Fanfic: Depression and Sugar Taste | Tema: My Chemical Romance, Frerard
Era um dia chuvoso quando ele apareceu em minha vida.
Um dia especialmente deprimente, onde a única coisa mais abundante do que a chuva fria eram minhas lágrimas, unidas ao meu soluçar quase incessante.
Num primeiro momento, a notícia da morte de minha avó, Elena, não me causou tanto impacto. Quer dizer, acontecia uma hora ou outra não é?
Mas minha máscara de firmeza não durou muito. Quando me vi ali, em seu enterro, fui tomado pela sensação de que a única pessoa que um dia havia me compreendido plenamente estava me deixando. E de repente, tudo o que eu conseguia fazer era chorar.
Cheguei a um ponto de desespero tão grande que meus pais, envergonhados, resolveram se retirar mais cedo dali, levando meu irmão e eu para casa.
Estava me sentindo um tanto em dívida com minha mãe, já que a havia feito abandonar o enterro de sua mãe antes da hora... Mas ela não parecia chateada. Muito pelo contrário. Tratou-me feito um bebê, me enrolando por completo com cobertores macios e me fazendo deitar em nosso sofá logo indo à cozinha me preparar alguma coisa.
Meu irmão mais novo, Mikey, com seus onze anos, também estava bastante triste, mas ainda não parecia entender a dimensão real de tudo aquilo. Ou talvez eu que a extrapolasse um pouco.Mas não era culpa minha. Desde a infância havia sido o garoto solitário e esquisitinho que preferia brincar com seus gizes de cera e desenhos do que com as outras crianças. Vovó era a única que não tentava fazer com que eu me enturmasse mais com os outros. Ela me respeitava da forma que eu era, e ainda tentava estimular meu lado artístico, sempre tão mais aflorado. E em tantas outras situações... Eu podia contar com ela para o que quer que fosse.
Meu irmão ainda era novo demais para ter se apegado tanto a ela. E ele era... Bom, mais normal que eu, com toda a certeza. Por isso, apenas me olhava de um canto, incerto se devia falar algo, ou me abraçar. Por fim, acabou correndo para seu quarto, e pelo que me lembro, não saiu de lá tão cedo.
Meu pai estava silencioso e tenso naquela manhã. Parecia ter a impressão de que algo ia acontecer. Lembro que ele sentou-se ao meu lado no sofá, e não disse absolutamente nada.Suspirei pesadamente. Meu pai nunca havia gostado exatamente de mim. Em meus quinze deprimentes anos de existência, ele havia me tratado bem. E só. Nada de carinho ou de afeição. E então, quando minhas roupas se tornaram escuras, minha personalidade mais fechada e meu porta cds recheado de bandas barulhentas a seu ver, as coisas ficaram ainda piores.
Naquele momento, por exemplo, lembro que ele me olhara de forma desaprovadora. Como se eu fosse fraco por chorar daquela maneira. Eu não me importava. Na verdade, eu me importava com pouca coisa naquela época.
O que mudou drasticamente, assim como... Bom, tudo.Mamãe retornou a sala com uma bandeja de biscoitos quentinhos e beijou minha testa antes de seguir para ver Mikey. Donna Way era uma mulher moderna, que prezava sua carreira, mas não abandonava seu papel como mãe. Ela não era do tipo de pessoa que se abala facilmente, e mesmo com algo como a morte da vó Elena, ela conseguia manter-se firme. Quase não demonstrava sua dor. Apenas estava mais silenciosa do que de costume.
Eu gostava disso em minha mãe. Ela era forte.
Eu queria ser como ela. Queria não ter me entregado à depressão, que havia começado a se apossar de mim há semanas, tão facilmente. Mas era difícil.
Viver é uma coisa difícil. Alguns enlouquecem, outros se privam delas...
Alguns conseguem, simplesmente, viver. Encontram forças na fé, no amor, até mesmo em seus sonhos.
Naquele momento, eu não me agarrava em nenhuma dessas coisas. Amava meus pais, meu irmãozinho e meus amigos, mas nada forte o bastante para isso. A religião havia deixado de me fazer sentido quando começou a contradizer a si própria e, sonhos? Que sonhos eu tinha?
Sabia que queria fazer quadrinhos. Que queria viver disso.
Mas rapidamente trataram de esmagar esse meu pequeno propósito. Meu pai, mais especificamente.
Segundo ele, arte não dava dinheiro. E fim da discussão.
Ele queria que eu fosse advogado. Ou médico. Essas coisas de sempre.
Eu era incompreendido, como qualquer jovem de quinze anos. E, sendo assim, não acreditava que a psicóloga pra quem ia iria poder me ajudar muito. Não me sentia à vontade me abrindo com ela e nossas sessões eram 50 minutos de respostas monossilábicas sobre como estava sendo minha semana e etc.
Olhei para o prato de biscoitos à minha frente e suspirei, pegando um deles.
As gotas de chocolate quentinho eram atraentes, mas o máximo que comi foi um pequeno pedaço.
Mamãe voltou para a cozinha. Papai me deixou, indo em direção ao banheiro.
E eu continuei ali.Como sempre. Eu não era a pessoa mais ativa de todas. Então, quando não estava ouvindo música, esparramado em minha cama, estava desenhando alguma coisa, esparramado no sofá. Algumas raras vezes, realizava alguma das tarefas do colégio. E só.
Naquela manhã, eu sequer tinha vontade de me levantar para pegar meus lápis e caderno de desenhos, ou mesmo de ligar a tv. Por isso apenas fiquei lá, imóvel, vendo as gotas de chova baterem ruidosamente na janela.
Até que vi a silhueta de uma pessoa de guarda-chuva vindo em direção a porta da frente.
Esperei alguns segundos, me certificando de que estava certo, e a confirmação veio no som estridente da campainha.
- Gerard! Abra a porta, por favor! Estou usando o forno. - gritou mamãe, e eu não tive escolha se não ouvi-la.
À contra gosto, despi-me dos cobertores gigantescos ao meu redor e segui até a porta.
Por vezes, mais tarde, me questionei sobre o que teria acontecido se não estivéssemos ali naquele momento, se as coisas seriam diferentes... Mas, custo a acreditar que pudéssemos escapar daquilo. Destino, Karma, chamem como quiserem.
Sob um guarda-chuva cinza, ali na calçada de minha casa, estavam duas pessoas. Não necessariamente espremidas de baixo dele, como poderiam ficar, pois a menor delas vestia uma capa de chuva e, sinceramente, não parecia se importar nem um pouco em se molhar.
A mulher ali era alta, ou parecia ser com aqueles saltos finos. Seus cabelos eram negros e brilhosos e ela tinha olhos negros ambiciosos. Vestia-se como uma empresária da alta sociedade, e com sua postura firme era exatamente essa a impressão que ela passava. Segurava a mão de uma criança, bem menor que ela, que devia ter seus sete anos. O garoto estava coberto por uma capa de chuva transparente, que cobria seus cabelos castanhos e parte do rosto infantil, sorridente. Os olhinhos dele mal apareciam, sob a franja grandinha, mas eu conseguia notar que eles eram de um tom diferente, bonito, de verde. Ou seria castanho? Eu não conseguia distinguir com precisão.
- Bom dia. - a moça falou, educadamente, mas eu conseguia sentir uma impaciência em seu tom, como se ela estivesse apressada. - Aqui é a casa de Donald Way?
- Hã, sim. - confirmei. - Sou o filho dele, Gerard, o que a senhora...?
Ela não me deixou dizer mais nada. Com um olhar quase indignado que parecia dizer "Filho?!?", conseguiu abrir espaço e entrar na casa, arrastando o garotinho.
- Ei! - protestei. Não era por que ela se vestia bem e estava com uma criança que podia ir entrando de qualquer maneira.
Ela fechou o guarda chuva e passou a mão pelos cabelos negros. - Me desculpe garoto, mas eu não tenho tempo a perder com formalidades inúteis. Vá chamar seu pai e... - ela mal terminou de falar e ele voltou à sala, a expressão passando de incredulidade para nervosismo na mesma velocidade com que seus lábios formaram um nome:
- Nádia? O que é que você está...
- Donald. - a mulher, Nádia, o fitou com um olhar de nojo, como se ele fosse a criatura mais desprezível, algo em que ela sequer se daria ao trabalho de pisar com seus sapatos caros. - Não quer chamar sua esposa para participar do espetáculo que isso vai ser? Por que, pelo jeito, você ainda deve ser casado.
- Saia de minha casa. Não tenho nada a tratar com você. - papai grunhiu, irritado.- Ah, mas você tem muita coisa a falar comigo. Mas, vamos chamar a Sra. Way para isso. Ela precisa saber de tudo também, não?
Como se a casa fosse sua, Nádia caminhou até a cozinha e voltou com minha mãe atrás dela. Mamãe parecia tão confusa quanto eu naquela história toda, e a expressão do meu pai ao vê-la na sala também, se tornou de puro pavor.
- Nádia... Não precisamos metê-la nisso... O que é que a Linda quer, hã? O que aconteceu? - meu pai balbuciava quase suplicante para a morena, que o ignorou por completo.
- É um prazer conhecê-la, Sra. Way. Eu sou Nádia Thomas e... Bom... Eu vim aqui em nome de minha irmã, Linda, que infelizmente sofreu um acidente de carro há uns dias e... Ela entrou em coma. - ela fez uma pausa, como se tal coisa fosse realmente dolorosa, e fez uma carícia leve, quase mecânica, na cabeça do menino que agora se agarrava timidamente a sua perna, como se estivesse assustado com tantas pessoas desconhecidas ao seu redor.
Eu entendia ao pequenininho. Sentia-me exatamente como ele estando em multidões.
Nádia continuou após minha mãe murmurar "meus sentimentos", ainda confusa. - A sra. certamente deve estar se perguntando por que estou aqui ou o quê isso tem haver com vocês... Mas é que, hm, minha irmã Linda nunca foi uma santa, Sra. Way. E, você talvez não se lembre, mas há uns anos atrás seu marido fez uma viagem. Um congresso no trabalho, um mês em New York... Já faz uns dez anos, mas você se lembra, não?
