Fanfics Brasil - Capítulo 22 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 22 (2ª Temporada)

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Querida Nina,
Sinto demais a sua falta. Tanto que às vezes mal consigo respirar. Queria ter notícias suas, mas tudo o que posso fazer é imaginar como estão as coisas por aí.
A esta altura, se você pudesse ler esta carta, já teria se dado conta de que consegui voltar para Christopher. Mas o meu “felizes para sempre” não anda lá muito bem.
Até o momento eu quase fui atropelada, levei ponto, usei droga sem saber e causei um incidente envolvendo mais de uma centena de garrafas de champanhe.
Ah, e o Christopher tem uma tia que anda fazendo da minha vida um verdadeiro inferno. Imagine uma lady Catherine de Bourgh, só que cheia de pelancas e duas vezes mais venenosa. Pois é.
Além disso, Madalena e Gomes me perseguem diariamente com perguntas que eu não sei responder.
Se quero que matem frango ou porco para o jantar (e desde então meu apetite por carnes desapareceu). Se desejo que arrumem o quarto pela manhã ou à tarde.
Se devem servir café, chá ou suco quando alguém aparecer. Quantos sacos de arroz devem comprar?
Como é que eu vou saber tudo isso, Nina? Eu nunca fui muito boa com essa coisa de cuidar da casa, e olha que o meu apartamento era tão minúsculo que se eu esticasse os braços tocaria as paredes de todos os lados. A casa do Christopher é uma mansão!
Para completar, Christopher e eu tivemos nossa primeira briga de verdade dias atrás. Ele não quer minha ajuda para nada, e eu não sei o que fazer. Compreendo que ele não faz por mal, que foi criado para ver a mulher como um bibelô, mas eu preciso me sentir útil e
necessária, e, exceto quando estamos juntos, me sinto inútil o tempo todo. Um peso a ser carregado, e você sabe melhor do que ninguém como eu odeio me sentir assim.
Estou preocupada com Christopher. Ele está diferente. Mais tenso e explosivo, como se estivesse sob muita pressão ou alguma coisa assim. Sei que ele está enfrentando problemas financeiros, mas não acho que seja isso a causa de tanto pânico. Às vezes sinto um pavor descabido crescer em seus olhos, mas ele nunca conversa comigo, só me abraça e me beija como se o mundo estivesse acabando. Na noite passada ele...
Interrompi o fluxo contínuo da caneta e observei o papel, sem saber como colocar em palavras o que acontecera naquela madrugada.
Chovia muito e eu acordei com o barulho de um trovão. Então me remexi na cama, buscando o calor de Christopher, mas encontrei apenas os lençóis amarfanhados. Eu me apoiei nos cotovelos e procurei pelo quarto. Ele estava nu em frente à janela e fechou as cortinas de forma brusca, para logo em seguida recuar, como se tivesse se deparado com um terrível monstro.
— O que foi? — perguntei com a voz enrouquecida pelo sono.
Christopher se assustou, girando sobre os calcanhares. Seu rosto tinha uma palidez atípica.
— A claridade estava me incomodando. Eu não queria acordá-la. Volte a dormir.
— Então volta pra cama.
Ele fez o que pedi. Subiu no colchão, deitou-se ao meu lado e encaixou o peito em minhas costas. Um estrondo ecoou perto dali, e Christopher me segurou com mais força.
— Você tem medo de tempo ruim, Christopher?
— Creio que agora tenho — ele admitiu sem vergonha alguma. Supus que a história que ouvira mais cedo, sobre a garota atingida por um raio, o tivesse impressionado.
— Relaxa, eu te protejo. — E me aconcheguei mais a ele.
Christopher deu um beijo no ponto sensível logo atrás da minha orelha.
— Me sinto seguro com você — murmurou ao meu ouvido. — Agora durma. É tarde.
Eu fechei os olhos, mas permaneci acordada acariciando o braço dele até a tempestade se dissipar, quase pela manhã, quando então a respiração dele se tornou cadenciada e profunda.
Era raro Christopher se mostrar tão vulnerável, e, por mais que parte de mim estivesse em êxtase por ser capaz de acalmá-lo em um momento como aquele, a outra se preocupava com o que podia estar se passando em sua cabeça. Não podiam ser apenas os problemas financeiros. Tinha de haver mais.
— Mas o que é isso?! — exclamou Madalena, me trazendo de volta ao presente. Larguei a Bic sobre a mesa e olhei para a mulher do outro lado da cozinha. Boquiaberta, Madalena examinava o vestido verde manchado de tinta. — O senhor Uckermann perdeu o juízo? Ele agora resolveu pintar seus vestidos?
— Mais ou menos... — Minha pele esquentou com a lembrança de como aquelas marcas tinham ido parar ali. O desenho do mata-borrão teve um destino ainda pior.
— Oh, céus! — Ela o largou ao lado da cesta e continuou separando as roupas que pretendia lavar. A camisa de Christopher veio em seguida. Depois as calças.
Ambas tinham marcas de dedos coloridos. Madalena engasgou. — O que... o que vocês dois...
Dobrei a carta inacabada e fiquei de pé. A cadeira protestou, rangendo contra o piso.
— Não pergunta, Madalena. Ou você vai ficar maluca com a resposta.
E... humm... acho que eu devia avisar que houve um pequeno acidente com o tapete do escritório outro dia. Mas foi sem querer. Juro!
— O que quer dizer com... — ela sacudiu a cabeça. — Não, a senhora tem razão. É melhor não saber.
— Com licença, senhora Madalena — disse um garoto franzino ao passar pela porta da cozinha. Suas calças eram curtas demais, e o rosto estava manchado de fuligem. Não era um empregado da fazenda. — Oh, bom dia, senhora Uckermann — ele se inclinou de leve assim que me viu.
— Oi.
— Bom dia, Quinzinho — Madalena abandonou as roupas sujas. — O que o traz à propriedade dos Uckermann?
— Um recado para a senhora Uckermann — disse, erguendo um pequeno retângulo branco.
Eu franzi a testa. Quem me mandaria recados? Eu não conhecia praticamente ninguém. Só podia ser da Najla ou da Suelen. Ou talvez do padre Antônio, com a conta do telhado.
— Quinzinho serve a família Albuquerque, senhora — explicou Madalena ao notar minha confusão.
— Ah. — Mas não foi nada consolador. O que a Valentina podia querer comigo?
Doida e ao mesmo tempo temendo o que descobriria, atravessei a
cozinha e peguei o bilhete. Como era de esperar, a caligrafia de Valentina era
pequena, perfeita e cheia de rococós, mas ao menos ela não fazia
coraçõezinhos nos is.
Querida Dulce,
Soube do adiamento da viagem e pretendo visitá-los em breve para ouvir as boas novas que decerto terão. No entanto, como a senhorita Najla não soube me informar a nova data de partida, temi desencontrá-la, e, por esse motivo, estou sendo impertinente e a incomodando agora. Lamento muito pela intromissão, mas seria bondosa e entregaria ao criado um daqueles vidros do produto miraculoso para os cabelos antes de partir? Suelen não fala em outra coisa, e eu gostaria de ter a chance de experimentá-lo.
Sinceramente,
Valentina
Caramba! Meu condicionador estava bombando no século dezenove!
Ainda que as pessoas me achassem esquisita, meu creme não era.
— Espera só um minuto — falei ao rapazote. — Vou pegar o que ela quer e já volto.
Fui até o quarto e levei a carta de Nina comigo, colocando-a dentro de um livro — nada menos que Emma, uma edição belíssima em três volumes com capa de couro almofadada. A biblioteca de Ian era mais valiosa que os tesouros de Alexandria! —, que deixei sobre a cômoda. Peguei a última garrafinha de condicionador sobre o toucador e me apressei.
Quando fazia o caminho de volta para a cozinha, encontrei Christopher deixando o escritório. E imediatamente escondi o frasco atrás das costas.
— Estava indo procurá-la — avisou ele, com um sorriso. — Terei de ir até a vila entregar o garanhão ao senhor Albuquerque e gostaria de sua companhia.
— Ótimo! Sua irmã saiu com a Anahí e eu tô morrendo de medo que sua tia me encontre. Eu tava escondida na cozinha até agora. Ela ainda não disse quando vai embora?
Ele quase riu.
— Não. Temo que a visita seja muito mais longa que minha paciência — suspirou. — Ah, esqueci de lhe entregar isso. — Christopher meteu a mão no bolso do paletó e retirou uma trouxinha marrom amarrada por um cordão fino e preto. Era pesada, e o metal ali dentro tilintou quando ele a colocou em minha palma. — Para as despesas da casa e as suas. Avise-me se precisar de mais.
