Fanfic: Caçadores de Urso - Um Conto Nórdico | Tema: Nórdicos
Sonreike já se via na escuridão por tempo demais. Apenas os fogos das chaminés aqueciam os homens, apenas a lua e as estrelas iluminavam o chão. A lua, agente das trevas. As estrelas, mensageiras do Sol. Não se via por todo reino qualquer sinal das belas árvores que enfeitavam os campos e alimentavam os homens de frutas. Como poucos, os pinheiros da Praça Central continuavam verdes e robustos, provendo pinha e beleza a uma visão sem cor e sem vida. O uivo dos lobos para a maldita lua completava a melancolia daquela terra sem luz.
Erik Larson já viveu muitos períodos de trevas e conduziu seu povo ao Sol com sucesso em todos os Solstícios do passado. Naquela noite fria, como tantas outras, sua majestade convocou seu povo para anunciar; a guerra está próxima.
- Mais uma vez as trevas invadiram Sonreike e custam a nos deixar. Não nos julguemos fracos por deixa-las entrar. Seríamos fracos se não lutássemos com nossas vidas para trazer a luz. Pois as estrelas se alinharam no céu trazendo a mensagem de que a guerra está próxima. E a sabedoria vencerá a ignorância. A vida ganhará da morte. A luz vencerá as trevas. – Discursava com fervor o Rei.
Nenhum dos que o escutavam eram estranhos à vitória do Sol. Todos esperavam angustiadamente por sua chegada. As palavras do rei sempre surtiam um efeito encorajador. É como se a vida voltasse aos corpos dos homens para que tivessem forças para trazer a luz, como nos Solstícios passados. Ora, os Deuses não iluminariam Sonreike se seus habitantes não se mostrassem dignos de seu reconfortante calor. E eles estavam prontos. Coragem não lhes faltava. E vibravam com cada palavra de Erik Larson. A batalha não era só dos Deuses, era também dos homens.
- Somos tão perseverantes quanto os pinheiros que não nos deixam nem na noite mais fria e escura, apenas para gozar de longos tempos de luz. E agora chegou a hora de mostrar nossa força e coragem. As grandes bestas de gelo não são mais fortes que nós. Ofereçamos a vida aos Deuses.
O júbilo era ininterrupto. Os treinamentos iriam começar. Hora de chamar o Xamã.
- Xamã Mats, o povo se curva à mensagem dos Deuses. Os Bearjagare do último Solstício voltaram todos para casa. Nem todos os seus Tonaring tiveram o mesmo destino. Foram para o lado dos Deuses e hoje batalham ao lado do Sol. Chegou a hora de novos jovens se provarem guerreiros e um dia se tornarem Bearjagare ou acharem sua morada de luz eterna. Não existe glória maior do que auxiliar os maiores guerreiros do Reino. Não existe glória maior do que morrer por seu povo. Xamã Mats, quais jovens terão a honra de se tornarem Tonaring e ajudar os Bearjagare a conquistarem a luz? – Solicitou.
Os bravos meninos do Reino do Sol estufavam seus peitos e esticavam os seus pescoços para se destacarem um dos outros. A cada espiada do Xamã Mats eles respiravam fundo e seus genitores se recolhiam em um misto de medo, dor e glória. Perder um filho, talvez. Ser genitor de um Deus, com certeza!
Não era certo entre os habitantes de Sonreike quantos Solstícios pesavam sobre os ombros do grande Xamã. Mats Lindgren não tinha autoridade institucional sobre o Rei, mas ele não era um homem qualquer. Era o mensageiro dos Deuses no Reino do Sol. Nem Erik Larson nem seu pai jamais ousaram passar por cima dos conselhos deste agora velho sábio. Muitos menos ousariam os jovens Tonaring. Seria uma honra ser apontado por ele. Seria o mesmo que ser escolhido pelos próprios Deuses.
Os aspirantes de peito estufado se alinhavam de costas para o povo. Erik Larson deu meia volta e foi sentar-se ao lado de sua família, no trono provisório de madeira, encostado ao maior dos pinheiros da Praça Central. De pé em continência ao lado da família real estavam os caçadores das bestas brancas. Os Bearjagare, caçadores de ursos. Se o Xamã era a voz dos Deuses, os Bearjagare eram seus braços. Suas armas entre os homens para as grandes batalhas pela luz. Atrás de todos, um galpão fechado de madeira todo coberto pela neve.