Mamãe olhou para meu pai e para Nádia, confusa. - Sim. Ele participou de um congresso... Você estava lá, não Donald? Pouco antes do Mikey completar um ano. Fiquei decepcionada por você ter perdido o dia em que ele começou a andar.
Papai nada disse. Estava lívido. Nádia continuou.
- Bem, seu marido não passou esse um mês sozinho, como lamento dizer Sra. Way. Ele estava com minha irmã, vivendo uma aventurazinha tola fora do casamento... Mas Linda era uma boba e achava que ele realmente queria ficar com ela. Uma boboca apaixonada, com seus vinte anos. E quando ele voltou para New Jersey, ela fez de tudo para segui-lo. E então o procurou novamente. E ele disse que não queria ficar com ela por que ela era jovem demais... Um monte de desculpas esfarrapadas para não dizer, simplesmente, que era casado - ou talvez tenha dito e ela que não tenha contado pra mim, envergonhada pelo que fez - mas nós dois sabemos que ela se afastou de você depois disso, não Donald? E só te procurou depois de dois anos, depois que se encontraram num supermercado, acidentalmente. E ela estava casada, com um filho, e com um ar adulto que deve ter lhe seduzido ainda mais do que o de adolescente ingênua que ela tinha, não é? E vocês voltaram a se ver, pelo que ela me contou. Até o Frank morrer. Do coração, tadinho. E vocês nunca mais se encontraram. Então você seguiu sua vida de sempre, com sua esposa e filhos, sem imaginar que seu caso com Linda fosse ter alguma consequência. Pois bem, aqui está a consequência.
Nádia retirou a o capuz da cabeça do garotinho, mostrando de forma mais clara seu rosto. - Frank Iero foi um bom homem, aceitou Linda grávida de outro como estava e até registrou o filho dela como seu. Deu até seu nome a ele. Frank Iero Jr. Mas na verdade ele não passa de mais um Way... É seu filho, Donald.
Mamãe, que antes apenas havia coberto os lábios com as mãos e mantinha-se quase incrédula, agora começara a chorar. Parecia mais irritada do que triste... Ou talvez num misto estranho dos dois.
Eu só conseguia me sentir confuso. Aquele garotinho me fitava ainda assustado, com aqueles olhinhos âmbar, do mesmo tom que os de meu avô paterno, quase os mesmos de meu pai, e parecia querer colo. Eu imaginava como ele se sentia, mesmo pequeno como era, ter sua mãe em coma e conhecer o verdadeiro pai de uma forma tão conturbada... Isso era algo muito ruim.
Pela primeira vez em semanas senti a vontade de abraçar alguém. Por que eu queria abraçar aquele pequeno assustado... Meu irmão.
Outro irmão mais novo. Eu nunca havia pensado que outra criança além de Mikey faria parte da minha vida, nem mesmo filhos, que eu não pretendia ter. Então aquilo era, de fato, muito confuso.
- Eu vou viajar Donald, e com Linda em coma... Eu não posso cuidar do garoto. Meus pais o rejeitam por causa de Linda e depois que os parentes de Frank descobriram que o Junior não é parente sanguíneo deles, cortaram relações. Então eu achei que poderia tentar encontrá-lo. - Nádia olhou para o relógio. - Estou atrasada. As malas do Junior estão no carro, venha me ajudar a buscá-las.
- Esse menino não vai ficar aqui. - meu pai disse, bruto, fazendo com que os ombros do garoto se encolhessem. Senti raiva. Ele não precisava falar daquela forma.
- Ah, ele vai. - mamãe se pronunciou. Seus olhos mantinham-se vermelhos e ela ainda parecia furiosa, mas fitou meu pai de forma controlada. - É seu filho, e se você não teve a responsabilidade com ele antes, vai ter agora. Podemos encontrar espaço para ele com Mikey ou Gerard. E você vai ajudá-la a trazer as malas dele, agora. Vou estar no escritório, esperando para falar com você.
Com isso, minha mãe desapareceu escada acima e meu pai não teve escolha se não ouvi-la. Eu, particularmente não achava uma coisa tão absurda ele tê-la traído. Era óbvio que ela o amava muito mais do que ele o fazia. Eu só tinha raiva dele magoar os sentimentos de uma pessoa tão boa como minha mãe era.
E tinha pena daquele menininho, que nada tinha haver com a história e agora estava ali, acanhado demais para se sentar ou fazer qualquer coisa que não olhar repetidamente para a rua, esperando a tia retornar.
- Você pode sentar, sabe? - falei, eu mesmo retornando ao meu casulo de lençóis macios. Os olhos redondos e âmbar voltaram-se pra mim e, então, rapidamente, ele correu para o outro sofá, de frente para onde eu estava. Seus pés balançavam, e sua atenção voltou-se completamente para o prato de biscoitos ali. Estaria ele com fome?
- Pode pegar um... Hm... Junior. - forcei-me a lembrar.
- Frank. - murmurou ele. - Meu nome é Frank. Só minha mãe e minha tia me chamam de Junior. É irritante.
- Ah, okay, Frank. Pode pegar um biscoito. É bom, foi minha mãe que fez.
Ele então esticou uma das mãozinhas e apanhou um biscoito. Ele o mordiscou lentamente, de início, mas logo depois o devorou em segundos.
Isso quase me fez sorrir. Crianças.
- Quantos anos têm? - questionei, achando a voz dele, ainda que fina, não condizente com seu tamanhinho.
- 10. - ele pegou outro biscoito.
Por um momento, fiquei surpreso. O garoto era realmente pequeno. Mas logo em seguida os cálculos em minha mente comprovaram o fato. Ele devia ser um ano e alguns meses mais novo do que Mikey, segundo o que ouvimos de Nádia.
Ouch. De repente foi como se um balde de água tivesse despencado em minha cabeça. Ao longo de tudo aquilo a verdade ainda parecia estar sendo processada em minha mente e só agora a ficha havia caído por completo. Há dez anos meu pai havia tido outro filho, aquele garotinho minúsculo a minha frente, comendo biscoitos. Um meio-irmão mais novo que iria viver conosco. Talvez em meu quarto. Tudo ali em casa mudaria depois dessa.
Aquela nem parecia mais a mesma manhã em que eu me descontrolara no enterro de minha vó...
Vovó. Como ela reagiria a isso tudo? Será que trataria Frank como um neto, também, mesmo que ele fosse filho do homem que traiu sua filha? Provavelmente sim. Ela o acharia fofo. Oh, sim, com toda a certeza. E apertaria suas bochechas, tão fofinhas.
Fiquei alguns segundos só observando-o comer os biscoitos, um por um, até ver meu pai voltar à sala.
Ele trazia duas malas, e Nádia o seguia. Os dois pareciam ter conversado um pouco lá fora. Ele colocou as coisas de meu novo irmãozinho próximas aos sofás e seguiu escada acima, com a cara amarrada, sem dizer mais nada. Ia falar com mamãe.
Frank viu sua tia caminhar até si e beijar sua bochecha. - Quando eu voltar de viagem, venho te buscar, hm?
Frank assentiu e beijou-a de volta. Então a morena voltou-se para mim.
- Cuide bem de meu sobrinho, por favor. Você me parece maduro o suficiente para entender que Frank não tem culpa pelos erros de seu pai. - ela acariciou os cabelos castanhos do menino. - Eu não acho que seja justo fazer esse pedido a sua mãe, então...
- Não se preocupe. Eu vou cuidar dele.
- E Frank, comporte-se direitinho. Eu ligo pra saber como você está. Tchau. - então, rapidamente saiu da casa. Minutos depois, ouvi o som do carro dando partida.
E então, tudo ficou em silêncio. Antes, é claro, do barulho da discussão começar, no andar de cima.
Eu conseguia ouvir a voz subitamente estridente de minha mãe e os grunhidos bravos de meu pai.
Frank se encolheu, cobrindo as orelhas com as mãos. - É tudo culpa minha. - murmurou, baixando os olhos.
- Não é não. - disse, mas notei que ele não se convenceria apenas por aquilo, então continuei. - Meu pai errou e sua mãe, hm, ela também fez algumas escolhas erradas. Mas você não deve se sentir culpado.
- Minha mãe está morta. - ele disse, numa voz baixa e meio melancólica. - Ela só fica lá parada, como se estivesse dormindo. Mas não acorda.
Suspirei. Ele era realmente apenas uma pobre criança. E eu, por mais estranho que isso me parecesse no momento, queria ajudá-lo. Talvez temesse que, mais tarde, ele fosse se tornar alguém como eu.
- Olha... Eu não quero que fique pensando assim. Não pense nisso, hm? Eu sei que deve ser estranho, você vai morar com gente que nem conhece... Mas, hm, pode confiar em mim. O que acha de irmos ver o Mikey? Ele tem a sua idade e... Hm... É seu meio-irmão também.
Frank então sorriu. Acho que pela primeira vez desde que havia entrado ali. E fora um sorriso tão bonito que eu me senti até meio aéreo por uns segundos.
- Isso é legal. Eu nunca tive mais ninguém pra brincar em casa... Sempre quis ter um irmão mais velho... Ou dois... E cachorros... Vocês têm cachorros?
Neguei sem tirar do rosto aquele esboço de sorriso que surgira ao ver o dele. - Infelizmente não. Mas eu sei que Mikey sempre quis ter um gato. Vem, vamos conhecer ele.
Me levantei e notei o garoto correr até mim e agarrar minha mão. Ele era realmente muito baixinho, e seus dedinhos entrelaçados aos meus me davam uma sensação estranha. Eram quentinhos, macios, como deveriam ser.
Subimos as escadas e caminhamos rapidamente pelo corredor, fugindo do alto falatório que saía de uma das portas. Entramos no quarto cuja porta era totalmente decorada com desenhos e figurinhas espaciais de alto relevo.
Passamos horas ali. Eu apenas observava Mikey, que após o choque inicial da descoberta, adorou o fato de ter ganhado um irmão, e Frank brincando. E ao contrário de como estava antes, todo desconfiado, segurando seus brinquedos só para si, agora os dividia com o pequeno Frankie, rindo.
Era curiosa a forma como eles imaginavam as coisas. Mesmo eu que tinha as mais loucas ilusões a me inspirar para meus desenhos, achava aquilo tudo incrível. O pequeno Frankie me parecia muito incrível. Com aqueles olhinhos, tão âmbares, tão misturados entre o verde e o castanho quanto era possível, e seu jeitinho ainda tímido de manusear os carrinhos de Mikey... Ele era, em um adjetivo, desenhável. É. Eu com certeza faria um desenho dele mais tarde. E talvez um de Mikey, para não ser injusto.
Engraçado. Agora eu teria de dividir as coisas com dois irmãozinhos menores, e não apenas um.E essa era toda a minha preocupação no momento. Mesmo tendo quinze anos, minha mente ainda não havia conseguido compreender que, talvez, depois daquela manhã, meus pais se separassem. Que tudo na minha vida poderia mudar drasticamente com a chegada daquele pequeno ao nosso lar. Eu só conseguia ver as coisas boas naquilo, o que me era completamente atípico.
Frank fizera aquilo comigo. Aquele garotinho quase me fez sorrir, em poucos minutos junto a ele. Existia uma aura diferente em volta dele. Ele ainda parecia tão tímido e tão incerto... Mas não deixava de parecer feliz. Não sei... Esperançoso.
Quando os dois começaram a sentir fome, eu decidi que era bom dar uma olhada se meus pais já tinham acabado com aquilo tudo. Então saí do quarto e encontrei minha mãe saindo do escritório, os olhos tão vermelhos quanto estavam antes.
- Gerard, querido, será que pode preparar o seu almoço e os dos meninos? Eu preciso tomar um banho, relaxar um pouco. Depois eu faço um lanche.
- E o papai?
- Ele vai almoçar na casa dos pais dele. Talvez passe uns dias por lá e precisa ver se não será um incômodo. - então ele iria sair de casa, pelo menos por um tempo, pelo que eu entendi. Aquilo ainda não me parecia tão ruim. Exceto por minha mãe, claro. - Mais tarde ele vai vir buscar vocês três para jantar e conversar um pouco.
- Tudo bem.
Após um breve silêncio, minha mãe perguntou. - E o garoto? Como ele está?
- O Frank? Já se entrosou com o Mikey. Eles estão brincando até agora.Ela apenas assentiu e beijou minha testa.
- Obrigada por me ajudar tanto querido. Você é um bom rapaz.
Fingi um sorriso para ela e fui preparar algo para o almoço. Não que eu soubesse cozinhar bem, mas sabia me virar o bastante para fazer macarrão instantâneo e um pouco de suco.
Os garotos comeram depressa e eu mal toquei em meu prato, como sempre. Então foram brincar mais, e eu resolvi ficar um pouco sozinho.
A dor no peito que surgira no momento em que coloquei os pés no velório de Elena naquela manhã voltou quando me esparramei em minha cama. Meus fones de ouvido tocavam em volume alto uma de minhas músicas favoritas, o que costumava me distrair, mas naquele momento mal surtia efeito. Eu senti vontade de chorar outra vez. De abraçar alguém com força.
Parecia que algo dentro de mim estava se despedaçando, e eu não duvidava nada que fosse o meu próprio coração.
Uma ou duas lágrimas já haviam escorrido por meu rosto quando ouvi a batida leve na minha porta.
Eu queria ignorar completamente seja lá quem estivesse ali, mas eu estava com a impressão de que a criatura por trás de minha porta não merecia meu mau-humor.
E eu estava certo.
Quem estava ali era o pequeno Frank, com seus olhos redondos, levemente pidões, remexendo suas mãozinhas.
- O que quer? - perguntei, implicando comigo mesmo por meu tom grosso.
- A Sra. Way pediu para que eu lhe avisasse que é hora do banho. O irmão Mikey já foi tomar o dele e... Oh! Você tem bonequinhos! - Frank meio que gritou, enquanto corria pra dentro de meu quarto, sem minha permissão, e subia na cadeira giratória de minha escrivaninha, se esticando para alcançar as minhas figuras de ação sobre a prateleira.
- Ei! Desça daí! - caminhei até ele e agarrei-o, colocando no chão. - Não são bonequinhos. São figuras de ação. E são caras então não pode mexer nelas.
- Ah... Tudo bem. Desculpa. - ele se encolheu, levemente envergonhado, mas se distraiu de novo, dessa vez com meu estojo de lápis para desenho. - Olha só! Quantas cores têm aqui? Parecem umas mil!
- 150. E tenta não estragar, por favor. - esfreguei minhas têmporas. Por mais legalzinho que Frank estivesse sendo aquele dia, eu não podia me esquecer que ele era uma criança. E crianças quebram coisas.
Não queria que ele quebrasse minhas coisas, por isso me ajoelhei no chão junto a ele, ficando de olho.
- Você deve desenhar bem, irmão Gee. - ele comentou, sorrindo. Entregou-me uma hidrocor verde e esticou as mãozinhas. - Pode desenhar algo nelas?
