Fanfics Brasil - Capítulo 27 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 27 (2ª Temporada)

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Droga, droga, droga!
Eu devia ter prestado atenção no que fazia. Onde eu estava com a cabeça quando aceitei dançar com alguém que não era o Christopher?
— Ai! — William reclamou quando pisei no seu pé.
— Foi mal.
— Para o outro lado — uma garota disse depois de trombar em mim.
— Certo, tô indo. — Mas, quando eu girei, tropecei na barra do vestido e teria caído se não tivesse me agarrado ao casaco de alguém ali perto, o que me rendeu um olhar enviesado.
William me ajudou a recuperar o equilíbrio, me segurando pelos ombros.
— Eu não sei dançar assim, William — expliquei mortificada.
— Acabei de notar. — E sorriu de um jeito meigo. Bem diferente dos meus outros companheiros de dança. Alguns riam com gosto, como se assistissem a um palhaço se exibindo (o que era o caso), outros me lançavam olhares severos, como se a culpa de eu não saber dançar fosse minha (e, infelizmente, também era o caso).
William me colocou ao seu lado de novo e tentou outra vez. Mas o resultado foram mais topadas, mais pisões e mais risadas.
— Acho que você podia me levar de volta pra lá — indiquei com a cabeça o extremo do salão, onde estava Ian. Ele me observava com um sorriso torto divertido em vez de constrangido como eu esperava. Christopher era muito estranho às vezes.
— Eu jamais cometeria uma indelicadeza dessas! — exclamou William, horrorizado. — Além do mais, há tempos eu não me divertia tanto.
Fiz uma careta.
— Legal ser motivo de piada.
— Não, senhora — ele negou com a cabeça. — Sua companhia é muito agradável, e gosto demais do seu modo de falar. Eu a acho uma mulher fascinante.
— Para o outro lado! — A garota me empurrou de novo.
— Eu tô indo! Não tá vendo que tem gente na minha frente, poxa!
A moça bufou. Wlliam riu.
— Seu marido é um homem de muita sorte — comentou, e fiquei na dúvida se aquilo era um elogio ou se ele estava tirando uma com a minha cara. — Ter uma mulher espirituosa e tão autêntica deve tornar os dias inesquecíveis.
— Bom, é bem provável que você tenha razão nisso. Todos os dias faço o Christopher passar por alguma situação embaraçosa. Às vezes duas, como nesta noite.
— Ele não parece constrangido. — O rapaz olhou por cima da minha cabeça. Segui seu olhar, e Christopher havia se aproximado mais para ver meu vexame bem de perto, se encostando em uma pilastra e cruzando os braços,
os olhos fixos em mim. Aquele sorriso de canto de boca ainda estava ali. — Na verdade, o senhor Uckermann parece deslumbrado.
— Deve ser porque ele nunca viu alguém dançar tão mal assim antes.
— Era isso, ou Christopher tinha um padrão muito baixo quanto ao sexo oposto.
Meu comentário fez Lucas gargalhar.
— Não seja tão severa consigo mesma. Está se saindo muito... ai!
— Desculpa — corei, tirando pé de cima do dele.
— Não foi nada — ele gemeu.
Parecia que a música duraria por toda a eternidade. Eu tentei acompanhar os passos, mas não dava, porque não havia uma sequência lógica a ser seguida. E ficar espiando Christopher e perceber que ele parecia de fato encantando não ajudava em nada.
— A senhora Cassandra pretende estender sua estadia por muito mais tempo? — William tentou soar desinteressado, mas não funcionou.
— Infelizmente sim, eu acho.
— Humm... — Ele pressionou os lábios e colocou a mão em minha cintura, me impedindo de ir para o lado errado. — Por aqui, senhora.
— Tá.
Então ficou quieto por mais um tempo, apenas tentando me fazer dançar, sem sucesso.
— Notei que a senhorita Maite e seu primo têm passado bastante tempo juntos — comentou por fim.
— Fica difícil evitar quando se vive sob o mesmo teto.
— Suponho que sim — disse ele, com uma careta tão desolada que me causou pena.
William voltou a cabeça para onde Maite estava, uns cinco casais atrás de nós, acompanhada por um sorridente e desajeitado senhor Prachedes.
— Imagino que o noivado deles seja esperado para logo.
— De jeito nenhum! Maite é jovem demais para assumir compromisso agora. Não tem nem dezesseis anos ainda.
Seu humor mudou e ele me mostrou um sorriso divertido.
— A senhora é de fato excepcional, como diz o dr. Almeida. Algumas damas neste salão pensariam que a senhorita Maite está na idade certa para se casar.
— Ainda bem que eu não sou uma. Dama. Mas Maite é — me apressei. — Totalmente!
Algo cintilou em seus olhos castanhos, enquanto ele voltava a admirar minha cunhada. Havia neles um misto de fascínio, ternura e desejo. Era melhor ele não olhar para Maite daquele jeito se Christopher estivesse por perto.
— Uma dama encantadora — suspirou. — Aquele que conquistar seu coração será o homem mais afortunado que já pisou nesta terra.
— É. Pena que alguns são muito tímidos e não se expressam claramente — falei como quem não quer nada. — Quer dizer, uma garota não consegue ler pensamentos, sabe? Às vezes é bacana ser um pouquinho direto. Pra ela analisar as opções e tudo mais... Ah, graças a Deus! — exclamei, assim que a música acabou. — Pensei que não fosse terminar nunca!
William riu com gosto, me oferecendo o braço.
— Pois saiba que passei um tempo muito agradável em sua companhia. Vou devolvê-la a seu marido.
Eu hesitei. Quer dizer, é claro que eu queria ficar com Christopher, mas depois da discussão... Sua promessa de se manter longe fazia meu pulso acelerar.
Ao mesmo tempo, eu sabia que, se ficasse perto dele, teria de lhe contar sobre o que andei escondendo. Nada mais justo. Mas ali não era mesmo o melhor lugar.
Eu ainda hesitava quando vi Christopher se antecipar, como se estivesse impaciente para me alcançar. E bem podia ser isso mesmo. Quer dizer, quando a esposa está fazendo um papel ridículo, o marido se apressa em dizer a ela que pare com aquilo.
Ele se aproximou tão depressa que seu movimento produziu uma pequena corrente de vento, sacudindo minha saia de leve.
— Sua esposa é uma dama inigualável! — disse Wiliam, admirado. E eu mais uma vez fiquei sem saber se aquilo tinha sido um elogio. Corei e troquei o braço de William pelo de Christopher.
Meu marido me olhou cheio de emoção.
— Sim, é mesmo, senhor Levy. Não há ninguém como Dulce.
O rapaz fez uma mesura elegante e se afastou.
— Essa foi, sem dúvida, a dança mais adorável à qual já tive o prazer de assistir — comentou Christopher com um sussurro.
— Graças à ajuda do vinho, suponho.
Ele voltou os olhos de ônix em minha direção, com intensidade atordoante.
— Estou absolutamente inebriado, Dulce, mas não por conta do vinho.
Gostaria de dançar uma vez mais?
Uma nova quadrilha teve início.
— Eu acho que este século não está preparado para isso — respondi, e a gargalhada de Christopher fez seus ombros sacudirem. — Pensei que você fosse ficar longe de mim.
Ele ficou sério e voltou os olhos para um ponto fixo nas altas janelas.
— Era o que deveria fazer, já que é o que você quer. — E senti que ele quis adicionar “mas não sou capaz” , e isso fez meu coração dançar.
— Eu não quero.
Ele me encarou com a testa encrespada, surpreso. Sorri timidamente, para lhe assegurar que eu havia compreendido tudo.
— Obrigado. — Sua voz estava repleta de emoção conforme ele colocava a mão livre sobre a minha, que se enroscava em seu braço.
— Mas isso não significa que eu concorde com o que fez, Christopher.
— Eu sei.
— Promete que nunca mais vai fazer isso? Que nunca mais vai tentar me proteger mentindo pra mim?
Ele fixou os olhos negros nos meus. Estavam límpidos, profundos, solenes.
— Tem minha palavra, meu amor.
Suspirei aliviada, embora algo dentro de mim tivesse se agitado ferozmente, implorando para sair. Mas eu não podia dar vazão àquilo ali no baile, de modo que me obriguei a trancafiar aquele sentimento por mais algumas horas.
Amanhã, jurei. Vou contar tudo a Christopher amanhã.
Voltamos para perto do médico. Os Portlla estavam na pista, e agora o doutor tinha a companhia da esposa e dos Albuquerque. Lucas continuava ali, olhando impaciente para um ponto fixo. Segui seu olhar. Maite era conduzida pelo rapaz corcunda. William se antecipou, fez uma mesura, disse algo que fez minha cunhada corar e, em seguida, a conduziu para a pista novamente.
Boa, William!
— Não vai dançar com seu marido, senhora Uckermann? — perguntou a senhora Albuquerque, um pouco ríspida.
— Dulce está se sentindo um tanto indisposta — Christopher se apressou em responder.
— Espero que não seja uma enfermidade. Ainda é jovem demais para se cansar depois de apenas uma quadrilha. — A mulher sacudiu o leque em frente ao rosto.
Nesse momento, Valentina foi devolvida por seu par. E a senhora Albuquerque não gostou de ver a filha ali parada.
— Por que não está dançando, querida?
— Ora, mamãe, porque os cavalheiros já escolheram seus pares — explicou a garota, mortificada.
— Que ultraje! — se exaltou a mãe. — Como pode ter ficado sem par, Valentina? Uma jovem tão adorável não pode ficar sem par em um baile como este. Isso arruinará sua reputação!
— Querida... — O senhor Albuquerque tentou, mas a mulher não o deixou terminar.
— Não, não me venha com querida. Sabe o que as matronas estarão dizendo amanhã, meu senhor? Que nossa menina perdeu o brilho e foi relegada ao canto do salão! Eu disse que precisávamos comprar joias novas para Valentina. Mas você preferiu comprar um cavalo!
Christopher se inclinou até sua boca praticamente roçar minha orelha.
— O que o senhor Romanov queria? — sussurrou.
— O quê? Aaaaaah! — Inferno, pensei que depois da minha apresentação ridícula ele tivesse esquecido o assunto. — Ele queria... hã... dançar.
Christopher me lançou um olhar intenso e cheio de mágoa.
— Por que está tentando mentir para mim, Dulce? Se sua intenção é me punir por...
— Não é nada disso, Christopher. — Sacudi a cabeça depressa. — Só não quero que você morra num duelo.
Christopher imediatamente adotou outra postura. Se tornou mais alto, mais forte, intimidador e seus olhos percorreram o salão até encontrarem Dimitri.
— Então há razão para um duelo.
Merda.
— Eu não disse isso!
— Se ficou preocupada com um possível duelo, só posso supor que há motivos para que eu tenha uma conversa em particular com esse suposto cavalheiro — falou, cerrando a mandíbula.
— Não é nada disso, ele só é meio sem noção. Sua tia disse que é normal flertar por aqui, e acho que era isso que ele estava fazendo, só passou um pouco dos limites. Mas eu já resolvi tudo! Não se preocupe mais com ele. Aliás, a gente precisa conversar sobre esse negócio de flerte. Porque, se você der mole pra alguém, e não me interessa quem for, você vai acordar sem... as joias do rei! — Achei que aquele seria o termo adequado para a época. — Fui clara?
A resposta dele veio em forma de sorriso.
— Já mencionei como fica encantadora quando está com ciúmes?
Revirei os olhos.
— Eu desisto de...
— Senhor Uckermann, o que acha? — perguntou o senhor Albuquerque, me interrompendo.
Christopher e eu olhamos para ele sem entender.
— Perdoe-me, não ouvi a pergunta — disse meu marido, educado.
— Já que sua esposa não se sente inclinada a dançar, poderia acompanhar Valentina para que assim minha esposa pare de matraquear nos meus ouvidos? — O senhor Albuquerque fez uma careta.
— Hã... — Christopher buscou meus olhos, franzindo a testa.
Com medo de que ele insistisse na conversa sobre Dimitri e duelos, assenti de leve. Ele limpou a garganta, surpreso, e me lançou um olhar repleto de perguntas enquanto respondia ao pai de Valentina:
— Sim, será um prazer, senhor Albuquerque. — Mas seu tom sugeria o contrário. Ele se inclinou para beijar minha mão. — Não me demoro.
Em seguida estendeu o braço a Valentina, que, mortificada, aceitou. Os Albuquerque então se puseram a conversar comigo, mas eu só conseguia admirar o belo par que aqueles dois formavam. E isso foi antes de Valentina começar a dançar os passos coreografados com a mesma graciosidade e elegância de Maite.
Algo murchou dentro mim. Por mais que tentasse, eu jamais seria uma mulher como ela. Não adiantaria eu me esforçar, nem me iludir. Eu nunca dançaria daquele jeito. Nunca me preocuparia com fitas. Não dava para mudar quem eu era, e Christopher uma vez dissera que não queria que isso acontecesse. Só torci para que ele pensasse assim por muito tempo, porque, naquele instante, vendo-o bailar com Valentina, o sorriso educado que ele mantinha nos lábios, a forma inibida como ela se portava, percebi que nunca me adequaria de verdade ao século dezenove. Eu poderia sobreviver a ele, suportá-lo, mas jamais faria parte dele.
— Que tal nos sentarmos por um momento? — O dr. Almeida parou bem ao meu lado, o olhar também preso no casal perfeito que Christopher e Valentina formavam.
— Tudo bem, doutor, não precisa se incomodar.
— Ah, Dulce, minha cara, minhas costas estão exigindo.
Eu assenti e aceitei seu braço. Ele me conduziu para o canto, onde vários sofás e poltronas haviam sido dispostos de modo a formar pequenos ambientes para que os convidados pudessem interagir. Sentamos em um que ficava de costas para o salão, porque era demais para mim continuar vendo
Christopher e Valentina juntos, por mais que eu soubesse — e visse — que ele não tinha interesse na garota.
Duas senhoras estavam sentadas atrás de nós, viradas para o salão.
Reconheci uma delas, a Cara de Cavalo, aquela que dissera que eu devia desmaiar, no episódio do quase atropelamento.
O dr. Almeida me estendeu um cálice de vinho.
— Valeu. Sabe, doutor, tô começando a gostar do senhor. É uma das poucas pessoas que não me chamam de senhora.
— Seu marido me disse que isso a desagrada. Como já a aborreci demais no passado, estou tentando corrigir sua impressão de minha pessoa.
— Ah, veja! — falou a mulher atrás de mim. — O senhor Uckermann e a senhorita Valentina estão dançando. Que belo par eles formam!
Endireitei as costas, mas mantive os olhos em meu cálice.
— Parecem anjos flutuando pelo salão, Henrieta — concordou a outra.
— A senhorita Valentina é uma preciosidade. E pensar que o senhor Uckermann a deixou escapar para se casar com aquela dama sem berço. Soube que nem dote ela tinha!
O dr. Almeida soltou um suspiro exasperado ao meu lado.
— O senhor Uckermann não merecia um destino tão cruel — continuou a mulher. — Um jovem tão educado e refinado. Deixou-se fisgar por uma dama que nem sabe qual é o seu lugar. Dizem que foi vista usando as calças do marido. Em público!
— Oh, que horror!
— E é briguenta! Não respeita os mais velhos. A senhora Cassandra Uckermann me contou que a nova senhora Uckermann não acata sua autoridade.
— Henrieta, não me diga uma barbaridade dessas.
— É verdade! Soube ainda que a jovem faz feitiçarias. E ouvi dizer que ela não usa as... — Ela baixou o tom de voz, e eu não pude ouvir o resto, mas devia ser algo realmente horrível, já que a outra respondeu:
— Virgem Santíssima! Como padre Antônio permitiu que ela entrasse em nossa igreja?
— Parece que o senhor Uckermann pagou pela reforma do telhado da igreja.
— Oh!
O dr. Almeida se remexeu no sofá, pronto para interromper a conversa das duas, mas eu toquei seu ombro e balancei a cabeça.
— Quanta infelicidade para essa família — continuou Henrieta —, até então sem qualquer escândalo. Pobre senhor Uckermann, perderá o bom nome, a reputação e talvez o coração em um duelo, muito embora sua pontaria seja invejada entre os cavalheiros. Acredita que há pouco eu estava próxima da dama em questão e a ouvi chamar o jovem senhor Levy pelo nome de batismo? Diga-me, Ofélia, isso é comportamento de senhora casada?
— O que acha que ela fez para que o senhor Uckermann esquecesse a adorável Valentina tão depressa?
Ele não a esqueceu porque nunca lembrou que ela existia! , eu quis gritar.
Mas não pude. Já bastava de vexames naquela noite. Engoli meu vinho de uma só vez.
— Entendo o que quer dizer, Ofélia. Suponho que seja uma daquelas damas voluptuosas que gostam do que os maridos fazem conosco no quarto! Céus!
Eu abaixei a cabeça, meio que rindo meio que soluçando, porque tudo o que diziam era verdade. Exceto o lance de Ian se meter em um duelo. E a coisa da feitiçaria.
— Certamente! Ela virou a cabeça desse pobre rapaz. Já vi acontecer muitas vezes, mas por que o senhor Uckermann não fez a coisa certa, Henrieta?
Ele devia ter agido como um cavalheiro honrado. Casar-se com a senhorita Valentina e conservar essa outra dama como sua amante. Aposto que a senhorita Valentina ficaria agradecida se ele reservasse sua natureza libertina à concubina. É o que se espera de um bom marido!
Meus olhos quase saltaram das órbitas e tudo o que pensei foi: Como é o que é?! Não me espantava o fato de as duas parecerem tão amarguradas.
— Oh, que pena, a dança acabou. Estou com sede, Ofélia. Vamos pegar mais um pouco de ponche?
Imaginei que elas tivessem se levantado para buscar a bebida, pois o móvel atrás de mim chacoalhou e rangeu. Eu também gostaria de mais um cálice de vinho.
— Não dê ouvidos, Dulce — disse o doutor, pegando a minha mão.
Levantei a cabeça.
— Não, tudo bem. Elas não disseram nada demais.
— O passatempo de algumas senhoras é especular a vida alheia, já que a delas é tediosa. Não permita que essas velhas matronas destruam sua autoestima. Elas não a conhecem. Não sabem o encanto que a senho... que
você é. — Ele se corrigiu com um sorriso doce.
— Valeu, doutor. — Dei um soco de leve no braço dele, pegando-o de surpresa. — O senhor é bacana de verdade.
— Fico feliz que não tenha mais medo de mim. — Ele alisou o braço, meio sem entender. — Que tal mais um pouco de vinho?
— O senhor leu meus pensamentos. Uma taça bem cheia, por favor.
— Até transbordar! — Ele piscou um dos olhos e se levantou.
Então eu fiquei ali sozinha, pensando se o que aquelas mulheres tinham dito circulava de boca em boca na vila. Talvez por isso o padre Antônio me olhasse sempre desconfiado, por causa da história da feitiçaria.
Alguém se sentou ao meu lado. Achei que fosse o médico, mas não era.
— Dilacera-me o coração ver uma dama tão encantadora imersa em tamanha tristeza.
Soltei um longo suspiro.
— Dimitri, eu já pedi pra parar com isso. Por que você não me deixa em paz? Caramba! — Escorreguei para a ponta do sofá, me mantendo o mais distante possível dele.
— Estou fascinado com a sua franqueza. Poucas damas ousam dizer o que pensam a um cavalheiro, mas a atração que sinto pela senhora é mais forte que eu. — Ele se arrastou pelo estofado, me imprensando contra o braço de madeira.
— Uma galinha é mais forte que você, Dimitri. — Eu o acertei com o cotovelo direto nas costelas quando ele tentou chegar ainda mais perto.
— Sua recusa só prova que seus nervos ficam à flor da pele quando estamos juntos.
Ele ergueu a mão para tocar meu ombro. Eu saltei do sofá antes disso.
E dei de cara com um peito duro e rijo que eu conhecia em todos os deliciosos detalhes.
— Christopher! — Joguei os braços ao redor da cintura dele, afundando a cabeça em seu tórax. Seu cheiro era único, me acalmava na mesma proporção em que aguçava meus sentidos.
— Oi — ele murmurou carinhoso em meus cabelos. Porém sua voz estava áspera quando voltou a falar: — Senhor Romanov.
— Senhor Uckermann — cumprimentou o outro, se pondo de pé, como mandava a etiqueta. — Estava fazendo companhia à sua adorável esposa, mas agora que está aqui creio que não seja mais necessário.
— Não — foi a curta e fria resposta de Christopher.
— Hã... eu q-queria um pouco de vinho — falei a Christopher, que encarava Dimitri como se fosse um lutador de MMA. — Vamos lá pegar?
— Claro, meu amor. Mas antes me deixe ajudá-la com seu penteado. Uma de suas adoráveis ondas se desprendeu da forquilha.
Christopher me contornou, se posicionando entre Dimitri e mim. Ele mexeu no meu cabelo, mas, no mesmo instante em que senti seus dedos delicados em minha cabeça, ouvi um pou, seguido de um gemido anasalado.
— Ah, senhor Romanov, como sou descuidado — lamentou Christopher.
Girei para ver o que tinha acontecido. Dimitri pressionava o nariz que subitamente sangrava. Christopher esfregava o cotovelo, sorrindo exultante.
— Pensei que estivesse mais longe. Permita-me ajudá-lo. — Christopher segurou o homem atordoado pelo colarinho da camisa, endireitando-o. — Lamento tanto. Não pode imaginar quanto. Espero não ter lhe causado nenhum dano. — Sua voz era amável, mas Christophersacudia o cara com força.
Dimitri teve de soltar o nariz ensanguentado para manter o equilíbrio e começou a ficar meio roxo.
— Não consigo... — ele tentou, lutando por ar.
— Ah, sim, eu ouvi, senhor Romanov. O senhor não consegue deixar minha esposa em paz. É mais forte que o senhor. — Os nós dos dedos de Christopher foram ficando brancos feito osso.
— Christopher, eu acho que ele tá sufocando — alertei.
Christopher voltou sua atenção para mim. Havia doçura em seu olhar, ainda que seu sorriso parecesse selvagem.
— Não, meu amor, ele não está. Essa cor é o resultado do pesar e da vergonha que o senhor Romanov sente por tratá-la como uma dama sem escrúpulos, não é mesmo, senhor Romanov? — E o sacudiu. Quando o rapaz apenas emitiu resmungos indefiníveis, Christopher intensificou o aperto, aproximando o rosto do dele, a mandíbula trincada. — Não é mesmo,
Dimitri?
— Si-sim. — O rapaz se debatia contra os punhos implacáveis do meu marido.
Christopher assentiu uma vez, apreciando a resposta, mas não o soltou.
— E, de agora em diante, tenho a impressão de que sua fraqueza milagrosamente será curada, e o senhor pensará duas vezes antes de ficar a menos de dez passos da senhora Uckermann. Estou certo?
— S-s-s-s-s-s...
— Christopher, por favor! — pedi, angustiada. O cabelo ruivo de Dimitri e o tom arroxeado de seu rosto formavam uma combinação assustadora. — Ele já entendeu.
Christopher ainda o segurou mais um pouco, mas acabou soltando a gola.
Dimitri desabou no sofá, puxando o ar em grandes golfadas.
— Que bom que entramos em um acordo. — Christopher deu leves tapinhas no ombro do cara, depois se endireitou e se pôs a ajeitar as mangas da própria camisa.
— O que aconteceu? — O dr. Almeida estava parado a poucos passos contemplando Dimitri, uma taça de vinho tinto em cada mão.
Christopher nem se abalou, apenas recuou, me puxando para junto dele. Percebi que sua pulsação estava acelerada e ele fazia um esforço enorme para se manter sob controle.
— Um terrível acidente. Acertei o nariz do senhor Romanov com o cotovelo quando fui arrumar o penteado de minha esposa.
— Que lástima! — Mas o médico sorria.
— Sim, de fato. — Uma expressão presunçosa surgiu no rosto de Christopher. — Verifique se ele está bem, doutor. Talvez eu o tenha atingido com força excessiva.
O amigo assentiu e rapidamente se sentou ao lado do rapaz, deixando as taças sobre a mesinha de apoio e ajudando-o a desfazer o nó da gravata.
Christopher me empurrou com gentileza em direção a uma saída lateral.
— Que negócio foi esse de bater no cara no meio da festa? Você disse que não ia fazer isso — eu o censurei assim que passamos pela porta dupla de vidro que dava para o jardim. — Estava tudo sob controle.
Um sorriso largo e satisfeito ainda esticava sua boca.
— Não foi proposital. Foi um lamentável acidente, Dulce.
— Se quer mesmo que eu acredite nisso, devia ao menos tentar parar de sorrir. Para onde estamos indo?
— Você já vai ver.
O jardim parecia bonito. Mas, como era iluminado apenas por parcas tochas, não pude ver muito. Alguns casais caminhavam sem pressa por entre os arbustos, no entanto não era possível distinguir os rostos, o que deduzi ser o grande atrativo do jardim dos Romanov.
Christopher seguiu em frente, nos conduzindo mais para o coração do jardim.
Seguimos até que tudo o que eu podia ver eram altos arbustos e uma lanterna tremulando a alguns metros. Fiquei grata por ter escolhido um vestido de mangas longas quando o vento gelado soprou em minhas costas, trazendo com ele a música delicada dos violinos.
— Concede-me a honra? — Christopher se inclinou, oferecendo a mão.
Perguntei-me o motivo de estarmos ali. Se Christopher desejava apenas um pouco de privacidade, ou se não queria que eu desse outro vexame na pista de dança. Constrangida por acreditar que se tratava da segunda opção, pousei minha mão na dele. Christopher me puxou mais para perto, e estendi o braço para que pudéssemos valsar, mas ele sacudiu a cabeça.
— Não, assim. — Então passou os braços pela minha cintura e inclinou a cabeça para encostar o rosto no meu. E começou a balançar. Bem devagarzinho. — Eu estava louco para ficar sozinho com você desde que discutimos. Estou começando a odiar esses eventos.
Bom, era a primeira alternativa no fim das contas. Ele queria ficar comigo longe de todos aqueles olhares curiosos. Suspirei aliviada e prendi as mãos em seu pescoço.
— Bem-vindo ao time. Até que enfim um momento desta noite que eu não vou desejar esquecer.
Aquele sorriso malicioso que eu amava deu as caras.
— Bem, como seu marido devotado, é minha função proporcionar-lhe momentos mais agradáveis. Permita-me tentar uma coisa. — E com isso ele me beijou.
Um beijo faminto, como se semanas tivessem se passado, e não apenas três horas, desde a última vez em que estivemos assim. E, como sempre acontecia quando sua língua invadia minha boca, qualquer preocupação, aborrecimento ou medo desapareceram num passe de mágica.
— Ah, isso eu não vou esquecer tão cedo — falei assim que sua boca libertou a minha.
Ele sorriu, mas logo ficou sério de novo.
— Eu realmente lamento ter magoado você — Christopher murmurou com intensidade. — Não sabe quanto me custou ter de enganá-la.
— Você devia ter me contado sobre as garotas. O motivo real do cancelamento da nossa viagem. Eu teria entendido, ainda que não acredite na maldição.
— E você devia me contar a respeito de Dimitri. O que foi que ele disse, Dulce?
Sacudi a cabeça.
— Sua cotovelada foi o suficiente. E não quero mais falar do Dimitri.
— Nem eu. O que quero agora é dançar com você. — Ele abaixou a cabeça até seus olhos infinitos, profundos e cheios de paixão estarem na mesma altura dos meus. — Dançar e beijá-la a noite toda — sussurrou, antes de reivindicar minha boca.
Toda a atmosfera ao meu redor se transformou. Eu sentia o vento acariciando minha pele, agitando os fios de cabelo que se desprendiam do meu coque, inflando minha saia de leve, mas estava aquecida, balançando suavemente com Christopher.
E então ele me mostrou um sorriso espetacular, tomando minha mão para me fazer rodopiar, toda desajeitada. Seu olhar apaixonado quase me causou uma parada cardíaca.
— Minha belíssima bailarina...
Minha risada se misturou à música. Ele me puxou de volta, me abraçando pela cintura. Nossos corações, unidos, batiam tão rápido, no mesmo ritmo, que se mesclaram à melodia que vinha de algum lugar ali, criando uma trilha sonora única, especial, toda nossa.
— “Juro que é você” — ele cantarolou com a voz ligeiramente rouca, roçando os lábios em minha orelha, as mãos grandes espalmadas em minhas costas. — “Juro que é você quem eu esperei. Juro que as batidas do meu coração são para você.”
Meu coração reagiu no mesmo instante. Mesmo traduzida, eu reconheceria aquelas palavras em qualquer lugar. Pertenciam à nossa música. Aquela que cantei para ele quando ficamos juntos pela primeira vez.
— “E elas não vão cessar” — completei, comovida.
Ele ergueu a cabeça para poder me olhar nos olhos. Com dedos quentes e muito suaves, afastou alguns fios de cabelo do meu rosto.
— Nunca — assegurou com gravidade antes de selar a promessa com um beijo arrebatador.




kaillany: A maldição é uma coisa que vcs só vão ficar sabendo mais pra frente kk Bjss {#emotions_dlg.kiss} S2


 


GrazihUckermann: O porquê da maldição Vcs só vão ficar sabendo mais pra frente, e como passa em kk Bjss {#emotions_dlg.kiss} S2


 


 


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Autor(a): Fer Linhares

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Eu encarava o teto branco. Só isso. Por que é que eu estava olhando para ele?— Dulce?Eu me sentei no sofá vermelho, procurando, e meu coração quase saiu pela boca.— Nina! — exclamei, pulando sobre minha amiga e me agarrando a seu pescoço. — O que você tá fazendo aqui?— Eu que devia ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 90



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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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