Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Dulce tinha mudado. Todo mundo tinha notado isso. Seu pai achou
que ela estava deprimida, sua mãe achou que ela estava apaixonada e seu
tio Marcos achou que ela estava em alguma dessas dietas malucas em que
as adolescentes entram. Dulce estava mais calada, mais observadora e
mais triste. Seu pai e sua mãe acertaram.
Ela estava apaixonada, e
deprimida por ter pedido irreparavelmente seu primeiro, e assim sentia
seu coração, único e verdadeiro amor, por mais dramático que isso pudesse
soar.
Mas havia uma outra mudança em Dulce que ninguém sabia dizer
exatamente qual era. Ela parecia mais... madura.
Sim, Dulce havia crescido, como crescem todas as meninas. O que
deixava as pessoas que a amavam confusas é que elas não haviam
percebido quando isso acontecera.
Em um dia, lá estava a menina
engraçada e curiosa que falava o tempo todo. No outro, essa menina tinha
se transformado numa jovem de olhos distantes e constantemente
concentrada em silêncio em seu caderno de desenho.
O que eles não sabiam é que o tempo prega peças nos humanos.
Especialmente no mundo das fadas. Passam-se dias, semanas, meses por lá
e no mundo dos homens são anos, décadas, séculos... Dulce havia estado lá,
ela sabia que o tempo podia ser um sacana.
A Dulce que convivia com eles já tinha visto muitas coisas, sentido
muitas coisas, voado com grifos e pranteado sua dor quando seu coração
fora arrancado de seu peito e esmagado sem nenhuma chance. Eles não
perceberam porque... bem, porque o tempo pode mesmo ser um sacana.
Há coisas que nos mudam. Nos mudam para sempre. As coisas que
nos mudam são as que afetam nosso coração e nossa mente. A visita de
Dulce ao mundo de fadas fez as duas coisas. Ela nunca seria a mesma
depois de pisar nas terras de Paralda.
O problema é que ninguém no mundo dela sabia dessa visita. Ela
vivia agora com um segredo, e toda a sua dor, toda a sua tristeza, todo o
fardo que carregava estavam presos dentro desse segredo. De uma única
tacada, Dulce perdera a melhor amiga e o amor de sua vida, e não podia
conversar com ninguém a respeito disso, porque tudo envolvia uma
história muito louca com fadas, dragões, trolls, gigantes mal humorados,
castelos assombrados, sereias e ex-sereias.
Às vezes, ela se sentia tão
desesperada que conversava com Cacau, sua vira-latinha. Cacau prestava
atenção, desde que ela continuasse lhe fazendo carinho no pescoço. Sempre
que Dulce se distraía em seu monólogo e esquecia de acariciá-la, Cacau
puxava sua mão com a pata, lembrando-a que sua atenção tinha um preço.
Infelizmente, Cacau não parecia entender muito bem o que ela dizia.
Dulce se sentia incrivelmente só.
– Estou preocupado com Dulce.
Blanca pegou duas xícaras de chá de cerejas e se sentou à mesa da
cozinha com o marido. Fernando olhou para ela com os grandes olhos negros
que conquistaram tantas mulheres no passado (literalmente) e ainda
faziam muitas moças suspirarem.
– Eu a levei hoje para se encontrar com as colegas no shopping –
continuou ele. – E ela parece incrivelmente infeliz!...
– Dê tempo a ela... – respondeu Blanca, bebericando seu chá quente.
– Todo coração se cura com o tempo.
– E se não for isso? – insistiu Fernando. – E se ela estiver com uma
dessas coisas que dá na televisão? Os jovens de hoje estão cheios de
problemas! Déficit de atenção, depressão, ansiedade, hiperatividade... No
meu tempo, os jovens tinham apenas que sobreviver às pragas e aos
inimigos. Então, comíamos o melhor que podíamos e aprendíamos a
manejar uma espada. Era muito mais simples! Não tinha todos esses
problemas! Não dava tempo!
Blanca sorriu com os lábios na xícara de borda dourada.
– Ela vai ficar bem, Fernando.
– Como você sabe? – perguntou ele, que ainda não tinha tocado em
seu chá.– Porque somos mulheres. Nos recuperamos de corações partidos. É
nossa natureza.
Fernando pegou a xícara e tomou um gole, o rosto ainda preocupado
com uma situação aparentemente fora de seu controle. E, de repente,
alguém entrou pela porta da cozinha com um ensolarado “Oi!”,
surpreendendo os dois.
Dulce entrou correndo com um grande sorriso, beijou Blanca e
Fernando e abriu a geladeira com um entusiasmo que há muito não viam.
Tirou de lá um grande pudim de tapioca com calda dourada e colocou em
cima da mesa, oferecendo um pedaço aos pais. Eles aceitaram, e ela os
serviu, falando como o dia estava lindo lá fora e como fora uma ótima ideia
sair.
Fernando e Blanca se entreolharam confusos, vendo-a devorar um
imenso pedaço de pudim dourado de calda.
– Que bom! – disse Blanca. – Sabia que sair ia lhe fazer bem!
– Foi ótimo! A melhor coisa do mundo! – respondeu ela, parecendo
esfuziante.
– E como foi o filme? – perguntou Fernando.
– Que filme? – perguntou de volta a filha.
