Fanfics Brasil - Capítulo 7 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 7 (2ª Temporada)

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Depois que Christopher decidiu que era melhor apenas ele ter pensamentos impróprios, e não todos os homens da vila — por causa das minhas canelas expostas e tal —, voltamos à posição padrão: eu na frente, cercada por seus braços fortes. Ele quis almoçar na pensão, mas, depois da conversa com o padre, tudo o que eu queria era ir para casa. Então Christopher comprou alguns pãezinhos na banca do seu Manuel — ainda em guerra com o alfaiate, que queria ver a frente de sua loja livre da barraca de pães caseiros — e os guardou
no compartimento fechado da sela.
Cavalgamos de volta para casa sem pressa. Entretanto, ele estava calado demais naquela tarde.
— Você parece tenso — comentei.
Ele sacudiu a cabeça.
— Apenas ansioso por tudo que está por vir. Escute-me, Dulce. Não estou certo de que você esteja familiarizada com todos os costumes que envolvem o casamento desta época, então devo alertá-la de que não nos veremos amanhã até a cerimônia.
Girei em seus braços para poder ver seu rosto. Christopher era tão lindo que às vezes — tipo umas dezoito vezes por dia — eu me perguntava se ele era real.
Constatei que ele não parecia satisfeito com o arranjo.
— Por que não?
— É o costume. Apesar de a senhorita não ter família aqui que possa hospedá-la, eu me manterei afastado, como pede a tradição.
— Isso é ridículo! Eu vou morrer de saudades — resmunguei.
Os braços em minha cintura se estreitaram.
— Eu também.
Já estávamos nas terras de Christopher, e avistei ao longe nosso lugar especial.
Aquele em que Christopher me encontrara pela primeira vez. Um descampado com apenas uma árvore de copa gorda e uma pedra em formato de meia-bola na qual eu tropeçara duzentos anos à frente.
Fiquei surpresa quando ele puxou as rédeas, fazendo o cavalo desacelerar o ritmo. O galope do animal diminuiu até cessar por completo.
— Christopher, a gente tem que ir pra casa logo. Tem um monte de coisas pra resolver e...
— Você é minha prioridade. — Ele saltou com destreza e me ajudou a descer, me pegando pela cintura. — Como está seu braço? — ele quis saber assim que meus pés tocaram o chão.
— Bom. Quase não dói. Por que estamos parando aqui?
— Você precisa de um pouco de normalidade. Mas não podemos nos demorar muito. Imagino que o dr. Almeida deva chegar em breve para refazer o curativo. — Ele soltou as rédeas do cavalo, que se manteve no lugar. Então me pegou pela mão e começou a me levar para baixo da copa da árvore. — Você está tão tensa.
— Eu sei — suspirei.
Eu me sentei, me recostando no tronco, mas Christopherhesitou e permaneceu de pé, analisando atentamente o meu rosto.
— E não parece feliz — assinalou em voz baixa.
— Não, eu tô sim, juro! É só que... estou um pouco preocupada.
Um pequeno V se formou entre suas sobrancelhas.
— A respeito de quê?
— Não sei bem — dei de ombros.
Christopher foi até a montaria, revirou os bolsos da sela, encontrou o pacote de pãezinhos e minha cópia esfrangalhada de Orgulho e preconceito. Ele já nem a tirava dali, tantas foram as vezes em que fugimos de casa para namorar naquele mesmo local.
— Vamos acalmar você. — Ele exibiu um meio sorriso impossível de resistir, batendo o exemplar na palma da mão. Christopher entendia minha agitação.
Ele sempre me entendia, até quando eu mesma não compreendia o que estava sentindo, como naquele momento.
Ele me entregou o livro e se sentou na minha frente, de costas para mim. Afastei as pernas, dobrando os joelhos, para que ele se acomodasse melhor. Christopher encostou a cabeça em meu ombro, as costas pressionando meu peito e estômago, mas apoiou os cotovelos no chão para sustentar o próprio peso, ficando meio deitado.
Sorri sem querer e passei os braços sobre os seus ombros, usando-os como apoio para segurar o livro.