O velho sábio, com sua longa barba e cabelos entrelaçados, andava vagarosamente à frente dos meninos. Seus serenos olhos azuis os observavam da cabeça aos pés atrás de força física, depois paravam nos olhos atrás de coragem. Três Tonaring foram devorados pelas grandes bestas brancas no Solstício passado. Seriam necessários mais três para substituir os agora habitantes de Vahala.
- Existe coragem em você! À frente e de joelhos. – disse o Xamã a um dos meninos.
O orgulhoso aspirante deu um passo à frente e se ajoelhou. Seus olhos fechados em júbilo. Seu coração acelerado de ansiedade. Faltavam mais dois. Muitos receberam o mesmo olhar da cabeça aos pés e viram o Xamã Mats passar indiferente. Cabeças baixas de decepção. Mais dois futuros Deuses foram escolhidos.
- Existe coragem em você! À frente e de joelhos. – O Xamã virou lentamente e tomou seu lugar de pé ao lado dos Bearjagare.
Separados por uma larga distância entre si, os três escolhidos permaneciam ajoelhados e de cabeça baixa, como sinal de reverência à família real, ao Xamã, aos Berjagare e aos Deuses. Estavam de costas para todos os outros. Os não escolhidos, os decepcionados.
Olhos fechados. Grandes provações estariam por vir, mas antes uma pequena amostra do inferno gelado dominado pelas grandes bestas brancas. Argus Hansson era o mais experiente Bearjagare em atividade. 3 Solstícios como Tonaring e mais 5 como caçador das grandes bestas. Defensor do Reino e treinador dos futuros Deuses. Era sua hora de prosseguir a cerimônia. Em sua mão direita ele vestia como uma manta, a garra de uma das bestas brancas que matou no Solstício Passado.
- Aos que não foram escolhidos, há toda a consolação dos Deuses. Vocês não são piores. Apenas possuem habilidades que ajudarão a glória de Sonreike de outra maneira. Vocês encontrarão seus caminhos na liberdade dos homens, sob a tutela da luz. Levantem a cabeça. Suas vidas serão também gloriosas. - Todos levantaram a cabeça devagar, respiraram fundo e olharam para o guerreiro-deus.
- Tonaring, agrupar! - Os meninos caminharam a passos firmes em direção a Argus Hansson. Havia mesmo coragem nos olhos daqueles garotos. Será? Tão jovens. Possivelmente estariam mortos antes da chegada do Sol. Pararam em frente ao Bearjagare sem ousarem olhar-lhe nos olhos. Ao invés, olhavam para as estrelas mais distantes do horizonte. Argus prosseguiu:
- Nós contamos com vossa coragem e ajuda para trazer de volta a Sonreike o maior dos presentes dos Deuses. A caça não será fácil. Os corvos tentarão cegar nossas renas e os lobos tentarão devorar a todos nós. E quando acharem que a vitória está perto, a neve tentará congelar-nos. E os ursos...os ursos não serão tão benevolentes quanto eu. Peitos abertos, Tonaring.
Os orgulhosos Tonaring recém escolhidos sentiam uma dor profunda, mas não choraram, não abriram a boca. Argus Hansson havia golpeado cada um deles com a mão direita, deixando marcado em seus bustos os cinco dedos da garra do urso. Estavam marcados, eram oficialmente futuros Deuses.
Do galpão de madeira saíram os demais Tonaring. Andaram em direção aos seus novos companheiros e um a um se cumprimentaram com um forte abraço fraternal. Todos jovens demais, todos com uma incrível missão. Erik Larson, então, proclamou: - Tragam a cerveja!
Autor(a): dudu_medina
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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As peles de ursos que Bard Bergman, Kanslig Sangare e Snall Anlid enrolavam sobre seus corpos os mantiveram aquecidos por toda sua longa e dura caminhada. As renas que puxavam o trenó facilitavam a dura viagem. Era um trabalho sombrio. Mas não teriam escolhido outra forma de vida. A longa escuridão e solid& ...
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