Fanfics Brasil - Capítulo 41 (2ª Temporada) Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Perdida, Encontrada - (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy (Adaptada)


Capítulo: Capítulo 41 (2ª Temporada)

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A notícia me deixou muda, perplexa a ponto de eu me perguntar se não havia sofrido um aVc.
— Quando isso aconteceu? — Ian trincou os dentes.
Madalena sacudiu a cabeça freneticamente.
— Não sei dizer. Creio que durante a madrugada, depois que o senhor Uckermann... o outro senhor Uckermann — ela me fitou — voltou da busca por sua senhora.
— E a senhorita Anahí? — ele quis saber.
— Está trancada no quarto, chorando, a pobrezinha.
Christopher soltou a governanta e foi direto vasculhar suas roupas ensopadas jogadas no
chão perto da banheira, encontrando seu relógio.
— Maldição, já devem estar longe. Peça a Isaac para preparar o cavalo.
Imediatamente! — ordenou num tom sombrio que eu nunca tinha ouvido antes.
— Vai atrás deles? — perguntei, desejando mais do que nunca que os carros já tivessem sido inventados.
Christopher me examinou por um momento, deliberando.
Nós iremos. — E, se dirigindo a Madalena, acrescentou: — Esqueça o cavalo. Diga a Isaac que deixe a carruagem na porta da frente. Partiremos em cinco minutos.
Madalena fez uma rápida reverência e tentou engolir o choro antes de deixar o quarto. Christopher não perdeu um segundo sequer. Correu até o guarda-roupa, pegando as primeiras peças que encontrou — calça cinza e camisa branca. Eu soltei o lençol e revirei a bagunça de tecido para encontrar meu elástico de cabelos. Fiz um rabo de cavalo meio torto.
— Você acha que o Alfonso fugiu para não ter de se casar com a Anahí?
— Prefiro não pensar muito sobre isso, ou irei matá-lo assim que puser os olhos nele — sua voz trovejou, repleta de irritação. — O que quero saber é por que Maite foi levada.
— Christopher, sua tia é maluca, sabe disso, não? — Abotoei o sutiã.
— Sim, infelizmente.
Coloquei a calcinha e enfiei um vestido qualquer pela cabeça. Um verde-militar.
— Então, eu tô aqui pensando os maiores absurdos. Diz que tô errada.
Christopher fez uma pausa, uma das botas na mão, a calça já no devido lugar, e me examinou por um segundo. Por um instante, pensei que ele fosse ter de se sentar de tão perplexo.
— Ela não ousaria ferir Maite.
— Já é alguma coisa — resmunguei, enfiando as botas vermelhas.
Pronto, Christopher separou algumas peças de roupa — dele e minhas — e me entregou. Eu enfiei tudo dentro de uma mala quadrada dura que encontrei sobre o guarda-roupa enquanto ele terminava de fechar os botões em minhas costas.
— Vamos. — Ele me pegou pela mão, com a mala na outra, e juntos corremos até a entrada da casa.
Madalena nos esperava na porta, e me entregou uma cesta de palha.
— Boa viagem, e não se esqueça de comer alguma coisa no caminho — aconselhou, toda maternal.
— Tá, valeu, Madalena. — Beijei sua bochecha, e ela ficou paralisada de surpresa. — A gente volta logo. Com a Maite. Cuida da Anahí, tá? Não a deixe ir pra casa de jeito nenhum até a gente voltar.
— Mas não posso detê-la contra a vontade dela.
— Claro que pode. É só não deixar que ela perceba. Enrola, Madalena.
Promete?
Ela assentiu, e Christopher abriu a porta da carruagem para mim. Mal ela se fechou e já
estávamos em movimento.
— Não fique tão aflita. Traremos Maite de volta. — Christopher pousou a mão na minha coxa, me impedindo de continuar a sacudir. — Tudo ficará bem. Ela logo estará em casa.
Aceitei seu conforto e descansei a cabeça em seu peito.
— Sua tia mora muito longe?
— Um pouco. Devem estar meio dia à nossa frente.
— Vá o mais rápido que puder, Isaac — gritei para o rapaz que nos conduzia.
— Sim, patroinha. — E o impacto dos cascos contra o solo se tornou mais frenético.
A paisagem foi mudando gradativamente. Passamos de campos com algumas esparsas elevações para vales imensos, e então montanhas. O cenário foi se tornando mais denso, fechado, como se nos embrenhássemos em uma floresta. Pedras imensas recobertas de limo nos faziam desviar o curso, e demos início a uma descida íngreme que exigiu muito dos cavalos.
Paramos uma vez, no que parecia uma cachoeira improvisada, onde os cavalos beberam água e descansaram um pouco, e então pudemos comer o que Madalena colocara na cesta.
A noite chegou, e nós ainda estávamos naquela descida íngreme. Uma enorme construção surgiu na paisagem, e Ian decidiu parar, considerando muito perigoso prosseguir no escuro. A estalagem, algo parecido a hotel de beira de estrada, que fornecia guarida para pessoas e cavalos, não era muito luxuosa.
Não tinha me dado conta de como estava exausta até descer da carruagem. Christopher pagou pelos quartos — o nosso e o de Isaac. Subimos uma escada que rangia sem parar rumo ao segundo andar. Quando encontramos o nosso quarto, Christopher colocou a mala sobre uma cadeira e passou a tranca na porta.
— Uau! — falei, observando a parca decoração ao redor. Havia uma cama, uma mesa rústica com duas cadeiras e dois criados-mudos. Fiquei feliz ao me deparar com a banheira já preparada no canto escuro.
— Não era bem o que eu havia planejado para a nossa lua de mel — disse ele esgotado, ao examinar o ambiente.
— Ei! — Toquei seu braço. — Eu achei o máximo. Quer dizer, se a situação fosse outra, eu me divertiria muito num lugar feito este. Eu sempre ficava imaginando como seriam os hotéis dessa época. Tipo, quando a Elizabeth Bennet viajou com os tios, ela deve ter se hospedado num lugar assim, né?
Ele esboçou um sorriso. O primeiro desde que soubera do rapto de Maite.
— Não faz ideia de como sou grato por tê-la em minha vida, Dulce. — Ele me puxou para perto, mas ainda estava tenso, e a ruga de preocupação em sua testa parecia entalhada ali.
— Christopher, você acha que a Anahí e Alfonso... você sabe... foram até o fim?
— Não. Falei brevemente com ele na madrugada passada. Teriam ido adiante se a senhora Madalena não os tivesse surpreendido. Alfonso desfez apenas os dois primeiros botões do vestido, o que não o isenta de responsabilidade. Ainda não posso acreditar que ele tenha fugido — Christopher sacudiu a cabeça, aborrecido.
— Posso quebrar o nariz dele, se quiser — ofereci.
Ele deu um leve sorriso e soltou o elástico dos meus cabelos.
— Agradeço, mas eu mesmo farei isso.
Apesar de toda a preocupação, Christopher sentia necessidade de contato, de calor, e eu fiquei mais do que feliz em poder confortá-lo.
Voltamos para a estrada pouco antes de o sol nascer. Isaac parecia tão tenso quanto Christopher e eu.
Conforme as curvas na estrada aumentaram, um perigoso penhasco se revelou. Entendi a preocupação de Christopher  quanto a viajarmos durante a noite.
Numa dessas curvas, avistei ao longe um infinito lençol verde-água ladeado por uma ampla faixa branca.
— Estamos indo ao litoral? — perguntei.
— Sim.
Tudo bem, eu sabia que as praias existem desde sempre, mas senti certo alívio ao descobrir que eram accessíveis. Talvez pudéssemos voltar depois, quando tudo tivesse se resolvido.
O céu mudou de cor e não demorou muito para que tímidas gotas de chuva atingissem a janela. Christopher começou a ficar nervoso e apertou minha mão com força. Ele cuspiu um palavrão quando relâmpagos e trovões começaram a cruzar o céu, como se fossem um aviso de que algo ainda pior estava por vir.
— Não foi uma boa ideia trazê-la comigo. Onde é que eu estava com a cabeça? Não devia colocá-la em tamanho risco — falou, atormentado.
— A maldição não existe, Christopher.
— Como pode ter certeza?
Dei de ombros.
— Apenas tenho.
Ele não acreditou em mim, principalmente quando a chuva desabou, furiosa, nos obrigando a diminuir o ritmo. Um tempo depois, seguíamos tão devagar que pensei que Isaac estava estacionando. E estava mesmo.
Através da cortina de água que nos cercava, avistei uma carruagem parada num ângulo esquisito. Um homem, no meio da estrada, acenava com os braços.
Alfonso.
Christopher deu um soco no teto da carruagem. E parecia que aquele era o sinal para Isaac parar, mas o garoto já tinha reconhecido Alfonso e se antecipado.
— Dulce, fique aqui dentro — Christopher avisou.
