Fanfic: Chicago: A casa de pedras | Tema: Livro
Bia chegou em casa no horário que havíamos combinado. Ela estava afoita e muito contente com a minha chegada. Como de costume, subimos até meu quarto, sentamos na cama e começou-se uma longa conversa. Era hora de por o papo em dia. Deixei que ela falasse primeiro, mas aproximadamente vinte minutos depois de ter começado sua longa historia de férias, meu celular tocou. Tentei disfarçar, para manter a educação e deixa-la terminar de falar. Mas ela pediu que eu atendesse. Eu disse que não era necessário, que deveria ser algum engano ou alguém que pudesse esperar. Mas ela insistiu. Eu estava com mal pressentimento. Mas atendi, afinal poderia ser algum amigo ou até mesmo o Jack.
“Alô.” Eu disse.
“Lisy?” Eu não tinha como confundir aquela voz. Congelei por alguns segundos. Não deveria ter atendido... Era Melanie.
“Oi amiga, estou meio ocupada agora...” Eu não podia deixar que Bia percebesse a importância daquela ligação. Melanie era tão discreta que de sua vida eu não conhecia nada, e se me ligara, com certeza tinha notícias importantes. Talvez notícias ruins. Mas alguma coisa estava acontecendo, e no pior momento possível.
“Tem gente ai?” Ela perguntou. Com certeza algo estava acontecendo.
“Sim.” Respondi. Bia parecia estar organizando as ideias em sua cabeça para me contar tudo quando a minha ligação terminasse. Ainda bem.
“Lisy, é importante, não sei se vou poder falar depois. É urgente.” Ela disse em tom baixo.
“Pode falar.” Eu disse rindo, como se fosse uma simples fofoca, para que Bia não percebesse meu nervosismo.
“Sarah está gravida.” Melanie disse.
“Como assim? Quanto tempo tem isso? Quem?” Minhas perguntas eram incompletas, mas por sorte Bia parecia não perceber.
“É dele, e já está com dois meses.”
“E como você ficou sabendo?” Perguntei.
“Você sabe, xeque mate para ela.” Nós tínhamos códigos.
“Eu não acredito.” Falei tentando rir para não mostrar que estava querendo chorar.
“Isso só prova que...” Ela nem terminou de dizer e...
“Não fala!” Gritei. Bia percebeu minha alteração na voz. Não consegui fingir diante daquilo que era tão...
“Lisy, eu vou ao banheiro, tá?” Bia disse baixinho, percebendo que eu precisava conversar ao telefone com mais privacidade. Mas com certeza ela iria querer saber tudo depois.
Fiz que sim com a caberça, afirmei com uma das mão, sorrindo forçadamente e logo voltei meus pensamentos para Melanie. Bia saiu do quarto.
“Me diz que eu fiz a escolha certa, por favor.” Implorei ao telefone, contendo as lágrimas.
“Lisy, você escolheu não saber.” Ela disse.
“O que eu preciso saber?” Eu estava tão nervosa. Era tão ruim reviver aquilo depois de fugir daquele lugar horrível.
“Você quer voltar?” Melanie perguntou.
“Não, nunca mais.” Respondi prontamente.
“Se você voltar, você vai saber. Agora preciso desligar querida...” Ela disse, sempre com aquele tom sarcástico.
“Não, espera! Por favor, não faz isso comigo! Como eu faço para falar com você?” Implorei quase chorando.
“Se eu precisar, eu ligo. Convenhamos que Sarah tenha mais problemas que você agora.” Ela disse.
“Está do lado dela agora Mel...?”
“Não diga meu nome!” Ela hesitou. “Você sabe que não é seguro, Lisy. Ele está em todo lugar. Você sabe...”Eu pude ouvi-la suspirar.
“Olhe ao seu redor Lisy, olhe para você. O que você enxerga ao espelho?” Ela me questionou.
Respirei.
“Um grande espaço vazio.” Eu disse de forma quase que incompreensível.
“Sinto muito. Preciso ir querida. Boa sorte ai.” E assim ela se despediu e desligou, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa...
Naquela mesma noite, tirei os espelhos de corpo inteiro do meu quarto, não poderia mais viver com aquilo. E Melanie não ligou mais.
Bia voltou do banheiro e eu estava em choque.
“Quem era?” Ela perguntou, enquanto se aproximava de mim.
“Uma amiga.” Eu disse, tentando sorrir e convencê-la de que estava tudo bem.
“E aconteceu alguma coisa? Você parecia nervosa...” Ela parecia preocupada comigo.
“Relaxa Bia. Foram só três meses, mas já fiz amigos em Chicago.” Eu devia ser uma péssima atriz.
“Hmm...” Pela expressão no olhar de Bia, eu definitivamente era uma péssima atriz.
“Ela é de Chicago?” Ela perguntou.
