(18 anos depois)

– Então, é isso. – Dulce murmurou apenas para a sua esposa ouvir. Sua respiração entrecortante tornava a sua voz mais fraca, mesmo com a ajuda da cânula, respirar era algo que deixava os seus pulmões tão cansados, doloridos. Mas apesar deste pequeno contratempo e outros da idade, ela sentia-se extremamente feliz. Estava ao lado do amor de sua vida, tinha uma família maravilhosa, e uma mente repleta de memórias que enchia o seu coração de puro amor. Tivera uma boa vida.

Sua mão frágil, enrugada com dobras de pele esticou-se para a sua amada esposa, sua cabeça virou-se um pouco para contemplar o amor de sua vida, encontrando os olhos azuis que tanto amava e idolatrava.

– Foi uma maravilhosa vida. – Anahí alegrou-se ao recordar a vida esplendida que passara. O seu coração aquecia com tantas lembranças e momentos que se recordava. Os olhos encontraram o de sua amada mulher. Azuis x castanhos. Derramaram-se de amor numa declaração capaz de aquebrantar o coração do mais cético.

A mexicana esticou a mão trêmula e sem muita coordenação de encontro da amada. O contato demorou a acontecer, mas quando as palmas das mãos se encontraram, uniram-se fortemente num aperto com os dedos entrelaçados. Elas sentiram a corrente elétrica, como se fosse a primeira vez. Olharam-se cúmplices e apaixonadas.

– Foi uma vida esplêndida. – Dulce suspirou suavemente, apesar de sentir a compressão esmagadora no peito. Isso não diminuiu nem um pouco a sua felicidade. Ao contrário, sentia-se quase em êxtase, porque estava olhando os olhos dela... Do único, grandioso e espetacular amor da sua vida. – Continuo a mesma boba apaixonada por você.

O sorriso de Anahí foi como um pôr do sol numa tarde de outono, o coração de Dulce disparou por saber que mesmo passado 60 anos de casamento, continuava sendo a dona do coração da mais nova.

– Eu te amo desde o primeiro dia. – Anahí murmurou, olhando a mulher com admiração e eterno amor. Os olhos de Dulce ainda tinham o poder de mexer com cada estrutura do seu coração que mesmo batendo tão fraco, cada batida era destinada para a mulher ao seu lado.

Os lábios de Dulce curvaram-se ternamente. Apesar da palidez que ia se tornando um arroxeado, indicando que mesmo com a ajuda do cilindro de oxigênio, os seus pulmões não estavam mais suportando tanta pressão. Mesmo assim, ela sorriu, sorriu para a responsável de sua felicidade e vida tão sublime.

– Eu te amo. – A espanhola balbuciou com a sua voz melodiosa.

Os olhos novamente derreteram de amor, e também compreensão. Elas não precisavam de palavras quando os olhos expressavam tudo aquilo que as palavras não seriam capazes de fazer.

Olharam para frente quando uma brisa alvoroçaram os cabelos brancos. Elas compartilharam uma vida de altos e baixos, de perdas e ganhos, mas o amor sempre esteve presente as lembrando do motivo para tudo. Elas sorriram, e choraram. Aprenderam e também ensinaram. Semearam o bem e afastaram o mal. Um belo caminho. Percorrem uma estrada de rosas e espinhos, felizmente, as rosas foram mais perfumadas e adoráveis que os espertos dos espinhos. Elas eram abençoadas. Elas tinha uma família incrível. Fizeram um trabalho maravilhoso na terra.

Sabiam disso e confirmavam isso ao olhar para frente e enxergaram a casa tão cheia com os filhos, netos, bisnetos e até um tataraneto. Era domingo, e como a tradição, todos estavam lá. A sua família. A base de tudo. Elas estavam animados e conversavam debaixo de uma enorme tenda com várias meses e cadeiras distribuídas. O almoço já tinham acontecido e elas jogavam conversa fora, enquanto, as crianças brincavam. Os sons das risadas e gritinhos excitados de adultos se misturaram com os das crianças.

E da varada, elas assistiam tudo...

Geralmente, elas ficavam ali depois que participavam do almoço. Elas gostavam dali porque dava para ver todos e admirarem. Tornou-se um delicioso passatempo de domingo.

Elas não andavam mais... Dulce por não suportar mais o peso das pernas, e Anahí por ter caído uns seis meses atrás e fraturado a bacia. Elas não reclamavam por isso... Elas estavam tão agradecidas pelo o que tinham que não perdiam tempo abrindo a boca para se lamuriar.

Anahí olhou para a sua amada mais uma vez. Dulce continuava tão bela aos olhos de mexicana que chegava até doer no peito. Sempre que a olhava, via a Dulce por quem se descobriu loucamente apaixonada na juventude... E pelo brilho os olhos da mais velha, sabia que Dulce também a enxergava da mesma forma...

O tempo passou. As peles engelharam, os corpos se curvaram um pouco, os cabelos ficaram brancos... Mas, as almas estavam tão joviais quanto o sentimento que uma nutria pela outra. Isso era irrevogável.

Dulce puxou o ar pela boca, soltando um sonzinho lembrando um leve estrangulado na mesma hora em que o peito de Anahí se espremeu mais um pouquinho, causando-lhe também uma leve pressão que a fez tremer mais um pouco, mas jamais soltou a mão de sua amada.