— De jeito nenhum. Você cuida do Alfonso e eu procuro a Maite.
Aflito, Christopher olhou para o céu através da janela, como se fizesse uma prece.
Coloquei a mão em seu ombro.
— Não existe maldição, Ian. E, mesmo que existisse, aqui não conta.
Não estamos numa viagem de lua de mel. É uma missão de resgate.
Ele não se moveu, de modo que me estiquei para alcançar a alavanca e abrir a porta. Eu o empurrei para fora.
— Vamos! Sua irmã precisa da nossa ajuda! — E desci.
Aquilo pareceu surtir efeito, e Christopher partiu para cima do primo com raiva.
O ensopado Alfonso não pareceu notar a fúria de Christopher e soltou um “graças a Deus” antes que o punho de meu marido encontrasse seu queixo. Sua cabeça pendeu para trás.
— Covarde desprezível! Onde está a minha irmã? — Christopher o segurava pela lapela e o sacudia.
— Christopher, não é o que...
pou!
— Onde está Maite? — urrou.
— Na carruagem! Fomos dopados! Nós dois. Pare e me escute! Fomos dopados!
Christopher já havia se preparado para desferir outro soco, mas se deteve. As gotas se
acumulavam em seus cabelos e agora escorriam pelo seu rosto.
— Fomos dopados — repetiu Alfonso, passando a mão na boca machucada. — Algo que mamãe colocou dentro do chá. Ela pretendia mentir ao pároco do nosso vilarejo, dizendo que desonrei sua irmã, e com isso obrigá-lo a nos casar!
— Como é? — ofeguei, passando a mão na testa para me livrar dos fios de cabelos grudados ao meu rosto.
— Eu estava desmaiado — ele explicou, mortificado — Fui arrastado por mamãe e nosso cocheiro. Maite também estava desacordada ao ser colocada dentro da carruagem. Quando despertei, já estávamos longe de sua propriedade. — Ele encarou o primo. — Eu não teria fugido! Que tipo de homem pensa que sou?
— Um que se insere sorrateiramente no quarto de uma jovem inocente no meio da noite! — acusou Christopher.
O rapaz se encolheu.
— Tem razão. Pode continuar me esmurrando.
Christopher fez uma careta ao soltá-lo e correu para a carruagem. Tentei acompanhá-lo, mas o vestido absorvia muita água e ficou pesado demais, me obrigando a ficar para trás. Ele abriu a porta com violência, praguejou e socou a lateral do veículo.
— Elas sumiram — disse com ferocidade quando o alcancei.
— Vamos nos separar. Elas não podem estar longe. — Juntei as saias nas mãos e me preparei para correr.
Christopher me segurou pelo braço.
— Não, você vai voltar para a carruagem agora. Isaac e eu procuraremos Maite.
— E eu — disse Alfonso, se aproximando. — Mamãe perdeu completamente o juízo.
— Mas, Christopher, eu posso...
— Pelo amor de Deus, Dulce! Não faça isso agora — ele implorou, olhando para o céu. Aquele desespero que eu já conhecia tão bem dominou cada centímetro de seu corpo. — Volte para a carruagem e fique em segurança.
Eu queria ajudar, mas naquele instante percebi que a melhor maneira de fazer isso era tranquilizar o coração de Christophere me manter “segura”. Então assenti uma vez, lhe dei um beijo e voltei para a carruagem. Ele e os outros dois dispararam em direções diferentes, chamando por Maite. Eu estava a poucos metros do veículo quando um ruído sutil me fez virar a cabeça. Um borrão azul-turquesa se ocultou atrás de uma árvore.
— Christopher! Aqui!
Ele já estava longe e não me ouviu. Isaac, porém, um pouco mais próximo, conseguiu escutar e gritou. Christopher se deteve e começou a voltar.
Hesitei por um momento. Outro raio riscou o céu. Meu coração deu um salto quando me dei conta de onde Maite estava.
— Maite! — gritei, suspendendo a saia e me embrenhando na mata.
— Dulce! Maldição, Dulce! Volte para a carruagem! — Ouvi Christopher berrando, mas eu não podia esperar.
A gritaria alertou Cassandra, que saiu de seu esconderijo e tentou arrastar a menina mata adentro. Ela tapava a boca de Maite, segurando-a pelo tronco.
— Saiam daí! — avisei.
A menina se contorceu sob o aperto da tia e, talvez porque a chuva ajudasse, conseguiu escapar e veio ao meu encontro.
— Cacete*, Maite! — Eu a segurei pelos ombros assim que a alcancei. — Nunca fique embaixo de uma árvore no meio de uma tempestade. Jamais! Está me ouvindo? Mesmo que seja num sequestro.
— Ela me obrigou! Mentiu para mim. Serviu-me um chá que me deixou com muito sono. Quando acordei, já estávamos longe.
Fechei os olhos e a apertei com tanta força contra o peito que, quando Christopher se juntou ao abraço, achei que eu fosse desmaiar.
— Vocês estão bem? — perguntou ele, nos apertando.
— Só um pouco molhadas — resmunguei, quase sem ar.
— Ah, Christopher, como fui tola! — Maite se agarrou a ele e chorou.
Christopher a confortou com palavras doces, mas seus olhos eram duas adagas apontadas para a figura larga sob a copa da árvore.
— A partir de hoje, quero que esqueça que somos parentes e espero nunca mais ouvir notícias suas — ele vociferou. Gotas brilhantes pingavam de seus cabelos, de seu queixo resoluto e escorriam para o rosto de Maite, ainda agarrada a ele, assim como eu.
— Se pensa que permitirei que minha sobrinha seja afetada por essa mulher...
Christopher nos soltou e deu um passo à frente.
— A senhora não tem a metade da decência, da honra e da bondade desta mulher — ele apontou furioso para mim, mas com os olhos cravados na tia. — Deixe minha esposa em paz, deixe minha irmã em paz. Volte para o buraco do qual saiu e nos esqueça, ou, eu juro, farei com que se arrependa de um dia ter posto os olhos nelas.
A mulher empinou o queixo.
— Não permitirei que a esposa de Alfonso seja orientada e imite as atitudes dessa...
Puxei Christopher para trás, com medo de que ele perdesse a cabeça, e inspirei fundo.
— Sabe de uma coisa, dona Cassandra, tenho pena da senhora, porque, apesar de toda essa altivez e arrogância, sei que não passa de uma mulher solitária, com medo de que a única pessoa que a ama de verdade vá embora. Só pense no futuro que quer para o Alfonso, porque, se a senhora afastar a Anahí e ele, em alguns anos seu filho será tão amargurado e
solitário quanto a senhora.
Ela bufou, cerrando os punhos ao lado do corpo, mas tudo o que conseguiu dizer foi:
— Não ouse proferir o nome de meu filho. — Então se virou com tanta empáfia que a beirada de suas saias se ergueu com o rodopio, nos permitindo avistar aquela gaiola por baixo, no mesmo instante em que mais um raio cruzava o céu.
Foi aí que entendi tudo.
Christopher se preocupara tanto com a maldição, mas eu nunca estive em perigo. Ela jamais poderia me atingir simplesmente porque eu me recusava a ser uma típica dama do século dezenove!
As garotas estavam perdendo a vida em nome da beleza...
Tomada de horror, girei sobre os calcanhares e olhei desesperada para Maite.
— Ai, meu Deus! Não!
— O que foi? — perguntou Christopher, mas eu já estava entrando em ação.
— O que... Dulce! — Elisa me censurou quando tentei erguer seu vestido ensopado. — O que está fazendo?
Minha cabeça estava a milhão. A crinolina. Tinha que ser ela. Um trovão ecoou ao longe.
— A gaiola — falei. — É a gaiola que anda matando as garotas. Não existe maldição. Maite precisa tirar a dela agora!
Christopher engasgou e adquiriu a cor de um tomate maduro.
— O quê?!
Maite se afastou um passo, mas eu não deixei que fosse muito longe, segurando-a pelo braço.
— A crinolina é feita de metal! — insisti. — Por isso as moças são atingidas pela descarga elétrica e os homens não. Fica quieta, Maite!
Eu sabia que aquela gaiola não era boa coisa. Sabia!
— Mas o cavalariço de tia Cassandra, Alfonso... — ela se esquivava. — E Christopher!
— E Isaac — lembrou Christopher. — Meu amor, por favor, não entendo o que está dizendo, mas arrancar as saias de minha irmã em público...
— Você não entende! — eu o interrompi. — As crinolinas devem funcionar como para-raios! Se acha que vou deixar minha irmã caçula andar por aí com um alvo escrito “atinja aqui” só por causa desse decoro estúpido, é melhor tirar o cavalinho da chuva. Deixo Maite pelada em dois tempos se preciso, mas ela vai sair de dentro dessa gaiola.
— Tem certeza do que está dizendo? — questionou Christopher, um pouco assustado e muito embaraçado.
