Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
A volta para Luzandefall foi tranquila. Não foram emboscados nem
encontraram criaturas bizarras, não caíram em armadilhas e nem foram
interpelados por vendedores.
Já estavam na estrada que levava à pequena
casa onde Fernando e Eileen esperavam e o pôr do sol lhes dava a impressão
de estarem cavalgando sobre um tapete dourado. Pequenas pedrinhas
brilhavam em laranja e pássaros de cores múltiplas e de vários tamanhos
enchiam o céu.
– Isso deve ser um bom sinal! – disse Marcos, quando comentaram
sobre a viagem tranquila de volta.
– Espero que sim... – respondeu Blanca. – Mas eu ainda me preocupo
com Maeve e Fergus...
– Eu não! – falou Marcel. – Aliás, considero esse caso oficialmente
encerrado! Não pensarei mais nisso até que meus outros problemas mais
prementes se resolvam!
– Vocês não acharam aquele príncipe meio estranho, não?
– Como assim, Marcos?
– Blanca! Minha flor! Minha amiga de coração puro! Você não
percebeu nada? Não viu o jeito que ele olhou para os homens,
especialmente Fergus? Aquele Nescau é Quik, santa!
– Será? – Blanca estava espantada com sua falta de sensibilidade
para detectar essas coisas.
– Bom, isso pode resolver muita coisa! – comentou Marcel.
– Mas, se vamos embora, como vamos saber o que aconteceu? –
preocupou-se Marcos.
– Leremos em algum livro! Ou veremos em algum filme! –
respondeu Marcel. – Oisin disse que muitos artistas vêm para cá enquanto
dormem e levam para nosso mundo o que veem aqui.
E então Marcel desfez o sorriso e pareceu subitamente infeliz.
– O que foi? – perguntou Blanca.
Ele se virou para ela, surpreso com uma constatação.
– Estou com saudades dela!
– De Oisin? – espantou-se Marcos.
– Sim... Gostaria de estar com ela agora, e, de repente, me ocorreu
que quando eu arrumar um jeito de ir embora, terei que deixá-la para
sempre...
– Sério? Achei que você estivesse com ela obrigado!
Marcel moveu a cabeça como se ainda estivesse pensando.
– Eu me apaixonei por ela. Me apaixonei de verdade. Mas, quando
vocês chegaram, eu achei que a única coisa sensata a fazer era fugir do
compromisso de um casamento maluco baseado em uma única noite de
amor. Tudo bem que foi a noite mais maravilhosa de todos os tempos em
todo o espaço sideral, mas mesmo assim, foi só uma noite. Mas agora que
tudo está se resolvendo e o fim parece próximo... sei lá... Preciso pensar...
– Vamos tocar uma música para fazer o clip do Marcel pensando na
sua amada com os cabelos ao vento.
E, enquanto Marcel fazia várias caras de um homem apaixonado
pensando na amada ao pôr do sol, Marcel e Blanca cantavam “All by
myself” em alto e divertido tom. E com as brincadeiras, o caminho foi
rápido e a viagem foi breve. O Sol já tinha partido e o horizonte foi tingido
de negro.
Conversavam sobre bobagens e planos para o futuro, quando
Blanca interrompeu a conversa ao perceber uma estranha luminosidade
avermelhada em algum ponto a frente, de onde também se erguia uma
fumaça cinzenta.
– O que é aquilo? – perguntou ela.
Fernando e Eileen não tinham muito a fazer enquanto esperavam. O
silêncio e a brisa fresca eram um convite para uma boa soneca. Fernando não
contava que o cansaço o tomasse de pronto e uma soneca lhe tomasse
praticamente a tarde inteira. Quando acordou, o Sol já estava se
despedindo. Foi até a cozinha e procurou alguma coisa para Eileen. Em sua
bolsa, ainda tinha algumas poucas coisas que Dana lhe dera, mas
obviamente já estavam um tanto passadas.
Mesmo assim, acreditou que se
conseguisse esquentar o pão, que já ficara meio duro, poderia fazer uma
torrada e derreter o último pedaço de queijo. Ainda se lembrava de como
acender o forno a lenha, mas isso não impediu a enorme saudade de toda a
parafernália de sua cozinha. Chamava de “sua” porque ele a usava muito
mais do que Blanca.
Podemos dizer que Fernando se adaptara muito bem à
vida moderna. Depois de algum tempo, pensava que aquele era o tempo
ideal para ele. Uma das coisas que amava era o infinito leque de sabores
desse tempo. Ele adorava brincar com temperos e inventar novos pratos
quando tinha tempo e inspiração. Só não engordava porque de todos os
seus pecados, a vaidade ainda era vencedora.
Eileen acordou com o cheiro bom que subiu e logo se sentou na
mesa, ainda esfregando o olho. Fernando lhe serviu pão com queijo e
requentou um bolinho dormido.
– Blanca, Marcos e Marcel já devem estar chegando! – disse ele,
vendo a menina comer.
– E aí vamos pra onde? – perguntou a fadinha.
– Vamos para um reino perto da Colina dos Amores Perfeitos,
encontrar Dulce e Chris. Aí, voltaremos para a Vila das Fadas D’Água, sua
casa!
– Mas você não vai embora, vai? – perguntou ela com um olhar
ansioso. Fernando se sentou diante dela com um sorriso.
– Não agora, querida. Ainda vamos levar algum tempo juntos, está
bem?
A fadinha abriu um sorriso encantador e bebeu um copo com água.
Quando ela terminou, já era noite. Ouviram sons de cavalos e Fernando sorriu.
– Viu? Eu não disse que eles já estavam chegando?
Ele foi até a janela, imaginando que talvez pudessem ir até a cidade
comer alguma coisa. O sorriso se apagou imediatamente. Fechou a janela e
correu até Eileen. Levou a menina até o quarto e a segurou firmemente
pelos bracinhos de forma que ela o olhasse e prestasse atenção.
– Se esconda e só saia daqui quando for seguro! Não saia antes
disso! Entendeu?
A menina assustada concordou com a cabeça e ele a empurrou para
debaixo da cama, reiterando a ordem. Ele se levantou correndo e pegou sua
espada. Quando chegou no aposento que era ao mesmo tempo sala e
cozinha, a porta se escancarou com violência e quatro homens entraram.
Um deles tinha o nariz quebrado, os outros tinham marcas recentes de luta.
E ele os reconheceu todos.
– Ora, ora, vejam só quem está aqui!... – disse um deles, de espada
em punho. – Nosso velho amigo defensor das viúvas...
– Eu me lembro desse daí... – falou o de nariz quebrado. – E acho
que ele vai se lembrar da gente todo dia a partir de hoje!...
Eles atacaram, não um de cada vez, mas todos ao mesmo tempo,
como fazem os covardes. Fernando se abaixou e evitou um dos golpes, chutou
um deles no peito e girou a espada com rapidez, interrompendo dois golpes
ainda no ar. Isso não intimidou seus antagonistas, que continuaram em
cima dele em golpes sem parar.
Dessa vez, os homens estavam mais preparados. Eles o atacava sem
trégua, encurralando-o, sem dar chance para que ele revidasse. Também
notaram que ele estava um pouco mais lento que na noite anterior. Um
chute pelas costas o projetou para a frente, onde um dos bandidos o
esperava com o cabo da espada. Tonteou com o golpe e não esperou o
segundo, que lhe arrancou a espada das mãos, fazendo-a voar longe.
Os homens riram, vendo seu inimigo desarmado. Depois do primeiro
segundo de surpresa, Fernando partiu para cima do que parecia o líder, um
homem totalmente calvo. Acertou-lhe um chute e dois murros nos dois que
tentaram detê-lo, até que alguém acertou-lhe um soco nas costelas. Ele
gritou e foi ao chão. Começaram a chutá-lo, até que ele não oferecesse mais
resistência, o que não demorou muito.
O líder foi até ele e o puxou pelos fartos cabelos negros.
– Onde está a viúva?
Como ele não respondesse, acertou-lhe um soco no rosto e ele
cuspiu sangue.
– Onde está o ouro? – gritou o homem.
Ele murmurou que não sabia, mas não adiantou. Um soco explodiu
em seu estômago, fazendo-o perder a direção de tudo por alguns instantes.
Eles o ergueram e ele se aproveitou disso para tentar fugir. Se
pudesse tirá-los da casa, Eileen estaria a salvo. Não conseguiu chegar na
porta. Eles o agarraram e lhe deram socos violentos que o jogaram para
trás.
Ele nem percebeu que tinha ido parar no outro aposento. Um chute no
peito o derrubou no chão, o rosto ensanguentado, o olhar assustado. Ao seu
lado, viu Eileen com as mãozinhas na boca e lágrimas escorrendo,
encolhida debaixo da cama. Ele tentou se levantar, na urgência de tirar
aqueles homens dali, mas eles o chutaram de novo, repetindo a pergunta.
– Esquece! Ele não sabe! – disse um deles, o que dera o último chute
no homem caído.
O homem calvo grunhiu de raiva e derrubou um móvel. Então andou
pelo pequeno aposento.
– Não vou sair daqui de mãos abanando! – disse o homem calvo,
fazendo um movimento rapidamente entendido pelos outros.
Então viraram Fernando de bruços e ele pode ver novamente o rosto
apavorado de Eileen segurando o choro. Amarraram suas mãos atrás das
costas.
– Esse vai dar uma grana como escravo!
Eles o ergueram e Eileen só viu os pés dos homens desaparecendo
pela porta, enquanto engolia os soluços.
Eles o arrastaram até os cavalos. Para sua surpresa, um quinto
homem chegava a cavalo.
– E então? – perguntou o que chegava, que ele não conseguia ver
ainda, pois a visão estava meio turva.
– Não tinha ouro nenhum! A viúva foi embora, deve ter levado o
ouro com ela! Sua dica não serviu pra nada! Pelo menos pegamos esse aqui,
vai dar um bom dinheiro no mercado de escravos.
O quinto homem riu quando se aproximou.
– Eu nunca vi um corvo numa gaiola!
Fernando reconheceu a voz e quando o olhou, viu o homem com quem
brigara duas vezes, o que trazia a cicatriz no rosto. Ele tinha o sorriso da
vitória.
– Isso vai ser divertido!... – disse o homem, olhando-o nos olhos.
O líder deu a ordem final, a ordem que fez Fernando reunir suas
últimas forças para tentar impedi-los.
– Queimem tudo!
– Não!
Os homens jogaram querosene na casa e usaram archotes para
acender o fogo. Fernando chutou e se debateu, gritou para pararem, enquanto
via as chamas começarem a consumir a pequena casa.
Em poucos
segundos, labaredas lambiam como línguas famintas toda a construção,
erguendo-se em pontas furiosas para o céu negro. Como não sossegasse, o
homem de cicatriz deu-lhe um soco no estômago e outro no rosto,
desacordando o prisioneiro. Com facilidade, jogou-o sobre o cavalo,
montando a seguir.
Blanca, Marcos e Marcel chegaram correndo e viram apavorados a
casa sendo totalmente consumida por chamas. Mesmo assim, Blanca saltou
do cavalo e correu para a casa, gritando o nome do marido. Marcel correu o
mais rápido que pôde e a segurou, Marcos teve que ajudá-lo. Ela continuava
gritando seu nome, se debatendo, enquanto a fumaça subia e as lágrimas
caíam.
Quando o Sol estava se despedindo naquele mesmo dia, Dulce
ouviu uma estranha movimentação fora da caverna. Apenas Poncho estava lá
fora, mas ele poderia estar com problemas. Pegou uma espada e foi
verificar. Assim que saiu, foi pega por um soldado elfo que a segurou
fortemente por trás. Gritou, dando o sinal de alerta.
Anahí apareceu logo
depois, mas não havia nada que ela pudesse fazer. O lugar estava cercado
por soldados armados e seu futuro marido estava na liderança, montado
em um garboso cavalo Ponchoco.
Dulce mordeu o braço do guarda que a segurava. O elfo gritou e a
jogou no chão num impulso. Dulce viu Anahí parada diante da caverna e
a acusou.
– Você nos traiu! – gritou.
Dulce se levantou e Manuel desceu do cavalo com ar vitorioso.
Então, uma voz suave foi ouvida.
– Eles não sabem de nada, senhor.
Dulce e Anahí observaram perplexas Poncho passar o relatório para
seu comandante.
– Nem o garoto, nem a menina – continuou ele.
– Você tem certeza? – perguntou Manuel, sem tirar os olhos de
Dulce.
– Sim, senhor. Certeza absoluta. Eles não podem ajudar e também
não são ameaça.
Manuel demorou alguns segundos, como se estivesse pensando. Mas
ele não estava pensando, pois já sabia muito bem o que ia fazer.
– Muito bem, peguem o garoto e o levem de volta para o calabouço.
Vamos continuar nosso interrogatório. Mas dessa vez ele terá companhia!
E com um gesto, ele deu ordens para prenderem Dulce. Ela se
debateu, em vão, sendo segura por dois guardas. Outros cinco elfos
armados adentraram a caverna, o que fez com que Dulce se agitasse e se
debatesse.
– Por favor, não façam isso!!! Ele não sabe de nada! Ele não sabe! Ele
está ferido, não o toquem! Não o toquem!
– Senhor! – interveio Poncho, num tom de urgência. – Eu já lhe disse
que eles não sabem de nada!
– E eu já ouvi, soldado! Agora, cale-se! Você já fez o seu trabalho.
Anahí correu até Manuel, desesperada.
– Pelo amor de Deus, Manuel, pare com isso! Chris e Dulce são nossos
amigos, e você já machucou esse rapaz demais! E pra quê? O que você está
fazendo é loucura!
Manuel a agarrou pelo braço com força, machucando-a, e a olhou nos
olhos com fúria.
– Não esqueci que você me traiu, Anahí! Que preferiu sua amiga ao
seu futuro marido! Então, não force minha paciência com você, ou teremos
três naquele calabouço ao invés de dois! Traição é um crime muito grave.
Ele a soltou, empurrando-a para longe. A menina ainda o olhava
atônita quando um guarda gritou dentro da caverna, chamando a atenção
de todos. A seguir, dois soldados voaram mais de cinco metros para fora da
caverna.
– O que está acontecendo? – Manuel se precipitou para a entrada, e
mais um guarda foi lançado longe, batendo contra o tronco de uma árvore e
caindo inconsciente. Os outros dois foram jogados de lá de dentro dois
segundos depois. Manuel diminuiu o passo, mas continuou indo na direção
da caverna. Puxou a espada e tentou ver o que tinha na caverna escura.
Alguma coisa voou lá de dentro e saltou em cima de Manuel. Tinha
enormes asas de morcego vermelhas e, o que a princípio pareceu só um
vulto, logo foi reconhecido, mesmo num movimento tão rápido.
– Chris?...
Manuel caiu de costas no chão, soltando a espada. Sobre ele, uma
criatura. Ainda era Chris. Era o mesmo rosto, o mesmo corpo, mas agora ele
tinha asas de troll e as orelhas eram ligeiramente pontudas. E os olhos... Os
olhos eram maus...
Os poucos guardas que ficaram soltaram Dulce e investiram contra
a criatura. Chris, acocorado sobre Manuel, o segurava pela capa perto do
pescoço, obrigando-o a olhar em seus olhos. Com a chegada dos guardas,
levantou voo, agitando as enormes asas, levando consigo Manuel. Chegou a
uma altura de quase 15 metros.
– Me solte, seu monstro! – gritou Manuel, lutando contra seu captor.
Chris o olhou e sorriu.
– Como quiser!
E então o largou. Manuel despencou daquela altura gritando. Caiu
sobre uma árvore, batendo nos galhos com violência, até cair inconsciente
no chão. Chris flutuou por alguns momentos acima dos guardas, acima de
Anahí e de Dulce.
Rasgou o resto da camisa que as asas já tinham
destruído parcialmente e a jogou longe com um movimento brusco. Seu
corpo ainda estava coberto pelas marcas da tortura, mostrando que o
unguento de Frabato não tivera muito tempo para agir. Passou os olhos
pelos elfos que corriam lá embaixo como se fossem formigas. Um guarda
atirou uma flecha. Ela passou raspando por sua asa. E então ele voou para
longe.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
-
kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA