Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)
Quando chegamos à casa do médico — que não era tão grande quanto a de Christopher, mas parecia bastante confortável, ao menos a sala, com móveis de cerejeira e tecidos em tons de verde —, eu já estava totalmente em pânico.
Dona Letícia, a senhora Almeida, foi simpática, nos recebeu bem e tudo o mais, e nos conduziu até o consultório do marido, onde Christopherme acomodou sobre um longo sofá. O problema foi a parafernália metálica espalhada pela sala, que me fez estremecer e me sentir dentro de uma câmara de torturas medieval.
— Hã... Quer saber, acho que já tá parando de sangrar. A gente pode ir pra casa — sugeri a Christopher logo que ficamos sozinhos. Tentei me levantar, os olhos presos em um serrote pendurado pelo cabo na parede amarela, mas meu noivo não permitiu.
— Não antes de o médico cuidar de você. — Ele me empurrou de volta com muito cuidado. Christopher não compartilhava do meu temor. Ele parecia imerso em seus próprios horrores.
— Mas, Christopher...
A porta se abriu em um rompante e o médico magricela entrou, procurando o problema com olhos rápidos, encontrando meu olhar de pânico e Christopher tentando me manter no sofá.
— O que houve? — ele exigiu saber, pendurando o chapéu em um suporte perto da porta.
Antes que eu pudesse explicar, Christopher se pôs a falar sobre o quase atropelamento e seu ato heroico. Não que ele visse as coisas do mesmo modo que eu. Não gostei nada da forma como ele narrou o acontecido, como se fosse culpado por eu ter me ferido, e não o responsável por eu ainda estar com a cabeça grudada ao corpo.
— Não foi bem assim, Christopher. Eu bati em alguma coisa quando caí. Você não teve nada a ver com isso. — Apontei para a ferida.
Christopher soltou um longo e angustiado suspiro.
— Isso é irrelevante agora, Dulce. — Então se dirigiu ao médico: — Por favor, doutor, não pode se apressar? Há tanto sangue e...
O dr. Almeida o interrompeu, pousando gentilmente a mão em seu ombro.
— Não se preocupe, meu caro amigo. Cuidarei de sua noiva da melhor maneira possível.
Meu noivo concordou com a cabeça.
O médico se aproximou do sofá, mas hesitou, franzindo o cenho.
— Posso? — indicou meu braço.
Eu assenti uma vez.
— Temo ter quebrado o braço dela — confessou Christopher, engolindo em seco.
— Você não quebrou meu braço! — contrapus, irritada. — Caramba, Christopher, por que você acha que foi culpa sua? Eu é que devia ter olhado antes de ir pro meio da rua. Se quiser culpar alguém, então culpe a mim.
Ficou claro que ele não concordava comigo, e minha tentativa de fazê-lo entender meu ponto de vista só serviu para deixá-lo ainda mais nervoso.
Ele abriu espaço para o médico, mas ficou atrás de mim, acariciando meu pescoço com a ponta fria dos dedos.
— Não se torture com suposições, senhor Uckermann. Com licença, querida — disse o dr. Almeida enquanto desatava o nó do lenço. Ele começou a examinar o ferimento, e os longos dedos experientes apalparam
rapidamente toda a extensão do meu antebraço. Doeu. — Não está quebrado, senhor Uckermann.
— Graças a Deus! — Christopher suspirou, se curvando e deixando a cabeça pender sobre a minha. Ele plantou um beijo demorado em meus cabelos trançados. — Eu não suportaria se ela tivesse uma fratura.
O médico assentiu uma vez, antes de pegar uma lupa e a aproximar da ferida. Ian se endireitou para não fazer sombra. Almeida franziu o cenho e sua boca se tornou uma pálida linha fina.
— O corte é muito profundo. Terei de suturá-lo.
— Não! — exclamou Christopher, horrorizado. — Não... Não há uma outra forma? Um curativo, talvez? Eu a obrigarei a guardar repouso, prometo!
— Eu sinto muito, senhor Uckermann, mas um curativo só pioraria o ferimento. A umidade causada pelo sangue pode se tornar fonte de uma infecção violenta, e não queremos isso.
Olhei para cima e tentei acalmar Christopher, esticando o braço bom para pegar sua mão e apertá-la de leve.
— Fica tranquilo. Já levei ponto antes. Nem dói tanto assim.
Christopher se agachou ao meu lado, levando minha mão aos lábios, depois pressionou minha palma em sua bochecha e a segurou ali.
— Não aqui, meu amor.
Não foi preciso que ele elaborasse melhor. Observei o dr. Almeida abrir sua maleta preta e retirar um pequeno estojo prateado ali de dentro. Ele fez surgir uma linha negra e espessa e algo que se parecia muito com um anzol.
Só isso.
Levantei os olhos para Christopher.
— Nada de anestesia? — Engoli em seco.
Christopher encarou o médico, atormentado. Parecia lutar contra algo. Por fim, uma resolução desconcertante o dominou.
— Dê a ela — ele ordenou ao amigo, se endireitando.
O médico suspirou enquanto lavava as mãos.
— Senhor Uckermann, não posso permitir que uma dama...
— Não pode fazê-la sofrer quando há uma maneira de evitar! Dê a ela, ou eu mesmo o farei.
O médico soltou um gemido, secou as mãos em um pano branco e ajeitou o material de sutura sobre a bandeja na mesa redonda e alta ao lado do sofá. Foi até o armário e procurou algo entre as centenas de garrafas ambarinas, parecidas com as que eu vira mais cedo na botica.
— Me dar o quê? — perguntei a Christopher.
— Algo que tornará o procedimento suportável. — O fato de ele não dizer o nome do anestésico e evitar contato visual não me pareceu bom sinal.
O dr. Almeida abriu outro armário e retirou dali uma garrafa escura, que logo desarrolhou. Seja lá o que fosse aquilo, não era líquido. Ele pescou um tablete circular e então o entregou a Christopher.
— Sabe que uso apenas com os cavalheiros. As damas... não toleram bem — contou o médico.
Meu noivo segurou a balinha marrom (ao menos se parecia com uma) e a admirou por um momento, aflito, indeciso. Então, ergueu a cabeça e me fitou demoradamente. Sua atenção se voltou para a linha e o anzol, e em seguida retornou para o meu rosto. Por fim, ele grunhiu e estendeu a mão, me oferecendo o tablete.
— Não engula, apenas mastigue — explicou Ian quando eu o peguei.
— Certo — analisei o tablete. — Isto aqui é o quê?
— Apenas mastigue, meu amor. Antes que eu me arrependa do que estou fazendo.
Com medo de ser costurada a seco, mandei aquilo para dentro e o amargor preencheu minha boca. Logo minha língua estava adormecida.
— É ruim! — reclamei.
— Eu sei — respondeu Christopher, tristonho, e afastou uma mecha de cabelo que se desprendera da trança e caíra em meus olhos.
— Credo! Ruim demais!
— Não, não cuspa! — ele alertou, quando fiz menção de tirar aquilo da boca. — Logo vai se sentir melhor, confie em mim.
Eu assenti e, por mais que meu corpo todo rejeitasse a ideia, continuei mascando. Ao se dissolver, o tablete se revelou um amontoado fibroso e desidratado que fazia cócegas em minha língua dormente.
É melhor eu não me machucar nunca mais, pensei. Não queria nem imaginar o que fariam com um osso quebrado e... Ah! Então fora isso que assustara tanto Christopher e... Uau, que lindo aquele vidrinho azul. Ele ondulava sob a luz do sol como se...
Estreitei os olhos. Aquele frasquinho estava... dançando?
Uma sensação esquisita me impediu de continuar o raciocínio. Meu coração acelerou sem motivo aparente e minha respiração tomou o mesmo curso. As cores ao meu redor se tornaram mais vivas e brilhantes e eu me
sentia... feliz. Tão, tão feliz! Não sei bem por quê, mas de repente eu me sentia radiante, contente a ponto de sair voando. Olhei para Christopher — seus olhos estavam fixos em meu rosto, mas sua testa estava franzida. E ele meio que brilhava.
— Ei, por que você tá brilhando? — eu quis saber.
— Acho que podemos começar — anunciou o médico.
— Espere. — Christopher se agachou para que seus olhos ficassem na mesma altura dos meus. Ele me avaliou com atenção, e eu queria perguntar mais uma vez sobre aquele brilho, quando de repente ele se dividiu em dois.
— Uau!
— Dulce, como se sente neste momento? — questionou Christopher.
— Feliz! Tem dois de você! — Eu estiquei o braço e puxei um deles pela gola da camisa até colar sua boca na minha. Mal podia esperar para beijar o outro também. — Dois Christophers... Humm...
Ele me afastou com delicadeza e tentou sorrir.
— Ela está pronta — disse ao médico, com tanta tristeza que me fez rir.
Eu inclinei a cabeça para o lado, admirando aqueles rostos à minha frente.
Minha nossa! Os Christophers eram tão... tão...
— Vocês dois são tão lindos quando ficam preocupados comigo — ri de novo.
Um meio sorriso relutante brotou em seus lábios. Nos dos dois.
— Você não devia prestar atenção nesse tipo de coisa agora — eles disseram juntos, com os olhos fixos em mim.
— Ué, e a culpa agora é minha? Vocês dois é que são lindos e me deixam confusa... — Um brilho novo me fez desviar o olhar para o armário aberto. — Ei, eu acho que aquele vidro azul tá tentando me seduzir. Ele fica
rebolando pra mim.
Christopher deixou escapar uma risada.
— Se eu fosse ele, também tentaria a sorte.
— Pode ser que ele só esteja feliz. Que nem eu. Não sei por quê, mas tô felizona! Você tá assim também? O outro Christopher está?
— Eu... Nós ficaremos assim que você estiver bem.
Com isso, ele e o outro Christopher se acomodaram no braço do sofá, abrindo caminho para o médico, e ficaram tão juntos que minha visão embaçou um pouco. Os Christophers não soltaram minha mão. Bom, acho que não, do meu pescoço para baixo estava tudo meio anestesiado, mas eles seguravam uma mão muito parecida com a minha.
O dr. Almeida arrastou uma cadeira para perto, entretanto eu não conseguia prestar atenção no que ele estava fazendo. Não com os Christophers ao meu lado. Um deles entrava e saia de foco, e eu tentava manter a atenção
nele para que não desaparecesse. Distraída, me perguntei a razão de haver dois deles naquela sala, mas então o dr. Almeida ateou fogo em meu braço.
— Puta* que pa/riu... — Uma enxurrada de palavrões deixou meus lábios enquanto eu sacudia desesperada o braço, tentando me livrar das chamas, muito embora o fogo parecesse molhado. E tivesse cheiro de uísque. E o raio do vidro azul continuava dançando conga na prateleira.
— Não, não mexa o braço — avisou um enrubescido dr. Almeida. — Não quero ter de amarrá-la.
— Eu sabia que não devia gostar do senhor. Sabia! — Eu me virei para os Christophers. Um deles estava corado; o outro, não pude ter certeza, pois não parava quieto. Fiquei confusa com aquele rubor, já que era a mim que o médico pretendia amarrar e depois queimar até a morte. Ah, meu Deus, era como a caça às bruxas no século... no século... qual deles mesmo?
E em qual mesmo eu estava agora?
— Aperte minha mão, Dulce. — sussurrou Christopher, torturado. — Deixe-me sentir sua aflição, mas procure se manter imóvel. Não suportarei se tiver de ser imobilizada.
— Ouça seu noivo, senhorita. Preciso fechar o ferimento antes que contamine. A senhorita já perdeu sangue demais. Pode acabar tendo uma anemia.
— O senhor quer é me torturar para saber mais sobre mim, mas não vai adiantar.
Christopher soltou um longo suspiro.
— Não culpe o dr. Almeida, meu amor. É o procedimento. Foi assim comigo também.
— Ele também tacou fogo em você?! — perguntei assustada.
Christopher exibiu um sorriso relutante.
— Sim. Mas eu tinha apenas oito anos, e meu pai não permitiu que eu mastigasse ópio.
Eu gargalhei ao ouvir aquilo. Não sei bem por quê, tudo parecia engraçado.
— Ópio é um nome engraçado — eu ri. — Óóóóóópio! Eu gosto de óóóópio.
— Faço ideia — resmungou Ian, escrutinando meu rosto.
— Mas e aí? Como foi que você se machucou... humm... pode fazer aquele Chritopher parar quieto? Ele tá me deixando tonta. — E algo muito esquisito estava acontecendo em meu estômago.
— Ele vai embora logo — um dos Christoohers me garantiu.
— Aaaaah! — resmunguei. — Mas eu gosto dele. Gosto dos dois. Dois Christophers. Os dois meus.
Os Christophers franziram a testa e fitaram o médico.
— Talvez meio tablete fosse suficiente — o Christopher que não saia de foco disse ao cirurgião.
— É o que parece — concordou o médico.
— Por que você tá tão... Ai! — Algo beliscou minha pele. Eu tentei virar o rosto para ver o que o dr. Almeida estava fazendo com o meu braço, mas Christopher me impediu, colocando a mão em meu rosto e o mantendo voltado para ele.
— Ainda quer saber como me machuquei?
Senti meus olhos se arregalarem de pavor.
— Ai, meu Deus! Você se machucou também?!
— Não hoje, Dulce — ele me garantiu, paciente. — Quando eu era criança. Estava cavalgando e fui lançado sobre uma cerca.
— Foi um corte e tanto — comentou o doutor, sem desviar a atenção do que estava fazendo. — Christopher estava pálido feito cera quando cheguei à propriedade dos Uckermann. Mas não era pela perda de sangue, era por medo de mim.
— Eu não sabia que você também não gostava do dr. Almeida — comentei.
O médico gemeu. Christopher sorriu de leve.
— Ah, eu não gostava. Não até parar de me machucar.
Franzi a testa, refletindo sobre o que ele havia acabado de dizer.
— Talvez, se eu parar de me machucar, eu também goste dele — deduzi. — E se ele parar de fazer perguntas. E de me dar coisas ruins para engolir. E de atear fogo em mim.
A luz ao redor dos Christophers começou a se desvanecer. Que pena. Eles pareciam anjos envoltos naquele brilho. Anjos muito, muito sexys.
— Estou quase terminando — anunciou o dr. Almeida.
Christopher balançou a cabeça uma vez. O outro Christopher começou a perder a cor, ficando translúcido. Meu corpo se tornou pesado, uma sonolência incontrolável dominou meus membros.
— Lamento muito que tenha se ferido — ele deslizou o polegar pela minha bochecha.
— Eu devo ter me cortado em alguma pedra do pavimento. Sabe, nunca pensei que pedras pudessem ser tão perigosas.
Sua expressão se suavizou um pouco — não muito, mas o suficiente para que o V entre suas sobrancelhas quase desaparecesse. Podia apostar que ele estava recordando nosso primeiro encontro meses atrás, quando eu
tropeçara em uma pedra em 2010 e caíra literalmente em 1830. Pois eu estava.
— No seu caso — Christopher falou com aquele tom rouco que eu amava —, creio que sejam letais. Vou me certificar de livrá-las de seu caminho.
— Acho mais fácil eu parar de cair. — Não fosse pelo vidro azul dançarino, eu ficaria muito impressionada com a minha sensatez. — Mas não vou me opor se quiser dar uma olhada no caminho para o altar. Acho bem possível eu me estatelar bem na frente dos seus convidados. Ah, não! O outro Christopher foi embora...
Ele inclinou a cabeça para o lado e riu, mas era um riso tenso, preocupado.
— Não precisa ficar com ciúmes — me apressei. — E, olha, o vidrinho tá cansado de dançar!
— Pronto — anunciou o médico.
— Graças a Deus! — Christopher soltou um longo suspiro, levando minha mão boa a seu peito e deixando a cabeça recair sobre o meu ombro. Seu coração batia rápido sob a minha palma.
Olhei para o antebraço em que o médico trabalhara e vi uma linha irregular de nós pretos e de aparência estranha. Gemi.
— Que inferno. Depois de amanhã serei a noiva Frankenstein.
— Quem? — o médico perguntou.
— O Frankenstein! Sabe... Frankensteeeeeeein grrrr... — Estiquei os braços com as mãos em forma de garras, fazendo uma careta. Nem Christopher nem o médico reconheceram minha imitação, mas eu achei que tinha sido muito boa, ainda mais com o toque realista da linha preta costurada em minha pele branca.
O dr. Almeida se levantou, foi até o armário e pegou um pote pequeno.
Então o abriu, e o cheiro agudo de coisa azeda fez meu nariz arder.
— Unguento — avisou ele, espalhando a gosma amarela sobre minha pele costurada. Em seguida, enfaixou meu braço com retalhos brancos que fizeram as vezes de atadura.
— Não sei como lhe agradecer, doutor. — Christopher ficou de pé para apertar a mão do sujeito.
— É sempre um prazer cuidar de sua família, senhor Uckermann. Irei até a sua residência amanhã, para fazer um novo curativo e garantir que o ferimento não infeccione.
Eu também me levantei porque parecia a coisa certa a fazer, mas meu corpo não concordou com isso.
— Opa! — cambaleei e caí sentada no sofá.
Christopher se abaixou e passou um braço sob as minhas pernas. Eu não reclamei dessa vez. Estava muito... humm... não sei bem o que eu estava... para andar com aquele vestido comprido. Com medo de tropeçar e ter de ser costurada outra vez, passei o braço pelo pescoço dele e sorri.
— Sabe de uma coisa? — eu disse a Christopher. — Quase ser atropelada tem lá as suas vantagens.
— Eu preferia que não tentasse outra vez.
— Vou ver o que posso fazer sobre isso. Valeu pelo curativo, dr. Almeida.
O sujeito coçou a cabeça.
— Errrrr...
— Ela agradeceu, doutor — explicou Christopher, com um suspiro.
— Ah, sim. — O médico se adiantou para abrir a porta. — Disponha, senhorita, embora eu prefira não ter de tratá-la tão cedo.
— Olha aí, eu também! Viu só, Christopher? A gente finalmente tá se entendo! — exclamei e, mesmo a contragosto, Christopher e o médico riram.
Anahí e Maite estavam na sala em companhia da senhora Almeida, do sobrinho do casal, Júlio, e de William, que parecia incapaz de tirar os olhos de Maite. Os dois rapazes nos saudaram com uma educada mesura. Júlio era
parecido com o tio, alto e magro, só que com mais cabelos. William era um pouco mais baixo, tinha um belo rosto quadrado e os cabelos cor de areia faziam um contraste interessante com os olhos verdes.
Todos se espantaram ao me ver no colo do Ian. Elisa foi quem falou primeiro:
— Dulce...
— Acalme-se, Maite — meu noivo pediu. — Está tudo bem. O dr. Almeida já cuidou dela. Foi preciso suturar o ferimento, mas...
A menina arfou e cobriu a boca com as mãos.
— Oh, não!
— Não houve fratura, o que é um alívio. — Christopher me acomodou melhor em seus braços. E, dirigindo-se aos dois rapazes, disse: — Sei que estou abusando da cortesia, mas gostaria de acompanhar minha noiva na
carruagem. Será que um de vocês poderia...
William deu um passo à frente.
— Não precisa explicar, senhor Uckermann. Compreendo perfeitamente.
Levarei sua montaria até a propriedade com prazer.
— Não é preciso se incomodar tanto, senhor Levy. Apenas o coloque numa das baias do dr. Almeida e amanhã voltarei para apanhá-lo.
— Como preferir. — E o garoto pareceu frustrado.
Christopher se despediu da mulher e do médico, e, sem perder tempo, deixamos a casa. A multidão nos esperava do lado de fora, aguardando notícias. Assim que me viram, um Oh! coletivo e decepcionado se fez ouvir. Maite e Anahí se empenharam em explicar o que havia acontecido a alguns conhecidos, enquanto Isaac abria a porta carruagem e Christopher nos acomodava lá dentro. As garotas entraram logo em seguida, sentando-se no banco da frente. Christopher ficou ao meu lado, abraçado à minha cintura, minha cabeça descansando em seu ombro.
O polegar dele fazia pequenos círculos em meu pescoço.
— O que aconteceu? — Elisa questionou. — Foi tudo tão rápido!
Quando me virei, Dulce já estava no meio da rua.
— Eu me distraí.
A carruagem entrou em movimento, e algo dentro de mim parecia fora do lugar. Tipo meu cérebro e meu estômago.
— Dulce, querida, o que pode tê-la distraído tanto a ponto de se colocar na frente de uma carruagem? Sei que vem de outro lugar e não está habituada às coisas por aqui, mas as ruas da vila são muito movimentadas!
— censurou a menina.
Eu teria rido se meu corpo não tivesse necessidades mais urgentes.
Cobri a boca com a mão tentando deter o fluxo que subia pela minha garganta.
Christopher rapidamente previu o que viria a seguir, pois deu um soco no teto da carruagem, fazendo-a parar instantes depois. Ele abriu a porta apressado, e eu voei lá para fora, meio encurvada, e enfiei a cara numa moita, liberando de forma ruidosa tudo o que havia comido.
Uma grande mão enlaçou minha cintura enquanto outra mantinha minha trança no lugar. Quando meu estômago se aquietou, eu não consegui olhar para ele.
— Ela está bem, senhor Uckermann? — ouvi o cocheiro perguntar.
— Vai ficar, Isaac. — Um lenço branco me foi ofertado.