— Tenho! Caramba! Como alguém pôde imaginar que essa porcaria era segura? Lembra que falei do Frankenstein, da Mary Shelley? É o que dá vida ao monstro. Um raio atraído por um monte de metal! — Eu me virei para a garota: — Maite, você está usando algo muito perigoso por baixo das saias e tem que se livrar disso agora! Tem tanta roupa aí que ninguém vai ver nada, para de frescura. Vamos logo com isso, tira essa porcaria!
— Dulce! — ela implorou.
Olhei para Christopher.
— Você segura ela e eu arranco a gaiola — falei.
Sem hesitar, ele assentiu uma vez e agarrou a irmã pelos cotovelos. Eu me abaixei, ajoelhando na lama, levantei a barra pesada do vestido, me enfiando ali dentro. Desatei todas as fitas amarradas à cintura dela.
— Agora levanta ela, Christopher.
Ele fez o que eu pedi, pegando a irmã no colo de um jeito tão familiar, como se já tivesse feito aquilo muitas vezes. Eu puxei a gaiola com cuidado até as pernas de Maite estarem livres, então me afastei deles e arremessei aquela porcaria para longe. Infelizmente, ela se enroscou no galho de uma árvore poucos metros adiante.
Christopher colocou a irmã de pé novamente, e a menina estava corada até a raiz dos cabelos, evitando olhar para o irmão e para o primo, que àquela altura já havia se juntado a nós e visto tudo, boquiaberto. Maite mantinha as mãos na cintura do vestido, como se segurasse alguma coisa. O que provavelmente era verdade.
— Desculpa, mas eu não sabia qual das fitas era a da crinolina — expliquei.
— Ainda não compreendi por que me fez...
— Porque ela é uma selvagem! — ouvi Cassandra vociferar, protegida da chuva outra vez sob a copa da árvore.
Ela não é problema meu, repeti a mim mesma uma dúzia de vezes, tentando me convencer. Eu não gostava de Cassandra, então não importava o que aconteceria com ela, certo?
Bom, não. Não exatamente. Se eu fosse uma mulher do século dezenove, não saberia nada sobre para-raios e condução elétrica. Mas eu não era. Sempre levaria dentro de mim tudo o que vivi em meu tempo, as coisas boas e ruins, os maus hábitos, mas também o conhecimento, e isso me tornava privilegiada. E, embora eu quisesse ver Cassandra sofrendo por ter sequestrado Maite, não queria que fosse incinerada por um raio. Uma unha encravada estaria de bom tamanho.
Como se lesse meus pensamentos, Christopher abriu a boca.
— Se o que diz é verdade, não podemos deixá-la assim. — Ele apontou para Cassandra com a cabeça.
— Não podemos — concordei com um suspiro. — Mesmo esquema?
Ele assentiu.
— Alfonso — Christopher chamou alto. — Creio que precisaremos de sua ajuda neste... confronto.
O rapaz deu alguns passos até ficar ao lado do primo.
— O quê? Ficaram loucos? Ela nos matará!
— Não se a gente correr bem depressa depois — falei.
Um trovão gutural me fez encolher. Não havia tempo a perder.
— No três — avisou Christopher.
— Jesus Cristo, Christopher! — Alfonso passou as mãos pelos cabelos molhados, empurrando-os para trás. — Espero que saiba onde está se metendo e me dê guarida, pois certamente serei deserdado.
— Desde que cumpra seu dever com a senhorita Anahí, será bem recebido.
Alfonso suspirou, desolado.
— Terei sorte se, depois de tudo o que mamãe fez, a senhorita Anahí se dignar a me dirigir um olhar de desprezo.
— Se o aceitou em seu quarto, creio que os sentimentos dela superarão o ocorrido — Christopher emendou.
— Acha mesmo? — Um sorriso tímido e esperançoso curvou seus lábios. — Acredita que ela possa aceitar minha mão?
— Vai ter que voltar e descobrir sozinho, Alfonso. Agora vamos. Um, dois... — começou Christopher.
Cassandra ficou surpresa ao ver que corríamos como loucos em sua direção, e mal teve tempo de se mover. Não até que fosse tarde demais.
— O que estão fazendo? Me soltem! — Mas Christopher e Alfonso já tinham imobilizado a mulher. — Parem já com isso! Eu ordeno. — Ela se debatia.
Hesitei em levantar as saias da mulher — não era o lugar onde particularmente eu gostaria de estar —, mas por fim me enfiei sob o tecido encharcado e soltei todos os laços, como tinha feito antes com Maite.
Cassandra me chutou algumas vezes, acertando meu joelho. Cambaleei para fora daquela tenda e segurei a crinolina pela parte inferior.
