Fanfics Brasil - Capítulo 31 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 31 (2ª Temporada)

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Querida Nina,
Christopher me deu a Lua! É uma égua linda e tem esse nome por causa da pelagem, que lembra mesmo nosso satélite natural. Estou aprendendo a montar há uma semana! E, quando digo montar, estou sendo literal, pois é tudo que aprendi a fazer até agora.
Subir na égua e não cair. Ainda não consegui fazê-la andar para frente, mas já sei como dar ré muito bem.
Christopher disse que logo vou conseguir cavalgar, mas não sei, não. É muito mais difícil que a autoescola. Como é que pode?
Você precisa ver a sela ridícula que as mulheres usam por aqui. Joga isso no Google que deve
aparecer alguma coisa. Tem um troço no meio, bem em cima, no qual se deve passar um dos joelhos. A maioria das mulheres não parece ter dificuldades, mas eu acho que é porque desde sempre lhes negaram o direito de cavalgar do jeito mais fácil.
Tenho aulas quase todo fim de tarde, e há uns três dias venho tentando convencer Christopher a me deixar usar a sela dele, sem sucesso.
Quanto àquele assunto, nenhum avanço também.
Em parte porque Cassandra sempre aparece quando crio coragem (pois é, ela ainda não foi embora. Christopher mal fala com ela. Ele não diz, mas sei que está chateado com toda essa situação), e em parte porque não sei bem como começar o assunto. Saber que posso magoá-lo está acabando comigo. Você deve estar se perguntando por que não desisto e acabo de
uma vez com essa agonia. Eu também me pergunto isso. Penso no assunto todos os dias e às vezes acho que devo parar. Mas em outras... Eu amo o Christopher desesperadamente, Nina, e nem por um minuto me arrependo da escolha que fiz. Mas, sabe, eu me dei conta de que toda essa confusão em que me meti era exatamente o tipo de coisa de que eu precisava. Eu
me sinto ótima quando as meninas me procuram pedindo mais creme, me sinto realizada por ter conseguido comprar o presente para Christopher sem tocar em uma única moeda dele.
Por isso tenho medo de desistir, de deixar de fazer o que acho certo só porque é assim que as coisas funcionam por aqui e acabar me perdendo. Já resta tão pouco do mundo que conheço dentro de mim.
Fico apavorada ao pensar que minha essência pode se perder em meio a tanta mudança. Não quero me olhar no espelho e não me reconhecer.
Ando meio desanimada por conta disso tudo, e, claro, Christopher fica preocupado e me enche de perguntas, o que acaba resultando em mais meias verdades. Aí ele faz de tudo para me animar e se esforça ainda mais para me deixar feliz. E, quanto mais ele tenta, mais infeliz e culpada me sinto. Não sei o que fazer.
Sinto sua falta, amiga. Muito mesmo!
Valeu por me ouvir.
Te amo.
Dulce
Dobrei a carta e a guardei com as outras, dentro do livro. Em seguida, o enfiei no fundo da gaveta de lingeries. Olhei pela janela do quarto e o sol a pino me fez estreitar os olhos. Christopher havia saído para receber o pagamento de um arrendatário, mas logo estaria de volta. E o boticário me enviara um bilhete pedindo mais condicionadores, pois a primeira remessa já havia esgotado, e eu tinha que me apressar. Só que eu não queria. Toda vez que
eu olhava para um abacate, sentia náuseas.
Pensei em escrever uma carta para Christopher, tentando me expressar do jeito certo, mas parecia covarde demais. De todo jeito, eu dissera sim ao boticário e teria de concluir nosso acordo ao menos mais uma vez. Fui para a cozinha, disposta a acabar com aquilo o mais rápido possível. E teria sido tudo muito fácil se Cassandra já tivesse tomado o chá de sumiço que eu tanto desejava.
— Se procura por minha sobrinha, está perdendo o seu tempo. Ela e Alfonso saíram para um passeio. — anunciou presunçosa, parada ao lado da porta da sala de música.
— Ah, eu sei. Ela me disse que iriam à casa da Anahí. Até me convidou pra ir junto.
Ela empinou o nariz e seu queixo se tornou proeminente.
— Sabe por que mulheres como a senhora são facilmente substituíveis?
— perguntou.
Fechei os olhos e pressionei a testa. Droga, meus analgésicos acabariam rapidinho se ela não me deixasse em paz logo.
— Olha, dona Cassandra, eu adoraria ficar e escutar a sua teoria, mas, sério, tô ocupada. Quem sabe outra hora? — E segui em frente.
No entanto, Cassandra nunca aceitava não como resposta e deu um passo para o lado, impedindo minha passagem. Ela me olhou de cima — quer dizer, de baixo, já que era bem mais baixa do que eu, mas seu olhar era tão altivo quanto o de uma rainha.
— Os becos estão repletos de damas iguais a você, munidas de artimanhas e de uma língua afiada. Podem até cativar os homens em um primeiro momento, pelo prazer do entretenimento, mas até o prazer é cansativo. E, quando sua verdadeira natureza é desmascarada, são descartadas e naturalmente substituídas, pois são todas iguais.
— E foi por uma mulher assim que seu marido se apaixonou? — soltei sem paciência.
Um tapa atingiu meu rosto sem que eu pudesse fazer nada para impedir. Ela pretendia me bater de novo, mas dessa vez eu estava preparada e segurei seu pulso.
— Nem pense nisso! — falei com os dentes cerrados, apertando o punho rechonchudo da mulher com a mesma intensidade com que a minha bochecha ardia. — A senhora já me insultou, me atacou e me humilhou muito mais do que posso aguentar. Não vou revidar agora porque não passa de uma mal-amada que quer que o resto do mundo seja tão infeliz quanto você. Só que não vai funcionar. Maite não é mais criança e sabe o que quer. E ela não quer Alfonso. O Christopher me ama, e nada do que a senhora faça ou diga mudará isso.
— Não precisarei fazer nada, minha cara. — Ela puxou o braço com força para se livrar do meu aperto. — Você mesma se incumbirá de destruir o amor dele.
Eu abri a boca para retrucar, mas algo me impediu. Uma vozinha fraca lá no fundo lutando para se libertar.
A mulher juntou as saias e sumiu da minha frente, embora eu ainda fosse capaz de ouvir o repicar dos saltos no assoalho de madeira.
— Senhora?
Eu me virei e ali estava Madalena, me examinando com uma trouxa de roupas limpas dobradas nas mãos.
— Dulce, Madalena.
— Ela está certa — disse ela, muito a contragosto. — Precisa contar ao patrão antes que o que aquela cobra peçonhenta disse se torne real.
— Contar o quê? — perguntei, recuando um passo.
— A senhora sabe. Sobre o dinheiro que ganhou com o condicionador.
Não dava para dizer que a Madalena não era fiel a mim. Eu não lhe contei nada, mas a mulher era esperta e provavelmente adivinhara tudo apenas ouvindo uma frase aqui e outra ali. Ou, o que era mais provável, porque era ela quem me ajudava com os cocos. E mesmo assim, mesmo sabendo da história toda e não achando certo, ela não me entregou a Christopher, como uma mãe faria.
Esfreguei as têmporas com os punhos tentando me livrar da pontada bastante desconfortável em meu cérebro. Eu havia chegado ao limite. Era o fim da linha.
— Eu vou contar. Não tô aguentando mais isso. Ele vai entender, não vai, Madalena?
Ela se aproximou e alisou o meu ombro.
— Eu não sei, querida. Mas vamos torcer pelo melhor. E, além do mais, o dano será menor se ele ouvir de sua boca, e não da de uma velha mexeriqueira.
— É. Vou falar com ele assim que chegar. Ei, você podia fazer aquele assado que ele adora, aí eu conto e logo depois entupo ele de comida. Não!
Primeiro entupo ele de comida, depois de vinho e aí conto tudo!
— Dulce... — ela me repreendeu.
— Tá bom! Sem comida e sem vinho. — Mas talvez uma daquelas camisolas que eu nunca tinha usado pudesse...
— Apenas diga a seu marido como se sente — ela sugeriu. — Ele a ama, e, se não a compreender, ao menos tentará.
— É. — Parecia um bom conselho. — Vou fazer isso. Agora tenho que ir pra cozinha. O Isaac já voltou da vila?
— Sim, e já deixou os cocos e os novos frascos de óleos na cozinha.
— Beleza. Vou fazer a papa e...
— E eu a ajudo com os cocos — ela completou sacudindo a cabeça, numa clara repreensão. — Apenas vou ao seu quarto primeiro, para guardar estas roupas.
Fui até a cozinha e então despejei os abacates sobre a robusta mesa de madeira, dando início à tarefa. Meus nervos eram uma combinação de ansiedade e medo. Madalena se juntou a mim pouco depois e trabalhamos em silêncio. Cerca de uma hora mais tarde eu arrolhava a última garrafa de condicionador. E um trote familiar alcançou meus ouvidos.
— Ele chegou! — falei para Madalena e corri para fora da casa.
Christopher desmontava do cavalo marrom e sorriu ao me ver. Isaac corria, vindo do estábulo, para pegar as rédeas.
— Parece que minha esposa sentiu saudades — brincou Christopher. Ele entregou as guias ao rapaz e dizimou a curta distância que existia entre nós.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei. — Voltei o mais rápido que pude. — Ele acariciou minha bochecha e franziu o cenho. — Você está pálida.
No fim das contas aquela ansiedade toda tinha sido útil. Fez desaparecer as marcas que com certeza os dedos de Cassandra haviam deixado.
— Eu sou pálida — argumentei.
— Não desse jeito. Está se sentindo mal?
— Só estava com saudade. E... — Desenrosquei os braços de seu pescoço. — Christopher, eu preciso muito falar com você — engoli em seco — sobre uma coisa que aconteceu meio que sem querer.
— Como assim? — sua voz soou cautelosa.
— A gente pode conversar em outro lugar? — Um onde eu pudesse me sentar, pois meus joelhos já fraquejavam.
Ele me examinou com atenção. Não faço ideia do que a minha expressão revelava, mas não devia ser muito bom, pois Ian franziu o cenho.
— Dulce, o que...
Um urro doloroso ecoou pela fazenda. Christopher girou a cabeça em direção ao estábulo no mesmo instante.
— Ah, não. Ah, não! — ele gemeu, se pondo imediatamente a correr naquela direção.
Eu o acompanhei, embora o som fosse agonizante e eu não estivesse muito certa de que queria ver o que estava com tanta dor. Christopher chegou primeiro.
Eu pretendia me juntar a ele quando avistei o cavalo marrom, que Isaac ainda segurava pelas rédeas, relinchando feito louco, apoiado em apenas três patas. Meia-Noite estava inquieto e se balançava, desequilibrado, uma pata suspensa, boba e molenga em um ângulo pouco natural. Eu quis fugir. A tortura do animal revirava meu estômago, porém meu marido não parecia muito melhor. Ele precisava do meu apoio. Entrei no estábulo a passos lentos.
Christopher começou a examinar Meia-Noite.
— Ele nem estava correndo, patrão — justificava Isaac freneticamente.
— Pisou em falso do jeito mais tolo que já vi.
— Está quebrada. — Christopher gemeu, levando uma das mãos à cabeça. Ele fechou os olhos, uma expressão sombria e aflita contorcendo seu rosto perfeito.
Não precisei de outras explicações para saber que o ferimento do animal era sério. Fui até Christopher e o abracei pela cintura sem dizer nada. Ele me envolveu em seus braços, me apertando tanto que perdi o fôlego.
— Sinto muito, patrão — disse Isaac. — Sei quanto o senhor adora este cavalo.
Senti Christopher assentir uma vez para o garoto.
— Ele vai ficar bem — tentei, erguendo o olhar para ele. — Você é um ótimo veterinário. Vai cuidar bem dele.
— Dulce, não há cura para um osso quebrado. — Seu semblante foi tomado pela dor.
— Como assim não... — Devagar a compreensão me atingiu. Meus olhos pinicaram. — Ai, não, Christopher!
Segurando-me pelos ombros, ele me afastou o suficiente para poder me examinar atentamente.
— Sabe se há cura para esse tipo de ferimento?
Nesse momento eu me amaldiçoei por nunca assistir ao Animal Planet.
— Em seres humanos, sim. Eu não sei se cavalos... Nunca fui muito de... cavalos. Sinto muito.
Ele sacudiu a cabeça.
— Tudo bem. — Ele voltou a me abraçar, como se fosse eu quem precisasse de conforto. Sua tentativa de me consolar me deixou ainda pior, sobretudo porque ambos sabíamos o que viria pela frente, o que Christopher teria de enfrentar. — Foi só curiosidade. Ainda que existisse, eu provavelmente não seria capaz de executar o procedimento com o que disponho aqui.
— Vou buscar a arma para o senhor — disse Isaac, arrasado.
Enrijeci nos braços de Ian e ergui a cabeça.
— Você vai... Você... — Minha voz sumiu.
Christopher não disse nada, apenas voltou a examinar Meia-Noite. Seus olhos ficaram duros e sérios. E tristes. Dolorosamente tristes.
Ele me soltou e foi até o animal, para em seguida acariciar sua cabeça.
Do topo ao focinho. O animal se sacudiu, implorando ajuda.Christopher se recostou no pescoço de Meia-Noite, os dedos traçando padrões nos pelos castanhos, enquanto ele lhe sussurrava alguma coisa. Uma reza, uma despedida, não sei ao certo.
Um soluço fez meus ombros sacudirem e só então percebi que havia lágrimas em minhas bochechas. Chorava por Christopher, pelo animal em agonia, por minha falta de conhecimento em medicina veterinária.
— Por favor, Dulce, acompanhe Isaac — disse ele, evitando contato visual.
— Mas...
— Vá, agora.
— Sinto muito — murmurei.
O garoto tocou meu cotovelo, me empurrando para longe dali. Retirou o chapéu e começou a contorcê-lo entre os dedos, me observando nervoso enquanto tomávamos o caminho de casa. Enxuguei as bochechas com as costas das mãos.
— Não foi culpa minha — ele disse baixinho.
— Ninguém disse que foi, Isaac.
— Foi uma pedra solta. — Ele parecia prestes a chorar. — O patrão fica devastado quando isso acontece. Ele tem verdadeira adoração pelos cavalos. Sacrificá-los lhe custa muito.
— Ele... Ele mesmo toma conta de tudo quando isso acontece?
Isaac concordou com a cabeça.
— Ninguém tem pontaria melhor que o patrão. Só é triste ver como ele fica depois de aliviar o sofrimento dos cavalos. — Fez uma careta. — Parece que o toma para si.
Alcançamos os fundos da casa, mas não tive coragem de entrar, não com Christopher ali fora, prestes a enfrentar uma situação tão agonizante. Eu esperaria por ele ali, pronta para confortá-lo quando tudo acabasse.
Gomes se precipitou porta afora. Ao ver a desolação do filho, pareceu ter adivinhado.
— A pistola? — perguntou ele, desgostoso.
O menino fez que sim.
— Não foi culpa minha, pai — justificou.
— Qual deles? — Gomes quis saber.
— Meia-Noite.
Gomes grunhiu e estalou a língua ao entrar para pegar a arma. Eu me sentei em um dos degraus, mantendo os olhos fixos na direção do estábulo.
Não dava para ver muito àquela distância, felizmente. Gomes voltou pouco depois e entregou uma caixa de madeira ao filho. Isaac se apressou e o mordomo se acomodou ao meu lado na escada.
— Isso destrói o patrão — comentou ele, preocupado.
Madalena apareceu na porta.
— O que está acontecendo aqui? — Parte de sua irritação sumiu quando ela me viu com os olhos vermelhos e inchados.
— Um cavalo do Christopher quebrou a pata — falei, num fiapo de voz.
— Oh, Virgem Santíssima! O pobrezinho vai ficar daquele jeito de novo.
Ela nos contornou e se sentou no degrau, passando um braço em meus ombros. Sem aviso, um estouro grave ecoou pelo ar me fazendo estremecer com o coração disparado. Gomes apertou minha mão com força. Os pássaros se eriçaram na copa das árvores e voaram para longe. Então um silêncio sombrio se seguiu.
