Fanfics Brasil - 7 - Artur traído Rei Arthur

Fanfic: Rei Arthur | Tema: Rei Arthur, clássicos, época, magia, guerra,


Capítulo: 7 - Artur traído

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   Algum tempo depois de escapar dos feitiços da fada Morgana, o rei Artur estava caçando na floresta próxima a Camelote. Não tinha avançado muito quando topou com um cavaleiro ferido, que gemia em grande sofrimento. E não era à toa, pois uma espada estava enterrada em seu peito, cravando-o no chão. Estava claro que o rei pouco podia fazer.
   — Diga-me, bom cavaleiro — disse Artur, ajoelhando-se ao lado do homem caído —, devo mandar vir um padre ou sanguessugas para aliviar sua dor?
   O rei Artur ficou surpreso com a resposta do homem:
   — Nada disso, majestade. Desejo ser carregado até a corte do rei Artur, onde posso ser curado. Nimue, a Dama do Lago, pronunciou que serei curado pelo melhor de todos os cavaleiros: basta ele pôr sua mão sobre mim e retirar a espada que estarei novo em forma.
   Artur ficou intrigado. Quem seria esse tal melhor de todos os cavaleiros de sua corte? Como poderia curar um homem moribundo?
   — Bem, amanhã é a festa de Pentecostes — disse o rei. — Todos os cavaleiros da Távola Redonda estarão em Camelote para renovar seus votos. Mandarei que levem o senhor à corte e então veremos se alguém pode ajudar.
   Assim, Artur mandou que o homem fosse carregado numa lireira para Camelote, que recebesse todo o conforto que seu ferimento permitia, que fosse deixado sobre o piso, perto da lareira, para se aquecer. Enquanto isso, os cavaleiros tomaram seu assento demarcado em torno da távola, e cada um deles se revezou para narrar atos de bravura no ano que acabava de passar. Em seguida, cada um renovou seus votos de cavaleiro.
   Quando a cerimônia terminou, o rei Artur ordenou que os cavaleiros pusessem a mão sobre o homem ferido. Cada um deles tocou o cavaleiro e orou fervorosamente por sua alma. Contudo, ele gemia mais alto do que antes.
   De repente, ouviu-se o soar de uma trombeta, e no salão entrou um escudeiro vestido de branco, conduzido por ninguém menos que Nimue, a Dama do Lago. O rapaz era louro e de ombros largos, com uma leve penugem de barba no queixo. Era tão alto e tão belo que as senhoras presentes enrubesceram, enquanto a cor desaparecia do rosto da rainha Guinevere. Quando seus olhos se encontraram, o jovem escudeiro titubeou em seus passos, com o coração tão fundamente atingido que naquele mesmo instante jurou não servir a ninguém mais senão à rainha.
   A voz de Nimue quebrou o silêncio maravilhado da corte.
   — Meu senhor rei Artur, venho cumprir o último pedido de Merlim. Antes de deixar sua vida mortal, ele instruiu este jovem a comparecer aqui no Pentecostes para exigir seu lugar à Távola Redonda. Majestade, eu lhe trago Lancelote, filho do rei Pant e da rainha Elaine de Gwynedd; desde que seus pais foram mortos pelo cruel rei Ryon, ele tem estado sob minha proteção. Por isso, doravante ele será conhecido como Sir Lancelote do Lago. Recomendo-o ao rei como o melhor cavaleiro de toda a cristandade.
   Enquanto ele falava, todos os rostos se voltaram para um assento vazio à Távola Redonda, onde o nome Lancelote apareceu em letras douradas.
   O rei Artur se levantou, sacou sua espada Excalibur e a tocou sobre os dois ombros do escudeiro, sagrando-o cavaleiro.
   — Erga-se, Sir Lancelote do Lago — disse o rei com um sorriso. — Bem-vindo à nobre companhia dos cavaleiros. Venha, tome o lugar que lhe é de direito.
   Ora, durante todo o tempo o cavaleiro gravemente ferido tinha gemido em sua liteira. A esperança cintilava em seus olhos congestionados enquanto acompanhou a cerimônia de sagração de Lancelote. E quando Artur retomou seu assento, Nimue levou Sir Lancelote até o homem ferido. Sem dizer palavra, o recém-nomeado cavaleiro se inclinou, pôs uma das mãos sobre o rosto do homem e, com a outra, gentilmente puxou a espada manchada de sangue.
   Para espanto de todos, a ferida profunda se fechou instantaneamente, a expressão de dor no rosto do cavaleiro desapareceu e ele se levantou completamente curado.
   Depois disso, Nimue reclinou-se diante do rei Artur, beijou Sir Lancelote ternamente no rosto e se virou para partir. No entanto, antes de deixar a sala, ela pronunciou estas palavras:
   — Este foi o primeiro feito de Sir Lancelote como cavaleiro. A segunda vez que curar um homem, porém, será sua última façacha. E ela marcará o início do fim nesta nobre irmandade.
   Com isso, ela se foi.
   O rei Artur não se importou muito com essas palavras proféticas. Estava tão contente em acolher o belo e jovem cavaleiro que não deu a elas atenção mais demorada.
   Mas nem todos os presentes à mesa se alegraram com a sagração de um escudeiro inexperiente. Afinal, ele não realizara nenhum teste de força, nenhum feito valente. Havia um cavaleiro presente que murmurou de si para si contra o jovem imaturo: era Sir Mordred, filho da fada Morgana. Um dia ele revelaria o tenebroso segredo de Lancelote e o entregaria ao rei — mas isso seria no futuro; por agora, ele preferia refrear a língua.


   Nos anos por vir, Lancelote eliminaria os falatórios, pois logo ganharia a maior reputação dentre todos os cavaleiros da inteira cristandade. Ninguém podia rivalizar com ele em força e sagacidade, em feitos cavalheirescos, em nobreza de pensamento. O rei e a rainha o amavam profundamente. Todavia, aquele amor seria a ruína de ambos, pois enquanto o de Artur era o de um pai para com um filho, o de Guinevere se transforva num amor mais intenso e perigoso.
   Desde seu primeiro dia na corte, Lancelote tinha se apaixonado pela rainha Guinevere, e todos os seus feitos valorosos eram dedicados a ela. Artur não tinha o menor ciúme, pois jamais duvidara da lealdade de Lancelote ou de sua rainha. Ele se orgulhava por Lancelote ser o campeão da rainha e desfilar com as cores dela. Nem havia a menor razão para dúvidas. Ninguém, entretanto, viu a crescente sombra do destino que se insinuava em suas vidas, ou dos fios que eram tecidos numa teia confusa que um dia apanharia todos eles numa armadilha.
   Tudo começou de modo bem inocente no alegre mês de maio, quando, como sabem todos os amantes verdadeiros, cada flor e cada árvore, bem como cada coração apaixonado, começa a desabrochar e a cantar.
   Enquanto o rei Artur, Sir Lancelote e outros cavaleiros estavam caçando na floresta ao redor de Camelote, a rainha Guinevere reuniu os cavaleiros de sua maior confiança — aqueles jovens cujo dever era guardar e servir à rainha. Entre eles estava o companheiro de infância do rei Artur, Sir Kay, e também Sir Ironside, Cavaleiro das Terras Rubras; Sir Dodinas, o Selvagem; Sir Péleas; Sir Ozanna, o Cura Ousado; e Sir Ladinas, da Floresta Virgem.
   Quando todos estavam reunidos, a rainha disse:
   — No mês de maio, os corações dos homens e das mulheres devem se encher de amor. Assim, ordeno-lhes que se vistam de verde e preparem suas montarias, pois vamos cavalgar pelo bosque frondoso. Vou trazer dez damas para que cada cavaleiro possa acompanhar uma dama e cada dama, um cavaleiro.
   Formaram um grupo de pessoas a cavalo e saíram cavalgando entre as árvores.
   Enquanto isso, o rei Artur e seus cavaleiros toparam com um cavaleiro estrangeiro, conduzido por Nimue. Seu nome era Sir Urry e estava sendo transportado por seus escudeiros à corte do rei Artur em busca de cura para suas feridas. Tinha peregrinado por todas as cortes da Europa à procura de ajuda, mas nada encontrara. Agora, viera à Bretanha buscar o auxílio do rei Artur.
   — Majestade — disse Nimue a Artur —, este pobre cavaleiro só pode ser curado pelo melhor cavaleiro de sua corte.
   Artur imediatamente convocou Sir Lancelote para cuidar o homem: quando o cavaleiro se ajoelhou e pôs a mão sobre a cabeça de Sir Urry, a dor instantaneamente se foi e ele ficou tão bem quanto antes de ser ferido.
   Todos os cavaleiros se regozijiaram e gritaram, dando tapinhas nas costas de Sir Lancelote.
   — Você de fato é o melhor cavaleiro de toda a cristandade — exclamou o rei Artur.
   Enquanto o grupo do rei Artur retomava sua caçada, a várias milhas dali os bosques ecoavam os gritos alegres e as risadas da turma de Guinevere. Eles não sabiam que o perigo espreitava nas moitas escuras à frente.
   Por um acaso infeliz, o grupo foi localizado por um cavaleiro chamado Meliagaunt, filho do rei Bagdemago. Ele tinha seu castelo a apenas sete milhas de Camelote. Por algum tempo, o cavaleiro tinha alimentado um amor secreto pela rainha e, quando a viu cavalgando com apenas um punhado de homens desarmados, percebeu que sua chance tinha chegado. Assim, armou uma emboscada, cercando o grupo com uma centena de arqueiros e vinte homens armados. Sem suspeitar de nada, a rainha, seus cavaleiros e damas galopavam rumo à armadilha.
   Sir Meliagaunt avançou, espada na mão, e agarrou as rédeas do cavalo de Guinevere.
   — Declaro meu amor pela senhora, minha rainha — disse ele. — Tenho sido paciente, mas agora reclamo o meu prêmio.
   — Que traidor você é! — exclamou a rainha, furiosa. — Não tem vergonha? Você desonraria o rei que o sagrou cavaleiro? Eu cortaria minha própria garganta antes de me sujeitar a você!
   — Nada que disser me fará mudar de ideia — gritou Sir Meliagaunt.
   Enquanto falavam, os dez leais cavaleiros tinham formado um círculo em torno da rainha e suas damas. Então, Sir Kay se adiantou, declarando, bravamente:
   — Não permitiremos que o senhor envergonhe nossa rainha. Muito embora estejamos desarmados, não nos renderemos.
   Não restava mais nada a não ser lutar. Foi uma batalha desigual, embora os cavaleiros lutassem com toda a valentia possível. Quando os homens de Sir Meliagaunt desabaram sobre eles com lanças e espadas, os dez valorosos usaram os punhos como armas para repelir os inimigos. Passado algum tempo, contudo, seis bravos cavaleiros jaziam sangrando no solo, feridos por flechas voadoras e golpes de espada. Os quatro restantes continuaram a luta teimosamente até sua força e seu sangue se esgotarem, mas não antes de abater quarenta adversários.
   Quando viu que seus cavaleiros logo seriam massacrados, a rainha exclamou:
   — Basta! Poupe os meus homens e eu irei com você. Se os matar, será melhor que me mate também, pois não me levará com vida!
   O cavaleiro traidor, Sir Meliagaunt, ordenou então o fim do assalto e mandou que os feridos fossem colocados nos dorsos dos cavalos. O mais depressa que pôde, fez que fossem levados com a rainha para o seu castelo, pois temia que a notícia de sua traição chegasse logo aos ouvidos de Artur.
   Enquanto a procissão seguia seu caminho rumo ao castelo, a rainha, disfarçadamente, chamou um jovem para perto de si. Ele estava menos ferido que os demais e ela assim lhe falou:
   — Quando tiver uma oportunidade, cavalgue mais rápido que o vento e informe o rei.
   Assim, o rapaz esperou o momento propício e, subitamente, cravou as esporas nos flancos de seu cavalo, galopando para longe a toda velocidade. Embora os homens de Sir Meliagaunt tenham saído em seu encalço e disparado uma chuva de flechas em sua direção, ele conseguiu se safar e alcançou Camelote justamente quando o rei Artur regressava de sua caçada.
   Quando ouviu o relato, o rei Artur e seus cavaleiros se enfureceram, sedentos de vingança. Sir Lancelote foi o primeiro a reagir.
   — Majestade, deixe-me ir na frente. Sozinho, posso alcançar o traidor mais depressa. Parta tão logo tenha reunido um exército de homens bem armados.
   Artur concordou prontamente: não havia tempo a perder. E Lancelote partiu em disparada, tão velozmente quanto podia o seu corcel, voando como uma flecha ao covil do traidor. Vadeou rios, atravessou a nado com seu cavalo os rios serpenteantes, e logo chegou à clareira onde os dez bravos cavaleiros tinham lutado — reconheceu-a pelas árvores partidas e pelo solo manchado de sangue. Então, seguiu a trilha de sangue até chegar num bosque. E ali, à sua frente, havia uma linha de trinta arqueiros, com as flechas apontadas para seu coração.
   — Alto! Você não passará! — gritou o líder dos arqueiros.
   Mas o valente cavaleiro arremeteu diretamente contra eles, sem se importar com as flechas, e saiu correndo ensanguentado até seu cavalo cair morto, perfurado por uma dúzia de setas. Lancelote se escondeu em valas e moitas, evitando os sentinelas. Depois de ter feito um largo desvio, retomou a trilha por trás dos cavaleiros de Sir Meliagaunt.
   Não tinha ido muito longe a pé quando topou com dois homens que conduziam uma carroça de toras.
   — Carroceiro — disse ele a um dos homens —, permita-me percorrer com vocês as duas milhas até o castelo.
   — Estou trazendo lenha para meu amo, Sir Meliagaunt — disse o homem, rudemente. — Não ajudo os inimigos dele.
   Ouvindo isso, Sir Lancelote golpeou o homem com tanta força que ele caiu do chão, desfalecido. Seu companheiro então gritou:
   — Bom cavaleiro, se poupar minha vida eu levarei o senhor aonde quer que deseje.
   Assim, o segundo carroceiro o levou a galope rumo ao castelo. Meia hora depois, estavam cruzando os portões. Nesse momento, uma das damas de companhia da rainha Guinevere estava espiando pela janela. Ela gritou para a rainha:
   — Veja, senhora, um cavaleiro armado chegou a bordo de uma carroça de lenhador.
   Ao olhar para fora, a rainha Guinevere reconheceu o escudo de Sir Lancelote e soltou um grito de alegria.
   A essa altura, Sir Lancelote descia da carroça e começava a gritar a plenos pulmões, de tal modo que por todo o castelo ecoassem suas palavras.
   — Dê as caras, vil traidor! Sou eu, Sir Lancelote, quem veio passar você ao fio da espada!
   Ao ouvir tais palavras, o covarde Sir Meliagaunt correu ligeiro até a rainha e caiu aos pés dela, implorando misericórdia:
   — Eu lhe suplico, senhora. Diga a Lancelote que não me mate. O que fiz foi por amor à senhora. Prometo nunca mais voltar a prejudicá-la. Todos estarão livres para retornar a Camelote.
   Diante disso, a rainha saiu para saudar seu campeão, introduziu-o no castelo e ordenou-lhe que não causasse mais derramamento de sangue.
   — Agradeço-lhe do fundo do coração por ter vindo em nosso resgate — disse ela. — Mas o cavaleiro traidor se arrepende de seu pecado e deseja se penitenciar.
   Sir Lancelote não queria desobedecer à rainha. Por isso, embora relutante, concordou em poupar Sir Meliagaunt, desde que ele aceitasse o desafio de participar de uma justa em Camelote dali a uma semana.
   Então, Guinevere levou Lancelote a seus aposentos, onde cuidou dos ferimentos dele, tal como fizera com todos os demais cavaleiros de sua escolta.
   Na hora da ceia, cada homem e cada mulher da corte do rei Artur foi tratado e tratada do modo mais gentil possível: os feridos receberam unguentos para curar suas feridas, e todos foram servidos com boa comida e bom vinho, cada qual segundo suas necessidades. Quando o sono chegou, foram levados a belos aposentos, onde dormiram.
   Cedo na manhã seguinte, o rei Artur chegou com uma companhia de cavaleiros armados, e quando a rainha Guinevere lhe contou o que tinha acontecido, ele ficou aliviado. Mas só consentiu em poupar a vida do traidor quando soube do torneio programado.
   — A honra tem de ser satisfeita de acordo com nossos votos — disse ele.
   Uma semana depois, a justa se realizou, ao meio-dia.
   Os dois cavaleiros, Sir Lancelote e Sir Meliagaunt, empunhando lança e escudo, dispararam um contra o outro: bateram com tamanha força que ambos, ofegantes, caíram por terra. Mas no instante seguinte já estavam de pé e lutando entre si com suas pesadas espadas. Tamanha era a fúria que logo os dois escudos estavam partidos e os elmos, esmagados. Um sangue rubro e espesso manchava suas vestes e se misturava à lama. Finalmente, Sir Lancelote, vendo seu oponente enfraquecer, redobrou seus esforços e, com um poderoso golpe, obrigou Meliagaunt a se ajoelhar.
   Meliagaunt gritou bem alto para que todos ouvissem:
   — Nobre cavaleiro, eu me rendo ao senhor. Pelos votos de um cavaleiro da Távola Redonda, o senhor está obrigado a mostrar misericórdia e poupar minha vida.
   Sir Lancelote jamais romperia seus votos de cavaleiro, mas estava determinado a vingar a honra da rainha até a morte. Assim, convidou Meliagaunt a prosseguir a batalha, mas o traidor se agachou no solo.
   — O senhor tem de se rearmar — disse Lancelote —, enquanto eu luto sem o elmo e com uma das mãos atada às costas.
   Imediatamente, o covarde cavaleiro se levantou e vestiu nova armadura, enquanto Sir Lancelote tinha uma das mãos atada para trás. Logo, Meliagaunt investia à toda contra Lancelote, decidido a acertá-lo na cabeça desprotegida. Mas Sir Lancelote se moveu rapidamente para o lado e desferiu no oponente um golpe tão violento com a espada que lhe partiu a cabeça ao meio.
   Assim foi vingada a honra da rainha.


   Foi pouco depois dessa justa que o mal-intencionado cavaleiro Sir Mordred começou a espalhar boatos sobre a rainha Guinevere e Sir Lancelote.
   — Como o rei Artur pode tolerar o amor de outro homem por sua esposa? Como é possível que só o rei não veja o que está acontecendo? É vergonhoso ver como Lancelote age pelas costas do rei. Todo mundo sabe o que aconteceu entre ele e Guinevere no castelo de Meliagaunt.
   Ao ficar sabendo dessas palavras, o rei Artur ficou rubro de cólera. Procurou Mordred e lhe assegurou:
   — Se o que o senhor está dizendo for verdade e se eles forem culpados, terão de ser trazidos a juízo. Mande reunir a corte para fazermos o julgamento.
   Assim era a lei: para qualquer pessoa considerada culpada de traição, de qualquer classe social, o único veredicto era a pena de morte — ser queimado numa fogueira. E trair o rei era a maior de todas as traições!
   Sir Lancelote tinha partido numa missão, mas quando a rainha Guinevere foi indagada sobre se amava Lancelote ou o rei, ela não conseguiu negar a verdade:
   — Amo meu senhor rei Artur ternamente, e jamais traí este amor. Mas, diante de Deus, não negarei meu amor também por Sir Lancelote.
   Essa última confissão selou o seu destino.
   Cedo na manhã seguinte, a rainha foi levada para o pátio do castelo vestida com uma túnica toda branca. Conduziram-na até uma estaca, amarraram-na firmemente e espalharam lenha e gravetos a seus pés.
   No entanto, quando a tocha estava sendo acesa, um grito rasgou o ar enquanto Sir Lancelote cruzava como um raio os portões do castelo. Brandindo sua espada de um lado para o outro, ele abriu caminho no meio da multidão que rodeava a rainha, cortou de um só golpe as cordas que a prendiam e arrebatou Guinevere, colocando-a sobre seu cavalo.
   Antes que qualquer um pudesse impedi-lo, ele já tinha mergulhado na floresta, tomando o rumo de seu castelo, Joyous Guard, nas montanhas do norte de Gales.
   O rei Artur ficou louco de raiva. Rapidamente montou um exército e perseguiu os fugitivos até o castelo de Lancelote, e lá montou um cerco. O rei Artur bradou:
   — Saia e lute, seu covarde! Você roubou minha mulher e lançou a vergonha sobre nossa irmandade!
   De trás dos contrafortes veio um grito:
   — Não lutarei com o mais nobre rei que jamais viveu. A rainha Guinevere é tão leal ao senhor quanto a mais fiel mulher a seu marido. Qualquer um que disser o contrário é o mais desprezível vilão deste mundo! Meu senhor, vamos fazer as pazes. O senhor deixou que um falso cavaleiro semeasse a discórdia entre nós.
   O rei Artur se comoveu com aquelas palavras e hesitou, enquanto Lancelote emergia dos portões do castelo, seguido da rainha Guinevere. Com lágrimas a lhe escorrer pelo rosto, Sir Lancelote se inclinou diante da rainha e beijou-lhe a mão. Em seguida, montou em seu cavalo e partiu a galope para o exílio.
   E sua partida marcou o fim daquela companhia de cavaleiros.



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Autor(a): biiviegas

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



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  • grandeshistorias Postado em 24/07/2017 - 18:03:57

    Lido o epílogo. Linda história e um belo final, apesar de um tanto triste! Parabéns! Gostei muito dessa história e texto tão bonitos. Que venham mais histórias com textos tão bons assim, sejam eles originais ou adaptações. Abraço e boa sorte! Deus abençoe!

  • grandeshistorias Postado em 24/07/2017 - 17:48:29

    Muito triste o capítulo 8, mas também com mais um admirável desfecho. Os três provaram sua honra até o fim. Muito digno!

  • grandeshistorias Postado em 24/07/2017 - 17:03:56

    Lancelote provou realmente ser um honrado cavaleiro. Outro desfecho surpreendente de mais um episódio.

  • grandeshistorias Postado em 24/07/2017 - 14:50:02

    Essa feiticeira Morgana é muito cruel mesmo. Lamentei a morte de sir Accolon, fruto dessa vingança de Morgana de seu meio-irmão Artur. Artur é um cavaleiro muito nobre e piedoso, quase morre dessa vez pelas mãos da irmã através desse manto enfeitiçado. Agora que Artur viu de fato quem realmente é Morgana, resta saber quais serão as próximas armações de dela e como Artur fará para detê-la. A história está muito boa.

  • grandeshistorias Postado em 24/07/2017 - 14:48:51

    Foi incrível a aventura de Artur naquele reino desconhecido e na Capela Verde, fiquei muito surpreso com o desfecho desse episódio.

  • grandeshistorias Postado em 20/07/2017 - 15:51:27

    Sacanagem Merlim não alertar o rei Artur da futura traição de Guinevere que preveu em sua bola de cristal, cuja traição vai destruir o reinado de Artur... Vamos ver o que acontece agora.

  • grandeshistorias Postado em 15/07/2017 - 14:50:16

    Li o capítulo 1... Curioso para saber o q vai ser de Arthur agora... Garoto inteligente demais, e sábio. Os sábios de Vortigerno são mesmo muito ignorantes, era óbvio q tendo uma fundação como aquela, nunca iriam erguer um palácio ali. Mas esperar o q também daquela época de tão escassas informações e até mesmo nula tecnologia. Gostei de ver Vortigerno fugindo, e espero q não volte tramando outra. Adaptação muito boa e texto maravilhoso.

  • grandeshistorias Postado em 06/02/2017 - 21:27:35

    Adicionei aos meus favoritos. Me interessou muito a história! Já li o prólogo e vou continuar lendo os capítulos. Me lembro na sétima série a professora lendo para nós o livro Rei Arthur e a Távola Redonda. Ela o leu até o final ao longo de muitas aulas. Isso foi na época em que era exibida na tv a novela Pé na Jaca, do qual o enredo e os nomes dos personagens tinham uma livre inspiração na história do Rei Arthur. Boas lembranças!

  • fernandocordeiro93 Postado em 27/12/2016 - 13:10:13

    Posta mais


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