Christopher e Alfonso ergueram Cassandra, que berrava descontrolada e
esperneava feito uma criança birrenta. Elisa veio me ajudar a puxar a crinolina.
Eu estava pronta para dar àquela gaiola o mesmo destino da primeira, quando
Christopher a tomou de mim.
— Eu cuido disso. — Mas o que ele quis dizer foi “não quero você perto desse treco”.
Christopher atirou aquela porcaria tão longe que ela acabou rolando, rolando até cair no barranco e desaparecer de vista.
— Selvagem insolente! — Cassandra berrava. — Como ousa me tocar dessa forma? Com que direito se intromete em minha intimidade? E você, Christopher, que compactua com um ato tão vil? Nunca o perdoarei, Alfonso. Vou bani-lo de meu testamento. Ficará sem um único vintém!
Christopher disse algo a Alfonso as, que assentiu, solene. Meu marido veio ao meu
encontro, enquanto a mulher continuava gritando com o filho, que parecia não se importar.
Christopher passou o braço em minha cintura e ofereceu o outro à irmã.
— Já vi muito mais do que minha sanidade pode suportar — desabafou ele, com uma careta de dar pena, e me fazendo rir. — Vamos para casa.
— Será que a gente não podia, tipo, dar uma esticadinha até a praia? — sugeri como quem não quer nada. — Parece que estamos tão perto.
— Oh, que ideia adorável — concordou Maite. — Posso tomar uma diligência e deixá-los mais à vont...
Foi nesse exato instante que uma bomba explodiu ali perto. Bom, ao menos foi o que pareceu, por causa do barulho ensurdecedor e do tremor que senti sob os pés. Só tive tempo de proteger os olhos. Christopher rapidamente se agachou, nos obrigando a fazer o mesmo, se curvando sobre nós e passando os braços ao nosso redor, a mão grande protegendo minha
cabeça. Outra bomba detonou em seguida.
— Meu Deus! — exclamou Christopher, assim que as coisas se aquietaram.
Eu levantei a cabeça devagar; meu marido olhava para frente e nem ao menos piscava, a perplexidade estampada no rosto. Maite tinha uma expressão muito semelhante. Olhei para o que lhes chamara tanto a atenção e meu queixo caiu. A crinolina pendurada no galho estava em chamas.
Nós nos levantamos lentamente, e Christopher me examinou dos pés à cabeça, fazendo o mesmo com a irmã.
— Vocês estão bem?
— Ãrrã — resmunguei, atordoada. Maite apenas balançou a cabeça, parecendo em choque.
— Alguém se feriu? — Ele gritou ao primo.
— Não, mas acho que fiquei surdo — foi a resposta de Alfonso. Ao seu lado, agarrada a seu braço, Cassandra observava a gaiola queimar com a boca escancarada e os olhos esbugalhados.
Christopher soltou um suspiro aliviado e se dirigiu para a beirada do barranco.
Eu fui atrás dele e parei ao seu lado para observar a crinolina, que se enroscara em uma raiz poucos metros abaixo, também ser consumida pelas chamas.
— Co-como sabia? — Maite, que havia me seguido até ali sem que eu notasse, gaguejou, me fitando com os olhos arregalados.
— Foi por causa da sua tia. Quando ela se virou, vi o brilho do metal e saquei tudo na hora. Não sei por que não liguei uma coisa à outra logo no começo. A gente precisa fazer alguma coisa. Espalhar a notícia e impedir que mais mulheres percam a vida por causa dessa gaiola estúpida.
Girando sobre os calcanhares, Christopher me prendeu com seu olhar. Ele parecia espantado, pasmo, orgulhoso, confuso e tantas outras coisas que me fizeram corar.
— Você nunca deixa de me surpreender, meu amor — murmurou. — Você é a pessoa mais bonita que já tive a honra de conhecer. — Ele me tomou em seus braços com violência, me tirando do chão.
Gostei de ele não ter me colocado em uma categoria de gênero. Gostei mais ainda dos beijos que salpicou por todo o meu rosto.
— Obrigado por salvar Maite. Obrigado por nunca fazer o que peço.
Eu acabei rindo.
— Nunca imaginei que um dia você fosse ficar feliz com isso. Mas, sabe, eu sempre soube que você gostava de uma senhorita petulante.
— A minha senhorita petulante. — Ele me beijou com delicadeza e depois me colocou no chão.
— E agora que não tem mais maldição — passei os braços ao redor do seu pescoço —podemos finalmente ter a nossa viagem de lua de mel!




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Autor(a): Fer Linhares

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Eu sacolejava na cabine da carruagem enquanto observava Christopher dormir. Eu tinha mesmo muita sorte. Meu marido era lindo. E, depois de um dia na praia, um suave tom rosado começava a se acentuar em um bronzeado muito sutil que me fazia suspirar. Já estávamos a caminho de casa, bem perto agora.Alfonso deixara sua mãe em casa ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 90



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  • kaillany Postado em 17/01/2017 - 15:34:52

    Parabéns amei do começo ao fim!!!!s2

  • tahhvondy Postado em 16/01/2017 - 17:33:32

    amei q lindo super amei e m ansiosa pro proximo livro

  • Captain Swan Postado em 16/01/2017 - 14:45:03

    Já ta postado o proximo livro o link ta nos agradecimentos bjss S2

  • GrazihUckermann Postado em 16/01/2017 - 14:38:38

    Ameii! estou muito ansiosa pelo próximo livro s2 posta logo PFV

  • GrazihUckermann Postado em 15/01/2017 - 22:04:26

    Sumi mas estou de volta! 10 capitulos novo e li tudo rapidinho. tá, talvez demorei tipo uma hora e meia, quase duas. amei de mais! Estou apaixonada por esse dois s2 continua logo

  • Postado em 15/01/2017 - 20:30:45

    ah ta acabando q triste mas to amando e o q o futuro deles??se for o q to pensando e mt legal continua

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 17:27:14

    ai o cometario abaixo e meu não vir q não tava longada

  • Postado em 15/01/2017 - 17:24:53

    amei e uma menina e amei q colocaram o nome dela de nina

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 16:54:46

    owts bebe vondy a caminho amando

  • tahhvondy Postado em 15/01/2017 - 00:35:26

    Ossa odiando essa tia do Christopher cm ela teve coragem de sequestrar a Maite sorte q acharam ela mas essa tia vai continuar causando problemas? ?e o Anfonso vai casar cm a Anahí??


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