Fanfics Brasil - Capítulo 1 - Mudança de Hábito O Trono Sem Rei

Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada


Capítulo: Capítulo 1 - Mudança de Hábito

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Dulce tinha mudado. Todo mundo tinha notado isso. Seu pai achou

que ela estava deprimida, sua mãe achou que ela estava apaixonada e seu

tio Marcos achou que ela estava em alguma dessas dietas malucas em que

as adolescentes entram. Dulce estava mais calada, mais observadora e

mais triste. Seu pai e sua mãe acertaram. 

 

Ela estava apaixonada, e

deprimida por ter pedido irreparavelmente seu primeiro, e assim sentia

seu coração, único e verdadeiro amor, por mais dramático que isso pudesse

soar. 

 

Mas havia uma outra mudança em Dulce que ninguém sabia dizer

exatamente qual era. Ela parecia mais... madura.

Sim, Dulce havia crescido, como crescem todas as meninas. O que

deixava as pessoas que a amavam confusas é que elas não haviam

percebido quando isso acontecera. 

 

Em um dia, lá estava a menina

engraçada e curiosa que falava o tempo todo. No outro, essa menina tinha

se transformado numa jovem de olhos distantes e constantemente

concentrada em silêncio em seu caderno de desenho.

 

O que eles não sabiam é que o tempo prega peças nos humanos.

Especialmente no mundo das fadas. Passam-se dias, semanas, meses por lá

e no mundo dos homens são anos, décadas, séculos... Dulce havia estado lá,

ela sabia que o tempo podia ser um sacana.

 

A Dulce que convivia com eles já tinha visto muitas coisas, sentido

muitas coisas, voado com grifos e pranteado sua dor quando seu coração

fora arrancado de seu peito e esmagado sem nenhuma chance. Eles não

perceberam porque... bem, porque o tempo pode mesmo ser um sacana.

 

Há coisas que nos mudam. Nos mudam para sempre. As coisas que

nos mudam são as que afetam nosso coração e nossa mente. A visita de

Dulce ao mundo de fadas fez as duas coisas. Ela nunca seria a mesma

depois de pisar nas terras de Paralda.

 

O problema é que ninguém no mundo dela sabia dessa visita. Ela

vivia agora com um segredo, e toda a sua dor, toda a sua tristeza, todo o

fardo que carregava estavam presos dentro desse segredo. De uma única

tacada, Dulce perdera a melhor amiga e o amor de sua vida, e não podia

conversar com ninguém a respeito disso, porque tudo envolvia uma

história muito louca com fadas, dragões, trolls, gigantes mal humorados,

castelos assombrados, sereias e ex-sereias. 

 

Às vezes, ela se sentia tão

desesperada que conversava com Cacau, sua vira-latinha. Cacau prestava

atenção, desde que ela continuasse lhe fazendo carinho no pescoço. Sempre

que Dulce se distraía em seu monólogo e esquecia de acariciá-la, Cacau

puxava sua mão com a pata, lembrando-a que sua atenção tinha um preço.

Infelizmente, Cacau não parecia entender muito bem o que ela dizia.

Dulce se sentia incrivelmente só.

 

– Estou preocupado com Dulce.

 

Blanca pegou duas xícaras de chá de cerejas e se sentou à mesa da

cozinha com o marido. Fernando olhou para ela com os grandes olhos negros

que conquistaram tantas mulheres no passado (literalmente) e ainda

faziam muitas moças suspirarem.

 

– Eu a levei hoje para se encontrar com as colegas no shopping –

continuou ele. – E ela parece incrivelmente infeliz!...

 

– Dê tempo a ela... – respondeu Blanca, bebericando seu chá quente.

 

– Todo coração se cura com o tempo.

 

– E se não for isso? – insistiu Fernando. – E se ela estiver com uma

dessas coisas que dá na televisão? Os jovens de hoje estão cheios de

problemas! Déficit de atenção, depressão, ansiedade, hiperatividade... No

meu tempo, os jovens tinham apenas que sobreviver às pragas e aos

inimigos. Então, comíamos o melhor que podíamos e aprendíamos a

manejar uma espada. Era muito mais simples! Não tinha todos esses

problemas! Não dava tempo!

 

Blanca sorriu com os lábios na xícara de borda dourada.

 

– Ela vai ficar bem, Fernando.

 

– Como você sabe? – perguntou ele, que ainda não tinha tocado em

seu chá.– Porque somos mulheres. Nos recuperamos de corações partidos. É

nossa natureza.

 

Fernando pegou a xícara e tomou um gole, o rosto ainda preocupado

com uma situação aparentemente fora de seu controle. E, de repente,

alguém entrou pela porta da cozinha com um ensolarado “Oi!”,

surpreendendo os dois.

 

Dulce entrou correndo com um grande sorriso, beijou Blanca e

Fernando e abriu a geladeira com um entusiasmo que há muito não viam.

Tirou de lá um grande pudim de tapioca com calda dourada e colocou em

cima da mesa, oferecendo um pedaço aos pais. Eles aceitaram, e ela os

serviu, falando como o dia estava lindo lá fora e como fora uma ótima ideia

sair.

 

Fernando e Blanca se entreolharam confusos, vendo-a devorar um

imenso pedaço de pudim dourado de calda.

 

– Que bom! – disse Blanca. – Sabia que sair ia lhe fazer bem!

 

– Foi ótimo! A melhor coisa do mundo! – respondeu ela, parecendo

esfuziante.

 

– E como foi o filme? – perguntou Fernando.

 

– Que filme? – perguntou de volta a filha.

 

– O filme que você e suas amigas foram ver! Não foi pra isso que elas

te chamaram? Pra ver um filme?

 

– Ah, é! – Dulce deu aquele olhar que eles conheciam de que ela não

estava sendo de todo sincera. – É, acabamos não vendo.

 

– E o que vocês fizeram? – perguntou Blanca, acompanhando a filha

no pudim que estava até então intocado na geladeira.

 

– Demos uma volta... Passeamos – resumiu Dulce, sem olhar pra

eles. – Ei! Vocês sabiam que não se pode mandar dinheiro pelo Correio?

Mas o engraçado é que em vários países da Europa pode! Então, se você

mandar uma carta daqui pra lá ou alguém te mandar uma carta de lá pra cá

com dinheiro dentro, você não pode reclamar se sumir, porque por lei não

pode aqui, embora possa lá!

 

Blanca e Fernando encararam a filha, que parecia ter contado a coisa

mais interessante do mundo, até que Fernando rompeu o silêncio.

 

– Você está usando drogas?

 

– Pai!!! – espantou-se Dulce. – Não! Claro que não!!! De onde tirou

isso???

 

Dulce começou a rir histericamente da hipótese e pegou mais um

enorme pedaço de pudim que chegara rapidamente na metade. 

 

Cobriu-o

com um monte daquela calda dourada que ela adorava, lembrando com

alegria que o sabor daquele pudim era muito parecido com um dos

maravilhosos doces que experimentara no mundo das fadas. Começou a rir

de novo quando se imaginou contando isso para seus pais. 

 

Aí é que eles iam

ter certeza de que ela estava chapada mesmo. Mas ela não precisava nem

citar fadas e dragões. Vendo-a se acabar de comer e rir até chorar, naquele

momento seus pais já tinham quase certeza de que ela estava doidona.

 

Todo mundo sabe que é muito difícil entrar na cabeça de uma

adolescente. Porém, algumas adolescentes são ainda mais complicadas que

outras. Dulce sempre foi uma garota meio estranha, vivendo suas

aventuras imaginárias em páginas de livros e vendo o mundo através de

lentes coloridas. Vê-la sombria preocupou seus pais. Vê-la subir as escadas

aos saltos rindo sozinha e cantarolando “Blue Moon” os preocupou um

pouco mais.

 

Mas Dulce não é assim tão complicada quando a conhecemos

melhor. Ela entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Atirou-se na

cama de costas e ficou sorrindo, olhando para o teto, onde estrelas

fosforescentes brilhavam. Um quadro de Blackmore Knight, uma banda

com ares medievais, coloria a parede de tom salmão. 

 

Um computador

repousava na bancada branca e quadros de sua família e de Anahí

coloriam prateleiras. No mural, alguns lembretes e fotos inspiradoras.

Antes, o mural era coberto com fotos de Johnny Depp, Chris Hemsworth,

Tom Hiddleston, Jesse Spencer e Shakira. Agora, as celebridades dividiam

seu espaço com imagens de fadas, dragões e grifos.

 

Depois de semanas vivendo em melancolia profunda, Dulce estava

pela primeira vez feliz. Não conseguia parar de sorrir. Ela vivera uma

aventura. E fizera escolhas. Sofrera uma perda da qual achou que jamais

iria se recuperar. Viu o amor de sua vida desvanecer em seus braços e

soube, naquele momento, que nunca mais amaria daquele jeito de novo. A

partir de então, sofreu em silêncio doloroso, até que a dor se afastasse.

 

Porém, de repente, ele estava de volta. Num encontro fortuito numa

praça, Dulce encontrara novamente Chris. Talvez fosse uma maneira do

Universo lhe dar uma segunda chance. Dulce meteu a mão no bolso e

pegou o pedaço de papel onde ele anotara seu e-mail e telefone. Passou os

dedos delicados por cima, como se acariciasse o rosto dele. Colocou o papel

no coração e voltou a olhar para o teto.

 

Tinha certeza de que era ele. Era o mesmo sorriso que a fazia querer

sorrir também, os mesmos olhos daquele tom de azul que parecem faróis

num mar no meio da noite. Sim, era ele, claro que era!

Porém, ele não mencionou absolutamente nada de sua aventura no

mundo das fadas, muito menos o que aconteceu depois. Por mais que

Dulce desse pistas – porque ela também não queria parecer uma louca

falando de fadas e dragões com alguém que acabara de encontrar – ele não

reagiu a nenhuma.

 

Mas ela se lembrava muito bem de tudo e sabia o que tinha

acontecido antes dela voltar para seu mundo. Queria saber o que aconteceu

depois, por que ele estava ali e se era ainda um anjo.

 

 A ideia dele não se

lembrar de nada a preocupou. Se ele não se lembrava de nada, também não

se lembrava dela. Seu pai costumava dizer que se algo não está na

lembrança, esse algo não existe de fato. E se ele a tivesse esquecido por

completo?...

 

Dulce deu um longo suspiro enquanto pensava nisso, sentindo o

coração doer um pouquinho. Cacau subiu na cama, alvoroçada como

sempre, o rabo enrolado balançando freneticamente e um tipo de sorriso

que a fazia parecer uma hiena. A moça fez-lhe o carinho exigido e voltou a

mente para a mudança de situação. Se Chris não se lembrava dela, então ela

daria um jeito dele lembrar.

 

 


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Autor(a): vondynatica

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 8



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  • vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26

    Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada

  • vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31

    Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada

  • kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13

    Continua!!!!

  • kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14

    CONTINUA


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