estar
sentindo nada além de algumas fisgadas.
Uma ventania jogou todo o cabelo de Dulce contra seu próprio
rosto, fazendo-a desaparecer por alguns instantes. Puxando o cabelo com a
mão, Dulce olhou em volta. O vento estava lá, exatamente como ela se
lembrava. Ele vinha de todas as direções e rodopiava, elevando pequenas
flores para o céu azul.
Pequenas fadas em forma de dentes de leão subiam e
se davam as mãos, fazendo círculos e danças no ar. Um aroma de flores se
misturava e os envolvia como um véu delicado. Dulce se virou para Chris,
pronta para dizer que estavam bem perto do castelo de Belinda, mas se
deparou com o rosto extasiado do rapaz, admirado com tanta beleza.
– Que... coisa linda... – balbuciou ele, lamentando não ter um
vocabulário rico o bastante para descrever tudo o que via e sentia naquele
momento.
Dulce admirou um pouco mais a vista, mas o que a encantou
mesmo foi o brilho no olhar de Chris. Ele levou algum tempo para perceber
que ela o observava com um largo sorriso.
– O que foi?
– É a primeira vez que você vê esse mundo como eu vejo... –
respondeu ela.
Ele fez um movimento de ombros, sem saber exatamente como
responder àquilo.
– É um lugar belo... – foi só o que disse.
– É mais do que isso! – continuou ela. – É fantástico! É estonteante!
Tem mais cores do que no nosso mundo e tudo é... arrebatador!
Ele franziu o cenho e olhou para ela, como se estivesse tentando se
lembrar de algo importante.
– Eu sei. Mas há algo... Há algo aqui que me incomoda... – ele queria
dizer que algo ali o assustava terrivelmente, mas não quis passar essa
informação. – À luz do sol, este lugar é lindo. Mas quando ele mergulha nas
sombras, ele é terrível demais...
Dulce desfez o sorriso. Eles começaram a andar, o mato suave
acariciando suas pernas. Frabato tinha cedido roupas à Chris, que agora
trajava uma calça simples e uma camisa de seda leve com um colete azul
marinho com alguns enfeites em marfim.
Em alguns passos, puderam ver o
castelo suspenso imponentemente nas nuvens de cores douradas. Chris
deixou seu queixo cair pela segunda vez.
– Como isso é possível?
– É o castelo de Belinda – explicou Dulce. – Flutua acima do Lago
Azul de Vayu. Ela é a rainha do Reino das Fadas.
– Nossa! Ela tem estilo!... – disse ele, num movimento de cabeça. –
Mas onde pegamos o elevador pra chegar lá?
Dulce riu e pegou sua mão, levando-o até o ponto onde ela se
lembrava.
– Agora, relaxe...
Ele não entendeu, mas mergulhou nos olhos dela e esperou. O vento
continuava, jogando seus cabelos para todos os lados, levantando o vestido
de Dulce e beijando seus rostos. Uma brisa os ergueu suavemente e Chris se
assustou. Dulce apertou as mãos dele e ele sentiu a confiança de que ela
sabia o que estava fazendo.
Seu coração batia rápido e eles mergulharam
nos olhos um do outro. Dulce achou ter visto o brilho da lembrança nos
olhos azuis de Chris, como se ele a tivesse reconhecido, como se ele tivesse
finalmente se lembrado de que já estiveram ali antes. Mas talvez fosse
apenas o olhar de um jovem funcionário dos Correios apaixonado.
E Dulce
percebeu, naquele momento em que flutuavam rumo a um castelo que se
erguia impossivelmente no ar, que não fazia mais a menor diferença. Ela o
amava, amava tanto que doía, e contanto que ele a olhasse com aqueles
olhos sempre, que segurasse em sua mão e a beijasse todos os dias, tudo
estaria bem.