— Onde foi que a gente parou da última vez? — abri o volume.
Christopher ergueu uma das mãos e folheou algumas páginas.
— Bem aqui.
Ele começou a ler em voz alta, e seu tom rouco fez aquela minha inquietude se acalmar. Christopher lia com tanto entusiasmo que me peguei suspirando. O homem que eu amava em meus braços lendo o livro que eu adorava. Com o que mais uma garota poderia sonhar?
No entanto, minha felicidade começou a murchar quando Christopher se pôs a narrar uma certa parte da história que eu bem conhecia:
— “Não me interrompa. Ouça-me em silêncio. A minha filha e meu sobrinho são feitos um para o outro. Ambos descendem pelo lado materno da mesma linhagem nobre; e do lado paterno de duas famílias honradas e antigas, embora sem títulos. As fortunas de ambos os lados são esplêndidas. Eles estão destinados um ao outro, pela voz unânime das
respectivas famílias; e o que existe para separá-los? As arrogantes pretensões de uma moça sem família, relações, nem fortuna. Isso pode ser tolerado? Não pode e não será. Se cuidasse do seu próprio bem, não desejaria sair da esfera em que foi criada.”
Suspirei, encostando a bochecha na massa negra de seus cabelos.
Nunca me senti tão próxima de Elizabeth Bennet como naquele instante. E meu caso era ainda pior. Lizzie não tinha os problemas que eu tinha.
— Estou entediando você? — Christopher moveu a cabeça para me observar quando não virei a página como deveria.
— Não, Christopher . Por favor, continue. — Forcei um sorriso, mas não consegui enganá-lo.
— Acho que devemos parar por hoje. — Ele tomou delicadamente o livro das minhas mãos e o fechou, deixando-o ao nosso lado na grama. Em seguida girou, se sentando de frente para mim. Seu olhar profundo analisava meu rosto atentamente. A brisa agitou meus cabelos e, com a ponta dos dedos, ele os tirou do meu rosto. — Algo a incomoda. O que é, meu amor?
— Nada. Eu só tava aqui pensando que... — engoli em seco, remexendo no anel em meu dedo anular. — Eu não sou, em muitos aspectos, uma garota indicada para ser a esposa de alguém. Sou muito pior que a Lizzie — apontei o livro com a cabeça. — Eu não tenho dinheiro, família, dote nem bons modos para este século, nem sei direito como me dirigir às pessoas e...
Os olhos intensos, tão escuros e fascinantes quanto um buraco negro, se tornaram reprovadores. Ele correu o dedo pela testa, como se sua cabeça doesse.
— Dulce, por favor, diga-me que não está realmente pensando em um absurdo desses.
— Você sabe muito bem que podia arrumar alguma senhorita cheia de posses que tivesse boa família e... — ele me interrompeu, colocando um dedo sobre os meus lábios.
— E nenhuma delas me faria feliz nem mesmo por cinco minutos. Será que ainda não deixei isso claro? — Ele liberou meus lábios e acariciou a lateral do meu rosto. — Eu não quero alguém que tenha boa família, fortuna, conexões.
Eu quero você.
— Não é verdade — rebati, deprimida. — Você me disse logo que a gente se conheceu que precisava se casar por causa da Maite. Que sua irmã precisava de uma boa influência feminina. E, vamos encarar, Christopher, eu não sou um bom exemplo pra ela. Não neste tempo.
Ele sacudiu a cabeça.
— As coisas mudaram.
— Mesmo? Porque para mim continua tudo igual. Foi você quem mudou, se apaixonou, mas as coisas, os problemas, ainda são os mesmos. É isso que me assusta. Eu sei que não vou corresponder às expectativas e vou acabar falhando com Maite. Tenho medo de que um dia você acabe me odiando por isso. — Desviei os olhos para as minhas mãos, entrelaçadas uma na outra. — Há uma inversão de papéis aqui. Sou eu que vou ter de aprender com ela, não o contrário. Você não vai querer que eu ensine sua irmã a ser uma mulher do século vinte e um, vai? Porque é tudo que sei.
