Fanfic: O Trono Sem Rei | Tema: Vondy - Adaptada
Indo contra todas as convenções sobre ligar para o rapaz que
conhecera no dia anterior, Dulce ligou para Chris assim que o horário
permitiu. Estava ansiosa e suas mãos suavam. Desligou antes de teclar os
números quatro vezes.
Errou o número outras cinco. Passou as costas da
mão na testa percebendo-se suada. Sentiu-se uma idiota e respirou
profundamente. Pegou no telefone de novo, já insegura pelo fato dele não
ter ligado ainda. Assim que terminou, desligou sem ouvir a resposta e se
levantou afoita. Achou que se tomasse um banho, ficaria mais apresentável
para falar no telefone.
Pegou a toalha com uma imagem dos Piratas do Caribe que seu tio
Marcos trouxera de sua última ida à Disneylândia e se meteu no banheiro.
Estava debaixo do chuveiro, deixando a água cair sobre os cabelos,
tentando acalmar os pensamentos, quanto alguém bateu insistentemente
na porta. Saiu do box molhada e abriu uma brecha da porta. Deu de cara
com sua mãe, Lorena, lhe estendendo o telefone.
– É pra você!
– Estou pelada! Não posso falar!
– Peço pra ele ligar depois, então... – respondeu Lorena.
– “Ele?”
Dulce arrancou o telefone das mãos da mãe e fechou a porta a
seguir. Ouviu a voz dele e seu coração disparou.
– É uma hora ruim? – perguntou ele. – Posso ligar depois.
Dulce se deu conta de que ele ouvira o que ela dissera e pediu-lhe
pra esperar um minuto. Pegou a toalha e se embrulhou rapidamente.
– Pronto! Já posso falar!
– Tem certeza? Não quer passar um perfume?
– Por quê? O que tem de errado... – e assim que percebeu o papel de
boba que estava fazendo, Dulce relaxou e riu um pouco.
– Estou te ligando...
Dulce segurou as batidas do coração imaginando o que ele falaria.
Ele estaria ligando porque não conseguira parar de pensar nela desde a
tarde anterior, porque não podia fechar os olhos sem vê-la, porque ela era o
seu primeiro e grande amor, porque ele precisava vê-la com tanta urgência
que achava que ia morrer se ela não se teleportasse para lá imediatamente,
porque ele queria segurá-la na proa de um navio gigantesco antes dele
bater num iceberg e afundar...
Dulce viajou tanto nas possibilidades do motivo dele estar ligando
que não ouviu quando ele disse o real motivo.
– Desculpe! – disse ela. – Eu não ouvi!
– Eu disse que estou ligando porque tem 16 ligações feitas desse
telefone para o meu celular.
Os ombros de Dulce caíram e seu rosto desmoronou em
desapontamento. No entanto, tudo o que conseguiu dizer foi:
– É mesmo?
– Eu queria aproveitar e pedir desculpas por não ter ligado antes –
continuou ele. – Inaugurou uma sorveteria muito boa aqui na praça. Quer
dizer, dizem que é muito boa. Você não gostaria de ir lá hoje?
– Gostaria! Gostaria muito! Eu adoro sorvete!
Ela não podia ter certeza, mas podia apostar que ele sorriu do outro
lado, aquele sorriso largo que fazia seus olhos incrivelmente azuis se
apertarem um pouco e sorrirem também.
– Legal! Então está combinado! Onde a gente se encontra?
Dulce pensou em pedir pra ele buscá-la em casa, mas isso
implicaria em muitas explicações para seu pai super protetor e com um
histórico de encrencas preocupantes. Então, ela achou melhor administrar
aquela situação sozinha antes de envolver sua família.
– Que tal na praça? – sugeriu ela. –Tem uma árvore enorme e um
coreto. Ficarei ali perto!
– Ótimo! E o que você vai estar vestindo para que eu possa
reconhecer você?
Dulce não entendeu a piada, até que ele lhe explicou que era uma
piada. Ela bateu na própria cabeça, se perguntando por que estava ficando
burra. Marcaram a hora e se despediram alegremente.
Quando desligou o telefone, deu vários saltinhos de alegria e fez uma
dancinha embrulhada na toalha, respingando água pelo chão.
