Fanfics Brasil - Dor Eterna: O Caminho de Espinhos! Conto I - Unforgettable Wars

Fanfic: Conto I - Unforgettable Wars | Tema: Cavaleiros do Zodíaco


Capítulo: Dor Eterna: O Caminho de Espinhos!

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Conto I - Unforgettable Wars/Capítulo 16 - Dor Eterna: O Caminho de Espinhos!



 



  O Grande Mestre autorizou e logo a luta começou. Soranin foi a primeira a atacar:



 — Não queria te machucar, Hidra, mas eu preciso realmente vencer! Pássaro Mitológico!



  Os chutes e socos da Santa desapareceram no ar. Relinde nem se moveu, apenas cruzou os braços, deixando-a confusa.



 — O quê?!



  Ele apenas fez uma careta, como se duvidasse do ataque disferido em sua direção.



 — Isso foi seu ataque? Pff, precisa melhorar muito, galinha flamejante!



  O calor começou a subir pelo corpo da amazona. Inicialmente pensou que fosse raiva, mas ao sentir uma ardência em sua perna esquerda, percebeu que na verdade haviam presas fincadas ali. Quando ela havia recebido essa golpe?



 — Como você fez isso? – perguntou, retirando as presas.



 — Não se preocupe, elas vão se recompor dentro de alguns instantes, e assim poderei atacar novamente... Saiba que seu estilo de luta é realmente interessante, Santa de Fênix, mas você não pode atacar algo que não vê!



 — Você está na minha frente. – rebateu.



 — Será que estou mesmo? – a voz de Relinde ecoou pela arena e a imagem que estava diante de Soranin começou a ficar fora de foco e tremular.



 — Não importa! Acha que não consigo te acertar? Pássaro Mitológico!



  O Santo de Hidra desapareceu por completo enquanto a fênix de fogo se formava e ia em sua direção. Ele decidiu protestar imediatamente:



 — Você nunca irá vencer o grandioso Relinde de Hidra, desista!



  Sua voz ficava cada vez mais distorcida enquanto a fênix se aproximava. Um círculo de vento começou a surgir em volta do ringue, revelando que Relinde corria velozmente ao redor da zona de ataque e da adversária, para parar o golpe, usando o vento para dissipar as chamas.



  O ataque de Soranin agora era apenas uma fina labareda de fogo. A falta de oxigênio o tornava cada vez menor, e ela sofria com a dificuldade de respirar. Estava sufocando, com as mãos no pescoço, ajoelhada no centro do redemoinho. Imediatamente, todos os cavaleiros e amazonas ficaram preocupados.



 — O que ele está pensando em fazer? Se continuar por mais tempo vai matá-la! – Yerik advertiu.



 — Irmã, não! Pare, Hidra, vai sufocá-la!! – Sui estava desesperada, tentando berrar do ponto mais afastado do ringue.



 — Por Zeus... Ela não vai resistir! – Linus também ficou espantada.



 — Relinde, agora já chega!! – Aristides demonstrou certo receio.



 — Hum... Até que ele têm muito poder... – Athos sussurrou para si mesmo.



 — Bateu a cabeça, Athos? – Ulysses ouviu seu comentário maldoso. – Ela está quase sem oxigênio e sob influência do veneno!



 — Não é isso, chifrudinho... Olhe de novo, ele parou o ataque e ela está viva.



  O fogo da fênix finalmente se extinguiu, fazendo Relinde parar de correr ao redor da Santa, que agora estava caída no chão – de alguma forma, ainda consciente.



  Após um longo e demorado suspiro, a amazona se levantou, dando de cara com o adversário.



 — Você é bem forte, admito... Mas ainda não me supera. – Hidra murmurou.



 — E você é bem veloz... – ela tentou dizer, enquanto tomava ar. – Mas será que também é resistente? Prove a técnica suprema de Soranin de Fênix: Ave Fênix!!



 — Mas... O quê? – ele se mostrou surpreso.



