Fanfic: Caçadores de Urso - Um Conto Nórdico | Tema: Nórdicos
As peles de ursos que Bard Bergman, Kanslig Sangare e Snall Anlid enrolavam sobre seus corpos os mantiveram aquecidos por toda sua longa e dura caminhada. As renas que puxavam o trenó facilitavam a dura viagem. Era um trabalho sombrio. Mas não teriam escolhido outra forma de vida. A longa escuridão e solidão desses poetas lhe permitiam uma felicidade verdadeira ao retornar à luz do Solstício e reencontrar a família e os amigos no Reino do Sol.
Eles avistavam as mesmas estrelas que Erik Larson. Sabiam que a batalha estava próxima. Era hora de retornar a Sonreike e juntar-se aos seus entes queridos. Por muito tempo só contaram com o fogo e com a luz da maldita lua para ver a imensidão branca que os Deuses criaram. O trabalho deles estava concluído. Não havia perigo para reportar, apenas poesias para recitar. Um bom sinal. O Solstício seria pacífico mais uma vez e os Bearjagare podiam se concentrar em derrotar as grandes bestas brancas.
Não havia qualquer sinal de vida ou de perigo no vale que os cercava. Havia beleza naquelas montanhas brancas e naquela noite sem cor. O rio Rentvatten sempre lhes acalmava os nervos com o barulho de suas águas calmas, sua garantia de água limpa e peixes em abundância. Jamais se distanciavam de suas margens.
Os poetas errantes montaram acampamento. Precisavam descansar. Já estavam há poucos passos de Sonreike. Talvez mais um período de sono apenas. Dormir, descansar e se maravilhar com a gloriosa chegada durante as festas que aguardavam a chegada do Sol. Os Deuses serão misericordiosos mais uma vez. Quanto tempo mais para a chegada da luz?
Bard puxou o cabresto das renas para parar o trenó. Retiraram os mantimentos que usariam para acender o fogo e fazer seus leitos. Kanslig foi até o Rentvatten para encher os cantis de água. Snall abriu o saco de lenha e azevinhos, bateu algumas pedras e acendeu uma grande fogueira. Bard martelou uma trave de madeira para furar a neve o gelo e amarrou as renas e suas coleiras. O verso escrito no pergaminho que Bard carregava em seu pouch estava pronto. Era o mesmo dos solstícios passados. Eram os versos que todo o povo de Sonreike esperava durante as festas para a chegada do Sol.
- Elas parecem agitadas. Já estamos chegando, amigos. - Kanslig disse em tom paternal enquanto afagava as renas, reconfortando-as. Sentiu uma picada nas costas, uma leve a aguda dor. Um inseto? Tentou alcançar com as mãos o ponto da dor. Que merda é essa? Retirou de suas costas uma espécie de flecha pequena. Um líquido pegajoso corria por suas mãos. Não era sangue, era transparente. Veneno! Virou para trás para encontrar seus companheiros poetas. Os corpos degolados de Bard e Snall surgiram em sua vista como um grande choque. Retirou a espada da bainha. Mantendo a calma e a bravura, virava o corpo para todos os lados atrás dos covardes que mataram seus amigos e que, certamente, também o queriam morto.
A essa altura as renas relinchavam em desespero. Kanslig não se sentia normal. Já havia vivido situações de perigo antes e saiu vivo e inteiro de todas elas. Dessa vez, havia algo de diferente. Sua cabeça parecia prestes a explodir. Seus olhos pareciam que saltariam para fora da cabeça. Olhou para as estrelas. A maldita lua parecia enorme. Parecia próxima demais. O céu girava rapidamente. - O que está acontecendo? – pensou. Cravou a espada no gelo e caiu de joelhos. Fechou os olhos e os cobriu com as mãos, esfregando-os como se tentasse arrancar fora suas dores.
Ao abrir novamente os olhos, Kanslig parecia ter se transportado para a Terra das Penitências descrita pelos antigos guerreiros poetas. Suas leais renas tentavam devorá-lo. Possuíam dentes afiados e olhos de fogo. Não conseguia proferir palavras. Sua respiração estava pesada. As renas avançavam em sua direção. Ele não tinha força para levantar a espada. O mundo girava em torno de sua cabeça. Sentiu um forte tremor vindo de baixo de suas pernas. O gelo rachava em círculo ao seu redor. De repente o chão lhe engoliu.
Que fim sem sentido para uma vida tão gloriosa. Fim? Não! Kanslig não se entregaria. Lutaria até o final. Mas contra quem? Quem o estava atacando? Será que já estava morto? Sabia que já não mais conseguia ver o céu nem as estrelas. Estava tudo escuro. Mas conseguia se mover. Tocava seu corpo, tocava o chão. Estava em busca de sua espada. De repente, uma chama. Duas cabeças cravadas em um espeto: Bards e Snall.
- Ah. Meus queridos amigos. Quem fez isso a vocês? - E esfregava os restos mortais dos guerreiros poetas mortos, olhando para seus olhos sem vida e seus rostos com expressão serena de quem não esperava a morte. Ele se acalmou e olhou com tristeza para os amigos. Lágrimas.
Mais chamas se acenderam, revelando um extenso corredor, cujas paredes eram cobertas por vividas plantas verdes. Kanslig põe as mãos na cabeça e mais uma vez fecha os olhos fortemente. Urra de dor. Seus olhos fechados. Quando abre novamente os olhos as cabeças de Bards e Snall não estavam mais lá. Podia ver toda a extensão do corredor até a escuridão no final. Ouvia passos que faziam a terra tremer. Alguém se aproximava. Três silhuetas saiam da escuridão.
- Quem são vocês? - Arregalou os olhos ao ver três homens enormes que se aproximavam a passos fortes e constantes. Seus olhos eram de fogo e seus dentes afiados. Suas peles eram verdes. Se ajoelhou mais uma vez ao ver que, pela primeira vez em sua gloriosa vida, temia um inimigo.
- Nós somos os Deuses da morte. – Bradou firme um dos gigantes com voz de trovão.
O guerreiro poeta arregalou os olhos em um misto de pavor e tristeza.
- Por que não me levaram também? - Perguntou Kanslig sem tirar os olhos dos gigantes verdes.
- Ainda não é sua hora. Volte para Sonreike. Avise ao seu Rei que a vida e a morte têm novos donos e juízes enviados pelo próprio Sol.
Um dos gigantes verdes lhe estendeu a mão com um chifre de carneiro.
- Beba isso e se vá. Passe a mensagem para seu rei e para toda Sonreike.
Autor(a): dudu_medina
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