Ela tentou não parecer uma garota ansiosa esperando pelo seu
primeiro encontro. Tentou dar aquele ar despreocupado que garotas
bonitas costumam ter.
Pensou em usar óculos escuros, mas já estavam no
final da tarde e temeu que óculos de sol a fizessem parecer uma deficiente
visual. Olhou para o relógio pela oitava vez nos últimos dez minutos e secou
as mãos úmidas no vestido. Um minuto tinha se passado da hora marcada e
ela olhou em volta em agonia.
– E se ele não vier? – perguntou a si mesma.
– Se ele não vier, é porque é um idiota! – respondeu uma voz atrás
dela.
Dulce deu um salto com o susto. Virou-se e se deparou com o belo
rosto do qual se lembrava.
– Desculpe! – disse ele olhando para o relógio. – Estou 55 segundos
atrasado!
Dulce sorriu sem graça, sabendo que ele tinha visto sua agonia.
– Tudo bem, mas que isso não se repita! – respondeu ela.
Eles começaram a caminhar pela praça, na direção da nova
sorveteria. Crianças brincavam e pessoas despreocupadas passeavam com
seus cachorrinhos, num fim de tarde perfeito.
Eles não falaram nada pelos primeiros passos, e quando falaram, foi
ao mesmo tempo. Cada qual pediu desculpas e deu a vez ao outro para
falar.
– Eu queria dizer que fiquei feliz de ver você – disse ele.
– Eu também fiquei feliz em ser vista! – respondeu ela, começando a
ficar mais calma.
– Não estou muito acostumado a chamar alguém pra sair, entende?
Dulce olhou para o rapaz com incredulidade. Ele era,
definitivamente, o garoto mais lindo que ela já vira fora de uma tela de
cinema. Como podia ser tímido ou sem jeito para chamar alguém para sair?
Era só ele estalar os dedos e meia dúzia de super modelos se atirariam aos
seus pés. Mas ela também se lembrou de que ele não era um simples rapaz.
Ele era um anjo. Um anjo recém-chegado.
– Eu também não sou exatamente uma veterana no assunto, então
podemos relaxar e ser estúpidos juntos! – respondeu ela.
Ao atravessarem a rua, ele pegou na mão dela e olhou com cuidado
para os lados. Então atravessaram em segurança. Dulce riu. Algumas
coisas nunca mudam. Ele ainda tomava conta dela, exatamente como no
mundo das fadas.
Entraram na sorveteria que tinha cores pastéis em sua decoração e
uma música do Offspring tocando em uma altura confortável. Havia uma
parte com opções de sorvete à quilo onde eles pararam. Dulce pegou um
potinho verde e percebeu que Chris parecia confuso.
– Algum problema? – perguntou ela.
– Esse monte de coisas me deixa confuso! – reclamou ele, com uma
careta. – Eu misturo um monte de coisas que acho que gosto e quando vejo,
virou uma maçaroca doce demais!
– Que tal pedirmos uma banana split então? – perguntou Dulce,
devolvendo o potinho de plástico.
Chris concordou com alívio e foram para as mesas de fundo onde um
cardápio muito colorido foi entregue.
Dulce falou da música, tentando entender um pouco da letra que
falava sobre começos difíceis e tombos na estrada, e Chris acompanhou o
raciocínio. Escolheram os sabores e a garçonete levou os cardápios.
Começaram a conversar sobre começos, dificuldades e histórias
inspiradoras. O papo começou a fluir e Dulce percebeu que estava
tranquila e segura, como se tudo estivesse no lugar certo e tudo estivesse
perfeito de novo. E ela podia ter deixado assim. Aceitado o que o Universo,
o Cosmo, a Divindade, o Senhor, o Espaço Sideral, ou o que quer que seja
lhe tivesse mandado, mas ela simplesmente não podia olhar para Chris
diante dela e não tentar saber a verdade.
– Você ainda é um anjo? – perguntou ela do nada, no meio de uma
conversa sobre grupos de rock.
Chris olhou para ela nitidamente confuso.
– É o nome de alguma banda nova?
– Eu quero saber se você ainda é um anjo? Se suas asas estão
retraídas agora, como você fazia lá no Mundo das Fadas!
Chris a olhou por um momento e ela pôde ver em seus olhos que ele
não tinha a menor ideia do que ela estava falando.
– Desculpe, não estou entendendo...
– Tudo bem! – disse ela. – Foi só uma piada! Deixa pra lá! Quantos
anos você tem?
– Dezenove – respondeu ele. – E você?
– Dezessete – respondeu ela, já adiantando a idade que faria no
próximo aniversário em algumas semanas.
O rapaz parou o milkshake e a olhou surpreso.
– Tem certeza? Parece mais madura!
– Acho que ainda me lembro da minha idade...
Eles riram e Dulce ouviu risinhos em uma mesa do outro lado da
sorveteria. Olhou e reconheceu as três meninas que olhavam para sua mesa
entre risos e comentários. Eram de sua classe e bastante populares. Dulce
voltou a olhar para Chris, sem manter o contato visual com as meninas. Elas
nunca haviam falado com ela antes, não havia por que começar agora.
– E você está estudando ou coisa assim? – tornou Dulce, ainda
interessada em saber um pouco mais sobre Chris. Afinal, se ele caiu de
paraquedas ali, como poderia ter um passado?
– Terminei o segundo grau e preferi ir trabalhar. Meu irmão
escolheu a faculdade, mas eu não sei ainda se quero seguir esse caminho.
– Irmão? Você tem um irmão?
– Sim, o Ronald, ele é o meu irmão mais velho. Veja, tenho uma foto
dele aqui comigo.
Ele retirou a carteira do bolso e mostrou uma foto onde um palhaço
vestido de amarelo e vermelho numa lanchonete sorria cercado de
crianças.
– Err... Seu irmão é o Ronald MacDonald? – perguntou Dulce.
– Não, sua boba! – Chris riu. – Somos nós aqui, eu e ele, as crianças da
direita.
Dulce olhou de perto e reconheceu imediatamente as feições do
jovem diante dela no garotinho sorridente da foto. Aquilo fez seu mundo
balançar. Então ele tinha um passado. Se ele tinha mesmo um passado, se já
estava ali quando ela foi até o mundo das fadas, não podia ser o anjo por
quem se apaixonara. Era apenas um rapaz como outro qualquer e nada
mais.
– Algum problema? – perguntou ele, vendo que ela parecera
subitamente triste.
– Não, nenhum – ela lhe entregou a foto.
Dulce comeu um pedaço de banana com o sorvete e então pousou a
colher prateada na tigela, olhando diretamente para o jovem diante dela.
– Chris, você não se lembra de nada mesmo? Do mundo das fadas, dos
trolls, de Paralda, de Jack, o Acorrentado, de Frabato e seu castelo
assombrado, de Danzir, de Ipso e Facto, de Eileen,.. Você não se lembra de
Eileen?
Ele olhou nos olhos dela, vendo que havia tristeza e um quase
desespero naquela pergunta. Ficaram em silêncio por alguns segundos, ele
sem saber o que dizer e ela esperando que não estivesse enganada.
– Desculpe... – disse ele, por fim. – Eu não tenho ideia do que você
está falando...
Os olhos dela se encheram d’água. Não era Chrisariel. Não era o seu
Chris. Seu anjo não tivera afinal uma segunda chance depois que tivera suas
asas covardemente arrancadas.
– Oi, Beatriz! Tudo bem? Legal te encontrar por aqui!
Ela se virou para ver a dona da voz um tanto irritante que acabara
de invadir seu momento de decepção. Viu Cláudia, a loirinha popular da sua
classe que, como suas outras amigas ainda na mesa do outro lado da
sorveteria, nunca tinham falado com ela.
– É Dulce – respondeu ela, com a voz mais gelada que o sorvete que
estava tomando.
– Que seja! Nós estávamos ali do outro lado e vimos você com... – e
Cláudia se voltou com seu melhor sorriso para Chris. – ...Quem é esse mesmo, Dulce? É seu irmão? Primo?...
Chris e Dulce se olharam totalmente sem graça, sem saber como
responder àquela pergunta. Era seu segundo encontro e Dulce achava que,
depois das perguntas estranhas que fizera, também seria o último.
– Somos amigos – respondeu Dulce.
– E seu amigo tem nome? – insistiu a loira.
– Chris, muito prazer – o rapaz se levantou um pouco estendendo a
mão para um comprimento formal, mas Cláudia o puxou para si, forçando
dois beijos na bochecha.
– Por que vocês não se juntam a nós na nossa mesa?
Dulce não pôde evitar um ranger de dentes. Cláudia parecia não ter
limites. E não tinha mesmo. Sabia que na escola ela sempre conseguia o que
queria. Era uma dessas pessoas que passaria pelo mundo pegando o que
quisesse, fazendo o que quisesse, e provavelmente sairia impune, porque
era rica e bonita. E Dulce a odiava!...
– Err... Já estamos acomodados aqui... – respondeu Chris, percebendo o
olhar fulminante de Dulce para a outra.
– É? Não tem problema! Nós podemos vir pra cá, então!
Ela fez um sinal para as amigas e todas pegaram seus refrigerantes
lights e bolsas de grifes, indo até eles. Cláudia apresentou Chris para elas
como se ele fosse um amigo de longa data e elas o cumprimentaram com
beijinhos estalados nas bochechas coradas com blush.
Elas puxaram
cadeiras, apertando-se em volta da pequena mesa redonda cor de salmão e
começaram a lhe fazer perguntas, ingressando num papo fútil.
Cinco minutos depois, Dulce se levantou, pegando sua bolsa
pendurada na cadeira.
– Bem, é melhor eu ir indo.
– Eu te levo em casa! – disse o rapaz, levantando-se também,
parecendo mais desesperado para sair dali do que ela. – Foi um prazer!
Pagaram e deixaram o troco de caixinha para saírem ainda mais
rápido.
– Eu sinto muito por isso... – disse ele, depois que já tinham dado
alguns passos na rua arborizada. – Eu não sei lidar com pessoas muito
bem... Espero que suas amigas não tenham ficado ofendidas.
– Elas não são minhas amigas! – riu ela. – Elas nem falam comigo na
escola. E nem falaram comigo lá na mesa. Só estavam interessadas em você.
Ele ruborizou e pareceu desconfortável.
– Tudo bem, Chris. Não é culpa sua.
– Mas você ficou chateada... Eu não queria que ficasse chateada...
Dulce estava de fato chateada, mas por um motivo que ele nem
sonharia. Quando viu a foto, teve certeza de que tudo não passara de um
mal entendido. No entanto, ao olhar para o rosto dele de novo, sentiu o
coração se aquecer.
– Não fiquei, acredite... – disse ela por fim, dando-lhe um sorriso.
– Não?
– Não.
Ele respirou aliviado.
– Que bom!... Bem, que tal fazermos outra coisa, já que nosso sorvete
foi brutalmente interrompido? Que tal um cinema?
– Cinema? Parece ótimo!
Então ele pegou na mão dela e sorriu e ela sentiu o corpo
estremecer, enquanto sorria sem sentir. Caminharam até o cinema do
shopping e assistiram a um filme do qual nunca ouviram falar.
Conversaram e riram sobre muitas coisas no caminho de volta, até que ele a
deixou em casa quando a lua já surgia no céu.
– Eu adorei! – disse ela. – Obrigada!
– Eu também! Precisamos repetir!
– Que tal amanhã?
Ele tinha parado de sorrir e ela interpretou isso como um não.
Quando ia dizer algo, ele se inclinou e a beijou docemente na bochecha,
fazendo-a corar imediatamente. Quando ele se afastou, ela mergulhou no
castanho dos olhos dele, sentindo-se flutuar, exatamente como da outra vez...
– Amanhã está ótimo... – sussurrou ele.
E então se despediram. A brisa trouxe um perfume doce de lilases e
Dulce entrou, ainda sem sentir os pés no chão. Assim que chegou na sala,
se deparou com seus pais à espera.
– Muito bem, mocinha! – disse seu pai, com voz de trovão. – Explique-se!
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:22:26
Livro 3 - https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-finalizada-vondy- adaptada
-
vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:20:31
Livro 1 - https://fanfics.com.br/fanfic/48242/lua-das-fadas-vondy-adaptada
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kaillany Postado em 21/12/2016 - 16:58:13
Continua!!!!
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kes_vondy Postado em 06/12/2016 - 02:26:44
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 22:58:47
CONTINUA
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candy1896 Postado em 04/12/2016 - 19:50:14
CONTINUA