Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)
— Dr. Almeida, preciso que me ensine a ser uma dama! — falei irrompendo em sua biblioteca particular, depois que a dona Letícia me mostrou onde ficava.
O sujeito atrás da mesa piscou algumas vezes.
— Creio que não a compreendi. Por isso não terei de decidir se me sinto lisonjeado com sua proposta ou ofendido por pensar que tenho maneiras afeminadas.
— Não! Não é nada disso. O senhor é bastante... masculino, mas é que... eu... — Eu precisaria elaborar melhor o assunto se quisesse conseguir ajuda.
Respirei fundo. — O senhor já leu A máquina do tempo, de H. G. Wells?
O médico negou com a cabeça, os olhos ganhando vida.
— Não, mas, agora que minha curiosidade foi aguçada, sinto que morrerei se não lê-lo. Por que não se senta? — E indicou a cadeira.
Eu me afundei com pouca elegância na cadeira estilo Luís XV revestida de tecido carmim. A biblioteca dos Almeida era ainda maior que a de Ian, porém as lombadas revelavam obras de medicina, em sua maioria. Fiquei satisfeita por encontrar o médico em um ambiente em que me sentia confortável.
— Não tenho certeza se esse livro já foi lançado. Nem sei se já foi escrito — enfatizei, observando sua reação. — Mas basicamente conta a história de um cientista que descobriu um jeito de viajar no tempo. Ele vai para o futuro e conhece um mundo bem diferente do seu.
— Muitíssimo interessante. — Ele se inclinou para frente sem parecer se dar conta disso.
— E o senhor bem pode imaginar como o cientista ficou chocado e se sentiu deslocado nesse futuro. Tudo que ele conhecia não valia mais de nada, e tinha até uns ETs... — sacudi a cabeça. — Mas esse não é ponto. A questão é que ele foi parar num mundo que não era o dele. E às vezes é difícil se adaptar. Seja no futuro desconhecido ou... no passado, que só se conhece por meio dos livros de história, mas que na prática é... bem complicado.
O médico endireitou a coluna, tamborilando os dedos finos no tampo da mesa.
— De quanto tempo estamos falando? — Ele se esforçou para parecer desinteressado.
Não era sobre as aventuras de H. G. Wells que ele me perguntava.
— Quase duzentos anos.
— Duzentos — ele ecoou. Um sorriso embasbacado brotou em seus lábios, e o olhar se fixou em algum canto atrás da minha cabeça. — Meu. Deus.
— Imagino que o senhor tenha muitas perguntas.
Ele piscou como se saísse de um transe e fixou os olhos, que de súbito pareciam vinte anos mais jovens, em mim.
— Inúmeras — confessou.
Tomei fôlego para criar coragem.
— Tudo bem, responderei a todas elas se o senhor me ajudar a ser uma dama do século dezenove.
O dr. Almeida me estudou com atenção, cerrando brevemente os olhos.
— Se seu desejo de se tornar alguém diferente é fruto das observações maldosas daquelas velhas matronas...
Sacudi a cabeça depressa.
— Christopher foi embora — soltei, prendendo a respiração. Dizer aquilo em voz alta tornava tudo real e triplicava minha agonia.
— Perdoe-me, o que disse?
— Christopher viajou sem mim. — Minha voz mal tinha som. — Tivemos uma briga feia e ele disse a palavra que começa com T. — Ele fez uma cara estranha, mas eu prossegui mesmo assim: — E tudo porque eu ainda penso como alguém do século vinte e um. Preciso da sua ajuda pra salvar meu casamento, doutor. O senhor tem que me ajudar! Por favor!
Ele se levantou, contornou a mesa e pegou uma das minhas mãos com gentileza.
— Acalme-se, querida. Conheço o senhor Uckermann há anos e posso lhe garantir que... seja qual for o motivo da desavença, superarão isso juntos.
— Não enquanto eu pensar que mulheres podem usar calças e trabalhar pra ajudar no sustento da casa, independentemente da classe social.
Ele prendeu o fôlego e seus olhos se alargaram.
— Viu? — Soltei sua mão e suspirei com força. Os bambolês sob minha saia se eriçaram e precisei ajeitá-los com as mãos. — Eu preciso aprender a ser uma mulher do século dezenove antes de o Christopher voltar.
Ele se abaixou lentamente e se acomodou na cadeira ao meu lado.
Quase dava para ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando.
— Está certa de que essa é a melhor solução?
— É a única que parece sensata — dei de ombros.
Com um longo suspiro, ele tornou a se levantar e seguiu até uma das prateleiras da estante. Correu os dedos por várias lombadas até puxar um volume de capa azul-marinho.
— Talvez isso possa ajudá-la. — Ele me entregou o livro. Guia de etiqueta da alta sociedade. Eu sabia que tinha um livro para isso. Sabia! — Pertence à minha esposa.
— Vale... Obrigada — me corrigi. — Vou ler com muita atenção, mas será que o senhor não podia fazer um resumo? Um apanhado geral, os pontos mais importantes. Tenho que aprender depressa!
Ele pigarreou e voltou a se sentar.
— Creio que sim. — Coçou o queixo. — Bem, devo começar... Creio que já percebeu que as damas devem se dirigir aos cavalheiros usando o honorífico apropriado e...
— Peraí, doutor! — Alcançando a bolsinha de crochê, pesquei lá dentro uma pequena caderneta e um toco de grafite. Abri o caderninho e posicionei o lápis. — Pode repetir essa parte do honorífico?
O homem riu.
— Vai anotar tudo o que eu disser, querida?
— Ah, vou. E decorar. E colocar em prática, claro. Com... um pouco de sorte.
Ele riu de novo e repetiu a frase. Continuou ditando outros detalhes: uma jovem educada nunca fala em voz alta ou com vulgaridade na companhia de alguém, sobretudo de um cavalheiro. Falar dos assuntos privados da família com outra pessoa, fora de casa, era proibido.
O amontoado de tecido que as mulheres eram obrigadas a vestir tinha um propósito, afinal. Quanto mais peças de roupa ela vestisse, mais rica era a família. E mesmo com as muitas camadas de roupas, de saias, anáguas e a crinolina, que restringia os movimentos, uma garota educada não levantaria a bainha de seu vestido para além dos tornozelos, muito menos ergueria ambos os lados da saia ao mesmo tempo, nem sequer para salvar a própria vida, tipo, se a casa estivesse em chamas e tal.
Eventos como bailes e jantares eram perfeitos para uma jovem mostrar seu decoro refinado. Nessas ocasiões sociais, ela poderia flertar com inocência, exibir seus talentos cantando ou tocando piano para os convidados, mas somente depois que a permissão lhe fosse dada pelo anfitrião. Exceto a parte do flerte, claro.
Uma dama de berço nunca cometeria a grosseria de perguntar “O quê?”. O correto era piscar e, com um sorriso meigo, questionar: “Perdoe-me, como disse?”
Era inimaginável uma dama proferir xingamentos, imprecações, palavrões e derivados.
Exatamente o contrário de tudo que eu andava fazendo, percebi enquanto anotava cada palavra.
Eu mal vi a hora passar, e só me dei conta de que estava trancafiada ali dentro havia muito tempo quando meus dedos doeram e uma empregada corcunda entrou com um lanche. O médico achou que já era o bastante e decidiu encerrar a aula. Analisei as anotações por um tempo. Eu podia fazer aquilo.
— Tudo bem, acho que acabamos por hoje então — falei, fechando a caderneta e guardando-a na bolsa.
— Não — rebateu ele, pousando sua xícara no pires. — Cumpri minha parte no trato. Agora é a sua vez — animou-se.
Com um longo suspiro, comecei a falar sobre o tempo em que eu vivera.
Duas horas depois, deixei para trás um bestificado dr. Almeida, completamente imerso em reflexões em sua poltrona. Isaac me esperara na frente da casa da família Almeida e tratou de não correr muito no caminho de volta. Aproveitei o tempo para dar uma espiada no livro de etiqueta.