E foi num impulso que ele a beijou, como se o vento o tivesse
empurrado, e mergulhou nos lábios dela, sentiu seu coração, seu calor, e foi
como se o mundo inteiro girasse em torno deles naquele minuto. Se você já
beijou alguém que ama, sabe que um beijo pode te elevar, fazer você se
superar, ir mais longe. Talvez porque beijos sejam a maneira que os anjos
encontraram de nos lembrarmos de que o amor ao outro quando
retribuído é um caminho até o céu.
Quando eles ultrapassaram as nuvens, seus lábios se separaram
gentilmente, mas eles permaneceram com as testas encostadas, sem tirar
os olhos um do outro. Seus pés tocaram delicadamente no chão.
Chris percebeu que havia grama, flores, fadas, pedras e estátuas cor de
marfim espalhadas por um imenso jardim acima das nuvens.
O castelo, a
construção mais imponente e graciosa que ele já vira na vida, aguardava
mais a frente, com o brilho do sol refletindo em suas torres e grandes
janelas de cristal furta-cor.
Ela localizou a entrada, o portal de mármore gigante com os dois
grifos congelados em sua vigília petrificada. Caminharam até lá e Dulce se
sentia segura. Belinda era legal! Ela iria ajudar, certamente! Ajudara da
outra vez. Tudo bem que Dulce quase morreu, Chris quase foi mutilado, e
tudo isso fora muito estressante.
Mas, no final, tudo dera certo, e Dulce se
apegava à ideia de que Belinda os reconheceria como velhos amigos e lhes
daria tudo o que precisavam. Ela nem pensou em outra possibilidade...
Fadas e flores flutuavam e não dava pra saber a diferença. Chris parou
para ver uma fada numa roseira sem espinhos.
Ela estava sentada,
acariciando um passarinho em seu colo, enquanto outros dois observavam
com um pouco de inveja. Não demorou para que os outros dois se
aproximassem da fadinha para receberem também seu merecido carinho.
Chris notou que Dulce tinha razão.
Os pássaros possuíam cores vivas e
algumas delas ele não saberia descrever, assim como diversas flores.
Aquele mundo tinha uma palheta de cores infinitamente mais rica do que o
jardim mais colorido da Terra. Como isso podia ser possível?
Ele se apressou ao ver que Dulce estava parada mais adiante. Ela
acariciava a pata de uma estátua de grifo, perdida em alguma memória.
– Err... Você sabe que isso é uma estátua, né? – perguntou ele, vendo
que Dulce parecia sentir real afeição pela representação do grifo.
Ela olhou para ele e sorriu.
– Esse é Ipso e aquele é o Facto – explicou ela.
E então ela sentiu a estátua vibrar levemente. Ela se afastou, o
coração acelerado sem saber se as criaturas iriam reconhecê-los ou se ela
teria que fazer a audição para o American Idol de novo.
Chris deu alguns passos para trás ao perceber os animais ganhando
cores e textura reais, e sentiu um ímpeto de correr quando viu a mudança.
A respiração dos seres estufaram seu peito, seus olhos piscaram e eles
começaram a se mover.
– O que é isso? – balbuciou ele.
– São grifos e podem nos matar – explicou rapidamente Dulce. – Se
nos atacarem, cante uma música!
– O quê?!
Ele não teve tempo de compreender o que Dulce disse. Os grifos
saltaram de seus pedestais e os rodearam, suas penas reluzindo em
castanho dourado a luz do sol, os olhos vívidos refletindo todas as cores
que os rodeavam. Eles eram um espetáculo, mas a possibilidade de
cravarem seus bicos afiados e suas garras assassinas neles tirava um pouco
a beleza do momento.
– Ipso, Facto!... – disse Dulce, hesitante – Vocês se lembram de nós?
Nós já voamos juntos. E lutamos juntos!
Os animais os rodearam, observando-os bem de perto. E então, um
deles abaixou a cabeça e empurrou levemente Dulce, que sabia muito bem
o que isso queria dizer. Começou a acariciá-lo, falando palavras de gracejo
do quanto estava feliz por vê-los de novo.
O outro grifo fez o mesmo com
Chris, que imitou Dulce, sem tanta desenvoltura e com muito medo da
criatura perceber que ele estava assustado. Dizem que os animais sabem
quando estamos com medo, que cheiramos diferente. E quando percebem
isso, nos atacam.
