Fanfics Brasil - Capítulo 17 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 17 (2ª Temporada)

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Enquanto Christopher se arrumava, vasculhei a memória à procura de sinais, ou ao menos de uma pista do que pudesse estar preocupando Christopher daquele jeito.
Exceto meu quase atropelamento, não encontrei mais nada. Por isso decidi que arrancaria dele o que quer que fosse durante o piquenique que eu havia planejado, nem que para isso eu tivesse de... não olhar para Christopher e assim não me deixar seduzir por aqueles olhos indecentemente brilhantes.
Eu estava na cozinha — que ainda não voltara ao normal — esperando-o terminar o banho, e Madalena e Gomes, com a ajuda de mais dois empregados, tentavam colocar ordem no lugar e não me deixavam chegar perto de nada por motivos de segurança — ninguém nunca me permitiria esquecer o episódio das rolhas. Sendo assim, Madalena se ofereceu para
preparar a cesta com guloseimas para o piquenique, mas, antes disso, ela e Gomes se puseram lado a lado em posição de sentido. Os dois empregados, Sebastião e Vitório, fizeram o mesmo. Os quatro ficaram me olhando em expectativa.
— O que foi? — eu quis saber.
— Estamos prontos para receber suas ordens, senhora Uc... — começou Madalena, mas Gomes lhe deu uma leve cotovelada. — Patroa.
— Como deseja que a casa funcione de agora em diante? — o mordomo ajudou.
— Ah! — Os ofícios da senhora Uckermann. Depois de hesitar e ponderar qual seria a melhor estratégia a seguir, soltei, numa voz firme: — Muito bem, eu quero que todos vocês façam tudo exatamente igual ao que sempre fizeram. Sem tirar nem pôr.
Até que não foi tão difícil assim.
— Mas, senhora Uckermann... — Madalena interveio.
— Dulce — suspirei desanimada.
— Patroa — ela recomeçou. — A senhora deve nos dizer como deseja que a casa seja administrada. O que planejou para as refeições? Se desejar, pode me passar um cardápio, e eu a atenderei da melhor maneira possível.
— Quero que continue fazendo o que sempre fez. É tudo uma delícia, Madalena.
Ela bufou.
— A senhora precisa especificar!
— Tá bom, se eu quiser pizza toda sexta, você faz?
— Pizza? — ela perguntou, coçando o braço. — Desconheço esse prato, mas, se a senhora me disser como é preparado...
— Nem adianta. Eu não sei nada de cozinha. Tá vendo? É melhor continuar seguindo o cardápio de antes.
— E quanto ao restante? A patroa precisa dizer alguma coisa, nos dar ordens. É a sua obrigação! — ela choramingou.
Parecia importante para ela e para os outros que eu lhes delegasse alguma tarefa. Eu me sentei na parte de baixo do fogão à lenha, refletindo.
— Já sei! Quero que passem as coisas do Ian para o meu quarto.
A boca de Madalena se escancarou na mesma proporção que os olhos de Gomes.
— A senhora não gostou da forma como arrumei o quarto do patrão?
— Madalena quase chorou.
— Não! Quer dizer, sim! — sacudi a cabeça. — Quer dizer, eu adorei, Madalena, o quarto ficou lindo, mas tá errado. Christopher me contou que é costume por aqui o casal ter quartos separados e tudo mais, mas de onde eu vim não é assim que funciona. As coisas do meu marido e as minhas vão ficar em um único quarto. O nosso.
— Mas, senhora, o quarto não acomodará todas... — começou Gomes, ao mesmo tempo em que Madalena soltou:
— Não tem cabimento o patrão dividir as gavetas com as suas necessidades femininas. Seria indecoroso!
— Um ultraje! — completou Gomes.
— Vocês estão falando daquela pochete? Aquilo que parece uma bolsinha, só que de crochê, com umas fitas de cetim e tipo uma cauda, ou daquelas esponjinhas?