Dizia de forma mais complexa tudo o que o médico relatara.
Cassandra ainda não havia retornado da visita a lady Catarina, de modo que depois do jantar pude, não sem Maite protestar, me trancafiar no quarto com meu caderninho e o livro de etiqueta. Ela não entendia por que é que eu precisava decorar tudo aquilo se estava me saindo tão bem. Sério, Maite era um presente dos céus.
Conforme eu lia o manual de etiqueta, ia adicionando mais algumas anotações à caderneta. Pela manhã eu já havia terminado a leitura. E tinha muito o que decorar.
Após o café da manhã, Maite decidiu tocar arpa, e isso impulsionou sua tia a fazer uma visita à madame Georgette. A mulher não gostava do som do instrumento, alegando ser excessivamente agudo. E de repente, como num passe de mágica, passei a me interessar por ele.
A canção que Maite escolhera executar era linda, doce, quase angelical, e me trouxe um milhão de lembranças de Christopher. Foi assim o dia todo. Quanto mais eu tentava me distrair decorando aquelas regras estúpidas, mais pensava nele.
Será que ele estava pensando em mim também? Será que estava com dificuldades de se concentrar em qualquer outra coisa, assim como eu?
Aquele dia custou a passar. O seguinte não foi muito diferente, exceto pelo fato de Cassandra ter ficado em casa. Então decidi arrastar Maite comigo até a vila. Devolvi o livro ao médico e depois fui até a botica, para entregar pessoalmente a última remessa de condicionador e avisar ao seu Plínio que não poderia mais manter o acordo.
— Oh, não diga isso, querida! — ele exclamou. — Seu produto é um verdadeiro sucesso. Nada nesta botica vende tanto. Recebeu oferta melhor? Podemos discutir um novo acerto...
— Não, seu Plínio — me apressei em dizer. — Não é nada disso. Eu só não quero mais vender o condicionador.
Ele tentou me fazer mudar de ideia. Ofereceu um terço a mais de moedas, porém me mantive firme em minha resolução. Por fim ele acabou aceitando, mas disse que deveria procurá-lo se a qualquer momento mudasse de ideia. Mesmo sabendo que isso não aconteceria, concordei, e Maite e eu voltamos para casa, onde passei o resto do dia decorando as regras.
Tentando, na verdade. Meus pensamentos vagavam a cada cinco segundos em direção àquele par de olhos negros.
O ponto alto do dia seguinte foi a visita do dr. Almeida no fim da tarde.
Alfonso apareceu, e eu agradeci em silêncio por Elisa ter momentos agradáveis e dar algumas risadas com o primo, já que eu estava longe de conseguir lhe proporcionar qualquer diversão.
A manhã do dia 28 de maio de 1830 chegou brilhante e levemente fresca, mas vazia, assim como todas as outras. Os ventos anunciavam a proximidade do inverno. Entretanto, uma estranha ansiedade me dominou, e eu comecei a me sentir tensa, como se alguma coisa fosse acontecer.
Depois de muita insistência, Madalena aceitou me ajudar a praticar um pouco do que eu aprendera com o livro e as dicas do dr. Almeida. Não me saí muito bem, mas pelo menos ela não ria quando me esquecia do que tinha que fazer e espiava a caderneta.
Após o almoço, acompanhei Maite até a sala de artes. Gomes se dirigiu até lá e anunciou que tínhamos um visitante.
— Padre Antônio acaba de chegar — disse, enquanto Maite tentava me ensinar os passos de uma quadrilha. Havíamos afastado os móveis para ganhar espaço.
A garota abriu a boca para responder, mas mudou de ideia e olhou para mim.
— O que foi? — perguntei, intrigada com a hesitação.
— Como o senhor Gomes deve proceder? — indagou ela, com um sorriso minúsculo.
Franzi a testa, estranhando a pergunta.
— Do jeito de sempre? — tentei.
— É isso que deseja, senhora Uckermann? — ela enfatizou o título, exibindo as adoráveis covinhas.