Não foi o caso. Os grifos, enormes, pesando cerca de 500 quilos cada
um, com o corpo musculoso do tamanho de um cavalo e asas que abertas
pareciam ir além de sete metros, se comportaram como gatinhos, pedindo
carinho e felizes com o reencontro.
Com a passagem livre, eles seguiram pelo imenso jardim que os
separava do castelo. Chris não conseguia fechar a boca, tamanho seu espanto
com o lugar. Dulce seguia de mãos dadas, feliz de estarem juntos e com um
certo orgulho de saber para onde estava indo.
Quando chegaram na enorme entrada, dois guardas os detiveram.
Eram elfos de longos cabelos. Um era loiro, os cabelos tão claros que
lembravam ramos de trigo. O outro tinha cabelos negros como azeviche e
os dois pareciam se equilibrar naquele contraste ying/yang. Dulce ficou
pensando se Belinda os escolhera de propósito por simples estética na
decoração.
– O que desejam? – perguntou o elfo loiro.
– Viemos ver a Rainha Belinda – respondeu Dulce.
Os dois guardas se entreolharam como se ela tivesse falado alguma
piada.
– Tem certeza? – perguntou o de cabelos negros.
– Claro que tenho! Acha que viríamos aqui só pra dar “oi”?
Os guardas se entreolharam de novo. Chris estranhou e olhou em
volta, não sabendo bem o que procurar, mas algo não parecia muito certo.
Os guardas deram passagem e o casal adentrou o castelo. As
enormes pilastras cor de marfim que contrastavam com os tapetes azuis
davam ideia da imensidão do lugar. Da outra vez, eles já haviam encontrado
a rainha em seu trono, num grande salão ao final daquele caminho. Dessa
vez, porém, o trono estava vazio. Havia guardas a postos e um elfo alto que
Dulce reconheceu imediatamente como aquele que estava ao lado dela da
primeira vez.
– Ora, vejam quem voltou!...
– Oi! – disse Dulce.
– Oi – respondeu o elfo. – O que fazem aqui?
– Nós viemos falar com a Rainha Belinda.
– Temo que isso não seja possível.
Dulce não desviou o olhar. Por essa ela não esperava. Por que as
coisas não podiam ser simples?
– É muito importante!
– Lamento, a Rainha não está.
– Pra onde ela foi?
– Foi fazer compras! Pra onde acha que ela foi, garota? Uma rainha
tem seus afazeres e obrigações! O reino está em crise!
Dulce arregalou os olhos, não esperava por essa resposta.
– E sabe quando ela volta?
Uma ventania irrompeu o ambiente. Não era um simples vento, mas
um vento violento, frio e raivoso. Alguns vasos bambearam em seus
pedestais e se espatifaram no chão. Como se nuvens pesadas tivessem
ocultado o Sol, tudo mergulhou subitamente na escuridão.
– Bem... Parece que ela acabou de chegar... – murmurou o elfo.
Junto com o vento, uma mulher entrou. Ela era alta e seus cabelos
eram cor de prata. Eles dançavam pelo ar em volta de sua cabeça como se
estivessem chicoteando o vento. Seu vestido era da cor das nuvens de
chuva e seus passos ecoaram por todo o lugar. Ela caminhou até onde eles
estavam e parou de frente para o elfo, que lhe fez uma elegante reverência.
– Essa gente é louca, sabia?! – gritou ela. – Não querem ouvir a voz
da razão! Estão loucos para declarar uma guerra e não querem me ouvir!
Sabe o que vai acontecer? Essa gente vai declarar guerra e quando o
desequilíbrio for tão grande que ondas gigantes e furacões começarem a
arrancar suas casas e castelos do chão, eles virão correndo pedir minha
ajuda, ou clamando por Derrick! E aí, sabe o que eu vou fazer?!
Foi só então que ela percebeu que não estavam sozinhos. Virou-se
para o casal de jovens que a observava de olhos arregalados.
– Quem diabos são vocês? – perguntou a rainha, visivelmente
irritada.
– Somos Dulce e Chris! – respondeu Dulce. – Lembra de nós? Ele era
um anjo quando viemos aqui da primeira vez!
A rainha os fitou friamente.
– E daí? – perguntou, sem parecer se importar.
– Bem... – Dulce ia começar a falar alguma coisa, provavelmente
fazer os pedidos que tinha em mente, mas Chris a puxou levemente pelo
braço.
– Er... Majestade, estamos vendo que não é um bom momento, então
nós vamos indo...
– Não, nós temos que falar com ela! – insistiu Dulce, retirando o
braço e voltando-se para a rainha de mau humor.
– Rainha Belinda, nós estamos precisando de um favorzinho... Nós
temos que encontrar nossa família que está perdida no seu reino e se
pudesse nos emprestar seus grifos...
– Ficou doida?! – perguntou a rainha, atônita.
– Não... – Dulce não entendia por que ela diria não.
– Os grifos são guardiões do meu castelo e, numa guerra iminente,
eles são muito necessários, mocinha. Agora, se puder voltar para sei lá
onde, tenho muita coisa a resolver!
A rainha se virou para partir, mas ainda pôde ouvir Dulce.
– A gente devolve!
E então a mulher congelou, sentindo a fúria tomá-la por completo.
Cinco minutos depois, Chris e Dulce apreciavam suas novas
acomodações nas masmorras do castelo de Belinda. Infelizmente, não era
muito diferente de qualquer prisão. Era uma cela fria, desconfortável e sem
janelas.– É... – disse Dulce, um tanto constrangida. – Não saiu bem como eu
esperava...
– Jura? – perguntou Chris, sarcástico. – Achei que esse era o plano! A
gente ser preso e ficar aqui até morrer...
– Não vi você fazendo nada pra ajudar! – devolveu ela.
– E o que você queria que eu fizesse? Tava na cara que falar mais só
ia irritar mais a rainha. Quer dizer, dava pra todo mundo perceber, menos
você, claro!
Dulce bufou e virou-lhe as costas. Chris bufou e ficou no canto
oposto. Infelizmente, a cela não era grande o bastante para que saíssem um
das vistas do outro.
Não demorou muito, até que a ira desse lugar a um pouco de
serenidade.
– Desculpe – Chris foi o primeiro a se desculpar. – Sei que está fazendo
o melhor que pode...
Dulce se virou para ele. O cabelo encobrindo uma parte do rosto,
mas deixando à vista o brilho do olho cor de amêndoas. Ela parecia um
cachorrinho que levou bronca e ele a achou adorável.
Ela balançou um pouco o corpo, e então se virou totalmente para ele.
– Desculpe... Eu não queria que... Achei que daria certo...
Ela deixou os ombros caírem e ele foi até ela, abraçando-a
ternamente.
– Tudo bem, as coisas vão se ajeitar... – disse ele. – Você vai ver...
Eles ficaram abraçados na cela fria por alguns minutos em silêncio.
– Sabe?... – disse ele, quase num sussurro. – Eu nunca pensei que
alguém viesse atrás de mim...
Dulce o afastou gentilmente para olhar para ele.
– Como assim? – perguntou ela.
– Saber que sua família veio me resgatar foi muito importante pra
mim...
– E eu, não ganho nada? – riu ela. – Eu também vim resgatar você,
sabia?
Ele fez uma careta de desdém.
– Mas você não conta! Você é minha namorada, não fez mais do que
a sua obrigação!
Ele riu e ela bateu nele de brincadeira. Sentaram-se num canto da
cela e esperaram. Não havia muito mais o que fazer.
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Autor(a): vondynatica
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Era evidente que a donzela de cabelos ruivos não saía muito do castelo. Depois da crise de pânico com o ataque dos traficantes de escravos, a moça se acalmara, mas ainda olhava com os imensos olhos afogueados para tudo a sua volta, como se esperasse que a qualquer momento um perigo mortal se abatesse sobre eles. F ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA