Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Anahí estava na sala de leitura onde gostava de ir para recitar
poemas, poesias e textos que ela achava belos. Sua plateia se resumia a uma ama e ao guarda Bran, com cuja presença já se acostumara. Antes de ser seu protetor oficial, Bran tomava conta das dependências reais, e era um
rosto que ela via constantemente.
– Escolhi esse para ler hoje porque às vezes precisamos nos lembrar
das coisas que ele diz – disse Anahí, acariciando o livro diante dela. – Esse
é o meu caderno de pensamentos. Eu reuni aqui as belas palavras que
chegaram até mim, quando vivia no mundo dos homens. Eu sempre lia,
antes de dormir, quando estava triste, quando estava alegre, enfim, em
qualquer momento. Mas eu tinha me esquecido desse belo texto... Quando
vim para cá, esqueci de um monte de coisas... Bem, fiquei feliz de Manuel ter trazido esse livro pra mim, eu sei como é difícil ir até o nosso mundo! O
nome é Os Votos.
Ela ergueu o tronco, consertando a postura. Impostou a voz e
começou:
– “Pois desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado.
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que mesmo maus e inconsequentes sejam corajosos e fiéis.
E que em pelo menos um deles você possa confiar e que, confiando, não
duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos
nem poucos, mas na medida exata para que algumas vezes você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo para que você não se sinta demasiadamente seguro.
Desejo depois que você seja útil, não insubstituivelmente útil, mas
razoavelmente útil.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja
suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante, não com que os que erram pouco,
porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente.
E que essa tolerância nem se transforme em aplauso, nem em permissividade,
para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro não insista em rejuvenescer,
e que sendo velho não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles
escorram dentro de nós.
Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, nem um mês e muito
menos uma semana, mas um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom, o riso
habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de
tudo, talvez agora mesmo, mas se for impossível amanhã de manhã, que
existem oprimidos, injustiçados e infelizes.
E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência
inevitável.
Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo
menos um João-de-barro erguer triunfante seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente por mais ridícula que seja e
acompanhe seu crescimento dia a dia, para que você saiba de quantas muitas
vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro porque é preciso ser prático. E que
pelo menos uma vez por ano você ponha uma porção dele na sua frente e
diga: Isto é meu.
Só para que fique claro quem é o dono de quem.
Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal, não
obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que essa frugalidade não impeça você de abusar quando o abuso se
impuser.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você. Mas que
se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
Desejo por fim que,
sendo mulher, você tenha um bom homem
e que sendo homem tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez e
novamente de agora até o próximo ano acabar.
E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor pra
recomeçar.
E se isso acontecer, não tenho mais nada para desejar”
Anahí fechou o livro. A ama tinha lágrimas nos olhos e Bran
desenhou um sorriso no rosto sempre fechado.
– Quem escreveu? – perguntou ele.
Anahí raramente ouvia a voz dele. Era tão jovem!... Ela sorriu ao
lhe responder.
– Eu achava que era de Victor Hugo, mas depois descobri que foi um
brasileiro, Sérgio Jockymann, quem escreveu para um jornal de Porto
Alegre em 1978.
– É bela... – disse a ama, visivelmente emocionada.
O aposento ainda flutuava com imagens de sonho, afeto, amor e
todas as coisas que se deseja a quem se ama quando a porta se escancarou
e uma Dulce furiosa adentrou o lugar. Ela estava com os olhos brilhantes e
ligeiramente vermelhos, as bochechas coradas e um ar selvagem que
parecia se alastrar para os cabelos.
– Dulce! – assustou-se Anahí, largando o caderno. – O que
aconteceu com você?!
Dulce olhou para a ama e para Bran.
– Saiam! – rosnou ela.
Os dois olharam para Anahí, que confirmou com um movimento de
cabeça. Assim que a porta se fechou, Dulce se voltou para Anahí. Os olhos
voltaram a se encher de lágrimas cheias de mágoa.
– Por favor, Anahí... – disse ela com voz trêmula. – Me diga que
você não sabia de nada. Me diga que você não fez parte disso!
Anahí se levantou e foi até a amiga.
– Dulce, pelo amor de Deus, do que você está falando?
– Chris não foi buscar meus pais! – gritou ela. – E não foi a druida
nenhum! Nem dormiu naquela cama! Ele está sendo torturado por Manuel
no calabouço!
Anahí piscou várias vezes, sacudindo a cabeça como se não
compreendesse.
– O quê?!
Dulce a agarrou pelos braços, apertando-a.
– Me diga que você não teve nada com isso, Anahí! – sua voz era
rouca e seu tom era ameaçador. – Me diga que você não está me distraindo
desde ontem, que não me drogou na noite passada, e que não sabia que seu
querido noivo está torturando meu amigo inocente!
Anahí balançava o rosto ainda atônita, os lábios tremendo sem
formular nenhuma palavra.
– Responde!!! – gritou Dulce, sacudindo-a.
– Eu... Eu não sabia!... – murmurou a outra.
Dulce, transtornada, continuou segurando-a e olhando em seus
olhos por alguns instantes. Então, soltou-a e virou-se, soluçando, passando
as mãos na cabeça como se isso pudesse evitar que ela explodisse.
– Você... Você tem certeza disso? – perguntou Anahí.
Dulce se virou, o rosto furioso diante da própria impotência.
– Eu segui Manuel! – respondeu. – Eu o segui até o calabouço e ouvi
quando ele chicoteou Chris. E ouvi os gritos de Chris quando Manuel o queimou!
Ele quer que Chris diga onde é o covil dos trolls, mas ele não sabe! Ele nem
sabe quem ele é!
Anahí olhou para o nada, como se pequenas coisas que lhe
passaram despercebidas de repente fizessem sentido. Dulce se agitou de
repente. Limpou o rosto, tentando parar de chorar e deu alguns passos em
uma direção aleatória.
– Preciso fazer alguma coisa! Preciso tirá-lo de lá!
Ela tomou o rumo da porta, mas parou quando Anahí chamou seu
nome.
– Não pode ir lá e simplesmente tirá-lo do calabouço! – disse Anahí,
se aproximando.
– O que eu faço então? – soluçou Dulce.
Anahí colocou a mão em seu ombro e a olhou firmemente nos
olhos.
– Precisamos de um plano.
A quinze metros do bosque onde tinham quase certeza de que uma
emboscada os aguardava, Marcos, Blanca, Marcel e Fergus tentavam
decidir o que fazer.
– Já sei! – disse Fergus. – Vamos nos separar!
– Amigo, você nunca viu filme de terror na vida, né? – perguntou
Marcos.
– A estrada passa pelo bosque – explicou Fergus. – Todo viajante
passa exatamente por esse ponto que estamos passando agora. Por isso
eles prepararam uma emboscada nesse ponto! Se, no entanto, corrermos
para longe desse ponto, nos espalhando pelo resto do bosque, eles serão
pegos de surpresa! Não poderão nos emboscar e ficarão confusos sobre
quais de nós seguir!
– Parece fazer sentido! – disse Marcel.
– Parece arriscado... – comentou Blanca.
– Não mais arriscado do que os enfrentarmos cara a cara agora –
prosseguiu Fergus.
Quando chegaram a dez metros da entrada mais usada para o
bosque, coberta pelas sombras das belas copas das árvores, os seis cavalos
dispararam em direções diferentes, adentrando o bosque em pontos
diferentes. Fergus acompanhou Maeve, mas a apenas alguns metros deles,
Blanca corria.
Por alguns momentos, acreditaram terem errado e que não havia
ninguém os esperando para uma emboscada. Até que homens em cavalos
surgiram logo atrás deles.
Seus cavalos estavam cansados, mas eram bons cavalos. Mantinham
boa distância de seus perseguidores. Três homens perseguiam Fergus e
Maeve, dois foram atrás de Blanca. Um perseguia Marcel e um perseguia
Marcos.Sentindo seus perseguidores se aproximando, Blanca se
questionava sobre a eficácia desse plano. Infelizmente, era um pouco tarde
para voltar atrás. Viu árvores com muitos galhos baixos logo a frente. Muito
baixos. Os homens estavam a poucos metros dela. Blanca arriscou.
Manteve a direção, esperando que o manto que voava atrás dela tapasse a
visão dos homens, ou ao menos os confundisse. Quando chegou a menos de
meio metro dos galhos, Blanca inclinou-se, girando sobre a cela, passando a
cavalgar de lado, mas ainda segurando as rédeas. Os galhos arranharam seu
braço e a força que fez para manter o peso de seu corpo tão inclinado sem
cair foi enorme. Os galhos continuavam baixos e Blanca ouviu sons de
queda atrás de si.
Os dois homens que a perseguiam foram varridos pelos galhos e
jogados para trás com violência, graças à velocidade que mantinham. Os
cavalos seguiram sozinhos, até finalmente pararem.
Marcos não se dedicara à arte da montaria e esgrima como Blanca,
Fernando e Marcel. Ele preferia lutas corpo a corpo e arco e flecha. Agora,
enquanto corria desvairadamente contra o vento com um desconhecido
mal intencionado atrás dele, pensava que devia ter se dedicado um pouco
mais à montaria.
Marcel gostava de cavalgar. Gostava ainda mais de saltar. E assim
que viu obstáculos a sua frente, esperou que sua montaria estivesse à
altura do cavaleiro. Saltou uma árvore que crescera estranhamente
inclinada. Seu perseguidor fez exatamente o mesmo. Correu mais um pouco
e viu um declive, uma vala seca. Esperou que fosse assustador o bastante
para fazer o cavalo do inimigo hesitar, era só do que precisava.
– Vamos, amigo, se você saltar essa, eu lhe darei as melhores
cenouras que você já comeu!
Marcel se abaixou para melhorar o desempenho e então saltou a
vala, indo parar do outro lado com perfeição. Olhou para trás no exato
momento em que o outro cavalo empacara, jogando seu cavaleiro no
buraco. Marcel sorriu, empolgado com o sucesso.
A poucos metros dali, Marcos sentia o coração na garganta ao ver
que seu perseguidor estava praticamente ao seu lado. Olhou para o homem,
um sujeito de barba por fazer e um sorriso meio torto. Ele pegou uma
espada e ergueu-a contra Marcos, que tentou fazer o cavalo correr mais,
enquanto tentava pegar sua própria espada para se defender.
Quando a espada do inimigo desceu, encontrou o metal da espada de
Marcos, mas o impacto o desequilibrou, quase fazendo-o cair da sela. O
homem girou novamente a espada, pronto para mais um ataque. Mais uma
vez, Marcos conseguiu impedir que a lâmina atingisse a ele ou ao cavalo,
mas seu equilíbrio, já comprometido, piorou.
Um terceiro golpe fez sua
espada girar no ar e cair. Marcos usou então as duas mãos para tentar se
manter na montaria, mas isso deixou sua guarda totalmente aberta. Pelo
canto do olho, ele viu a parábola de brilho metalizado no ar. Esperou pelo
golpe, o suor descendo pela testa.
Um golpe fatal tirou o homem do cavalo. Marcos virou-se e se
deparou com Marcel, dando-lhe uma inesperada e muito bem-vinda
cobertura.
Maeve sabia montar, mas nunca precisara correr pela própria vida.
Esperava fazer seu melhor, mas faltava-lhe confiança. Quando uma árvore
enorme se mostrou caída em seu caminho, ela não conseguiu fazer com que
o cavalo saltasse. Ele empacou e lançou-a longe. A moça gritou, caindo e
rolando sobre mato e terra.
Fergus então parou e se preparou para enfrentar seus opositores.
Eram três contra um, mas ele podia dar conta. O golpe do primeiro homem
quase o derrubou do cavalo, dada a velocidade com que o outro vinha.
Desviou-se do golpe do segundo, já esperando pelo terceiro. Este, sim, o
derrubou. No chão, levantou-se e acertou a perna de um deles com
tamanha violência que o grito do homem podia ser ouvido ecoando por
todo o bosque.
Retirou a espada a tempo de usá-la para se defender de mais um
golpe pelas costas. Agarrou um dos homens e o puxou do cavalo para uma
briga mais equilibrada. Defender-se de golpes vindos de cima estava muito
difícil. Pelo menos, agora um deles não teria a gravidade a seu favor.
As espadas se cruzaram várias vezes seguidas, até que um golpe
pelas costas fez Fergus gritar. Caiu de joelhos, ainda se defendendo do
golpe do homem que o enfrentava no chão. O homem da perna ferida
continuava no cavalo e agora voltava com uma carranca de ira e dor, a
espada em riste preparada para um golpe fatal.
Entre decidir de quem se defender, Fergus escolheu o homem no
cavalo. O golpe quebrou sua espada e arranhou seu rosto e ombro. Caiu no
chão com o impacto e o homem de pé se preparou para finalizar o serviço.
Não esperava que uma moça de cabelos ruivos se interpusesse entre
eles.
– Deixe-o em paz! – gritou ela, os cabelos ruivos emoldurando o
rosto alvo.
Os homens riram e quando o homem que estava na sua frente se
virou para ela, Maeve jogou-lhe no rosto um punhado de terra. O homem
levou a mão ao rosto, rugindo, momentaneamente cego. O que estava no
cavalo então resolveu terminar o assunto.
Desceu do cavalo e se preparou
para matar a moça que tentava proteger o rapaz no chão. Fergus, por sua
vez, tentava se levantar, mas não tinha mais espada e os golpes o deixaram
um pouco atordoado. Maeve o protegeu, numa inversão de papéis
inesperada para ele.
Um cavalo passou na frente deles com uma figura feminina de
longos cabelos castanhos e um manto esvoaçante e, quando ela saiu de sua
visão, o homem que estava diante deles deixou a espada cair. Sangue jorrou
de seu pescoço e ele caiu inerte. O primeiro, que conseguira finalmente
tirar a terra dos olhos, se preparou para os novos oponentes, mas não teve
tempo. Um golpe na cabeça com o punho de uma espada vindo de Marcos o
desacordou imediatamente. O que tinha a perna ferida correu com Marcel
em seu encalço.
Com a situação controlada, Maeve se virou para Fergus, colocando
as delicadas mãos no rosto dele, vendo o filete de sangue marcando o
jovem rosto.
– Você está bem? – perguntou ela.
Fergus não respondeu. Não sabia o que dizer. Sonhara com a
princesa Maeve desde que eram crianças e ela nunca lhe prestara nenhuma
atenção. E por que prestaria? Ele era apenas um simples camponês. Só
conseguiu entrar na guarda real por conta de feitos heroicos durante
alguns ataques à cidade.
– Você está bem? – perguntou Blanca, descendo do cavalo.
Fergus se levantou com a ajuda delas, sentindo as pontadas nas
costas. Blanca deu uma olhada rápida.
– Não foi profundo. Se pudermos fazer um curativo, ficará bem.
– Não, temos que ir para o castelo! – protestou Fergus. – Não está
longe! Eu aguento até lá!
Eles se entreolharam e aceitaram. Precisavam mesmo sair dali, não
sabiam se havia outros ou se os que foram simplesmente derrubados
voltariam ao seu encalço. Marcos pegou duas espadas dos inimigos caídos e
entregou uma para Fergus, ficando com a outra. Montaram novamente e
dispararam para longe dali.
O castelo no alto da colina viu os cavaleiros se aproximando
correndo. Não havia perseguidores atrás deles, mas era clara a urgência.
Assim que chegaram no grande portão de madeira, se identificaram. A
porta se abriu e eles entraram na grande área, onde camponeses e
mercadores os olhavam curiosos. Um grupo de guardas armados os
acompanhou até as portas do castelo, onde finalmente foram recebidos
pelo Rei do Norte.
– Minha nossa! – disse o Rei Conwal. – Vocês estão horríveis!
– Tivemos um imprevisto, majestade – informou Blanca.
O Rei Conwal era um homem de barbas e cabelos castanhos. Era
corpulento e suas roupas eram de pele de um grande urso marrom, o que
Blanca achou um tanto politicamente incorreto e Marcos achou de gosto
duvidoso. A coroa era simples e encaixava perfeitamente em sua cabeça,
como se tivesse sido feita especialmente para ele.
– Pois bem, quem é a noiva do meu filho? – perguntou, indo direto
ao assunto.
A princesa Maeve saiu de trás de Fergus e se apresentou com uma
reverência formal.
– Eu sou a princesa Maeve do Reino do Sul, herdeira do trono do
Fogo, filha do Rei Augustus e da Rainha Maura.
– É bela! – disse o rei com um sorriso, mas esticando o olho para
Blanca. – A outra faz mais o meu tipo, mas você até que está bem.
Marcos cutucou Blanca pelo elogio real, mas ela nem se moveu.
Esperava que aquilo acabasse logo para que pudessem voltar. Queria estar
de novo com Fernando e ter uma boa noite de sono antes de irem atrás de
Dulce e Chris na manhã seguinte.
– Princesa Maeve, eu lhe apresento, meu filho, o príncipe Boreas!
Um rapaz de feições finas e cabelos loiros que caíam pelo rosto em
uma franja suave entrou no aposento. Diferente do pai, usava uma
pomposa roupa de veludo verde escuro com bordados dourados e detalhes
em brocado. Ele foi até a sua prometida e a olhou longamente. Maeve
colocou os olhos pela primeira vez naquele que seria seu marido. Nada
pôde ser detectado na expressão do príncipe.
Era como se ele estivesse
olhando para um pedaço de graveto no chão. Então, ele passou a observar
os outros. Olhou para Blanca, estudando seu rosto. Olhou Marcel, de cima a
baixo. Olhou Marcos e deu um leve sorriso. Então, deteve-se em Fergus.
– Não é bela sua noiva, filho? – disse o rei.
O príncipe virou-se para o pai e sorriu.
– É.
E então subiu até o pedestal do trono de seu pai e sentou-se ao lado
dele, dando uma virada de capa ruidosa.
– Huuuummmm!!!! Essa Coca é Fanta! – disse Marcos, entredentes.
– Cala a boca, Marcos! – respondeu Marcel, o mais discretamente
possível.
– Bem, eu agradeço a vocês por terem trazido a princesa. Enviarei
meus cumprimentos ao rei Augustus. Fiquem e teremos um belo jantar
para comemorar essa feliz ocasião!
– Desculpe, majestade, não podemos, já temos um compromisso
urgente – disse Blanca.
– Oh, que lástima! Então, creio que estão livres para ir!
E quando eles inclinaram as cabeças em respeitosa reverência,
sentindo-se a um passo da liberdade daquele compromisso, ouviram a voz
de Maeve.
– Majestade, posso me pronunciar?
Marcos, Marcel e Blanca arregalaram os olhos. O rei fez um gesto
para que a moça falasse e ela deu um passo a frente, mantendo a postura
altiva de uma princesa.
– Eu lamento, majestade, mas eu não posso me casar com o seu filho.
Um burburinho cresceu pelo grande salão do trono, já que havia
vários presentes, pessoas da corte, conselheiros, damas. Todos começaram
a cochichar ao mesmo tempo interjeições de surpresa e de indignação.
– Silêncio! – ordenou o rei.
Prontamente, o silêncio se fez. O rei inclinou-se para frente,
observando melhor a moça e seus acompanhantes.
– Posso saber por que, menina?
– Porque eu não amo seu filho!
Mais cochichos se elevaram e se espalharam pelo salão, mas dessa
vez, um simples olhar do rei fizera todos se calarem.
– Sequer o conheço! – continuou Maeve. – Como posso me casar com
um homem que não conheço? E como ele pode se casar comigo, se nunca
me viu, se nem sabe se sente alguma coisa por mim?
A fúria começou a se apossar do rei e a mudança de sua expressão
era patente. Marcel interveio, na tentativa de salvar a situação.
– Majestade! Permita-me, por favor! – ele deu um passo a frente. –
Fomos atacados no caminho para cá. A princesa Maeve sofreu uma feia
queda de cavalo e bateu com a cabeça! Desde então, ela não tem falado
coisa com coisa!
Marcos aproveitou que estava atrás de Maeve e retirou do cabelo
desgrenhado dela um galho. De fato, Maeve estava descabelada, o vestido
estava rasgado e ela não parecia muito sã. O argumento desesperado de
Marcel pareceu surtir efeito. O rei relaxou o rosto, e voltou a se recostar no
trono.