Compreendi o que ela estava tentando fazer. Mas eu simplesmente ergui as mãos na altura dos ombros e disse:
— Ah, não, Maite! Nem vem. Não posso bancar a dona da casa agora.
Ainda não sei fazer isso. Não tô pronta!
E ela sabia, pois assistira à minha triste exibição com Madalena.
— E daí? Você pode agir como bem entender, sem seguir regra nenhuma, simplesmente porque é a dona desta casa. E é a esposa de Christopher, portanto deve representá-lo em sua ausência.
— A gente não pode deixar tudo como está, pelo menos por enquanto?
— implorei, juntando as mãos e cruzando os dedos. — Eu não quero constrangê-los. Preferia esperar mais um pouco. Só até eu decorar tudo e treinar mais. O seu Gomes também pensa assim, não é, seu Gomes? — Olhei para ele, suplicando ajuda.
— Temo que se subestime em demasia, minha cara — disse o traidor.
— Toda a criadagem e eu estamos ansiosos para que assuma seu posto. De verdade, desta vez. E já faz algum tempo — adicionou, ajeitando a larga gravata.
Maite sorriu triunfante.
— Estou cansada de ser responsável pela casa — argumentou, fingindo irritação. — Quero me livrar dessa responsabilidade e ser uma jovem cabeça-oca como as outras!
— Maite! — bati o pé.
A menina riu.
— Apenas diga ao senhor Gomes o que deve ser feito, Dulce. Mas se apresse, pois o padre está esperando.
Grunhi esfregando a têmpora.
— Tá certo, mas, se eu atear fogo na casa sem querer, não quero ouvir reclamação depois. — Me virei para o mordomo. — Leva o padre... pra sala e serve alguma coisa.
Ele assentiu uma vez, com um minúsculo sorriso num canto da boca.
— Prefere que seja servido chá, café ou um refresco? — ele questionou, prestativo.
Olhei para Elisa de soslaio, esperando encontrar a resposta. Não tive sorte.
— Humm... Os três. O padre decide o que vai beber. E... humm... o padre Antônio adora comer, então vê com a Madalena o que tem na cozinha.
— Como quiser, senhora Uckermann. Com sua licença. — O homem reluzia de contentamento ao se curvar, antes de sumir de vista.
— Excelente, Dulce! — elogiou Maite, apertando a minha mão. — Saiu-se muito bem. Deixar a visita escolher foi uma ótima decisão.
— Já a sua, de me deixar no controle justo quando o padre aparece, foi péssima.
Ela enroscou o braço ao meu, rindo, enquanto nos dirigíamos para a sala.
— Você tem se esforçado tanto para se parecer com... — Ela me examinou de canto do olho. — Bem, com a senhora Uckermann. Achei que deveria assumir seu posto de uma vez, mas supus que precisava de um pouquinho de encorajamento.
— Não quero ser a senho... — Mordi o lábio ao lembrar que havia decidido que sim, eu queria. Era o que eu precisava fazer para colocar meu casamento nos eixos. Já que me recusava a inaugurar as estatísticas de divórcio de 1830. Tateei a saia até encontrar a caderneta. Daria tudo certo.
— Tudo bem. Só fica por perto, tá legal?
Ela concordou e ergui os ombros, inspirando fundo, pronta para meu
primeiro encontro como a tal senhora Uckermann.
tahhvondy: Eles vão, só depois de mais uma confusão kk bjss
Comentem!!!!
Autor(a): Fer Linhares
Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
O padre estava sentado no sofá maior, mas ficou de pé exatamente no instante em que nos viu chegar.— Boa tarde, padre — eu o saudei e comecei a estender a mão, mas me detive a tempo. Fiz uma meia reverência, que ele correspondeu com diversão.— Que alegria vê-la tão bem, senhora Uckermann — ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 90
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52
Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2
-
tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32
amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro
-
Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03
Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2
-
GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38
Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV
-
GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26
Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo
-
Postado em 15/01/2017 - 20:30:45
ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua
-
tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14
ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada
-
Postado em 15/01/2017 - 17:24:53
amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina
-
tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46
owts bebe vondy a caminho amando
-
tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26
Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??