Fanfic: Quatro: Histórias da Série Divergente [Terminada] | Tema: Histórias da Série Divergente
Nem sei se lembro o que me fez rir, mas sei que foi algo que Zeke disse, e que foi hilário. À minha volta, o Abismo oscila, como se eu estivesse em pé sobre balanço. Seguro a grade para tentar me equilibrar e derramo o resto do que quer que eu esteja bebendo garganta abaixo.
Ataque da Abnegação? Que ataque da Abnegação? Quase não me lembro mais disso.
Bem, na verdade, isso é mentira, mas nunca é tarde demais para começar a se sentir confortável em mentir para si mesmo.
Vejo uma cabeça loira subindo e descendo em meio à multidão até ver o rosto de Dul. Ela finalmente não está vestindo tantas camadas de roupas, e a gola da camisa não está abotoada até logo abaixo da garganta. Consigo ver a forma do seu corpo... Pare com isso, grita uma voz n minha cabeça, antes que eu consiga prosseguir com esse pensamento.
— Dul! — A palavra escapa da minha boca, e não há como voltar atrás, apesar de eu nem me preocupar em tentar.
Caminho na direção dela, ignorando os olhares de Alfonso, Al e Anahí. É fácil fazer isso. Seus olhos parecem mais claros e penetrantes do que nunca.
— Você está... diferente — digo.
Queria dizer que ela parece mais velha, mas não queria sugerir que parecia jovem antes. Talvez ela não seja capaz de fazer tudo o que uma mulher mais velha faz, mas ninguém poderia olhar para o seu rosto e ver uma criança. Nenhuma criança tem essa ferocidade.
— Você também — diz ela. — O que está fazendo?
Bebendo, penso, mas ela provavelmente já notou isso.
— Desafiando a morte — respondo, soltando uma risada. — Bebendo ao lado do abismo. Não deve ser uma boa ideia.
— Realmente, não é. — Ela não está rindo. Parece preocupada. Preocupada com o quê? Comigo?
— Não sabia que você tinha uma tatuagem — digo, olhando para a sua clavícula, onde vejo três pássaros negros. É uma tatuagem simples, mas parece que os pássaros estão voando sobre a sua pele. — É claro. Os corvos.
Quero perguntar por que ela tatuou um dos seus piores medos no corpo, por que quer vestir a marca do seu medo para sempre em vez de enterrá-la, com vergonha. Talvez ela não sinta vergonha dos seus medos como eu sinto dos meus.
Olho para trás e vejo Zeke e Shauna, que estão em pé, com os ombros encostados, perto da grade.
— Eu a convidaria a se juntar a nós — digo — mas não é certo você me ver assim.
— Assim como? — pergunta ela. — Bêbado?
— É... bem, não. — De repente, a situação não parece tão engraçada para mim. — Verdadeiro, eu acho.
— Vou fingir que não vi.
— É muito gentil da sua parte. — Aproximo-me dela mais do que pretendia, e sinto o cheiro do seu cabelo e a pele fria, lisa e delicada da sua bochecha contra a minha. Eu me sentiria envergonhado de estar agindo de maneira tão tola e direta se ela tivesse, mesmo que por um segundo, se afastado. Mas ela não faz isso. Na verdade, ela se aproxima anda mais. — Você está bonita, Dul — digo, porque não sei se ela sabe disso, e ela deveria saber.
Desta vez ela ri.
— Só me faça o favor de manter-se longe do abismo, está bem?
— É claro.
Ela sorri. E me pergunto, pela primeira vez, se ela gosta de mim. Se Dul consegue sorrir para mim quando estou neste estado... bem, talvez ela goste.
Só sei de uma coisa: por me ajudar a me esquecer do quão horrível é o mundo, prefiro ela ao álcool.
Autor(a): Fer Linhares
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To passando aqui pra agradecer a quem leu e não favoritou obg viu
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