— Estarei por perto caso precise de ajuda — o moleque avisou.
Fechei os olhos depois de limpar o rosto, inspirando fundo.
— Eu quero morrer! — gemi.
— Eu sinto muito. Amanhã vai se sentir ainda pior, mas pedirei à senhora Madalena que lhe prepare uma gemada com vinho. — Ele me ajudou a ficar reta, e deixei meu corpo cair de encontro ao dele. — Isso vai
dar um jeito em seu estômago. Sempre funcionou comigo.
Estremeci ao pensar em ovo cru.
Eu definitivamente quero morrer.
Meu noivo plantou um beijo no topo da minha cabeça.
— Vou cuidar de você agora. Vamos para casa.
Com sua ajuda, voltei para a carruagem, e, como fizera antes, Christopher passou um braço ao redor de meu corpo. Eu fiquei imóvel por um tempo, atenta ao meu estômago conforme entrávamos em movimento. Relaxei ao perceber que não restara nada para ser expulso.
— Está tão abatida, pobrezinha — Anahí comentou. — Posso imaginar a quantidade de láudano que o dr. Almeida deu a ela para que passasse tão mal!
— Não foi láudano. Foi... ópio — sussurrou Christopher.
— Ópio? — ela franziu o cenho, transtornada. — Ópio puro?
A palavra já não era tão divertida assim.
— Me mandaram mastigar — dei de ombros. — Aí eu fiquei bem feliz.
Agora não tô assim tão feliz. Tô com muito sono. — Recostei-me em Christopher, mas
algo em sua calça espetou minha perna, mesmo com todo aquele tecido. Ele se moveu rápido, metendo a mão no bolso e retirando dali cacos de vidro e pecinhas de metal presas a uma corrente. O crec que ouvi mais cedo.
Quase suspirei de alívio.
Mas Maite arfou.
— Oh, Christopher! O relógio de papai! Lamento tanto!
Christopher analisou o objeto com a testa franzida.
— Deve ter quebrado quando saltei do cavalo. — Não pude deixar de perceber o tom de tristeza que se infiltrara em sua voz. Meu coração também se partiu em milhares de pedaços.
— Sinto muito — murmurei, tocando o braço dele. — Desculpa.
Ele beijou a minha testa e me abraçou com força, a mão que ainda segurava o relógio rodeou minha cintura, mas se fechou ao redor dos destroços, pressionando minhas costelas.
— Não precisa se desculpar, Dulce. Posso viver sem o relógio. Apenas me prometa que prestará mais atenção quando estiver na vila.
— Eu prometo — corei, enterrando a cabeça em seu peito.
Foi ali que jurei a mim mesma que aquilo nunca mais se repetiria. Que jamais deixaria Christopher tão apavorado, que não o colocaria em risco outra vez.
Ele podia ter quebrado o pescoço saltando do cavalo daquele jeito para me salvar do atropelamento! E, sobretudo, prometi que nunca mais voltaria a quebrar algo dele, mesmo que indiretamente.
Maite e Anahí começaram a conversar, mas eu me sentia esgotada — e dopada — demais para participar. Fiquei observando Christopher por um tempo até que adormeci — pelo menos eu acho, já que não me lembro de coisa
alguma depois disso. Quando abri os olhos novamente, estava em meu quarto, no casarão de Christopher. Ele estava retirando meus sapatos, depois desfez minha trança com toda a calma do mundo. Um travesseiro macio fora colocado sob minha cabeça.
— Não vai... — eu comecei, mas ele me interrompeu, pousando o indicador sobre meus lábios.
— Não vou. Agora descanse. — E beijou minha testa.
Pensei que teria uma noite calma, mas, em vez disso, pesadelos com relógios despedaçados e Christopher encolhido em um canto, com a cabeça enterrada nos braços, povoaram meu inconsciente.
GrazihUckermann: Não, Destinado é narrado pelo Christopher só que é quase igual a história do livro perdida só que ao contrario, prometida é narrada Pela Maite (Só que eu não li ainda pq foi lançado agr) que tbm é outra historia. Bjss S2
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Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 90
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kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52
Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2
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tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32
amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro
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Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03
Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2
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GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38
Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV
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GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26
Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo
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Postado em 15/01/2017 - 20:30:45
ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua
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tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14
ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada
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Postado em 15/01/2017 - 17:24:53
amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina
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tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46
owts bebe vondy a caminho amando
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tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26
Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??