Christopher tocou meu queixo, erguendo minha cabeça até nossos olhares se encontrarem. Ele sorria.
— Você a ama, e isso já bastaria para mim, mas conheço seu caráter, Dulce, e não imagino pessoa mais adequada para ensinar minha irmã a ser uma mulher.
— Você não tá falando sério...
— Estou sendo absolutamente sincero. Sei que certos assuntos são... — ele pigarreou — delicados para ser discutidos, ainda mais com uma menina, mas tenho certeza de que você saberá o que fazer quando chegar a hora de abordar o... tema.
Desviei os olhos outra vez. Na primeira vez em que estive ali, não sabia que teria a oportunidade de voltar, então tive uma conversa muito séria com Maite, de mulher para mulher. Christopher não sabia disso, e eu preferia que ele permanecesse na ignorância.
— Bom, se você pensa assim, então há uma pequena chance de eu não estar fazendo tudo errado.
Isso o fez rir.
— Meu amor, não existe certo ou errado aqui. — Ele tomou meu rosto entre as mãos e me beijou de leve. — Somos apenas nós dois, você e eu, começando uma vida juntos. Vamos errar algumas vezes, acertar outras, mas, se estivermos juntos, tudo acabará bem. É assim que tem que ser. É assim que será. Confie em mim.
Sorri, deixando minha testa se colar à dele.
— Eu confio em você. É em mim que não dá pra botar muita fé. Você foi a primeira coisa que deu certo na minha vida, e mesmo assim foi uma confusão.
Ele esboçou um sorriso.
— Sabe o que eu penso?
Dei de ombros.
— Que o divórcio é sempre uma alternativa? — tentei.
Ele fechou a cara no mesmo instante.
— Divórcio é algo que só existe na Inglaterra. Se esse é o seu plano, pode esquecê-lo. Será para sempre, Dulce. Mas eu estava pensando que você, senhorita, está com medo do casamento — ele afirmou sem rodeios.
Tomei sua mão e comecei a brincar com seus dedos.
— Não é que eu esteja com medo. Não exatamente. Ser sua é a parte que mais desejo. Mas o resto me deixa preocupada. Tenho certeza absoluta sobre você, Christopher, sobre o que sinto, mas... As pessoas vão rir de você por se casar comigo, porque quase todo mundo já sacou que sou diferente.
Ele me puxou para junto de si, até me colocar sentada em seu colo.
— Se forem tolos o bastante para isso, que riam. — Faíscas prateadas reluziram em suas íris negras. — Eu a amo, Dulce, e sei, a duras penas, como é impossível viver sem você. Posso lhe garantir, não estou disposto a repetir essa experiência enquanto estiver vivo. Nada, nem mesmo você, me convencerá do contrário. — E se inclinou para me beijar.
Um beijo longo, úmido e quente, que me fez perder o fôlego. Ser beijada por Christopher era como morrer por um instante.
Deixei minhas mãos vagarem por seu peito, desbravando as montanhas e vales recobertos de pelos macios e quentes. Gemi em aprovação e continuei a explorar até que Christopher me interrompeu, se levantando tão depressa que quase caí de cara no chão, e cambaleou alguns passos.
— M-melhor irmos para casa. Agora — disse sem fôlego, estendendo a mão para me ajudar a levantar.
Eu o estudei por um instante, tentando entender o que fizera de errado, quando me lembrei da conversa que tivemos logo depois de sairmos da igreja.
Tradição de casamento idiota!
— Tudo bem — concordei com um suspiro, aceitando sua ajuda. — Maite deve estar me esperando. Não que minha presença mude alguma coisa. Sua irmã assumiu a organização toda, e Madalena não me deixa fazer nada. Ela até me deu um esporro anteontem porque tentei ajudar com a mudança do nosso quarto. Ela disse que não posso nem chegar perto da cama até amanhã.
Christopher juntou nossas coisas, depois me conduziu até o cavalo e me ajudou a montar.