Os olhos de ambas brilharam e suaves lágrimas escorreram pelas suas faces. Elas estavam tão conectadas de um modo tão único que sabiam que o que iria acontecer. Elas pressentiam, e isso não diminuía os seus sorrisos. Escutaram um alvoroço no jardim, mas não pararam de se olhar, em seguida, o som melodioso do piano e a voz tão doce e hipnótica de Lily Portilla-Espinosa.

A filha delas interpretava uma música tão linda, as agraciando com aquele pequeno mimo... Time To Say Goodbye – Andrea Bocelli ecoavam com o vento, atingindo e vibrando no peito de cada uma. As lágrimas caíram em abundância, mas sempre de felicidade. Sempre.

Time to say goodbye.

Paesi che non ho mai

Veduto e vissuto con te,

Adesso si li vivrò,

Con te partirò

Su navi per mari

Che, io lo so,

No, no, non esistono più.

It's time to say goodbye…

Hora de dizer adeus.

Países que nunca

Visto e experimentado com você

Agora você vai viver,

Vou com você

Em navios através dos mares

Que, eu sei,

Não, não, não existem mais.

É hora de dizer adeus...

Adeus nunca. Elas iam juntas. Para aonde fossem. Iam sempre juntas.

Tu mia luna tu sei qui con me,

Mio sole tu sei qui con me,

Con me, con me, con me

Você, minha lua, você está aqui comigo,

Meu sol, você está aqui comigo,

Comigo, comigo, comigo.

Con te partirò

Su navi per mari

Che, io lo so,

No, no, non esistono più,

Con te io li rivivrò.

Con te partirò.

Io con te.

Vou com você

Em navios através dos mares

Que, eu sei,

Não, não, não existem mais,

Com você eu experimentá-los novamente.

Vou com você

Eu estou com você.

As mãos se apertaram novamente. Dulce levou o dorso da mão de sua amada até os seus lábios, depositando um beijo quente e carinhoso que fez a Anahí vibrar novamente. O olhar de tanto amor continuou, até que...

– Eu estou pronta... – Anahí confidenciou com a voz tão trêmula e fraca, mas sem perder o brilho apaixonada para a sua mulher.

– Vou com você... – Dulce balbuciou sem voz, não tinha mais forças para falar.

Mais uma lágrima deslizou pelo rosto de ambas.

– Eu estou com você. – Anahí afirmou com toda certeza do seu coração e alma.

E elas sorriram mais uma vez, os olhos voltaram para a frente... Para um lindo pôr de sol que se estendia pela varanda da casa delas... E assim, elas partiram...

Ninguém da família nem os enfermeiros souberam dizer em que momento as duas partiram. Sem foram em horas, ou minutos. Mas quando as encontraram... Elas estavam de mãos unidas, olhando o horizonte e com leves sorrisos nos lábios. Partiram felizes. Partiram apaixonadas, e juntas, como ansiaram e pediram tanto a Deus para que esse milagre acontecesse. Elas diziam que não saberiam viver se uma não tivesse ao lado da outra. Elas se amavam mais do que a elas mesmas; E apesar de deixar uma eterna saudade para os filhos, netos, bisnetos, tataraneto e amigos... Paola, Blake e Blake ainda vivas, mas tão velhinhas, choraram a perda das tão amadas amigas. Mas, todos sabiam que elas estavam felizes, aonde quer que elas estejam.

Elas conheceram o amor juntas, envelheceram juntas e morreram juntas. Quantas vezes a vida ou a morte dava essa oportunidade para os eternos apaixonados? Uma em um milhão. Esse era mais um motivo para os mais jovens e sonhadores acreditaram na força de um grande amor.

Elas foram enterradas juntas. Os caixões lado a lado. Como sempre desejaram...

Dulce Espinosa

* 30 de junho de 1983

+ 13 de Maio de 2073

“Para toda eternidade... Eu vou com você..”.

Anahí Portilla-Espinosa

* 17 de Setembro de 1987

+ 13 de Maio de 2073

 “Em toda eternidade... Eu estarei com você”.

Esse capítulo das vidas delas se encerrou, mas duvidam de que, em alguma década, século, ou milénio não iriam se encontrar novamente?

Almas gêmeas estão sempre juntas.

Sempre se encontram.

Sempre.

FIM.

Nota da autora:

E chegamos ao fim...

Nossa, definitivamente estou chorando por dar adeus a uma estória que eu amei tanto escrever, que teve crescimento das personagens do início ao fim. É difícil desapegar daquilo que amamos, e eu amo muito True Love, para mim, é a minha melhor fanfic. Tanto de personagens, como de enredo, de conteúdo, enfim...

Dois anos no ar em três temporadas.

Quero agradecer muito a minhas leitoras por continuarem firme e forte comigo, mesmo eu deixando a desejar algumas vezes e sumindo por um longo período. Não posso deixar de agradecer a uma pessoa em especial que sempre que eu esquecia algo, corria até ela pra ela me relembrar, minha assistente – como brincamos. Karine! Obrigada, minha deusa do ébano, True Love fluiu por sua ajuda, I love you!

Enfim, obrigada a todas que comentaram, as que não comentaram, mas que estiveram presentes aqui, visualizando. O importante era tê-las não importa como.

Bem, nos vermos por aí! Não digo adeus, porque é forte demais, então... Um até logo.

Um cheiro, amo todas vocês.