— Certo. — E mordi o lábio para não gritar. Eu ainda não tinha conseguido me adequar ao cargo de administradora da casa. Não era justo aceitar o dinheiro quando Madalena e Gomes estavam fazendo todo o serviço.
Christopher me enlaçou pela cintura, chegando bem perto.
— Não faça essa cara, por favor. Nós já tivemos essa conversa antes. — Os cantos de sua boca se curvaram para cima. — E, se bem me lembro, sua alegação era sobre um homem oferecer dinheiro a uma mulher que não era sua. Você é minha, Dulce.
Não sei se foi a voz aveludada ou o tom sexy que ele empregou no final, ou se simplesmente eu não conseguia resistir àquele olhar. Fosse o que fosse, minha inquietação desapareceu.
Ainda me abraçando, ele deu alguns passos para trás e fui obrigada a segui-lo e, bom, eu tinha algo para fazer, mas meu cérebro se recusava a me dizer o que era. Não que isso fosse novidade quando Christopher estava por perto.
Apesar de termos passado o comecinho daquela manhã perdidos um no outro, eu não conseguia me cansar de tocá-lo ou ser tocada por ele. Porque era a coisa mais certa em todo o universo.
Assim que passamos pela porta, Christopher a fechou com um chute e continuou me arrastando para o sofá no canto. Ele se deixou cair de costas e me desequilibrei. Eu ri ao esmagar seu corpo com o meu, passei as mãos nos cabelos, agora não tão rebeldes, que me caíram no rosto. Christopher esticou o braço para pegar o frasco que eu deveria manter escondido. Merda.
— Aonde vai com isso? — ele quis saber.
— Hã... levar pra Madalena. O dela acabou. — Fixei os olhos naquele V entre as suas sobrancelhas até que se suavizasse.
Ele depositou o frasco no chão e voltou a envolver minhas mechas nos dedos.
— Seus cabelos são lindos.
— Ultimamente a gente até que anda se dando bem.
Seus olhos se estreitaram, divertidos, antes de ele enterrar a cabeça no meu pescoço e inspirar fundo. Virei o rosto para o lado, ansiando por desfrutar melhor a carícia, mas então, bem atrás da mesa dele, pendurada como uma obra de arte, estava a tela suja e borrada por meus dedos.
Segurei os ombros de Christopher e me ergui o suficiente para olhar em seus olhos.
— Por que aquela coisa horrorosa tá pendurada na sua parede como se fosse um quadro de verdade?
— É um quadro de verdade — ele riu, colocando meus cabelos atrás dos ombros.
— Não, é uma porcaria que qualquer criança de dois anos faria melhor.
Christopher observou a tela, descansando a mão grande na curva de minhas costas. Um sorriso orgulhoso brotou em sua boca perfeita.
— Eu gosto. Observe a assimetria, a imprecisão nos traços, nenhum domínio das técnicas sobre a tela. Numa primeira interpretação de caráter geral, esse quadro apresenta total falta de cosmovisão, não há reflexão sobre os valores fundamentais em torno dos quais gira a vida humana. É difícil encontrar uma linguagem pictórica ou simbólica, até mesmo discursiva ou conceitual. Se dermos mais importância ao fator “Onde está o mata-borrão?”, chegamos à conclusão de que a negligente artista sente dificuldade em se adequar aos padrões e a expressa em cada pincelada.
— Tá legal — falei lentamente, olhando-o com a testa encrespada. — Não entendi mais da metade do que você disse, mas tenho a impressão de que acabou de dizer que sou uma porcaria de artista.
Ele riu.
— Ainda não terminei. — Então se obrigou a retomar a fachada de crítico de artes. — Porém, se deixarmos tudo isso de lado e nos concentrarmos na relação estabelecida entre a figura oculta e as marcas de dedos, vemos que a qualidade do trabalho é significativa, e a mensagem, rica e engenhosa.
— Ah, é mesmo? — Pressionei os lábios para não rir.
Ele fez que sim, mantendo a expressão séria.
— Perceba a riqueza com que o amarelo e o vermelho se entrelaçam, criando a ilusão de luz e profundidade. Como aquela torção ali no canto nos remete a um vórtice em constante movimento. Nesta perspectiva, percebemos que a negligência é proposital, ouso dizer, sofisticada, para que os traços representem a liberdade da alma da artista. Observe aquela mistura de marrom e verde bem ao centro.
— Que lembra uma batata podre?
— Precisamente! — Ele lutou contra um sorriso. — A batata é o símbolo máximo do livre-arbítrio, e a independência triunfando sobre as adversidades causadas pelo mata-borrão.
Eu gargalhei tanto que teria caído do sofá se Christopher não estivesse me segurando com tanta firmeza. Ele ria também.
— Sério, Christopher, é feio demais. Acabou com a decoração do seu escritório.
Você devia jogar essa coisa no lixo.
— Meu amor, eu jamais poderia fazer isso. Quando olho para a tela, me lembro da forma como foi criada. A razão daquela confusão de cores e marcas de dedos. Seus e meus. Não há outra que seja mais preciosa ou bela para mim. Recentemente adquiri muito apreço também por aquela magnífica mesa de carvalho. E agora desejo acrescentar este confortável sofá à lista.
Ele esticou o pescoço para alcançar meus lábios.
— Senhor Uckermann? — chamou Madalena, socando a porta.
— Shhhh! Vamos fingir que não tem ninguém — sussurrei para ele.
— Duvido que vá funcionar — ele murmurou de volta com um suspiro exausto.
— Senhora Uckermann, sei que estão aí dentro. O criado dos Albuquerque está esperando. Não posso deixar o menino na minha cozinha o dia inteiro.
Toc-toc-toc!
Christopher deixou a cabeça tombar no braço do sofá e bufou de leve, fechando os olhos. Também gemi de frustração, mas saí de cima dele, arrumando a saia e os cabelos.
— Te vejo daqui a pouco para irmos à vila?
Ele ajeitou as lapelas do paletó.
— Partiremos assim que estiver pronta. Mas estou curioso. Por que um dos empregados dos Albuquerque está à sua espera?
— Ah... É que... humm... — Revirei o cérebro em busca de alguma desculpa, mas não encontrei nada. Acabei dizendo a primeira coisa que me veio à cabeça: — Valentina quer umas dicas de leitura. Aí me mandou um bilhete. — Não me atrevi a piscar.
— Bom — ele beijou minha boca de leve. — Fico contente que esteja aumentando seu círculo de amizades.
— Senhora Uckermann! — Bam! Bam! Bam! — Eu posso ouvi-los! Abra!
— Já tô indo, Madalena.
Christopher se adiantou para abrir a porta, fazendo uma mesura galante. A cara de Madalena não era das melhores.
— Quinzinho ainda está esperando! — disse ela, irritada.
— Eu sei, desculpa. Me distraí — dei de ombros. Acenei para Christopher e comecei a segui-la.
— A senhora sempre se distrai quando seu marido está por perto.
Precisa fazer algo a respeito.
— Fala sério, Madalena. Você também não se distrairia se tivesse um marido como o meu? Christopher é lindo como o pecado.
— Senhora Uckermann! — ela ralhou, se detendo. Suas saias volumosas chiaram.
— Vai continuar me chamando de senhora até quando, Madalena? Vocês prometeram ao Christropher que não fariam isso. Poxa vida, é tão difícil assim me chamar só de Dulce?
— Às vezes penso que tem razão. — Irritada, ela voltou a andar. — Pois se comporta como uma jovem desajuizada, e não como uma senhora casada.
— É isso aí! — concordei animada. — Se seguir essa linha de raciocínio, ficaremos bem. Talvez eu até te chame de Madá.
Ela ruborizou, alisando o avental amarrado à cintura, sem saber bem o que dizer.
Chegamos à cozinha, e Quinzinho me esperava um pouco impaciente.
Mas, assim que lhe entreguei o frasco, sua inquietação desapareceu.
— Diz pra Valentina perguntar pra Suelen como usar — expliquei.
— Sim, senhora. Muito agradecido por sua atenção. — Então ele enfiou a mão no bolso da calça curta para tirar dali uma moeda cobre, com uma coroa em alto relevo em um dos lados.
— Ah... Acho que ninguém entendeu muito bem. Eu não vendo esse creme. — E tentei devolver-lhe a moeda.
— Por Deus, senhora — suplicou, subitamente nervoso, erguendo as mãos na altura dos ombros. — Não posso voltar com a moeda. Minha patroa pensaria que eu não quis dá-la à senhora. Eu cumpro ordens, sabe?
Se a senhorita Valentina souber que este dinheiro não chegou às suas mãos, posso ser mandado para a rua! Boa tarde. — Ele se despediu com uma mesura desajeitada e se precipitou para fora da cozinha, quase trombando em Maite, que chegava com Anahí. Alfonso vinha logo atrás.
— O que aconteceu para Quinzinho sair com tanta pressa? — a menina quis saber, soltando as fitas do chapéu presas ao queixo. — Há algo errado com a senhorita Valentina?
— Não, ele só veio... buscar uma coisa pra ela.
— Faremos um piquenique às margens do riacho, senhora Uckermann.
Gostaria de nos acompanhar? — perguntou Alfonso, todo galante.
— Ah, não vai dar. Eu vou sair com o Christopher.
— É uma pena — lamentou o rapaz. — Quem sabe então em uma ocasião mais oportuna.
— Beleza, Alfonso.
O rapaz fez uma careta engraçada, como se não tivesse entendido meu comentário, mas não houve tempo para que pudesse perguntar alguma coisa, pois um dos empregados de Anahí irrompeu à porta, um tanto esbaforido.
— Senhorita Anahí! Que bom que a encontrei. A senhora me mandou buscá-la, senhorita. Diz que é urgente!
Anahí ficou pálida. Quer dizer, ainda mais pálida.
— Mamãe está passando bem? — ela perguntou num fiapo de voz.
— Ah, sim, não precisa se alarmar. Parece que ela recebeu um convite para esta noite. De um baile! A senhora exige sua presença para dar início aos preparativos. A carruagem já está à sua espera.
— Oh! Tão em cima da hora. — E, diferentemente do que aconteceu em outras ocasiões, Anahí não ficou radiante ao ouvir a palavra baile. Na verdade parecia arrasada. — Bem, creio que não poderei articipar do piquenique.
— Marcaremos outro. Não se aflija. — Alfonso levou a mão da garota aos lábios. — Divirta-se no baile.
Ela tentou sorrir, fazendo uma reverência geral para todos ali, e partiu com o seu empregado.
Alfonso caminhou até a porta e ficou observando a garota entrar na carruagem.
— Parece que teremos de encontrar algo com o que nos distrair esta tarde, Maite — ele comentou, se virando para a prima.
Maite!
Ele a chamava de Maite! Como não percebi isso antes? A intimidade decorria do parentesco ou de algum outro interesse? Não era segredo que Cassandra queria ver aqueles dois se acertando. Ela desejava que o filho se casasse com a sobrinha. Uma menina de quinze anos! Tudo bem que, pelo que ouvi falar, era normal para a época uma garota casar tão cedo. Na minha opinião, qualquer mulher deveria pelo menos ter vinte e um anos e ser dona do próprio nariz antes de tomar uma decisão dessas.
O problema era que Maite parecia encantada com Alfonso. E eu não sabia até que ponto esse encantamento chegava. Na minha cabeça, o futuro de Maite era sólido e feliz ao lado de William...
Um pensamento sinistro me ocorreu, e foi por causa disso que me peguei sugerindo:
— Por que vocês não vêm com a gente? Ian precisa entregar um cavalo para os Albuquerque e depois acho que ficaremos de bobeira pela vila.
— Perdão? — Alfonso arregalou os olhos.
— À toa, dando um tempo. Tipo, vagando por aí.
— Ah! Então suponho que todos poderemos ficar bobos juntos.
Christopher, no entanto, não pareceu muito contente com o arranjo. Ao me ver passar com o primo e a irmã pela porta da frente, ele me lançou um olhar questionador.
— Depois eu explico — falei ao alcançá-lo, aceitando sua mão para entrar na carruagem.
Eu pretendia avaliar aqueles dois, descobrir se havia algo entre eles ou se eu estava fantasiando, mas Maite se sentou ao meu lado, de modo que Christopher teve de se acomodar ao lado de Alfonso, que decidiu monopolizar a conversa e fazer ao primo diversas perguntas sobre as propriedades à venda naquela região, sem lançar um único olhar para a menina.
Eu levava as três moedas no bolso do vestido e me perguntava se Maite me ajudaria a distrair Christopher para eu dar um pulo na joalheria sem ele perceber.
Ao chegarmos à vila, Christopher soltou o cavalo preso à traseira da carruagem e me pegou pelo braço, me impossibilitando de puxar Maite para um canto e pedir sua ajuda.
— Por mais que eu adore minha irmã — murmurou ele —, pensei que teríamos um tempo para nós dois.
— Eu sei, desculpa. Mas Anahí precisou ir pra casa, e eu não queria deixar Maite sozinha com o Alfonso. Sua tia quer casar sua irmã com seu primo! Aos quinze anos! Por favor, diga que você jamais permitiria uma loucura dessas.
— Não permitirei, ao menos pelos próximos três ou quatro anos. Maite é muito madura, mas é jovem demais.
— Você acha que ela gosta dele? Tipo, gostar dele como homem, e não como primo?
— Dulce, prefiro não pensar nos interesses amorosos da minha irmã. Sobretudo quando um possível pretendente está hospedado em minha casa. Por que está tão preocupada?
— Por nada — dei de ombros.
Ele começou a andar, imerso em pensamentos, então se deteve.
— Não é Alfonso.
— O quê?
— Não se faça de desentendida. Não é Alfonso o homem por quem minha irmã se apaixonará. Você é a única que sabe quem será esse homem.
Porque conheceu o tataraneto de Maite — apontou ele, sua curiosidade subitamente inflamada. A inteligência de Ian era algo que sempre me extasiava.
— Quem é ele, Dulce?
— Por que quer saber? — questionei, cautelosa.
— Apenas gostaria de saber. Avaliar se ele a merece — ele deu de ombros.
Não acreditei naquele desinteresse nem por um minuto.
— Ah, não, nem vem dar uma de irmão mais velho ciumento. O cara é legal e vai fazer sua irmã feliz. — Ou faria. Eu já não tinha tanta certeza se o que eu sabia ainda ia acontecer.
Quando estive na casa de Christopher, em 2010, conheci Jonas, o sobrinhotataraneto de Maite e William. Jonas me contara um pouco da história da família Uckermann, como Maite e Willam se apaixonaram, casaram, tiveram lindos filhos e foram felizes para sempre. Contudo, eu também fora informada do que acontecera a Christopher. Naquele momento, estávamos separados, cada um em um tempo, e seu futuro tinha sido obscuro e fatal. Ao voltar para aquele século, eu tinha conseguido mudar o destino dele, e o futuro havia se alterado. Nunca me ocorrera que meu retorno podia ter modificado algo mais. E eu não estava
disposta a arriscar o futuro de Maite.
Já estávamos próximos à igreja, Maite e Alfonso nos seguiam, um pouco mais atrás, quando avistei o padre Antônio saindo da capela. Ele nos viu também e acenou para Christopher. Eu não estava pronta para falar com aquele homem.
Não depois do flagrante no riacho.
— Humm... eu tenho que... comprar uma coisa ali na botica! — E larguei o braço do meu marido.
— Dulce, não precisa fugir...
— Não estou fugindo, preciso mesmo comprar um... hã... óleo que só tem lá.
Vai indo, eu te alcanço. Vem, Maite! — Eu a peguei pela mão e saí correndo, mas me detive para olhar para os dois lados antes de atravessar a rua estreita.
— O que está acontecendo? Por que está com tanta pressa? — perguntou ela, meio sem ar, tentando me acompanhar.
— O padre Antônio tá vindo aí! Não quero me encontrar com ele.
— Por que não?
— Porque... ele viu uma coisa que não devia ter visto. Vem, entra antes que ele nos chame de volta. — Empurrei a menina para dentro da lojinha e nos escondemos atrás de uma prateleira alta.
Espiei por entre os frascos e vi o padre abordar Christopher e Alfonso dando início a uma conversa.
— Senhorita Maite, senhora Uckermann, que oportuno voltar a encontrá-las!
— exclamou o boticário. Como era mesmo o nome dele?
— Como tem passado, senhor Plínio? — Maite o cumprimentou.
— Muito bem, querida — respondeu ele. E, se voltando para mim, acrescentou: — Senhora Uckermann, pensei que estivesse viajando.
— Christopher decidiu adiar por uns dias. Muito trabalho.
O homem assentiu.
— Fez bem. Ao menos até que tudo se acalme — comentou num tom sombrio. — Mas, minha querida senhora Uckermann, eu pretendia ir vê-la assim que voltasse de viagem. Nunca recebi tantas visitas neste estabelecimento à procura de um produto específico. Parece que houve algum equívoco, e as damas da vila agora pensam que comercializo certo creme miraculoso para deixar os cabelos sedosos.
Eu gemi.
— Desculpa, seu Plínio. Foi uma confusão. Nem era pra tanta gente assim ficar sabendo. Eu não comercializo nada. Sou eu que faço o creme para os cabelos, só que não para vender. É para uso pessoal.
Um brilho estranho fez o rosto do homem parecer dez anos mais jovem.
Ele ficou em silêncio por alguns instantes, os olhos dardejando, um quase sorriso em sua boca. Então deu um passo à frente.
— Senhora Uckermann, sei que estou sendo ousado, mas gostaria de propor-lhe um acordo. Parece-me que este produto é bastante desejado pelas damas, e eu gostaria de tê-lo em minha loja.
Eu pisquei, tipo, umas dez vezes.
— Como é que é? — arregalei os olhos. Ao meu lado, Maite arfou.
— Posso lhe dar um adiantamento — ele se apressou, se dirigindo ao balcão e abrindo uma caixa. Então voltou e depositou muitas moedas em minha mão paralisada. — A outra parte receberá na entrega do produto.
Trinta frascos?
Eu estava pronta para lhe devolver o dinheiro, tinha toda intenção de fazer isso, mas algo me impediu. Talvez meu orgulho, não sei bem. O fato é que a discussão com Christopher retornou com força à minha mente. Ele não permitiria que eu o ajudasse, por mais que eu insistisse ou esperneasse. E ali estava uma chance real de poder retribuir de algum jeito tudo o que ele fizera por mim, de aliviar um pouco as coisas para ele. Talvez não resolvesse toda a situação financeira, mas qualquer ajuda certamente seria bem-vinda.
Maite me estudava com o cenho franzido, como se desaprovasse o que estava vendo. Ela tinha razão. Eu não estava pensando direito. Nem devia ter cogitado uma bobagem dessas.
Foi por isso que fiquei tão surpresa quando ouvi uma voz muito parecida com a minha perguntar:
— Quando devo entregá-los?
— Dulce! — Maite se sobressaltou, mas o que ela entendia de negócios, afinal?
O homem sorriu em resposta.
— O quanto antes, minha querida. Estamos perdendo um bom dinheiro neste exato momento. Planejo dispor a mercadoria ali na frente para que as damas possam avistá-la de longe quando estiverem passando a caminho da... — ele continuou falando, mas eu já não prestava atenção.
A chance de ajudar Christophercaíra no meu colo, e, mesmo que ele não soubesse de nada — ao menos por enquanto; eu pretendia contar a ele um dia, claro —, não tinha problema nenhum para mim. Eu não queria glórias nem agradecimentos, apenas a chance de aliviar suas preocupações. E, se grana era o que o andava preocupando tanto, então seria assim que eu o ajudaria. Não nos estábulos, nem auxiliando na contabilidade, mas contribuindo de fato para que nosso orçamento crescesse, mesmo que fosse às escondidas.
Eu seria tipo o Robin Hood!
Isso é, depois de pagar pelo relógio que comprei para Christopher, claro. Talvez com duas ou três remessas de condicionador caseiro, eu conseguisse quitar a dívida e aí começaria a colocar dinheiro em casa.
Então me dei conta de que precisava arranjar mais frascos vazios. E frutas. Se bem que a cozinha estava repleta delas e...
Ai, meu Deus! Eu ia mesmo começar meu próprio negócio no século dezenove e esconder isso do meu marido só para poder ajudá-lo já que ele recusava meu auxílio?
Ah, sim! Eu ia mesmo! Não havia limites que eu não ultrapassasse por aquele homem.




GrazihUckermann: Calma, ela não vai voltar pro seculo vinte e um, e outra coisa que vcs vão ficar sabendo mais pra frente bjss {#emotions_dlg.kiss} S2


 


 


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Autor(a): Fer Linhares

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— Há algo errado? — sussurrou Christopher ao meu ouvido enquanto voltávamos para casa. Dessa vez ele se sentou ao meu lado dentro da carruagem.Não sei, eu quis responder.— Claro que não, tô ótima.Tudo bem, eu estava disposta a tudo para ajudar Christophew, mas isso não significava que eu me sentisse ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 90



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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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