— Virgem Santíssima! — murmurou Gomes, chocado, o rosto adquirindo um esquisito tom roxo. Sebastião e Vitório se entreolharam e começaram a rir, tentando disfarçar a diversão com crises de tosse.
— Nem mais uma palavra, senhora Uckermann! — Madalena escondeu o rosto corado no avental enquanto Gomes fazia uma reverência apressada e empurrava os dois empregados para fora da cozinha gaguejando um “co-cocom licença”.
Fiquei olhando eles desaparecerem sem entender nada, contudo algo me dizia que eu tinha falado alguma coisa inapropriada. Ou muitas coisas, dado o rubor que se espalhava pelo rosto e pescoço da governanta. Eu podia jurar que, se fosse possível, até os cabelos de Madalena estariam ruivos àquela altura.
Eu estava pronta para lhe perguntar o que eu havia dito de tão errado quando Chistopher entrou na cozinha com os cabelos ainda úmidos, uma camisa limpa sob o casaco.
— Estou pronto, meu amor — anunciou e então se deteve, olhando para a governanta. — Aconteceu alguma coisa, senhora Madalena?
— Na-não, patrão. — A mulher deixou cair o avental e voltou a trabalhar na cesta de palha.
Christopher a examinou mais atentamente, percebendo o tom escarlate da mulher, então seus olhos voaram imediatamente em minha direção.
— Não me pergunta. Estou tão perdida quanto você — me defendi. — Acho que eu disse alguma coisa errada, só não sei bem o quê.
Christopher reprimiu uma risada.
— A respeito de que falavam? — ele quis saber.
— Sobre...
— Dulce! Nem mais uma palavra sobre isso em minha cozinha! — Madalena chiou, batendo o pé. Aquela foi a primeira vez que ela me chamou pelo nome. Ainda sem entender o que tanto a enfurecera, me peguei pensando que deveria irritar Madalena com mais frequência.
— Humm... — Meu olhar passou dela para Christopher. — Acho melhor deixar o assunto pra lá.
— Certamente — a mulher concordou.
— Avisa a Maite que não voltaremos pro almoço — pedi a ela.
— Não? — perguntou Christopher, hesitante. Havia um pouco de tensão em seu rosto. — Vamos nos ausentar por quanto tempo?
A reação dele não havia sido a que eu esperara. Christopher não se animou, não correu comigo porta afora. Na verdade, tive a impressão de que ele procurava uma maneira de me convencer a esquecer o piquenique. O que estava acontecendo?
— O resto do dia. A gente volta antes de escurecer. Agora vamos antes que sua tia apareça e mele nosso passeio.
Ele se deixou arrastar pelo piso áspero, ainda que relutante, e, com o rosto branco feito cera, aceitou a cesta que Madalena lhe ofereceu.
— Se a tia dele der ordens descabidas, finja que não ouviu — eu avisei a ela.
— Sim, senhora Uckermann.
De mãos dadas com ele, eu o fiz correr para chegarmos logo ao estábulo, temendo que ele encontrasse uma forma educada de recusar meu convite. Storm, o cavalo que era um amigo para mim, estava selado e impaciente à nossa espera.
— Onde pretende me levar? — perguntou ao me acomodar na sela e dar uma olha para o céu azul, sem nuvens. Então me entregou a cesta antes de montar com aquela elegância que sempre me causava admiração.
— Não sei ainda. Vou deixar Storm decidir.
— Dulce, não tenho certeza se é uma boa...
— Vamos, Storm — dei tapinhas no pescoço do cavalo, que começou a se mover.
Christopher passou um braço bem firme pela minha cintura e, com a outra mão, segurou as rédeas, apenas por hábito. Meu senso de direção nunca foi lá essas coisas, então demorei um tempo para descobrir nosso destino. Um dos meus lugares preferidos na fazenda, mas que, devido à loucura dos preparativos para o casamento, visitamos poucas vezes.
O riacho.
Christopher hesitou quando chegamos, olhando ao redor como se esperasse que um tiranossauro saísse detrás das moitas gritando buuuu!
— Meu amor, creio que estamos longe demais. Não prefere fazer o piquenique em casa? — sugeriu esperançoso.
— Um piquenique no meio da sala com a sua tia reclamando de qualquer coisa? Não, obrigada.
— Poderíamos fazer no escritório, ou talvez em seu quar... — Estreitei os olhos. Ele se corrigiu, clareando a garganta: — No nosso quarto.
Segurei a cesta com as duas mãos, estudando sua expressão.
— Por que é que você não quer ficar sozinho comigo, Christoher?
— Meu Deus, Dulce! Como pode pensar um absurdo desses? — ele esfregou a testa. — É tudo que quero, apenas temo que chova e você acabe se resfriando outra vez.
Ah! Agora aquela olhada que ele tinha dado para o céu um pouco antes fazia certo sentido. Eu pegara um baita resfriado em meu primeiro baile, depois de passar boa parte da noite debaixo de chuva. Christopher quase enlouquecera de preocupação.
— É só isso, então? — Ele não estava escondendo nada. Estava apenas preocupado com a minha saúde. O alívio varreu meu corpo.
— Claro que sim. — Ele tomou a cesta das minhas mãos enquanto me beijava, criando aquela bruma de confusão em minha cabeça. — Adoro sua companhia e não tenho a intenção de dividi-la com ninguém. Apenas me preocupo com sua saúde. Se o que deseja é estar aqui, então vamos ao piquenique, mas ao menor sinal de nuvens...
— Ok, ok — interrompi, erguendo as mãos e rindo. — A gente volta pra casa voando.
— No mesmo instante — emendou ele, muito sério.
— Mas você sabe que tá exagerando, não sabe?
— Não vejo como me preocupar com a sua saúde possa ser um exagero.
Na verdade, creio que eu me preocupo mais com isso do que você mesma.
Ele estendeu a toalha no chão, perto da margem, e acomodou a cesta numa das pontas, para que o tecido não fosse levado pelo vento. Estávamos em maio, a temperatura já havia caído, e eu sabia bem como aquela água podia congelar os ossos, mas, mesmo assim, estava empolgada com a ideia de mergulhar nela com Christopher ao meu lado. De preferência sem tanta roupa.
Para nossa segurança, é claro. Não que eu estivesse doida para vê-lo sem tanto tecido nem nada disso.
Mas, em vez de começar a festa, por assim dizer, Christopher me fez sentar sobre a toalha e me serviu um pouco de vinho. Depois investigou o conteúdo da cesta, retirou uma tábua, uma faca pequena, desembrulhou o queijo redondo de uma toalhinha branca e se pôs a picar quadradinhos perfeitos.
Storm pastava ali perto.
— Isso é o mais próximo do paraíso que consigo imaginar — falei, erguendo o rosto para o céu e deixando o sol aquecer a minha pele.
— Eu discordo, e acho que já sabe disso. — Ele estendeu a mão para colocar um pedacinho de queijo em minha boca. Era delicioso.
— Você entendeu o que eu quis dizer. Apenas você e eu, sem ninguém se metendo na nossa vida ou batendo na porta do nosso quarto no meio da noite.
Ele se deteve e soltou um longo suspiro.
— Dulce, eu realmente lamento pelo comportamento de minha tia.
Quando Maite enviou o convite, jamais imaginei que ela pudesse aceitar. Ela e Alfonso moram muito longe, e tia Cassandra vive reclamando de dores nas juntas. Deduzi que a viagem seria demais para ela. Mas, infelizmente, me enganei.
— Ela foi casada com o irmão do seu pai?
Ele fez que sim.
— Alfonso, assim como o filho, era o irmão mais velho do meu pai.
— E a Cassandra sempre foi assim tão... insuportável?
— Desde que consigo me lembrar — ele cravou a faca na tábua. — Meu pai gostava muito de visitar o irmão, obviamente, desde que tia Cassandra não estivesse por perto.
Eu ri.