Ficamos ali por um período imensurável. Madalena precisou voltar para as panelas um tempo depois, Gomes ficou comigo, mas, quando percebeu que eu não iria a lugar nenhum antes de Christopher voltar, resolveu entrar.
Muito se passou, talvez uma hora ou pouco mais, antes que eu decidisse ir atrás dele.
Não encontrei ninguém no estábulo e fui seguindo em frente, tentando adivinhar que caminho Christopher teria escolhido. Optei pelo riacho, e não demorou muito para que eu avistasse suas costas. Ele estava sentado no barranco, absorto, e não percebeu minha aproximação. Toquei seu ombro de leve, e isso o fez olhar para cima. Christopher não chorava como eu temia, mas uma sombra anuviava seus olhos de ônix.
Em vez de me sentar ao seu lado, afastei seus braços dos joelhos, me apoiei em seus ombros e me aconcheguei em seu colo, abraçando-o com força.
— Você tá bem? — murmurei.
— Não. Detesto ter de fazer o que fiz. — Uma mão subiu vagarosa por minhas costas, como se quem precisasse de consolo fosse eu. E, na verdade, eu precisava mesmo.
— Eu sei. — Beijei sua testa e o encarei, tocando sua bochecha. — Sinto muito mesmo por não saber mais sobre cavalos e não ser de muita ajuda.
Se eu tivesse passado mais tempo vendo programas sobre animais e menos vendo as adaptações dos livros da Jane Austen, talvez fosse de alguma ajuda. Christopher quase sorriu. Quase.
— Você está sendo de muita ajuda agora. — Ele deixou a cabeça pender para frente e a apoiou em meu ombro.
— Eu tive um cachorro uma vez — soltei, sentindo uma necessidade urgente de dizer qualquer coisa que aliviasse sua amargura.
— É mesmo? — Mas ele manteve a cabeça onde estava.
— Era bem grande, peludo e fedido. — Enterrei os dedos na massa negra de seus cabelos ligeiramente suados. — Babava horrores. Minha mãe não chegava nem perto. Dei a ele o nome de Jujuba. Jujuba é um tipo de bala, um doce.
— Você tem sérios problemas para escolher nomes — disse ele, menos sombrio agora.
— Eu tinha três anos. Dá um desconto. — Continuei brincando com seus cabelos. Christopher moveu a cabeça para o lado, para que eu tivesse melhor acesso e suspirou. Prossegui: — Eu adorava aquele cachorro. Mas um dia, eu já tinha uns oito anos, eu acho, ele escapou de casa e foi atropelado. Ele não morreu, mas ficou todo torto e sofrendo muito. Meu pai o levou ao veterinário para tentar salvá-lo, mas não tinha mais jeito. Lembro que o veterinário conversou comigo por um tempão. Ele era bem alto e meu pescoço doía por ter de ficar olhando para cima. Eu achava que ele era meio que um anjo, porque faria o Jujuba parar de chorar. Um pouco antes de o veterinário levar meu cachorrinho para dentro, ele me disse uma coisa que eu nunca mais esqueci.
Christopher ergueu a cabeça, pegando minha mão e plantando um beijo na minha palma.
— O que ele disse?
Engoli em seco, afastando as mechas escuras de sua testa.
— Que cada vez que ele colocava um animal para dormir pra sempre, um pedacinho da alma dele também dormia pra sempre.
Christopher assentiu uma vez.
— Compreendo o que ele quis dizer.
— Eu imaginei. Por isso me lembrei dessa história. Eu vi você com a aquela égua outro dia, Christopher, ajudando o potro a nascer. E vi hoje, com Meia-Noite. Você fez tudo o que podia nos dois casos, e aliviou ambos da agonia.
Se eu fosse um cavalo, ficaria grata. Qualquer que fosse o desfecho.
Ele encostou a testa em meu queixo, exaurido.
— Obrigado por estar aqui. Obrigado por ter me escolhido. Pela lealdade que me dedica. Às vezes sinto que não a mereço.
Lealdade.
Tentei engolir, mas não consegui.
— Christopher... — comecei, mesmo sabendo que aquele não era o melhor momento para aquela conversa. — Eu... Eu andei... — Mas ele me interrompeu.
— Eu sou o homem de maior sorte no mundo. — Ele acariciou minha bochecha. — Você largou tudo para viver aqui comigo. Às vezes tento imaginar seu mundo de acordo com o que me conta, e ele parece impressionante. Foi preciso muita coragem para abandonar tudo aquilo, escolher uma vida nova em um lugar desconhecido. Não pode imaginar quanto a admiro.
Tudo bem, só respira.
— Christopher, eu não...
— Shhhhh! — Ele pousou um dedo sobre os meus lábios, me silenciando. — Você foi muito corajosa. Não discuta comigo. Conheço você melhor que a mim mesmo. — E substituiu o dedo por sua boca. A doçura de seus lábios era incrível. — Meu amor, terei de viajar o quanto antes. Vendi o último garanhão ao senhor Albuquerque, e o estábulo está tomado de éguas.
Sem Meia-Noite eu... não poderei esperar nem mais um dia sequer.
Parto amanhã. Precisaremos de um novo reprodutor até a semana que vem — disse ele, assim que libertou meus lábios.
— Mas você tem Storm — falei, tomando as dores do cavalo.
E que papo era esse de viajar? Sem mim?
Christopher suspirou.
— Ah, eu adoraria que Storm se interessasse por uma das éguas, mas ele as repele, como se as temesse.
— Ele é, tipo, gay? — perguntei, curiosa. Christopher não pareceu conhecer o termo. — Sabe, que se sente atraído pelo mesmo sexo...
Ele sacudiu a cabeça.
— Não creio que Storm seja gay, apenas um pouco tímido. Não sabe o que fazer com as fêmeas. Ele não se socializa muito.
— Ah. — Que pena. Eu amaria ter um cavalo gay. Muito melhor que um antissocial. Que nem era meu de verdade. — Posso ir com você?
É o arranjo perfeito!, pensei, subitamente refazendo meus planos.
Estaríamos sozinhos em algum lugar nas montanhas, onde eu poderia lhe contar tudo sem sermos interrompidos.
Ele pressionou os lábios até se tornarem uma pálida linha fina.
Lutei para não revirar os olhos.
— Não existe maldição nenhuma, Christopher. Ainda não entendi o que está acontecendo, mas deve haver uma explicação razoável. — Como ele não pareceu convencido, tomei outro caminho. — E se a gente tomasse muito cuidado? Tipo, ao menor sinal de tempo ruim eu poderia... me esconder debaixo da cama e só sair quando a tempestade tiver passado.
Christopher escrutinou meu rosto; uma violenta luta interna de vontades fazia suas íris tremeluzir. Levou um tempo para que ele respondesse, com um suspirou agastado:
— Se estiver disposta a aceitar meus termos...
— Aceito, sejam quais forem — eu me adiantei, e ele riu.
— Tudo bem. Eu adiaria se pudesse, mas, se eu não me apressar, podemos perder um ciclo todo e terei graves problemas no estábulo. Porém teremos uma longa conversa sobre sua segurança antes de fazer as malas. E nem pense em me enrolar, Dulce. Você seguirá minhas recomendações à risca.
Eu pulei de seu colo, bastante empolgada. As coisas finalmente entrariam nos eixos.
— Quando é que a gente parte? — Entretanto, ao me levantar rápido demais, minha visão ficou turva e repleta de pontos negros piscantes, e meus joelhos simplesmente cederam.
— Dulce! — Ouvi Christopher gritar. Suas mãos firmes agarraram minha cintura, mas eu já desabava no abismo obscuro...



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Autor(a): Fer Linhares

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Meu corpo parecia pesar uma tonelada. Era isso, ou havia um elefante sentado sobre mim.Meus membros estavam pesados, e movê-los se provou tão impraticável quanto aprender a me comportar direito naquela sociedade atrasada. Ao menos meus olhos pareciam funcionar.Quer dizer, quase.— Acho que ela está voltando a si! — disse u ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 90



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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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