– O filme que você e suas amigas foram ver! Não foi pra isso que elas
te chamaram? Pra ver um filme?
– Ah, é! – Dulce deu aquele olhar que eles conheciam de que ela não
estava sendo de todo sincera. – É, acabamos não vendo.
– E o que vocês fizeram? – perguntou Blanca, acompanhando a filha
no pudim que estava até então intocado na geladeira.
– Demos uma volta... Passeamos – resumiu Dulce, sem olhar pra
eles. – Ei! Vocês sabiam que não se pode mandar dinheiro pelo Correio?
Mas o engraçado é que em vários países da Europa pode! Então, se você
mandar uma carta daqui pra lá ou alguém te mandar uma carta de lá pra cá
com dinheiro dentro, você não pode reclamar se sumir, porque por lei não
pode aqui, embora possa lá!
Blanca e Fernando encararam a filha, que parecia ter contado a coisa
mais interessante do mundo, até que Fernando rompeu o silêncio.
– Você está usando drogas?
– Pai!!! – espantou-se Dulce. – Não! Claro que não!!! De onde tirou
isso???
Dulce começou a rir histericamente da hipótese e pegou mais um
enorme pedaço de pudim que chegara rapidamente na metade.
Cobriu-o
com um monte daquela calda dourada que ela adorava, lembrando com
alegria que o sabor daquele pudim era muito parecido com um dos
maravilhosos doces que experimentara no mundo das fadas. Começou a rir
de novo quando se imaginou contando isso para seus pais.
Aí é que eles iam
ter certeza de que ela estava chapada mesmo. Mas ela não precisava nem
citar fadas e dragões. Vendo-a se acabar de comer e rir até chorar, naquele
momento seus pais já tinham quase certeza de que ela estava doidona.
Todo mundo sabe que é muito difícil entrar na cabeça de uma
adolescente. Porém, algumas adolescentes são ainda mais complicadas que
outras. Dulce sempre foi uma garota meio estranha, vivendo suas
aventuras imaginárias em páginas de livros e vendo o mundo através de
lentes coloridas. Vê-la sombria preocupou seus pais. Vê-la subir as escadas
aos saltos rindo sozinha e cantarolando “Blue Moon” os preocupou um
pouco mais.
Mas Dulce não é assim tão complicada quando a conhecemos
melhor. Ela entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Atirou-se na
cama de costas e ficou sorrindo, olhando para o teto, onde estrelas
fosforescentes brilhavam. Um quadro de Blackmore Knight, uma banda
com ares medievais, coloria a parede de tom salmão.
Um computador
repousava na bancada branca e quadros de sua família e de Anahí
coloriam prateleiras. No mural, alguns lembretes e fotos inspiradoras.
Antes, o mural era coberto com fotos de Johnny Depp, Chris Hemsworth,
Tom Hiddleston, Jesse Spencer e Shakira. Agora, as celebridades dividiam
seu espaço com imagens de fadas, dragões e grifos.
Depois de semanas vivendo em melancolia profunda, Dulce estava
pela primeira vez feliz. Não conseguia parar de sorrir. Ela vivera uma
aventura. E fizera escolhas. Sofrera uma perda da qual achou que jamais
iria se recuperar. Viu o amor de sua vida desvanecer em seus braços e
soube, naquele momento, que nunca mais amaria daquele jeito de novo. A
partir de então, sofreu em silêncio doloroso, até que a dor se afastasse.
Porém, de repente, ele estava de volta. Num encontro fortuito numa
praça, Dulce encontrara novamente Chris. Talvez fosse uma maneira do
Universo lhe dar uma segunda chance. Dulce meteu a mão no bolso e
pegou o pedaço de papel onde ele anotara seu e-mail e telefone. Passou os
dedos delicados por cima, como se acariciasse o rosto dele. Colocou o papel
no coração e voltou a olhar para o teto.
Tinha certeza de que era ele. Era o mesmo sorriso que a fazia querer
sorrir também, os mesmos olhos daquele tom de azul que parecem faróis
num mar no meio da noite. Sim, era ele, claro que era!
Porém, ele não mencionou absolutamente nada de sua aventura no
mundo das fadas, muito menos o que aconteceu depois. Por mais que
Dulce desse pistas – porque ela também não queria parecer uma louca
falando de fadas e dragões com alguém que acabara de encontrar – ele não
reagiu a nenhuma.
Mas ela se lembrava muito bem de tudo e sabia o que tinha
acontecido antes dela voltar para seu mundo. Queria saber o que aconteceu
depois, por que ele estava ali e se era ainda um anjo.
A ideia dele não se
lembrar de nada a preocupou. Se ele não se lembrava de nada, também não
se lembrava dela. Seu pai costumava dizer que se algo não está na
lembrança, esse algo não existe de fato. E se ele a tivesse esquecido por
completo?...
Dulce deu um longo suspiro enquanto pensava nisso, sentindo o
coração doer um pouquinho. Cacau subiu na cama, alvoroçada como
sempre, o rabo enrolado balançando freneticamente e um tipo de sorriso
que a fazia parecer uma hiena. A moça fez-lhe o carinho exigido e voltou a
mente para a mudança de situação. Se Chris não se lembrava dela, então ela
daria um jeito dele lembrar.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA