Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Deixar aquele palco dos horrores foi tão ruim quanto entrar. Fernando
não entendeu direito quando, mas em algum momento, um lance por ele foi
aceito. Foi então arrastado para fora dali e entregue a um homem negro
sem cabelo. Este o olhou e apertou seus braços, confirmando o que seu
lance comprara.
– Eu disse que ele é forte!
Disse Cadman ao comprador. O homem olhou nos olhos de Fernando e
então entregou um saco de moedas para o outro.
– Parece que sua promessa não vai ser cumprida, corvo! Sussurrou
Cadman, antes que o homem negro com chicote levasse Fernando.
Ele foi levado por uma rua. Pensou em tentar uma fuga ali mesmo,
mas não iria longe estando amarrado e, certamente, aquele não era um
lugar receptivo a fugitivos.
Ao fim da rua onde cheiros de bebida e suor se
misturavam, havia uma carruagem totalmente fechada. Não era nobre,
parecia mais uma carroça fechada. Fernando foi jogado ali dentro e grilhões
foram colocados em seus pés.
Havia mais seis homens ali, todos amarrados e com as mesmas
correntes nos pés. Fernando olhou para eles, sem saber exatamente como
começar uma conversa naquela situação. Olhou para a porta que se fechou,
imaginando quanta força seria necessária para abri-la. Pular de uma
carruagem em movimento não era assim tão terrível. Já fizera coisa pior e
sobrevivera.
– Não pense nisso! – disse o rapaz ao lado dele.
Fernando o olhou surpreso. Como podia saber o que ele estava
pensando?
– Está pensando em fugir – disse o rapaz. – Está escrito na sua testa.
Nem pense nisso! Se tentar uma fuga, todos nós vamos pagar caro.
– Desculpe... – disse Fernando. – Eu nunca fui escravo antes, ainda não
sei as regras de etiqueta. Sou Fernando Grandier. E você?
– Edward Lelance.
– E como você chegou a isso, Edward?
– Estava escoltando uma princesa quando fomos atacados. Levei
uma pancada na cabeça no meio da luta e quando acordei, estava sendo
arrastado pela floresta por mercadores de escravos. E você? Como veio
parar aqui?
Fernando pensou na pergunta e como seria complicado respondê-la.
– Sei lá... Um dia eu estava num piquenique com minha bela esposa,
meus amigos, minha filha e o namoradinho dela... E então, puf! Tudo aquilo
sumiu e aqui estou eu...
Ficaram em silêncio, assim como os outros, que apenas ouviam.
– E agora? – tornou Fernando. – O que acontece?
A carruagem se moveu e eles começaram a andar.
– Agora seremos entregues aos nossos novos donos... – respondeu
Edward.
O caminho foi de silêncio. Havia os trotes dos cavalos e nada mais.
Fernando observou os homens ali. Pareciam alquebrados, deprimidos,
derrotados... Ele esperou que não estivesse com aquela aparência também.
Seus pensamentos vagaram e as costelas doeram. Foram as primeiras. Logo
depois, a cabeça doeu, o ombro também e finalmente, o estômago. Fernando
lembrou que levou uma surra e que estava faminto. Apesar de querer saber
um pouco mais sobre aqueles cinco homens, seu interesse perdeu para a
dor, o cansaço e a fome. Recostou a cabeça na parede da carroça-prisão e
fechou os olhos por alguns minutos.
Acordou com um solavanco. A carroça havia parado e ele,
definitivamente havia dormido. A porta se abriu com barulho e dois
homens fortes gritaram para que eles saíssem. Os homens saíram um tanto
desorientados e ouviram as ordens. O sol se punha por trás das árvores e o
céu perdia sua cor viva.
– Vamos dormir aqui! Vocês não são mais homens! São
propriedades! Se alguém tentar fugir, todos pagarão, então não façam
besteira!
Com mãos amarradas e pés acorrentados, não havia muitas chances
de fuga. Ordenaram que eles se sentassem no chão e lhes deram pão e água.
Os dois homens comiam afastados deles, conversando entre si. Algo se
moveu entre as folhas e Fernando apurou os olhos, na dúvida se tinha mesmo
visto o que achou que viu.
– O que diabo é aquilo? – murmurou, chamando a atenção de
Edward.Este seguiu seu olhar atônito e viu, entre as folhagens, tentando se
esconder, um grande olho e uma boca com um só dente.
– Ah! – respondeu Edward. – É o Tachan!
– O que?
– Um elemental esquisito que vive por aqui.
– É muito feio... – tornou Fernando.
– É, mas é inofensivo. Não se incomode com ele...
Os homens terminaram de comer, mas Fernando guardou metade de
seu pão na roupa. Os dois captores retornaram com uma pequena frutinha
vermelha e deram uma para cada um. Fernando não entendeu quando
recebeu o que lhe pareceu uma cereja muito pequena.
– Comam! – ordenou o negro.
Os homens obedeceram e Fernando colocou a frutinha na boca. Em
alguns minutos, os seis homens prisioneiros esfregaram os olhos e
bocejaram. E então, um a um, caíram em sono profundo. Menos um. Fernando
fingia dormir, a frutinha guardada na mão.
Quando tiveram certeza que todos estavam dormindo, os dois
captores também foram dormir mais perto da fogueira que tinham feito.
Fernando se sentou e procurou a criatura nas folhagens. Ele ainda estava lá,
olhando curioso. O homem tirou o pão de dentro da roupa e fez um gesto
com a mão chamando o Tachan.
Desconfiada, a criatura saiu de seu esconderijo. Fernando tentou não
gritar de susto quando surgiu diante dele um ser de um pé, um olho, uma
boca com um dente e uma mão saindo do meio do corpo. Era, oficialmente,
a coisa mais feia que ele já vira. E ele já vira muita coisa feia!
Ele continuou chamando a criatura, tentando sorrir e passar
confiança. Hesitante, o Tachan chegou bem perto e Fernando lhe eu o pedaço
de pão.
A criatura pegou o pão e enfiou inteiro na boca enorme, comendo e
espalhando farelos. Quando terminou, lambeu os beiços e esboçou um
sorriso.–
Você pode me fazer um favor? – perguntou Fernando num sussurro.
– Huh!
Fernando interpretou isso como um sim.
– Uma mulher bonita com longos cabelos escuros e dois homens
virão atrás de mim. Se eles passarem por esta floresta, você poderia lhes
dizer em que direção eu fui?
– HUH!
Fernando não tinha muita certeza se estava sendo entendido. Mas, em
todo o caso, sorriu gentilmente.
– Obrigado...
A criatura respondeu com seu sorriso estranho de um dente só e
então saltou para a mata escura. Fernando se deitou, imaginando o quão
estranho era aquele lugar. E estranho do jeito que era, talvez desse sorte.
Que Blanca, Marcos e Marcel estavam atrás dele, ele não tinha dúvidas.
Conhecia aqueles três e eles eram teimosos. Se o Tachan os encontrasse e
pudesse lhes dar uma pista, seria de grande valia. Ele acabou dormindo,
pensando nisso, e sonhou que estava em casa de novo e que Cacau latia
pedindo biscoitos.
E assim, cerca de 24 horas depois, a seguinte cena aconteceu. Você já
a viu, mas entenderá melhor se vir agora:
– AI, MEUDEUSOQUEÉISSO???!!!!! – berrou Marcos horrorizado.
Marcel e Blanca gritaram imediatamente, assustando também a
menina fada que também gritou. Numa reação em cadeia, a criatura de um
pé, um olho, uma mão e uma orelha que estava diante deles também gritou,
um grito meio desafinado e demente, com o único olho esbugalhado.
– MATA!!! MATA!!! – gritava Marcel, tentando pegar uma besta.
– VAI EMBORA!!! XÔÔ! – gritava Marcos, jogando pedaços de pão
contra a criatura.
A menina fada começou a chorar, Blanca continuou gritando, e
quando Marcel finalmente conseguiu pegar a besta, a criatura assustada
saiu pulando para dentro da floresta, saindo de vista.
Marcel se virou para os outros, ainda de arma em mãos.
– Eu odeio esse lugar!
*****
Acordou com o estalar do chicote numa pedra.
– Vamos, imprestáveis! É hora de seguir viagem!
O sol mal tinha se levantado, deixando tudo com um prateado
levemente azulado que Fernando chegou a achar belo por alguns instantes,
antes de ser erguido com brutalidade e empurrado de volta para a
carruagem prisão, junto com seus companheiros de escravidão.
Assim que se sentou e a porta se fechou, sentiu uma urgência em
fazer alguma coisa. Os cavalos já partiam e a cada minuto que passava,
ficava mais longe de Dulce, de Blanca, de tudo. Depois de uma noite de
sono, sentia-se um pouco mais preparado para uma boa briga, mas não
conseguiria sair dali sozinho. Observou seus companheiros. Seus rostos
fitavam o chão, como se tivessem culpa do que lhes acontecia. Pior! Como
se não tivesse nenhuma saída.
– Precisamos sair daqui! – arriscou dizer em voz alta.
Todos o olharam com um rosto vago, vazio, como se ele tivesse
falado em alguma língua alienígena.
– Somos seis! E eles são apenas dois! – insistiu, esperando alguma
faísca de rebeldia naqueles homens derrotados.
– Hã?...
Fernando olhou para Edward. Percebeu que seus olhos estavam
realmente vazios, como uma pessoa embriagada. Ou drogada...
Parou para pensar na pequena fruta vermelha que lhe deram e que
ele apenas fingira comer. Edward estava falando normalmente no dia
anterior e agora parecia um parvo. Aquela frutinha era o artifício que
usavam para manter os homens sob controle na viagem. Recostou na
parede de madeira que sacolejava. Precisava de um plano. E rápido...
Fechou os olhos por um momento. A imagem de Loudun lhe veio à
mente. Essa é uma imagem que ele sempre bloqueava. Mas dessa vez,
deixou que ela viesse. Loudun era um lugar que o assombrava há muito
tempo. Mas talvez fosse hora de rever alguns de seus cenários mais
assustadores...
Viu a vida que vivera, no século XVII, como um padre superstar,
amado pelas mulheres, odiado pelos homens, implacável com seus
inimigos. Reviu seu orgulho, seu ego indomável, seus erros, até finalmente
terminar numa cela, nu, humilhado, nas mãos dos mesmos inimigos que
criara.
Lembrou-se da dor, das risadas, do sarcasmo deles, do cheiro de
sangue... E então, num momento breve de silêncio e solidão, viu o rosto de
uma jovem mulher. Ela o estava ajudando, ou tentando. Tirou suas amarras,
cobriu seu corpo nu e ferido com um manto. Aquela mulher mudara tudo.
Mudara o rumo de sua história trágica, mudara o homem que era. E aquela
mulher ainda estava naquele mundo e ele iria voltar para ela, custasse o
que custasse. Abriu os olhos com uma certeza: ele não era um homem
qualquer. Ele era Fernando Grandier. Ele escapara de seu destino e
certamente não o fizera para terminar como um escravo num raio de
mundo cheio de fadas e trolls.
Mexeu os pés, tilintando as correntes. Agora, seus grilhões estavam
ligados a todos os outros e eles não estavam em condições de correr por aí.
Ou de fazer qualquer coisa. Começou a testar as correntes, pensando o que
seria preciso para parti-las. Vira as chaves na cintura do negro calvo com
cara de mau.
O homem dava uns dois dele e não era um adversário que ele
gostaria de enfrentar. Porém... A chave estava com ele. Sua mente começou
a arquitetar um plano. Em algum momento, teriam que parar para esticar
as pernas, beber água e comer algo. Seus dois captores esperavam que
todos os homens estivessem lerdos. Bom... Ele não estava.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2