— Então seu pai era um homem de muito bom senso.
— Era sim. — E atirou um quadradinho de queijo na boca. — E bastante paciente também. Quando tia Cassandra resolveu passar uma temporada conosco, logo depois de ficar viúva, meu pai quase enlouqueceu.
Esteve em via de chamar o cocheiro e colocar tia Cassandra dentro da carruagem à força, mas minha mãe conseguiu dissuadi-lo, e, por fim, ele sentiu pena da cunhada e suportou todos os seus desmandos por quase cinco meses.
— Só espero que desta vez ela não pretenda ficar tanto tempo. — Beberiquei o vinho. — Quantos anos você tinha na época?
— Onze. Alfonso é um ano mais velho. Deixamos a criadagem em pânico. — Um brilho travesso iluminou seus olhos.
— E eu aqui pensando que você já tinha nascido um cavalheiro... — sacudi a cabeça. — Nos últimos tempos descobri que você foi uma criança terrível, propensa a se machucar, e que chutava o balde na balada.
Sua testa vincou.
— Perdão?
— Bebia demais em festas e bailes — expliquei.
— Não foram tantas vezes assim. Apenas alguns deslizes. O senhor Gomes foi de muita ajuda nessa época. E a senhora Madalena...
— Quase arrancou seu couro? — arrisquei.
— Algo assim — ele riu. — E, pelo olhar dela pouco antes de sairmos, estava prestes a arrancar o seu também.
Fiz uma careta, repousando sobre os cotovelos.
— Eu sei. Ela até me chamou de Dulce! Só não sei bem o que fiz de errado. Pedi para ela e o seu Gomes levarem suas coisas para o nosso quarto, e aí eles surtaram.
Christopher inclinou a cabeça.
— Entendo que não é o costume, mas me parece uma reação exagerada.
— Eu também achei. Ah, eu perguntei também sobre uma bolsa esquisita e umas esponjinhas que encontrei numa gaveta da cômoda.
Christopher engasgou, quase cuspindo o vinho.
— Você perguntou o quê?
— E aparentemente eu não devia.
Christopher começou a gargalhar, e, por mais que eu adorasse vê-lo daquele jeito, relaxado e feliz, meu rosto esquentou. Eu amava ouvir a risada dele, me aquecia por dentro e por fora, mas naquele momento não foi assim. Eu me senti envergonhada, sem graça e fora de lugar.
— Imagino quanto o senhor Gomes... Meu Deus, Dulce! — exclamou ele entre risos.
Minhas bochechas arderam ainda mais, e desviei o olhar para meus sapatos baixos inacreditavelmente desconfortáveis.
— É muito chato alguém ficar rindo à sua custa quando você não tem ideia do que fez de errado. — Eu me sentei, abraçando os joelhos.
Christopher parou de rir no mesmo instante.
— Perdoe-me, meu amor. Lamento muito. — Ele alcançou a minha mão e beijou o dorso. — Não tive a intenção de zombar de você. De maneira alguma.
Apenas achei a situação... engraçada. Gostaria de ter visto a cara de meu mordomo quando abordou tal assunto.
— Qual assunto?
— As esponjas femininas — ele falou sem jeito.
— Que servem para... — instiguei.
— Bem... são usadas para... — clareando a garganta, ele desviou o olhar para sua taça. — No caso de... hã... quando um casal não deseja ter filhos imediatamente, a mulher faz uso das esponjas.
— Jura? De que jeito?
Foi a vez dele de corar. Corar muito!
— Pelo que ouvi dizer... — começou, muito embaraçado. — Embebendo a esponja em vinagre.
— Tipo uma simpatia ou coisa assim? Coloca as esponjas no vinagre e a mulher não engravida?
Christopher coçou a cabeça, olhando para os lados, parecendo louco para mudar de assunto.
— Bem... não exatamente. Para ter eficácia, a esponja deve... Veja bem...
É necessário que exista uma barreira para que as... sementes não criem raízes e... a esponja serve para isso.
Meus olhos ficaram do tamanho de um pires enquanto eu me lembrava das esponjas com mais detalhes. O cordão amarrado ao centro. Longo e duplo, parecido com um...
Ah. Meu. Deus.
— Você quer dizer que devo colocar aquilo encharcado de vinagre dentro de mim? — Ah, não. Não mesmo. De jeito nenhum! Havia um limite para tudo, e aquele era o meu.
— É o que as damas utilizam quando não querem gerar um herdeiro — Christopher deu de ombros, voltando a picar o queijo.
— Mas isso é um absurdo! A taxa de eficácia deve ser ridícula de tão... ridícula! — resmunguei revoltada. — Eu não vou usar as esponjas, Christopher.
— Não é obrigatório. Mais vinho? — ele ergueu a garrafa.
— O que você quer dizer com não é obrigatório? Que a gente devia ter filhos, tipo, já?! — perguntei em pânico, estendendo a taça.
Tudo bem. Ter filhos era o meu limite. Como uma mulher poderia engravidar ali naquele fim de mundo sem recursos médicos? Por causa de uma simples sutura me drogaram com heroína. Uma cesariana devia ser quase impossível, o que só deixava a alternativa aterrorizante, cheia de gritos e muito sangue de o bebê sair pelo mesmo orifício por onde entrou. E isso estava completa e totalmente além dos meus limites.
Não que Christopher precisasse saber de nada disso.
Esvaziei minha taça.
— Christopher, eu... — comecei, cautelosa. — Eu ainda preciso me adaptar melhor a tudo isso, aprender a cuidar de mim primeiro, para depois pensar em... Eu não...
— Pode, por favor, tentar relaxar um pouco? Eu não quis dizer nada disso.
Negligenciei meus negócios por muito tempo, e agora estou soterrado em trabalho. Muito ainda tem de ser feito antes de aumentarmos nossa família.
Aquilo me surpreendeu. Christopher estava sendo franco, não restava dúvidas. E o fato de ele não estar planejando uma gravidez me deixou aliviada, porém o restante de sua explicação fez meu cérebro trabalhar depressa e entender o que ele realmente estava dizendo.
— Você não estava mentindo — falei sem pensar. — Você está mesmo cheio de trabalho e problemas, por isso não podemos viajar agora.
Tudo bem, confesso que não acreditei nele quando disse que nossa lua de mel seria adiada por problemas no estábulo. Como é que eu poderia acreditar? Na véspera do nosso casamento, tudo estava em ordem, e no dia seguinte não estava mais? Mas, droga, ele tinha sido sincero! Problemas acontecem da noite para o dia, certo? Ele não desviara o olhar quando me contou sobre o adiamento por estar escondendo alguma coisa de mim. Não, longe disso. Ele não me olhara nos olhos por vergonha. Christopher estava em dificuldades financeiras!
E ele não precisava me dizer — e eu podia apostar minha vida que jamais diria — que eu fora a culpada por seus prejuízos. O período em que fomos forçados a nos separar, logo depois de nos apaixonarmos loucamente, fora terrível para nós dois. Eu não fiz nada além de procurar
um jeito de voltar para ele, e Christopher passara os dias trancafiado em seu quarto na companhia de uma garrafa de conhaque. Ele abandonara os negócios por mais de dois meses. Um nó na boca do meu estômago fez minha cabeça girar.
— Não, eu não estava — ele respondeu, se concentrando muito na taça na qual servia mais vinho.
— Por que não me contou antes? — murmurei.
Ele me entregou a bebida e, por fim, ergueu os olhos.
— Não quis perturbá-la com assuntos enfadonhos. E não há razão para me olhar desse jeito, Dulce. Está tudo bem.
— Você teve prejuízos, não teve?
Com um suspiro aborrecido, ele respondeu:
— Alguns, mas nada que eu não possa suportar.
— Ai, que droga, Christopher! Você comprou meio mundo pra mim, deve ter gastado uma fortuna com o casamento, isso sem falar na conta do telhado da igreja que será astronômica, aposto! — E eu ainda comprei o maldito relógio,que seria pago com as economias da casa. Merda. — Por que não me avisou que estava em dificuldades?
— Não estou em dificuldades! E pare de pensar que meus prejuízos estão relacionados a você. Ninguém me obrigou a abandonar meus negócios. Foi uma decisão minha, Dulce. — Ele nem ao menos piscou para responder, exatamente como eu sabia que faria.
— Decisão sua o cacete! — Tentei me levantar, mas ele me impediu, passando um braço pela minha cintura, me prendendo a ele. Nós nunca chegaríamos a um consenso, percebi pela forma teimosa como ele erguia o queixo. Descansei as mãos em seus ombros. — E agora, o que faremos?
Precisamos fazer alguma coisa! Cortar gastos, reduzir custos onde der... Ei! Posso te ajudar com isso, não quero me gabar, mas sou muito boa com números.
Christopher sorriu.
— Fico muito grato por sua preocupação, mas, eu já disse, não é nada.
Não permitirei que lhe falte coisa alguma.
— E você acha que é com isso que estou preocupada?
— Eu sei — ele soltou o ar com força, focando o olhar no meu. — Ouça-me, Dulce, não se preocupe com o nosso futuro. Não há razão para tal desperdício de tempo. Apenas confie em mim. — Ele ergueu uma das mãos e afastou alguns fios de cabelo que me caíam no rosto.
— Mas, Christopher...
— Não quero passar a manhã de hoje discutindo sobre finanças, filhos ou minha tia — atalhou ele. — O que quero é esquecer o restante do mundo e me concentrar em você. Somente em você. Pensei que esse também fosse o seu objetivo.
Àquela altura foi tão difícil formular um pensamento com ele me olhando daquele jeito, me abraçando daquela maneira...
Porém, de algum modo, consegui perguntar:
— Promete que vai me manter a par de tudo daqui pra frente? — Brinquei com as lapelas de seu paletó.
— Prometo. — Ele abaixou a cabeça e pousou um beijo delicado na ponta do meu nariz. — E lhe asseguro que tudo ficará bem. Apenas confie em mim — pediu de novo.
Eu soltei um longo suspiro. Confiava completamente em Christopher. Era em mim que não dava para confiar. A ideia de comprar o relógio tinha sido péssima, no fim das contas. Se eu pretendia ajudar meu marido a economizar, como poderia arrumar dinheiro extra para pagar o joalheiro?
Percebendo minha inquietação, Christopher se empenhou em afastá-la da minha cabeça usando uma técnica muito eficaz (que consistia em beijos lentos e molhados distribuídos pelo meu ombro e pescoço), e não demorou muito para que uma névoa recobrisse meu cérebro afugentando qualquer pensamento que não fosse ele.
Seus dedos brincaram com um botão do meu vestido, abrindo-o. E depois mais um. E outro. Eu fiz o mesmo com sua camisa, embora sem tanta gentileza, e me livrei dela e do casaco rapidinho, passando-os por seus ombros bem torneados, e em seguida me atirei sobre ele. Um calor súbito se inflamou dentro de mim.
— Meu amor, não creio que possamos fazer isso aqui, em plena luz do dia — ele argumentou com os lábios colados aos meus, mas uma de suas mãos encontrou o caminho por dentro do meu decote, então achei que não tinha problema ignorar seu comentário.
Christopher não se opôs mais, em vez disso, inverteu nossas posições, para que eu ficasse por baixo dele. Então nossas peças de roupas foram saindo — as minhas voando —, até que de repente éramos apenas nós dois, sem barreiras, naquele mundo de faz de conta.
Sem motivo algum, Christopher se retesou e parou o que estava fazendo em minha barriga.
— Vem vindo alguém — murmurou ele, saindo de cima de mim.
— O quê? Agora? — perguntei, zonza, me apoiando nos cotovelos. A brisa fria tocou minha pele nua, levando embora o calor de Christopher. — Tem certeza?