  Dessa vez as chamas o atingiram, erguendo-o alguns metros no ar e causando alguns danos sérios, assim como deixando o cavaleiro exposto a uma queda perigosa. Sem ter tempo para pensar em um plano, Relinde caiu de cara no chão, levantando em seguida com um pouco de dificuldade e sangue escorrendo pelo rosto.



 — Hum... Parabéns, parece que conseguiu me atingir... Pena que esse sentimento de vitória não será tão duradouro. – ele sorriu sadicamente.



 — O que você está insinuando?



  Sem resposta, apenas outra ardência, desta vez no braço direito da amazona.



 — Impossível! – Kirsi ficou abismada.



 — Da outra vez foi possível vê-lo se movendo, mas agora... Não vi quase nada! – Jhesebel também estava aflita.



 — O que está acontecendo? Ele não demonstrou esse poder no treinamento! – a amazona de Dragão ficava cada vez mais confusa.



 — Zeus... Ele não pode acertá-la novamente. – Sui expôs.



 — Entendo a preocupação com Soranin, mas o veneno demora pra matar. Ela vai ficar bem se for cuidada a tempo. – Aristides falou para Sui.



 — Não é com ela que estou preocupada...



 — O quê?! – todos os Santos ficaram surpresos ao ouvir as palavras de Andrômeda.



 — É verdade... Soranin tem uma técnica secreta que odeia aplicar... Ela só a usa quando é realmente necessário, e se Relinde disferir a última presa, ela não hesitará, mesmo que isso signifique causar danos sérios à sua mente... – a irmã mais velha tentou explicar. – Minha irmã é cabeça dura, ela não vai perder.



 — Então... é uma espécie de ataque psicológico? – Ulysses perguntou.



 — Quase. É um ataque mental... – compreendeu Heitor. – Acho que entendi, ela pode atacá-lo diretamente, visualizando seus pensamentos e medos.



 — Então, se ela poderia ter acabado com ele desde o início, por que está hesitando em usar esta técnica? – indagou Yerik.



 — Ela é parecida comigo nesse aspecto. Não gostamos de lutar... Sou assim por causa de um problema em especial, mas Soranin é um caso a parte, ela faz isso por opção. Apenas não gosta de ferir os outros além do necessário.



 — Quer dizer que um dois dois vai-... – Athos não terminou sua frase.



 — Estou dizendo que um deles pode. - Sui corrigiu.



 — Vejam, ele foi atingido novamente! – Linus apontou.



  A atenção de todos se voltou novamente para o ringue, onde Relinde agora estava de joelhos, com a mão na barriga e uma poça de sangue ao redor de si.



 — O que aconteceu? – Athos perguntou.



 — Ela usou o Pássaro Mitológico e ele não conseguiu se desviar!



 — Mas ela está muito cansada, quase desmaiando... Como conseguiu? – o Santo de Golfinho não acreditava no que via.



 — Também não sei, mas Hidra também está perdendo as forças! – a amazona de Lince não confiava mais em seus olhos.



  Enquanto isso, na arena central, Relinde e Soranin lutavam com todas suas forças, tentando ficar de pé.



  Após cuspir um pouco de sangue, o Santo de Hidra se voltou para a oponente, dizendo por fim:



 — Acha que me derrotou só porque acertou desta vez? Hahaha, que ingênua... Já tem as três presas cravadas em si.



 — Eu levei apenas dois ataques, Relinde! Não sabe contar?



 — Acho que você não prestou muita atenção... Olhe para sua barriga!



 — Mas... Quando isso aconteceu? – Fênix não compreendia como poderia haver uma terceira presa cravada ali.



 — Eu deixei que me acertasse com seu ataque, para que enfim pudesse deixá-la mais vulnerável e assim conseguisse te atacar sem que se desse conta!



 — Maldito...



  Ela preparou-se para avançar novamente, mas caiu de joelhos no mesmo instante.



 — Argh!! Que dor de cabeça insuportável!!



  A visão da Santa estava duplicada, e tudo que ela podia ver era o cavaleiro vindo lentamente em sua direção.



 — Os efeitos já estão aparecendo e você não tem muito tempo, então vou aliviar para você... Prove a técnica secreta de Relinde de Hidra, capaz de aterrorizar até mesmo o mais cruel dos criminosos: Miragem Desértica!!



 — Não tão rápido, Hidra! Sinto muito por isso, mas terei que usar meu último recurso: Golpe Fantasma de Fênix!!



  Houve um choque de golpes, o que causou uma luz muito forte. Por um instante, todos fecharam seus olhos.



 — Droga, Soranin! Não pensei que realmente chegaria nesse ponto! – a irmã esbravejou.



 — Essa não... Relinde usou o dele também! – Aristides expressou sua crescente preocupação.



 — O quê? Ele tem um golpe secreto também? – Meiying questionou.



 — Por incrível que pareça, sim, ele tem... Ele usa o golpe para fazer com que o oponente tenha alucinações, deixando-o sem capacidade de reação.



 — O de minha irmã é bem parecido... Ela é capaz de ler e manipular a mente de quem o recebe, podendo até destruí-la por completo, assustando-o com seus piores medos.



 — Essa eram as técnicas secretas dos dois? Não vi nada de especial... Eles não se movem. – Ulysses interveio.



  Era verdade. Nem Soranin nem Relinde se mexiam, estavam paralisados. As expressões também não mudavam, seus rostos estavam aflitos e confusos, como se estivessem espantados e sentissem uma dor terrível por dentro. Dava para ver que suavam frio.



 — É isso! – Yerik concluiu. – Vocês disseram que os ataques são mentais, então quando eles se chocaram, ambos receberam o golpe disferido pelo outro!



 — Então eles estão presos em suas próprias mentes, travando uma batalha que vai resultar na morte de um deles? Que horrível! – Linus não conseguia esconder seu choque.



 — Hum... Mas nós não sabemos se os dois foram de fato atingidos pelo outro ou se só um teve seu ataque bem-sucedido. – observou Jhesebel.



 — Talvez um deles realmente morra... Ou os dois... O que faremos agora? Não podemos intervir! – Kirsi protestou.



 — Vamos assistir à luta então. – disse Athos, sentando-se.



 — O quê? Eles estão morrendo pouco a pouco e você não vai ajudar? – Unicórnio não entendeu o que o amigo tinha em mente.



 — Ele está certo. – Sui interveio. – Só nos resta aguardar e ver quem vai ceder primeiro. Se interferirmos seremos desclassificados e de qualquer maneira os dois morrerão... Essa batalha está sendo muito difícil para eles. Além de personalidades opostas... – ela se virou para Aristides. – nada contra... também têm seus motivos para serem assim, o que imagino que não facilite as coisas.



 — Sendo assim, temos algum tempo para entender o que se passa dentro de cada um. – Leão Menor começou a participar novamente.



 — Exato. Ninguém poderá atrapalhar até que eles voltem a se mover... O Grande Mestre sabe muito bem disso e por este motivo nada fez até este momento. – Sui concordou, embora tivesse certas dúvidas sobre o que acabara de dizer.



 — Espere! Sui, você disse algo sobre cada um ter seus motivos para ter a personalidade adquirida... Quer dizer que eles passaram por coisas tão terríveis quanto nós, e por conta delas, são do jeito que são? – a amazona de Lobo tentava acompanhar sua linha de raciocínio.



 — Sim. Como vocês sabem, eu e Soranin morávamos aqui antes de sermos amazonas, mas houve um incêndio em nossa vila e tivemos de sair desse lugar... Então passamos a viver sozinhas e ganhamos nossas armaduras graça ao ex cavaleiro de Ofiúco, Alceu, que treinava Santos num lugar próximo de onde estávamos vivendo... Curiosas, decidimos entrar para o grupo de aspirantes por um tempo, já que aqui no Santuário já estávamos classificadas como tal, e pouco depois de deixá-los, conquistamos nossas armaduras, cada uma de um jeito diferente... Devido a uns acontecimentos, perdi a fé em Atena, assim como em todos os deuses, embora ainda traje minha armadura. Mas parece que Soranin ainda acredita e confia neles um pouco... Ela tem seus motivos... Eu não sei mais no que acreditar e espero que nossa curta estadia aqui nos traga respostas... Por isso eu disse aquilo. Ela passou por coisas que ninguém mais passou... E quanto ao Hidra? Aconteceu algo com ele também, não é mesmo, Aristides?



 — É verdade... – admitiu, soltando um longo e triste suspiro. – Acho que já está na hora de contar essa história a todos vocês.



  ***



  Enquanto Aristides contava a história de Relinde para os outros Santos, ele a vivia novamente, mas dessa vez, em seus pensamentos.



 — Onde raios eu estou?



  Caído no chão, percebeu que estava sem ferimentos, se levantou, e olhou ao redor. O cenário era familiar, mas não se lembrava de nada.



  Uma voz falou com ele:



 — Hidra, está me ouvindo? – perguntou uma voz feminina.



 — Fênix?!



 — Sim sou eu... Você está perdido também?



 — Eu? Perdido? Haha, essa é boa... O glorioso Relinde sempre sabe onde está!



 — Então tudo bem. Saia daí sozinho.



 — Ei, ei, espera! "Daí" aonde?



 — Nossos ataques colidiram e agora estamos presos em nossas mentes. Um pode ver onde o outro está e saber o que está fazendo, mas não podemos estar no mesmo lugar ao mesmo tempo.



 — Então isso aqui... é minha mente? Tipo minhas memórias e tal?



 — Sim, mas não se anime. Nossos ataques eram baseados em ilusões, mas não estamos conseguindo controlá-los porque ao mesmo tempo que o aplicamos, recebemos o do outro... Tenho a impressão que as coisas não serão fáceis.



 — Fale só por você. Eu irei sair daqui num piscar de olhos! – o Santo estava convencido que o faria sem problemas.



 — Como quiser, mas assim que você der um passo, não poderemos mais nos falar, apenas ver o que o outro vê. – a amazona estava mais calma do que nunca.



 — Um passo?... Como este? – Relinde andou para frente.



 — Não faça iss-...! – a voz de Soranin foi ficando mais fraca, até desaparecer.



 — Ah, eu não precisava dela mesmo... – disse para si. – Como será que ela sabia que se eu desse um passo não poderíamos nos falar? Francamente, isso deve ser coisa da minha cabeça mesmo... É isso! É um sonho! Aposto que quando chegar no fim dessa estrada irei acordar!... Como ela pode ver onde estou e eu não ver onde ela está? Isso é irracional! Aquela mentirosa do caramba!



  Ele então começou a caminhar pela estrada, que lhe trazia um sentimento estranho. Algo que ele não entendia... Mas preferiu ignorar, chegando enfim até um pequeno vilarejo que reconheceu na hora. Ele estava em sua antiga casa, no Haiti.



 — N-não pode ser... I-isso é... M-mi-minha c-casa?!



  Era uma casa simples que ficava na cidade onde um dia ele morara com seu pai e sua irmã mais nova. Estava tudo escuro, faltava luz em toda a cidade e a tarde estava chuvosa... O pior era que ele se lembrava muito bem desse dia, embora preferisse esquecê-lo.



  Por alguns instantes hesitou, mas a curiosidade o fez se aproximar e abrir a porta. Assim que entrou, reparou que haviam velas acesas por toda a casa para suprir a falta de luz e não se ouvia um único ruído, apenas seus passos em direção à sala e os trovões que a tempestade trazia consigo.



 — Pai?... Anne?... – chamou, hesitante.



 — Fique aqui, querida. Eu vou falar com ele. Vai dar tudo certo, não se preocupe... Feche os olhos, tape os ouvidos, e só saia quando eu lhe chamar. – o pai sussurrou, num tom muito baixo, quase imperceptível.



  Hidra se aproximou ainda mais de onde a voz viera. Por algum motivo ele não estava mais com sua armadura, mas sim com uma roupa de aspirante. Temeu mais do que nunca que tudo se repetisse.



 — Filho, por favor... Você não têm que fazer isso. – o pai tentou conversar.



  Ele tentou responder, mas não conseguiu. Queria evitar a situação, mas seu corpo não respondia aos seus comandos... Era terrível. Ele não podia... Ele não queria passar por aquilo novamente.



  Seu corpo começou a se mover e sua voz saiu, contra sua vontade, pronunciando exatamente as mesmas palavras e fazendo as mesmas ações que ocorreram naquele fatídico dia:



 — Não tenho opção. Se eu não fizer isso nunca serei um Santo. – ele tentava controlar o que dizia, mas não era possível.



 — Relinde, por favor, não faça isso! Pense na sua mãe! O que ela diria se te visse assim?



 — Cale a boca!! – ele chutou o pai para longe. – Ela não está mais aqui!!



 — F-filho... Ela pode não estar aqui, mas te amava muito... Sempre amou...



 — Mentira! Se ela me amava tanto assim, não devia ter me abandonado!!



 — Ela não... Ela não tinha condições de te criar... Por isso... Por isso te entregou para mim... – seu pai disse, enquanto se levantava.



 — E o quê você fez?! Deixou ela morrer!! – Relinde estava muito furioso e batia no pai com violência.



 — N-n-não... E-eu não a matei... F-foi você, Relinde... v-você... – o pobre senhor quase não conseguia falar, ferido e com dor.



 — Pare de dizer mentiras!! Ela não morreu por minha causa!! – o coração do cavaleiro pesava ainda mais dentro de si. Seu consciente não conseguia sobrepor o que quer que o estivesse controlando.



 — V-vo-você s-sa-sabe que é v-verdade... S-se não ti-tivesse ido para aquele lugar... e-ela n-nunca t-teria te seguido... e e-eles n-nunca a t-teriam matado...



 — Você deveria ter cuidado dela, esse era seu papel como marido!! Mas não, você tinha que ser um bêbado desgraçado, não é mesmo?!!



 — E-eu... Eu es-estava... b-bêbado, sim... m-mas s-sem c-con-condições de impedi-la...



 — Pare de tagarelar e ao menos uma vez na vida faça o certo!! – os olhos de Relinde se encheram de lágrimas ao pronunciar novamente essa frase.



 — E-espero que saiba... que... que t-te am-amo, f-filho...



  Ele tentou fechar os olhos mas não conseguiu, e sem hesitar mais nenhum segundo, atacou seu pai uma última vez, fazendo-o cair permanentemente no chão.



  As lágrimas de Relinde não saiam. Ele tentava parar com essa loucura, mas de nada adiantava... E então, a pior parte chegou.



 — Papai? – a irmã mais nova saiu de baixo da mesa da cozinha, onde estava escondida, e caminhou até o corpo de seu pai, sacudindo para tentar acordá-lo. – Acorde, papai!



 — Anne. – a voz de Hidra soava séria, como um pai que adverte uma criança.



 — Mano, por favor, acorde o papai, ele não responde e... – ela se preocupou, ao ver o sangue escorrendo pelo chão e pingando das mãos do irmão. – O que... O que é isso?



 — Venha até aqui. – ele chamou secamente.



 — Tudo bem, já vou... – disse inocentemente. – O que aconteceu com o papai? Por quê ele não acorda? Estou com medo, mano... – ela foi até ele e o abraçou, pedindo consolo.



  Hidra estava aflito por dentro, lágrimas e desespero se misturavam em sua mente. Ele queria parar. Queria fugir. Queria ir para qualquer lugar, qualquer um que não fosse ali.



  Relinde, sem dizer uma palavra, aproveitando-se do abraço de sua irmã, golpeou-a na região da barriga, matando-a cruelmente. Ela emitiu um arquejo mínimo e caiu em seu ombro.



  Finalmente o controle sobre seu corpo voltou e ele estava livre. Ou nem tão livre assim. Sua irmã jazia em seus braços e seu pai aos seus pés.



 — Anne... Pai... Me perdoem... – as lágrimas eram incontroláveis, ele não conseguia parar.



  Fechou os olhos por um longo minuto, que mais pareceu uma eternidade. O sofrimento de anos atrás voltara para o assombrar novamente.



  Quando abriu os olhos, tudo havia desaparecido. Ele se encontrava em outro lugar, e sua família não estava mais ali.



 — Essas ruínas... Esse deserto... Não, não, não! De novo não!! – a loucura parecia estar tomando conta de sua mente, e ele não sabia mais o que fazer. – Chega!!!



  Uma voz feminina surgiu ao longe, e parecia falar com ele:



 — Relinde, você se mostrou um ótimo aspirante, sobrevivendo a todos esses anos de treinamento por este caminho de espinhos e completando sua missão. Agora terá sua chance de conquistar a armadura de Hidra... Arranque os espinhos finais de sua vida!



  Seu corpo não lhe obedecia mais uma vez. Sua mente dizia para sair imediatamente dali e ir embora o mais rápido possível, mas de nada adiantava lutar, ele estava preso novamente.



 — Certo, mestra. – as palavras novamente saíram de sua boca. Era uma sensação terrível, ele não sabia o que fazer. – Estou pronto.



  O sangue de sua família ainda escorria por suas mãos, e estava em toda sua roupa. O estado em que se encontrava era realmente lamentável.



 — Lembra-se de Hato e Ruby? – ela perguntou.



 — Sim, senhora. Eram meus amigos de infância.



 — Ótimo. – ela andou até um enorme objeto que estava coberto com um pano branco e o retirou. - Aqui estão eles.



  O objeto era na verdade uma jaula, com duas pessoas inconscientes dentro – um menino e uma menina, acorrentados nas barras de ferro.



 — Agora, mate-os! – ela ordenou.



 — Com prazer.



  Hidra se encaminhou para a frente da jaula, ficando de cara com o garoto de cabelos pretos, que logo abriu os olhos cinzentos.



 — R-Relinde? É você mesmo?



  Ele não respondeu, apenas se aproximou com calma e o encarou.



 — Relinde, não! Pare! Sou eu, Hato! Éramos amigos, não se lembra?



 — Nós nunca fomos amigos. Você e sua desprezível irmã estragaram a minha vida!



 — Não! Nós não fizemos isso!



 — Ah, fizeram sim. E eu não os perdoarei. – cada frase era como uma facada no coração. Ele mais uma vez estava diante de pessoas que amava, e teria que matá-las. – Você será o primeiro.



  Relinde se afastou das barras, indo na direção das costas de Hato. Ali, com suas unhas, fez uma letra "R" bem grande, e depois atravessou o peito direito de seu amigo com as mãos.



  A dor em sua alma aumentava mais a cada passo que dava na direção oposta da jaula, onde Ruby estava.



 — O-onde estou? Relinde... amigo... é você! Está a salvo, não acredito!



  Nenhuma palavra, apenas a mesma cena agonizante: levantou a mão e escreveu outro "R", mas dessa vez, na barriga da garota, que tinha cabelos vermelhos como sangue e olhos castanhos.



 — Pare, Relinde, eu imploro! Não vê o que está fazendo?



 — Vejo sim. Esse é o caminho para o futuro. O futuro que eu sempre sonhei... Longe de vocês, que arruinaram minha infância!



 — Não, Relinde...!!



  Hidra transpassou sua barriga com uma das mãos, matando a amiga assim como fizera com o irmão.



 — Muito bem, a armadura é sua. – disse a mulher, virando as costas. - Agora saia desse lugar e nunca mais volte.



 — Não. – ele disse, assim que havia terminado de colocar a armadura.



 — Como é? – ela olhou para ele por cima do ombro.



 — Há mais um espinho para retirar.



 — Impossível. Todos que lhe fizeram sofrer estão mortos. – ela se virou novamente.



 — Nem todos, mestra.



 — O que você quer dizer com... – ela se deteve.



 — Sim, é isso mesmo. Falta você! – Relinde partiu em sua direção para disferir uma ataque.



  A presa de Hidra perfurou a armadura de Prata de sua mestra, mas ela deu de ombros.



 — Garoto estúpido. Precisa de três dessas para matar alguém... Posso acabar com você até a próxima se regenerar!



 — Você já tem três presas cravadas em si. Não preciso fazer mais nenhum movimento.



 — Não... Não pode ser! – ela olhou para os braços e viu outras duas garras ali – Quando você fez isso?



 — "Nunca dê as costas ao inimigo". Foi uma das primeiras lições que você me ensinou, Ariadne. – disse enquanto ia embora.



 — Maldito... – Ariadne se contorcia de dor. – Volte aqui!



  Ele apenas se virou, bem a tempo de ver a mulher dos cabelos verdes ir ao chão.



  ***



 — Mas ele não voltou. Continuou a caminhar para fora do país, como lhe foi pedido... – de volta ao presente, e ao mundo real, Aristides terminava de contar a história vivida pelo amigo. – Após de deixar seu local de treinamento na Nova Zelândia, ele finalmente percebeu o que tinha feito, e se arrependeu profundamente... Quanto a Ariadne, bem... vocês já devem imaginar.



 — Como isso é possível? Há poucos segundos você estava descrevendo como ele tinha sido mau com os outros, matando-os sem hesitar. Era alguém frio e sem sentimento... Parece até o Yerik! – ao perceber o clima que se propagava por entre eles, a amazona de Lobo tentou aliviar a tensão.



 — Nossa, Kirsi, obrigado. Isso foi... animador. – Cisne fingiu estar ofendido.



 — Não disse? Hahaha! – ela caçoou.



 — Ah, sim. Deixem-me explicar melhor... Relinde foi treinado no Deserto de Rangipo, na Nova Zelândia, um deserto gelado. Reza a lenda que quem adormece sob a lua nesse local nunca mais é o mesmo: a raiva lhe domina completamente e você não pode se livrar dela até cumprir uma série de exigências de alguém que já tenha passado pelo mesmo. No caso, Relinde foi obrigado a seguir as ordens de sua mestra até o fim, o que incluía sair do país depois de ganhar a armadura. A ficha dele só caiu quando chegou ao Santuário, e foi também neste dia que nós nos reencontramos... Eu ainda era uma aspirante e estava prestes a partir para tentar conquistar minha armadura, quando esbarrei nele sem querer, enquanto caminhava noite afora pelas vilas daqui... Se querem saber, a personalidade dele já era assim, arrogante, para disfarçar o sofrimento que ele sentia por dentro, mas isso não vem ao caso... Relinde me xingou, dizendo que crianças não deveriam sair por aí desacompanhadas durante uma noite chuvosa como aquela, e foi embora. Mas eu o segui, e quando notou minha presença, se irritou... Perguntou o que eu estava fazendo e eu disse que quando nos esbarramos e eu caí, minha máscara saiu e, embora ele não tenha visto meu rosto, eu vi o dele refletido em uma poça d`água... Não sei se vocês sabem, mas eu tenho um dom que me permite "ler" o coração de quem meus olhos encontram, mas somente sem a máscara, porque atrapalha um pouco a minha visão... Bem, ele não acreditou, me chamou de pirralha e me pediu para ir embora, mas eu então revelei o que sabia sobre sua família, amigos e mestra. Só quando pronunciei o nome da irmã que ele pareceu me ouvir... Eu acrescentei que seu coração sangrava, e que ele havia escolhido um caminho de espinhos para seguir, pois seria difícil esquecer tudo o que passou, mas que ele precisava saber que todos morreram confiando nele... Obviamente que ele não acreditou de primeira. Me chamou de louca e deu as costas, mas eu consegui dizer que se ele não acreditava em mim, deveria olhar no compartimento secreto de seus pertences... Claro que ele não deu atenção, nem sabia sobre a existência desse bolso falso na mochila, mas quando de fato procurou, encontrou uma carta da irmã que dizia "Você se tornará o melhor Santo do mundo! Te amo irmão, fique com isso para não se esquecer de mim!", junto a um lenço verde que Anne sempre usava no braço.



 — Então é por isso que ele usa esse pedaço de pano no pulso? – Ulysses indagou.



 — Sim... No dia seguinte, quando percebeu que havia me julgado mal. Me procurou pelo Santuário inteiro, com aquele mesmo jeito arrogante do tipo "Só voltei porque foi necessário, não me importo com você e nem vou me importar.", mas agora que eu sabia o que ele tinha passado depois de nos separarmos, não podia deixá-lo sozinho... Dor. Sofrimento. Memórias. Tristeza. Culpa... Tudo isso passava por sua cabeça naquele momento e então, mesmo fazendo-se de mal-entendido, ele aceitou me ter por perto de novo.



  Um terrível silêncio tomou conta dos Santos. Nenhum deles imaginava que Relinde pudesse ter sido assim.



 — Eu não fazia ideia... Ari, me desculpe. – Meiying ficou envergonhada por ter tratado Relinde de forma tão cruel.



 — Tudo bem, nenhum de vocês sabia... Vocês só o reencontraram depois de mim, e deixaram-se levar pelo exterior e pelo que recordavam, e não pelo interior... É algo bem comum de se acontecer, já que ele não tem só a cara, mas também a fama de poucos amigos... O que é verdade, já que nós somos os únicos desde... hum... sempre.



 — Mas nós erramos e devemos reconhecer isso... Relinde precisa saber que não está sozinho, e que além de você, pode contar conosco também! – Jhesebel se manifestou.



 — Não sei se ele vai aceitar essa história muito bem... Ele não é assim... Nunca foi.



 — As pessoas mudam, Aristides. Mesmo que ele continue do jeito que é, nós sabemos a verdade e vamos lutar por isso. Estaremos sempre ao lado dele. – Sui disse.



 — Agradeço a todos vocês, de verdade. Só espero que ele volte inteiro para que possa saber disso.



 — Ele vai voltar. Acredite em mim. – Heitor suspirou, em um tom calmo.



 — Obrigada, pessoal. Isso é muito importante pra ele... E pra mim também.



  ***



  De volta à sua mente, Relinde tentou se controlar, mas não conseguiu. Pela segunda vez, havia matado todos que um dia foram especiais para ele e isso era como se o mundo desabasse sob seus pés. Aqueles terríveis olhos amarelos de Ariadne ainda o encaravam. Aquela mulher não só agia como, mas parecia um demônio com todas aquelas tatuagens pelo corpo.



  Quando retomou seus movimentos, estava tudo escuro. Cercado pelas defesas de sua própria mente, ele ali estava, parado, no meio do nada, apenas pensando se um dia poderia esquecer tudo aquilo ao mesmo tempo em que tentava parar de chorar.



 — Droga... Tudo o que eu mais precisava agora era passar por isso de novo... Maldição!



  Então uma luz apareceu ao longe. Curioso por natureza, ele foi verificar o que era e deu de cara com uma cena bizarra: a amazona de Fênix corria desesperadamente de uma figura negra.




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Autor(a): rc2099

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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  — Acha que pode fugir de si mesma, Soranin? – a sombra questionou. — Não... Não, não, não! Você não sou eu! – a amazona cambaleou para trás e parecia muito cansada. Deveria estar correndo há muito tempo. — É claro que sou. Se não acredita em mim, o ...


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