— É o costume. A noiva não deve arrumar a cama onde dormirá pela primeira vez com o marido. Mas não se preocupe, amanhã você será a nova senho... — Estreitei os olhos antes que ele pudesse dizer as palavras. Christopher se corrigiu rapidinho. — Hã... minha esposa, e poderá fazer o que quiser em nossa casa.
— Você diz isso como se fosse uma coisa boa — reclamei enquanto ele se ajeitava na sela. — Não reparou na bagunça que fiz no meu quarto?
Christopher riu.
— Sabe, senhorita, nas ocasiões em que estive em seu quarto, tive algo mais agradável que sua desorganização para dedicar minha atenção. — Aquele sorriso malicioso que eu amava esticou seus lábios antes de ele cutucar as costelas de Meia-Noite e dispararmos de volta para casa.
Quando chegamos à propriedade, ninguém nos deu atenção. Gomes, o mordomo, corria de um lado para o outro, e Madalena gritava com os empregados, dando ordens e exigindo agilidade. Aquilo parecia uma zona de guerra. Maite era a única que ainda não tinha pirado.
Bom, mais ou menos.
— Oh, Christopher! — disse ela, atravessando a sala. — Você demorou tanto! Está tudo uma bagunça! O senhor Gomes e a senhora Madalena não estão conseguido se entender. E preciso da noiva para preparar os arranjos de flores!
— Desculpe, Maite. Não tive a intenção de sobrecarregá-la. A conversa com padre Antônio demorou mais do que eu previra. — Ele me lançou um olhar divertido, cúmplice, e tive de morder a língua para não rir.
Maite rapidamente se esqueceu dos problemas e o olhou com preocupação.
— Oh, meu irmão. — Ela apoiou as mãos no braço dele. — Perdoe minha falta de sensibilidade. Peço desculpas se estiver sendo muito severa, mas serei a anfitriã amanhã. É a primeira vez que terei de representar a família em um evento desse porte. Estou um pouco nervosa.
Aquilo era o máximo de aspereza que Elisa era capaz de demonstrar?
— Não fique. — Ele cobriu a mão dela com a dele. — E agradeço por tudo que tem feito. Nós dois agradecemos — ele buscou meus olhos.
— É isso aí, Maite. Você tá arrasando como organizadora de casamento do século dezenove — eu lhe garanti. — Eu é que tô com problemas. Fico pensando que vou tropeçar na barra do vestido quando estiver entrando na igreja.
— Não permitirei que isso aconteça, estarei por perto. — Ela soltou a mão do irmão e passou o braço pela minha cintura.
— Vou procurar o senhor Gomes e ver no que posso ajudar — falou Christopher, se inclinando ligeiramente para pegar minha mão e levá-la até os lábios perfeitos. — Nós nos vemos no jantar, senhorita. — Em seguida, sumiu em um dos corredores do casarão.
Maite pediu que eu a encontrasse na sala de leitura e foi ao quarto pegar o rolo de fitas que seria muito útil para os arranjos. Alguém chamou na porta da frente. E ninguém apareceu para atender, o que era estranho.
Gomes parecia ter o dom de se materializar na porta em três milésimos de segundo.
Um homem parrudo de cinquenta e poucos anos tentava com certa dificuldade controlar a carroça abarrotada de caixas de vinho. O cavalo não parava quieto, fazendo o vidro tilintar.
— Boa tarde, senhorita. Procuro o senhor Clarke. As bebidas que ele encomendou estão todas aqui. Quieto, Borba! — gritou, puxando as rédeas com força.
Como eu não fazia ideia de onde meu noivo estava naquele labirinto de cômodos — além de estar louca para começar meu trabalho como administradora da casa, para ter o direito de receber o salário e tal —, endireitei os ombros e assumi minha nova função.
— Eu cuido da entrega. Pode levar tudo para a despensa.
— A senhorita vai receber as bebidas? — perguntou ele, incrédulo.
— O senhor não me acha capaz de receber um amontoado de garrafas? — retruquei ofendida.
— Não, senhorita. Creio que fui mal interpretado. — Mas seu olhar o contradizia.
— Ótimo. Então pode levar as caixas pra despensa.
— Não prefere que eu as coloque na adega do senhor Uckermann? — sugeriu lentamente, como se eu fosse uma criança de três anos.
Christopher tinha uma adega, e eu sabia disso. O problema é que eu não fazia a menor ideia da localização. Normalmente era o Christopher ou o Gomes quem ia até lá. De jeito nenhum eu diria àquele homem de roupas encardidas que eu não sabia onde ficava um dos cômodos da casa que passaria a administrar.
— Essas garrafas serão usadas amanhã na festa. Então só vai dar mais trabalho se estiverem na adega. Deixe tudo na despensa que faz muito mais sentido.
— Como a senhorita preferir — disse com escárnio antes de dirigir a carroça
para os fundos da casa.
Eu corri para a cozinha e acompanhei de perto o descarregamento. As caixas de madeira começaram a ser empilhadas na parede perto da porta.
— Não. Aí não. Vai ficar no caminho. Coloque ali no fundo — ordenei ao entregador.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? — ele me olhou de soslaio.
Eu corei.
— É claro que tenho! Eu ajudo.
— Não, de maneira nenhuma. Apenas informe ao senhor Uckermann que a decisão de armazenar a bebida na despensa foi da senhorita.
— Ele vai ficar sabendo. — E ficaria orgulhoso, eu tinha certeza.
Depois de decidido o local, quatro altas pilhas se formaram na parede com manchas escuras no fundo da despensa. O entregador foi embora reclamando baixinho.
Encontrei Maite à minha espera na sala de leitura e a ajudei a preparar as dezenas de pequenos arranjos de flores coloridas que seriam colocados nas mesas do banquete no dia seguinte.
— Guardei o presente de Christopher em seu novo quarto — contou Maite, me estendendo um ramo de lavanda. Ao menos eu achava que era lavanda.
— Valeu. Você ainda acha que ele não vai desconfiar de que comprei fiado?
— Duvido que isso lhe passe pela cabeça.
— Espero que você esteja... — mas me detive quando ouvi um bater de portas.
Madalena entrou na sala de leitura. Gomes apareceu logo em seguida. A governanta estava tão furiosa que não notou nossa presença atrás da pilha de buquês.
— Senhor Gomes — disse Madalena —, eu nunca precisei de ajuda para coisa alguma. Não seria numa ocasião como o casamento do senhor Uckermann que careceria de seus préstimos.
— Não vou fugir de minhas responsabilidades, senhora — avisou ele.
— Com todo respeito, senhor, essa responsabilidade é minha. Eu cuido da casa, e o senhor, dos assuntos do patrão.
— E o que acha que é o casamento dele, minha senhora? Estou tentando fazer com que o senhor Uckermann se sobrecarregue o mínimo possível. Ele anda tão atarefado que certamente ainda não ouviu os boatos que circulam na vila. Seria bom que alguém o prevenisse quanto aos rumores.
Madalena arfou.
— O senhor não ousaria preocupar o rapaz com mexericos descabidos!
Não na véspera do casamento dele! — ela colocou um dedo imperioso na cara do mordomo. — O senhor o viu sofrer por causa da senhorita Dulce.
Como acha que ele vai reagir quando ouvir tais boatos?
Ai, meu Deus, que boatos eram esses que o Gomes queria contar para o Christopher, e a Madalena, não? O que eu tinha aprontado agora?
Inesperadamente a cena após meu quase atropelamento voltou à minha mente. A Cara de Cavalo tinha dito alguma coisa. O que era mesmo?
Ah, sim. Algo sobre o que diziam ser verdade. Podia apostar que era disso que a Madalena e o Gomes falavam. Mas o quê? O que era verdade?
— Creio que o patrão gostaria de ser colocado a par. Não falo apenas por causa da senhorita Dulce — continuou ele, esfregando a testa.
— A senhorita Maite é prudente e não está de casamento marcado — disse Madalena —, não é com ela que devemos nos preocupar. Isso se houver razão para nos alarmarmos. Esqueça esse assunto por ora, senhor Gomes. Temos muito trabalho pela frente.
— Se é assim que pensa...
Maite e eu espiamos por sobre as rosas. Gomes abriu a porta para a mulher passar e fez uma rápida mesura. Madalena, arrastando as longas saias, pegou a bandeja com a jarra de vinho vazia sobre a mesinha no canto e foi embora. A porta foi fechada logo em seguida.
— De que boatos eles estavam falando? — perguntou Maite, atormentada.
— Eu tinha esperança de que você soubesse alguma coisa — confessei.
— Ninguém comentou nada comigo. Nem mesmo madame Georgette.
Era preocupante. A costureira adorava uma fofoca e sabia tudo o que acontecia na vila. Tentei não dar importância ao assunto, mas Gomes parecia muito aflito, e Madalena, apesar das desculpas, soara um pouco temerosa demais para o meu gosto. E o mordomo achava importante que Christopher soubesse, por minha causa. Fiz um esforço tremendo para me recordar de meu comportamento em público nas últimas semanas. Não, nada com que eu devesse me preocupar. Bom, eu achava que não.
Terminamos com as flores perto da hora do jantar. Eu segui para o quarto ainda intrigada com a conversa dos empregados e encontrei a banheira já à minha espera, de modo que não demorei muito no banho.
Assim que terminei de me vestir, alguém bateu à porta.
Christopher e o dr. Almeida me saudaram com uma pequena reverência.
— O doutor veio refazer o curativo — anunciou Christopher.
— Boa noite, senhorita Dulce — saudou-me o médico.
— Que bom que veio. A faixa acabou molhando durante o banho e agora tá pinicando. — Dei um passo para o lado para lhes dar passagem.
— Vamos ver — disse ele ao entrar. Christopher o seguiu.
Eu me sentei na cama e o médico começou a desenrolar o tecido úmido que cobria o ferimento.
— Muito bom — o dr. Almeida assentiu em aprovação. — Está cicatrizando muito bem e não inchou, sinal de que não houve infecção.
Ao ver a cicatriz avermelhada, não a achei tão boa assim, mas, se o médico estava dizendo, quem era eu para discutir. Christopher, contudo, reagiu de forma diferente da minha, suspirando aliviado.
Ergui a cabeça, rindo.
— Você vai ter cabelos brancos antes dos trinta se continuar se preocupando comigo desse jeito.
— Quem dera eu fosse capaz de me preocupar menos, meu amor.
— Senhor Uckermann — Gomes chamou da porta do quarto. — A encomenda acaba de chegar, senhor.
— Bem a tempo. — Christopher levou a mão ao bolso, mas, quando não encontrou o que procurava, seu rosto se contorceu um pouco.
— Que encomenda? — perguntei para me distrair da tentação de pegar o relógio que eu tinha comprado só para não ter de vê-lo assim tão triste.
Só mais um dia e aquilo teria fim, tentei me convencer.
— Detalhes de última hora — disse ele. — Se importa se eu me ausentar por um momento?
— Vai lá. Amanhã essa bagunça toda acaba. — E com isso eu quis dizer todos aqueles compromissos que sempre levavam Christopher para longe de mim.
Ele se inclinou antes de me deixar a sós com o homem que me achava uma doida varrida. Tenho de admitir que, apesar dos meus receios quanto às suas intenções, o dr. Almeida era muito competente e trabalhava com precisão e agilidade, colocando mais pomada na ferida.
— Em poucos dias poderemos livrá-la do unguento — entusiasmou-se.
— Que bom. Eu não combino muito com amarelo.
O médico acabou rindo.
— Não com esse tom de amarelo — concordou. — Quando partirão para as montanhas?
— Acho que na segunda. Christopher não quer viajar durante a noite.
— Ele faz bem. As estradas encontram-se em situação precária devido às chuvas. — Ele fechou o potinho de pomada e alcançou uma atadura. — Soube que madame Georgette teve muito trabalho para confeccionar seu vestido.
— Ah, eu não diria trabalho. Foi mais um choque. E como sabe disso? — questionei surpresa.
— Ela comentou com minha esposa. Seu casamento é um dos assuntos mais debatidos na vila. A senhorita atiça a curiosidade das pessoas. Talvez seja esse seu aspecto de mulher à frente de seu tempo. — E enrolou uma atadura nova em meu antebraço.
— Aonde quer chegar com esta conversa, doutor? — avaliei sua expressão despreocupada.
— Sou apenas um curioso que ouviu uma história muito interessante e não compreendeu bem o que escutou. Em um primeiro momento —
acrescentou amarrando a faixa, mas seu olhar escrutinava meu rosto.
— E num segundo momento?
Ele inclinou a cabeça para o lado, franzindo a testa.
— Acho a senhorita uma mulher intrigante. Gostaria muito de poder
eliminar a má impressão que tem de mim.
— E assim ganhar minha confiança e descobrir mais sobre a minha
história. — Não tinha sido uma pergunta.
— Apenas se estiver disposta a contar — ele esboçou um sorriso.
— Não estou, mas valeu por mudar de ideia e não ficar pensando que
eu sou uma doida que precisa de internação imediata.
Ele riu, fechando a maleta.
— Sua franqueza às vezes é desconcertante, senhorita Sofia.
Bom, eu já tinha sido acusada de coisas piores.
Ele se levantou e eu fiz o mesmo. No entanto, a conversa que eu
escutara na sala de leitura ainda dominava meus pensamentos. Resolvi tentar a
sorte.
— Dr. Almeida, o senhor ouviu boatos sobre mim?
— Além dos relacionados ao casamento, nada mais. Por quê? — suas
sobrancelhas subiram e um conjunto de vincos decorou sua testa.
Meus ombros cederam. Eu não levava muito jeito para detetive, afinal.
— Nada. Esquece.
Eu o acompanhei até a sala principal, onde encontrei Maite. Meu noivo apareceu instantes depois e insistiu que o médico ficasse para o jantar, mas, dada a bagunça que se instalara na casa, ele recusou alegando que a esposa o aguardava.
Como de costume, Christopher me acompanhou até a sala de jantar. Madalena não deu as caras naquela noite, ocupada com o banquete do dia seguinte. A comida estava fantástica como sempre, só que meu estômago estava embrulhado. Christopher percebeu.


— É apenas uma cerimônia, Dulce — ele garantiu.
— Uma mera convenção — adicionou Maite, entusiasmada.
— Que alterou a rotina de todos na casa — apontei.
— Apenas porque quero que tudo seja... — Christopher se deteve.
Pop.
Pop. Pop.
— O que é isso? — ele procurou em volta.
— Vem da cozinha — comentou Maite, franzindo a testa. — Parece champanhe sendo aberto.
Pop. Pop. Pop.
— Mas por que estariam abrindo champanhe a essa hora? — Os olhos de Christopher se arregalaram. — Meu Deus, esqueci de verificar se o champanhe foi entregue! Preciso avisar aos empregados que mandem a encomenda direto para a adega. A bebida é muito frágil e abre com facilidade. Com licença.
O champanhe. Não o vinho.
Pop.
Aquilo não podia estar acontecendo.
Pop. Pop. Pop.
Mas estava!
— Christopher, peraí — chamei, quando ele se levantou. — Eu não sabia que...
Po-po-po-po-po-po-po-po-po-po-po-po-po-pop.
Christopher não esperou que eu terminasse. Disparou em direção à cozinha. Eu fui atrás para ver o que estava acontecendo. Ele derrapou ao fazer a curva para entrar na despensa, se agarrando ao batente para não cair. Assim que cruzei a porta do quartinho, uma rolha passou zunindo a centímetros da minha orelha.
— Meu Deus! — exclamei horrorizada.
A despensa se transformara numa zona de guerra.
Merda.




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Autor(a): Fer Linhares

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Estava um verdadeiro inferno ali. Rolhas voavam como balas perdidas, ricocheteando nas paredes e no teto. O champanhe dourado escorria como chafariz das garrafas que explodiam sem motivo. O líquido empoçava no chão e lambia sacos de farinha, açúcar e o que mais encontrasse pela frente.Christopher cuspiu um palavrão.&md ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 90



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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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