- Suas mãos?- Hmhm. - ele assentiu. - Vamos, daqui a pouco eu vou para o banho e vai sair... Faz alguma coisa maneira!
Revirei os olhos. Aquele garoto tinha cada ideia. Mas desenhar naquelas mãozinhas tão diminutas me seria quase que um desafio. Topei.
Comecei traçando o que queria nas costas de cada uma delas. Mudei os hidrocores algumas vezes, para causar o efeito que queria. Era difícil desenhar corretamente com as risadinhas do garoto e a forma como ele movia as mãos às vezes, ansioso.
Terminei a teia de aranha e o ser aracnídeo que estava nela em uma das mãos, além da caveira bem desenhada da outra.
Antes de finalizar tudo, porém, olhei para seus dedinhos, que ainda continuavam "em branco". O que eu poderia fazer ali?
- Diz uma coisa sobre você. Algo bem aleatório. - pedi, mordendo a tampa de um das canetinhas.
- Hã... Meu aniversário é no Halloween. Isso serve?
Meio-sorri. Servia. Escrevi cuidadosamente, com roxo e amarelo, as letras da palavra Halloween em seus dedos miúdos. Foi difícil apertar os dois L`s em um só dedinho, mas por fim consegui.
- Pronto. - disse orgulhoso.
- Uou! Nossa! Isso aqui ficou incrível! - ele olhava sorridente para suas mãozinhas desenhadas. - Você é legal, irmão Gee.
Então, inesperadamente, o garotinho lançou seus braços contra meu pescoço, me abraçando de forma desajeitada, meio que caindo por cima de mim.
De início aquilo foi... Desconfortável. Por mais que às vezes eu sentisse vontade de abraçar alguém, ser abraçado de verdade era algo bem diferente.
Eu demorei a me acostumar com o calor do corpinho junto ao meu e quando finalmente o fiz, e comecei a aprovar tal coisa, ele se afastou. Mas não muito, só o suficiente para olhar pra mim.
Os olhinhos âmbares focaram quase que instantaneamente o rastro já seco das lágrimas derramadas anteriormente. E junto com a lembrança que tive de estar chorando, me veio o motivo de tal coisa novamente.
Uma única gotícula escorreu por um de meus olhos, percorrendo depressa minha bochecha ao mesmo tempo em que abaixei meu rosto.
- Não. - Frank gemeu baixinho, tocando em meu queixo e me fazendo olhar para ele novamente. - Não chore.
Usou um de seus dedinhos para capturar a lágrima fujona e logo depois, beijou o mesmo.
- Mamãe sempre me dizia: When you kiss a tear, your pain disappear* - ele me disse, baixinho, com seus olhos âmbares brilhando. Eles eram bonitos, seus olhos, e embora tivessem um tom conhecido por mim, raro, mas que se via nos de meu pai e meu avô... Ah. Eles eram muito mais belos em Frank. Uma cor que merecia ser repetida em algum lugar... Talvez em um desenho. Sim. Eu novamente tinha a certeza que tinha que desenhar aquele garoto, focando principalmente naqueles olhos.
- Obrigado Frank. - tentei lhe sorrir e o que surgiu devia ter parecido algo extremamente falso. Mas não era minha culpa. Eu parecia ter perdido por completo a habilidade de sorrir de verdade. - Agora, que acha de mostrar suas mãos para o Mikey?
- Oh! Isso mesmo! E eu vou pedir para a Sra. Way tirar uma foto... Ela não se importaria, não é?
Balancei minha cabeça, negativamente. Pelo que eu via, minha mãe não tinha nada contra Frank, apenas o fato dele ser um filho fora do casamento de seu marido, e como isso não era culpa dele...
Assim que ele saiu correndo de meu quarto, resolvi ir tomar banho, que além das funções comuns do banho, seria útil para a preparação psicológica que seria exigida de mim para jantar com meu pai mais tarde. Eu não havia pensado tanto assim nisso, mas agora não dava pra ignorar que eu estava com raiva dele. Mamãe não merecia aquilo tudo, e mesmo que tal caso fora do casamento houvesse feito existir o pequeno Frank, eu...
Hm. Engraçado. Agora eu não conseguia mais ficar tão irritado por aquilo. Agora existia Frank, não é? Talvez não tivesse sido tão ruim assim...
Não. Tinha sido sim. Que ele pelo menos assumisse seus erros e assumisse o garoto quando soube de sua existência, o que eu aposto que ele sabia. Afinal, ele não pode ter olhado para o rosto daquele garotinho, para os olhos dele e não ter percebido que ele se parecia, mesmo que pouco, com ele.
Uma vez devidamente vestido e com os cabelos meio bagunçados, do jeito que eu gostava, resolvi ir até o quarto dos meninos.
Eles já estavam prontos e distraiam-se jogando videogame.- Mamãe disse que o papai chega daqui a pouco. - murmurou Mikey, distraído.
- Vou falar com ela.
Desci até a sala, onde minha mãe folheava alguns documentos, provavelmente de algum caso judicial dela. Minha mãe era advogada, e às vezes tinha esse péssimo costume de se preocupar com o trabalho para não se abalar com a vida pessoal. Mas nós tínhamos que conversar.
- Mamãe? - sentei-me ao seu lado. - Precisa de alguém pra te ouvir?
Eu não era bom em consolar pessoas, sempre acabava piorando as coisas, na verdade. Mas eu tinha que fazer um esforço.
- Não. Eu já estou bem. - ela suspirou. - É que... Não é nada fácil descobrir que o homem que eu amo já há quase vinte anos teve a coragem de me trair dessa forma. É doloroso.
- Vocês vão se separar?
- Eu não sei. Vamos dar um tempo por enquanto. Provavelmente semana que vem ele vai ter arrumado algum lugar aqui perto para ficar e vai levar o Frank com ele.
- O quê? O Frank vai embora? Mas ele acabou de chegar. - meu interesse súbito naquilo era estranho, mas nada que eu percebesse na época.
- Querido, por mais adorável que ele seja, não é meu filho. E eu sei que quer que ele fique aqui, mas não acha que ele merece passar um tempo com o pai dele? Você e Mikey convivem com Donald desde sempre... Mas não ele.
- Papai não merece se aproximar de Frank. Ele sabia que ele existia, mãe, não tinha como não saber com todos esses anos. - cruzei meus braços, emburrando-me um pouco. - Por que ia querer agir como pai agora?
Mamãe suspirou, outra vez. - Não é a hora de conversarmos sobre isso, hm? Daqui a pouco o pai de vocês chega e... Bom. - ela bagunçou meus cabelos. - Só peço uma coisa, filho. Não o odeie. Ele errou, mas nenhum pai merece isso. Ele ama você. E o Mikey. E com certeza vai amar o pequeno Frank.
E quem não amaria? Uma criatura fofinha como aquela...Minha mãe então beijou minha bochecha e voltou para o escritório, levando seus papéis junto a si.
Cerca de meia-hora depois, meu pai chegou. Estava bem vestido e cumprimentou minha mãe (novamente na sala, terminando de arrumar os cabelos de Mikey que, naquela época, ficavam extremamente bagunçados sem muito esforço) de maneira civilizada.
Ele ficou meio sem jeito perto de Frank, e apertou a mãozinha pequena (onde eu ainda conseguia ver os resquícios dos desenhos anteriormente feitos por mim).
- É um prazer conhecê-lo, Junior. - murmurou ele.
- Me chame de Frank. - ele sorriu, exibindo todos os dentinhos. - É um prazer conhecê-lo também, papai.
Pronto. Ali o gelo foi quebrado. Eu conseguia ver nos olhos meio verdes de meu pai que ele havia se emocionado com aquelas palavras. Aquele garoto era fruto de um mero caso, havia sido criado por outro homem e estava ali, chamando o de papai.
E assim como havia acontecido como todos os outros Way, papai se derreteu por Frank em poucos minutos. No caminho até a pizzaria, os dois não paravam de falar. Três, na verdade, já que Frank e Mikey, por terem quase a mesma idade talvez, tinham muito em comum. Eu apenas fiquei em silêncio e ouvindo música. Como sempre.
O caminho do carro até o interior do restaurante, e o tempo entre a escolha da pizza e a chegada dela foi lotada por mais falatório "crianças-pai babão". Eu com certeza não tinha vez ali. Mas era melhor. Do jeito que ainda estava irritado com Donald, provavelmente falaria alguma besteira a ele, e eu não queria quebrar o climinha feliz que Mikey e Frank pareciam aprovar tanto.
- Gerard? Você mal comeu sua pizza. Devíamos ter escolhido outro sabor? - meu pai perguntou, de uma forma tão preocupada que me deu nojo. O que ele queria? Mostrar a Frank que era um bom pai? Ele nunca havia sido isso, pelo menos não comigo, e não era agora que iria ser.
- Só não estou com fome. - respondi, tentando não ser bruto, desviando os olhos do falso interesse de Donald sobre minha vida.
- Come irmão Gee. - começou Frank, cortando alguns pedaços de minha pizza. - Ou vai querer que eu te dê na boquinha, que nem um bebê? Olha o aviãozinho!
Eu não sabia como escapar daquele pirralho que se esticava todo em minha direção, movendo o garfo onde a pizza de milho estava espetada. Acabei comendo o pedaço, só para poder resmungar para que ele se sentasse.
Com aqueles três pares de olhos em cima de mim, acabei tendo que comer tudo, me sentindo enjoado, mas ao mesmo tempo satisfeito. Fazia tempo que eu não terminava de verdade uma refeição.
O caminho para casa foi mais silencioso, e isso se deveu ao fato de que Frank e Mikey, após gastarem sua energia no parquinho do lugar - onde eu tivera que ficar de olho nos dois para que não se machucassem - adormeceram em meu colo.
Acredite, foi bem desconfortável ficar com duas coisinhas que nem aqueles dois se remexendo em cima de mim, completamente adormecidos.
- Me desculpe Gerard. - meu pai começou, quebrando o silêncio. - Eu acho que devo muitas desculpas a você, sua mãe e até mesmo Mikey. Eu tinha uma família perfeita e mesmo assim... Mas tudo o que posso fazer agora é tentar ser um bom pai para esse garoto.
- Então seja. E não comece a ignorá-lo caso, no futuro, ele não venha a ser exatamente como senhor quer, que nem faz comigo. - eu disse. - E nem pense em fazer isso com o Mikey também. Eles não merecem nada disso.
- Eu sei.E esse foi o fim da conversa. Havíamos chegado.
Donald pegou Frank no colo e minha mãe, Mikey, me libertando daquele peso todo finalmente.
Deixamos os meninos nos sofás, ainda faltando arrumar um lugar definitivo para que dormissem, e meu pai se despediu dos dois com beijos em suas testas. Apertou minha mão rapidamente e falou um pouco com minha mãe. Então, com um leve aceno, foi embora novamente, dessa vez levando uma pequena mala, com mais algumas roupas.
- Ele vai vir buscar vocês para escola e provavelmente vão sair outras vezes essa semana.
- Ótimo. - bufei. - E agora mãe? Onde os meninos vão dormir?
- Vou levar o Mikey para ficar comigo hoje. Ele não vai reclamar, já que está dormindo feito um anjinho... Colocamos Frank no quarto dele por enquanto.
Assenti, tentando pegar o adormecido Frank no colo. Ele era um tanto mais pesado que Mikey, mas ainda assim leve o suficiente para que eu conseguisse carregá-lo escada acima.
Coloquei-o na cama de Mikey, vendo minha mãe ir com meu irmão (ou melhor dizendo, outro irmão) até seu quarto.
Tirei os tênis de Frank e cobri-o com os lençóis estampados. Ele ficava ainda mais fofo, se que isso era possível, dormindo. Mantinha as mãozinhas ao lado do rosto e entreabria os lábios, tão róseos como só agora eu havia notado, para ressonar, quase como um filhote de gato.
Após um leve bagunçar em seus cabelos, o que me pareceu muito natural, segui para meu próprio quarto.Depois de vestir meu pijama e me jogar em minha cama, não tardei a adormecer. Talvez por todo o meu cansaço emocional do dia. Só me lembro de que, mais ou menos umas três e meia da manhã, ouvi o barulho de minha porta sendo aberta, e logo depois algo se intrometeu em minhas cobertas.Abri os olhos rapidamente, assustado, e fui surpreendido com o rostinho de Frank, que trazia uma expressão leve de pânico, os olhinhos âmbares molhados.
- E-eu tive um pesadelo. - gaguejou. - Me deixa dormir aqui, irmão Gee, por favor, por favor.Ele tremia e eu tentei fazer algo para acalmá-lo.
Hm. Desconfortável outra vez. Mas nem tanto. Abraçar Frank ainda era estranho, mas no momento era o que o garoto precisava. Suas lágrimas ainda molhavam minha camisa escura, e suas mãozinhas ainda se encontravam agitadas, apertando-me com força desnecessária, como se para saber que eu realmente estava ali.
Ele caiu no sono antes que eu realmente percebesse, e uma leve sensação de trabalho cumprido me invadiu. Segurando seu corpo com um dos braços e nos cobrindo com o outro, tentei ajeitar-nos melhor ali, mas de qualquer jeito ele acabava sempre ficando meio em cima de mim.
Por fim, deixei do jeito que estava, com ele agarrado a meu tronco como um pequeno macaco. Ele era meu irmão, não era? Quantas vezes Mikey já não havia ficado assim em mim, quando resolvíamos dormir com meus pais?
E, puxa vida, ele só tinha dez anos. Não havia absolutamente nada demais.
E era até legal. Ele era mais quentinho do que meu cobertor, e os cabelos tinham um cheiro infantil que era melhor do que o amaciante de lavanda em meus lençóis.
Foi mais difícil dormir outra vez, por que naquele momento eu comecei a me lembrar que aquilo não seria permanente. Que caso meu pai e minha mãe se separassem mesmo, Frank iria embora. Isso sem falar que ainda tinha a possibilidade da mãe biológica dele, Linda, acordar do coma.
Ah. Aquilo me deixou realmente incomodado. Detestava perder coisas, pessoas... Mudanças bruscas assim geralmente causam dor aos outros. E eu não queria sentir dor.
E eu não queria me afastar de Frank.
*: Quando você beija uma lágrima, sua dor desaparece
Notas do Autor
Olá! Eu sou Olive, e essa é a minha primeira fanfic depois de um bom tempo longe de sites como esse. Essa fanfic foi primeiramente publicada no site socialspirit sobre o nickname de MoonySilhouette, mas por motivos pessoais, não foi concluída e excluí minha conta do site. Retorno hoje à postá-la, tendo continuando os capítulos que já tinha, mais ou menos quatro. Espero que minha nova escrita encaixe com a antiga, para que a transição entre os capítulos que fiz antes e os que continuo agora seja suave.
E, caso não tenha ficado claro, não é plágio, a conta MoonySilhouette realmente me pertencia. Espero que não ocorra nenhum mal entendido.
Mas, chega de falar de coisa séria. Espero que tenham gostado, que acompanhem e comentem, dizendo o que acharam da fic. Muitos beijos <3
Autor(a): olivethehobbit
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