Não tô ouvindo nada.
— Tenho. Depressa, vista isso! — ele jogou o vestido em minha direção e as saias cobriram minha cabeça. Puxei a peça e soprei os fios de cabelos que atacaram meu rosto.
E só então ouvi o som de patas pesadas em ritmo acelerado, cada vez mais perto. Christopher ainda lutava para entrar em suas calças. Eu fiquei de pé no mesmo instante, procurando o buraco para passar o vestido pela cabeça. Eu já podia ouvir o resfolegar do cavalo agora. Abandonei a roupa.
— Não vai adiantar, Christopher! — Peguei sua mão e o puxei para a margem do riacho.
— Dulce, não. Precisamos...
— Não vai dar tempo!
Ele gritou quando o empurrei na água e pulei logo atrás. A temperatura era quase congelante, me deixando com a sensação de que mil agulhas perfuravam minha pele. Subi até a superfície, alisando os cabelos para longe do rosto, e procurei Christopher. Ele emergiu logo atrás de mim, mas, em vez de estar furioso como eu temia, ele ria.
— F-frria! — gemi.
— Para caralh/o! — rebateu.
Eu me espantei, mas menos do que da primeira vez em que o ouvi proferir um palavrão. Christopher tinha uma bela biblioteca e uma incrível coleção de Bocage. Peguei alguns exemplares emprestados sem que ele soubesse, já que Christopher não queria que eu os lesse — e, sério, Bocage deve ter nascido na época errada, porque seus textos tinham tantos palavrões e obscenidades quanto as conversas do Rafa. E, para falar a verdade, fiquei espantada com o realismo das gravuras. Eram lindas, e, pelos desenhos, imaginei que fossem uma distração masculina, tipo uma Playboy do século dezenove.
Christopher chacoalhou a cabeça, antes de correr as mãos pelos cabelos. Amassa negra se tornou quase azul, os pelos macios em seu tórax brilhavam como se minúsculos diamantes estivessem incrustados ali, os pequenos mamilos arrepiados de frio. E havia ainda os bíceps extraordinários, enrijecidos e expostos, e, bom... meu cérebro meio que entrou em curto. Eu tinha algo para fazer, algo importante, mas não conseguia lembrar. Só fiquei ali, admirando aquele homem lindo, ensopado, nu e todo meu. Eu devia ter feito algo realmente formidável para merecer um cara como Christopher.
Alguma coisa como ter inventado a energia elétrica.
— Dulce, o que está olhando? — murmurou inquieto, me tirando do transe. Com duas rápidas braçadas, ele me alcançou.
— Tô chocada por você ter dito “caralho*”. Bocage de novo? — perguntei.
— Não posso acreditar que seja isso que a preocupa neste instante — ele riu. — Venha cá. Depressa!
Então ele me escondeu atrás de seu corpo. Eu gostei da ideia. Gostei demais. Já estava prestes a deslizar os dedos pelas montanhas e pelos vales de suas costas, esculpidas à perfeição, quando Christopher exclamou:
— Padre Antônio!
Reprimi um palavrão, me afundando ainda mais na água, segurando as laterais dos quadris imersos de Christophere colando minha testa no vão de suas costas, como se, com isso, eu pudesse me tornar invisível.
— Estava me dirigindo à sua propriedade, senhor Uckermann — disse o homem de um jeito alegre. — Espero que não se incomode em ter mais um convidado para o almoço.
— De maneira nenhuma, padre. Será muito bem-vindo. Por que não vai na frente? Maite providenciará um refresco para o senhor.
Houve uma breve hesitação.
— Não deveria ser a senhora Uckermann? — o sacerdote quis saber.
— Ela... — Christopher pigarreou. — Acredito que estará um pouco ocupada.
Eu cobri a boca com a mão e mordi o lábio para não rir.
Depois de uma longa pausa, de Christopher se enrijecer da cabeça aos pés, o tom de voz do padre mudou e se tornou gélido, quase brusco:
— Sim, posso ver que ela está mesmo ocupada. Vejo também que seus hábitos mudaram nos últimos tempos, senhor Uckermann. Não me recordo de o senhor ser tão... exibicionista. Ousaria perguntar o que poderia ter causado tamanho disparate, mas desconfio de que já conheço a resposta.
— Padre... — começou Christopher, mas o homem não permitiu que ele prosseguisse.
— É meu dever alertá-lo de que essa conduta é imprudente e beira a imoralidade. Se me permitir a intromissão e quiser dar ouvidos a um velho, tome cuidado, senhor Uckermann. Sua esposa ainda o levará à ruína se persistir com esse comportamento libertino.
Christopher soltou um suspiro exasperado.
— Com todo o respeito que lhe tenho, padre Antônio, esse assunto só diz respeito a mim e a ela.
— Está enganado, meu caro. Diz respeito à pobre menina que vive sob seus cuidados e que terá como modelo a jovem irresponsável escondida atrás do senhor.
Praguejei baixinho, mas não me movi. Não dava para simplesmente aparecer pelada na frente de um padre!
— Passar bem.
Permanecendo imóvel feito uma estátua, ouvi o trote do cavalo se afastar, até que Christopher relaxou os ombros e se virou, ficando de frente para mim.
— Sinto muito — me apressei.
— Pelo quê? — perguntou confuso.
Pensei um pouquinho a respeito.
— Por ter tirado a sua roupa? — tentei.
— Jamais vou desculpá-la por isso, Dulce. E fui eu que comecei. — Um sorriso cheio de malícia curvou sua boca para cima.
— Não dava tempo de abotoar o vestido. Pensei que ele não fosse me ver aqui atrás.
— E não viu, mas nossas roupas foram evidências mais do que suficientes — ele apontou para a margem com a cabeça.
— Ah! — Eu não tinha pensado nisso. — E o que a gente faz agora?
Ele enroscou o dedo em uma mecha do meu cabelo.
— Vamos sair dessa água fria para que você não adoeça de novo.
— Tô falando do padre Antônio, Christopher!
— Não faremos nada. Somos casados e ninguém pode nos condenar por estarmos apaixonados. Venha. — Ele me tomou pela mão, me conduzindo até a margem e me ajudando a sair da água.
Enquanto ele me secava usando a camisa, me peguei estudando sua expressão. Ele não estava nada satisfeito com o flagrante do padre Antônio, mas fazia o melhor que podia para não deixar isso transparecer. Eu o conhecia bem o suficiente e sabia que as palavras do homem a respeito de Maite o afligiam profundamente. Christopher era responsável por ela e sempre agira como tal.
Até eu aparecer na vida dele.
Seu empenho em encobrir a preocupação me alertou sobre algo que eu deveria ter notado havia muito tempo. Ele sempre assumia a culpa para si e, por consequência, me isentava dela. Percebi também que as coisas poderiam ficar ruins para Maite se eu não fizesse nada a respeito.
Já vestida e ainda observando Christopher, que agora abotoava a camisa praticamente ensopada, decidi que precisava me esforçar mais para não colocá-los naquela posição outra vez. Não permitiria que Ian se sentisse culpado por meus atos impensados e que Elisa tivesse uma mancha em sua reputação. Ela era uma princesa e sempre se comportava como tal. E Christopher merecia uma boa esposa. A melhor! Eu precisava a todo custo me tornar essa mulher perfeita, o exemplo de que Maite precisava.
Mas como diabos eu faria isso?




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Autor(a): Fer Linhares

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Na manhã seguinte, eu estava na cozinha amassando uma grande quantidade de abacate e banana. Madalena cuidava da comida e Maite me ajudava com a papa, já que meu braço ainda doía um pouco.Christopher descera ao estábulo para se assegurar de que o potro recém-nascido e Princesa estavam bem. Mas, antes de sair, ele me pe ...


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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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