– Se ela puder descansar uma noite, tenho certeza de que estará
melhor! – finalizou Marcel.
– Mas... – tentou falar Maeve, mas Marcel se virou e falou
entredentes para ela, simulando um sorriso.
– Se você falar alguma coisa agora eu juro que te mato aqui mesmo!
– Está bem! Mulheres são mesmo todas loucas, ainda mais quando
batem a cabeça! – ordenou o rei. – Providenciem aposentos para a princesa
e um médico. Que ela seja bem cuidada!
Poucos minutos depois, antes do médico examiná-la, eles se
reuniram com Maeve em seus ricos aposentos. Maeve pediu para que as
criadas a deixassem só por alguns minutos para se despedir dos amigos.
Assim que elas saíram, Marcel explodiu, uma veia pulsando em sua testa.
– Ficou louca?! Quer nos matar?! De onde veio essa ideia maluca de
recusar o casamento?!
– Dela! – e Maeve apontou para Blanca.
Blanca arregalou os olhos, sendo imediatamente fuzilada pelos
outros.
– Eu??! Quando? Como??!
Maeve andou em sua direção com um sorriso de êxtase.
– Quando conversamos! Você me disse que foi o amor quem tornou
você a mulher que é hoje! E eu passei esses dias querendo ser igualzinha a
você! Eu quero ser essa mulher que luta pelo que quer, que defende o seu
povo, que é capaz de loucuras e como poderei fazer isso se não tiver ao meu
lado o homem que meu coração escolheu?
E ao dizer isso, ela se voltou para Fergus, que estava de queixo caído
desde a audiência com o rei.
Marcel tomou ar, tentou falar, não conseguiu, tomou ar de novo,
levou a mão ao peito, achou que estava enfartando. Marcos lhe trouxe um
copo com água e começou a abaná-lo. Então, Marcel andou decidido até
Blanca e apontou o dedo para ela.
– Conserte isso!
Blanca, pega de surpresa por tudo aquilo, se aproximou de Maeve.
– Querida, você precisa pensar com cuidado!
– Mas você fez tudo por Fernando! E eu vi como vocês dois são juntos!
Marcos me contou como vocês se conheceram, que ele não valia nada e que
você arriscou a vida para salvá-lo!
– É, é um resumo interessante, mas uma coisa é arriscar a sua vida, e
outra é arriscar a vida de outras pessoas. Inclusive a dele! – Blanca apontou
para Fergus, que ergueu a cabeça assim que viu que as atenções estavam
nele de novo. – Se você recusar esse casamento agora, vai colocar seu povo
em perigo. E o povo daqui! Numa guerra, sempre quem se ferra é o povo! Se
descobrirem que você ama Fergus, vão matá-lo! Você entende isso, Maeve?
Maeve pareceu desapontada e perdida e aquilo partiu o coração de
Blanca. De repente, ela compreendeu porque a menina a irritava. Ela se
parecia muito com ela antes de abrir suas asas, quando era apenas uma
lagarta...
– Então... Eu terei que sacrificar tudo?...
– Não! – tornou Blanca. – Não terá. Mas terá que sacrificar alguma
coisa, todos temos. Você terá que ser mais inteligente, mais cuidadosa. Faça
o seguinte: fique, conheça o rei, conheça o príncipe. Vocês não vão se casar
amanhã ou coisa assim. Essas coisas levam meses. Às vezes anos! Ganhe
tempo. Fergus estará com você e, se, ao final desse tempo, você achar que
não há outra saída, ele a ajudará a fugir.
Elas olharam para Fergus, esperando sua confirmação. O rapaz se
colocou em posição de cavaleiro.
– Estarei ao seu lado, princesa – respondeu ele. – Sempre.
Maeve sorriu, os olhos cheios de lágrimas. Voltou-se para Blanca e a
abraçou.
– Obrigada! Você fez toda a diferença na minha vida!
Então ela abraçou Marcos também.
– E você também!
Despediram-se afetuosamente e deixaram para trás a princesa
prometida, o soldado apaixonado, e dois reinos que, ao menos por
enquanto, não estariam mais em pé de guerra.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA