Fanfic: Rei Arthur | Tema: Rei Arthur, clássicos, época, magia, guerra,

   A glória dos cavaleiros da Távola Redonda do rei Artur entrou para a história. Logo depois da morte de Artur, os saxões conquistaram toda a Bretanha e a idade das trevas começou.
   Contudo, a história do rei Artur nunca foi esquecida. As pessoas tinham fé na promessa de que um dia ele regressaria: quando seu reino estivesse no maior perigo. Ele não se comprometera a tirar a Bretanha da escuridão?
   Alguns dizem que ele está dormindo numa caverna em algum lugar no vale de Avalon. Conta-se que certa vez um pastor perambulava por um vale à procura de uma ovelha desgarrada. Quando escalou uma encosta e foi ver o que havia do outro lado, descobriu um lago.
   Seria o vento a pregar peças em seus ouvidos ou, realmente, ele estava ouvindo sons abafados vindos de uma caverna junto ao lago?
   Estava prestes a fugir correndo quando, para sua surpresa, avistou uma mulher vestida com uma túnica azul-pálido e uma faixa dourada na cintura. Ela estava de pé na margem, olhando para ele.
   — Bem-vindo ao vale de Avalon — disse a mulher.
   As palavras dela eram como folhas de álamo tremulando à brisa.
   — Meu nome é Nimue, a Dama do Lago. Diga-lhes que está quase chegando a hora.
   Com isso ela desapareceu.
   O que ela quis mesmo dizer com aquilo?
   Ele não teve tempo para se admirar, porque de repente viu um velho homem esquisito cambaleando em sua direção, apontando-lhe um dedo trêmulo, da brancura da morte.
   — Psssssss — sibilou o velho. Sua voz era como folhas mortas que estalavam sob os pés. — Não os acorde.
   — Acordar quem? — perguntou o pastor.
   O velho pareceu sacudir o arvalho e a poeira de seus cabelos desgrenhados antes de lançar um olhar selvagem à sua volta. Em seguida, repetiu, com voz rouca:
   — Psssssss! Ainda não é a hora. — Mas Nimue me pediu para dizer ao senhor que a hora está quase chegando.
   O velho grisalho olhou ao seu redor.
   — Então é verdade — murmurou.
   O pastor de repente entendeu.
   — O senhor deve ser Merlim — exclamou. — Merlim, o mago, o bardo do rei Artur!
   Naquele instante, ele ouviu um gorgolejo e viu um jorro de água: uma fonte tinha irrompido do sopé do morro e agora estava derramando suas águas, que desciam em redemoinhos para dentro do lago.
   Merlim se inclinou para a frente e bebeu à vontade, banhando as têmporas na correnteza fria como gelo.
   — Veja só — disse ele, sem olhar para cima —, depois da última batalha do rei Artur ele foi trazido para cá, para o lago de Avalon. A Dama do Lago é muito prendada nas artes da cura e tratou suas feridas com ervas mágicas. Artur jurou se reerguer no momento mais sombrio de seu reino, quando mais precissassem dele. E agora a hora está quase chegando...
   Merlim fez sinal para que o pastor o seguisse dentro da caverna perto do lago. O mago acendeu tochas presas às paredes, e uma luz bruxuleante caiu sobre toda uma tropa de homens adormecidos — alguns de armadura, alguns com aljavas de flechas, alguns com espadas e lanças. No centro, adormecidas sobre altos assentos de madeira, estavam duas figuras coroadas.
   Uma delas era um belo homem barbado, com um semblante atormentado. A outra era uma linda mulher com lágrimas cintilantes sobre as faces pálidas.
   — Esses são o rei Artur e a rainha Guinevere — sussurrou Merlim. — Ela chora porque pensa que o marido está morto, enquanto ele sofre pelo destino de seu reino.
   Apontando para as profundezas sombrias da caverna, Merlim então disse:
   — Vá depressa, toque o sino!
   Seguindo o olhar de Merlim, o pastor viu nas sombras um grande sino de bronze. Andando na ponta dos pés até o sino, ele nervosamente golpeou os dois lados. O clangor ecoou pelas paredes rochosas, alto o bastante para despertar os mortos.
   De repente, corpos se agitaram, se esticaram, ficaram de pé. E vozes de todos os cantos perguntavam:
   — Chegou a hora? Chegou a hora?
   — A hora está quase chegando — disse Merlim.
   O rei Artur acordou sua esposa com um beijo sobre a face úmida de lágrimas, e Guinevere, com olhos agora sorridentes, olhou ao seu redor, procurando por Sir Lancelote, Sir Lucan, Sir Gawain e outros cavaleiros.
   Enquanto os homens poliam suas espadas e armaduras enferrujadas, o pastor seguiu Merlim para fora da caverna até a beira do lago. Pareciam saber o que ia acontecer. Quando Artur olhou através das calmas águas azuis, um braço esguio apareceu, erguendo no ar uma espada brilhante. A espada se moveu sobre as ondas, como uma garça sobrevoando baixo a superfície do lago, e veio direto até a margem.
   Ao se apoderar dela, Artur brandiu Excalibur bem acima de sua cabeça, convocando seu exército de dentro da caverna. Com Guinevere e Merlim a seu lado, ele se dirigiu a todos:
   — Bons e nobres cavaleiros. A hora se aproxima. Logo nosso povo nos chamará e teremos de ir adiante para restaurar a glória desta terra outrora grandiosa.
   Um rugido poderoso rasgou o ar enquanto os cavaleiros erguiam suas espadas e lanças bem alto. E com o rei Artur à sua frente, marcharam rumo à batalha pela honra de seu reino.