“Sim, uma amiga da família de meu pai.” Eu disse forçando minha naturalidade. “Mas não precisa ter ciúmes, só você é a minha melhor amiga!” Eu passaria fome se fizesse artes cênicas...
“E qual o nome dela?” Bia não parecia estar com ciúmes, mas bem curiosa.
“Melissa. Mas o que isso importa agora? Continue me contando suas novidades.”
Bia me encarou por alguns segundos. Provavelmente pensava se tudo aquilo não era mais do que eu havia dito que era. Não estava convencida, mas deveria ter muita coisa pra contar, então ela continuou.
“Você não vai acreditar! Adivinha quem ficou te procurando durante todo o verão.” Ela disse.
“Quem?” Eu disse já imaginando quem seria o sapo.
“O Josh.” Ela disse quase chorando de tanto rir.
Eu pensei que ela fosse dizer que o Jack me procurou ou alguém que fosse mais... interessante. Mas o Josh? Nossa, eu não o via havia meses, nem se quer imaginava que ele lembrasse de mim. Nós estudávamos juntos no curso de inglês no ano anterior aquele. Nos víamos todas as quartas, e ele sempre falava comigo. Eu suspeitava que sentisse algum interesse por mim, mas... Não! O Josh não! Só de lembrar da sua barriga balançando enquanto corria, ah não mesmo!
“Ah, jura?” Perguntei rindo.
“Sim, e se ele souber que você já chegou, com certeza virá te visitar.” Bia gostava de me provocar.
Fiz uma cara de nojo misturada com desespero. Eu queria muito que ele nunca me visitasse. Mas além de grudento e desesperado, Josh era um bom amigo.
Só de pensar naquilo, lembrei de Jack e do quanto eu sentia sua falta. Jack era meu melhor amigo, era a pessoa que eu mais gostava de ter por perto em todo o mundo. Mas não era só isso. Ele também era todo o espaço em metros cúbicos disponíveis do meu coração. Contando que uma parte do coração bombeie o sangue do corpo e outra parte seja da nossa mãe, Jack estava em todo o resto. Mas ele não sabia disso. Talvez imaginasse. Mas esse lado da Lisy ninguém jamais iria conhecer. Eu não era romântica e muito menos apaixonada.
“Mas Lisy, você já avisou o Jack que você chegou?” Bia parecia ler meus pensamentos.
“Na verdade, ainda não...Se você for perceber nem as malas eu desfiz.” Falei apontando para as malas abertas e espalhadas pelo chão do meu quarto. Estava uma bagunça. De onde estava podia ver até mesmo sutiãs jogados por cima das malas. Acho que nunca tinha feito uma viagem tão longa e cansativa como aquela. E tão horrível, podia dizer.
“Ah, sim. Mas ele vai ficar feliz de saber que está de volta.” Ela disse.
“Vou mandar uma mensagem para ele mais tarde.” Por fora eu estava fria. Mas por dentro, meu coração pulava de alegria de pensar que ele poderia ter sentido a minha falta. Minha vontade naquela hora era de encontrar Jack e contar pra ele toda a minha experiência de viagem, chorar e tê-lo me consolando. Mas Jack não era assim. Isso porque eu não era assim. Eu era só a Lisy. Ele era só o Jack.
Enquanto Bia ainda falava e contava sobre o “verão mais inesquecível” da vida dela, senti meu celular vibrando no bolso. Precisei pegá-lo. Era o despertador indicando que estava na hora do remédio. Confesso que esperava que fosse uma mensagem dele. Mas Bia viu e perguntou que remédio era aquele.
“Tive uma dor de garganta forte, só isso.” Eu disse fingindo e forçando naturalidade de novo. Com certeza o Oscar do ano seguinte seria meu: A melhor pior atriz do mundo.
“Desculpe Bia, preciso tomar pontualmente. Já volto.” Fui até a cozinha, tomei e voltei. Melanie me disse que se eu tomasse nos horários corretos por todos os dias indicados por ela, eu não teria complicações. Depois de tudo que passei o que menos eu queria era ter complicações.
Bia não demonstrou desconfiança, mas logo escondi a caixa do remédio na gaveta de camisetas, antes que ela pudesse se quer ler o nome e pesquisar a bula depois.
Bia falou, falou e falou mais ainda. Eu sentia meu estomago embrulhar e uma forte náusea subia dentro de mim e chegava a boca. Mas eu engolia aquilo e evitava ao máximo. Precisava vomitar. Eu não fazia ideia da hora que Bia iria embora, mas certamente eu já estava ansiosa.
Depois de muita conversa jogada fora, eu disse a ela que estava muito cansada. E conforme o esperado, ela entendeu e foi embora.
Pelo menos eu poderia ficar sozinha com minhas malas abertas, sutiãs jogados e enjoos. Melanie disse que tudo aquilo fazia parte. Mas esquecendo um pouco Melanie, peguei o celular. Era hora de avisar o Jack.
Autor(a): kethymotta
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