Fanfics Brasil - Capítulo 10 - A escuridão dentro de nós A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada

Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada


Capítulo: Capítulo 10 - A escuridão dentro de nós

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Dulce tentava tirar coragem de cada fio de cabelo, mas estava

apavorada. Apesar de tudo o que passara, ainda morria de medo de

fantasmas. 

 

E agora não tinha Chris ali para socorrê-la, aninhá-la ou abrir suas

enormes asas e levá-la para longe do perigo. Nem tinha mais seus amigos e

nem conseguia parar para pensar no que acontecera com eles porque

estava apavorada demais para isso.

 

Chegou à porta da frente. Dessa vez, ela não se abriu sozinha,

rangendo como uma coisa doente, como da outra vez. Dulce voltou a olhar

para trás, em busca dos amigos, mas só viu escuridão e uma neblina

assustadora.

 

– Tudo bem... – murmurou para si mesma. – Eu encontro Frabatto e

ele me ajudará a achar Anahí e Poncho também...

 

Colocou a mão trêmula na maçaneta fria e girou. Porém, ela não

abriu. Tentou de novo, mas nada aconteceu. Pensou em bater, mas o

silêncio daquele lugar parecia algo sagrado, algo que não devia ser

quebrado levianamente. 

 

Então se afastou e começou a caminhar em volta

do lugar. Tocava as paredes do castelo em ruínas, como se precisasse sentir

alguma coisa concreta naquele ambiente de sonho. As pedras eram geladas

e úmidas e mato rasteiro abafavam seus passos. Ainda ouvia seu próprio

coração bater apressado e tentava parar de tremer. Precisava ser corajosa.

 

Ela sabia que Frabatto era um amigo leal e não havia nada a temer. Então,

por que tremia tanto?

Chegou aos fundos do castelo e viu uma porta de madeira escura.

 

Porém, antes de chegar nela, viu um vulto feminino delinear-se na neblina.

 

– Anahí? – chamou.

 

Aproximou-se da figura, tentando ver quem era. Chegou finalmente

perto o bastante para ver sua mãe, belíssima, parada diante dela.

 

– Mãe?!

 

Blanca sorriu e então se virou e caminhou na direção oposta. Isso é

um sinal para qualquer pessoa pensante que já viu uns dois ou três filmes

de terror para não seguir a aparição. Mas quando se está na situação, as

coisas são diferentes. Dulce já vira vários filmes de terror, mas a ideia de

que sua mãe estivesse ali ao seu alcance era tentadora demais. Ela a

chamou de novo e correu em sua direção.

 

Reencontrou-a um pouco a frente. Ela estava de pé, com a mão em

uma pedra alta.

 

– Não tenha medo – disse Blanca.

 

Dulce não entendeu. Mas a neblina se dissipou e ela pode ver que a

pedra que sua mãe tocava graciosamente era uma lápide. E na lápide estava

escrito o nome de seu pai. Sentiu o corpo estremecer, e então ouviu

novamente sua mãe.

 

– Não tenha medo!

 

A serenidade de seu rosto foi quebrada como um cristal de maneira

súbita. Uma mancha vermelha surgiu em seu estômago e uma ponta de

espada aflorou. Dulce gritou e levou as mãos à boca, as lágrimas já subindo

aos olhos. Atrás de Blanca, uma figura negra de grandes asas se formou. Ela

levou as mãos ao ferimento mortal e a espada foi retirada com violência.

 

Seu corpo caiu, revelando a figura alada que tirou sua vida. Dulce viu Chris,

os olhos completamente negros, as asas de morcego gigantes e

ameaçadoras, o peito nu repleto de cicatrizes, o rosto sem nenhum vestígio

do rapaz que ela conhecera.

 

Do chão, com os olhos ainda vidrados, Blanca disse pela última vez:

 

– Não tenha medo!

 

Chris deu um passo ameaçador na direção dela e Dulce disparou a

correr, sentindo as pernas tremerem e as lágrimas correrem pelo rosto.

Sentiu que ele estava logo atrás dela, mas não parou para olhar. Alcançou a

porta de madeira e virou a maçaneta, empurrando-a. A porta se abriu e ela

a fechou. Antes de passar o trinco, uma pancada ensurdecedora a fez gritar.

A coisa tentava abrir a porta e ela gritava por uma ajuda que não vinha.

 

Uma garra negra e peluda passou pelo vão da porta, tentando mantê-la

aberta. Dulce usava toda sua força, mas não conseguia fechar a porta. Até

que algo prateado cortou a garra, que caiu ao lado dela. Um urro foi ouvido

e a porta pode ser finalmente fechada. Dulce viu quem a ajudara enquanto

passavam juntos o trinco. Viu suas mãos sujas de terra segurando a espada

manchada de sangue.

 

– Poncho?!

 

Ele se recostou na porta fechada, ofegante. A franja se colava na

testa suada e ele estava Ponchoco. Aparentemente, ele também enfrentara

alguns fantasmas.

 

– Essa coisa matou minha mãe! – disse ela, soluçando.

 

– É uma ilusão... – respondeu Poncho.

 

Dulce pegou a garra morta ao lado deles e a mostrou pra ele.

 

– Ilusão uma ova!!!! – gritou.

 

Ela jogou a coisa morta longe.

 

– Isso é um goblin que cria ilusões – respondeu ele. O perigo era

real. Mas o que ele mostrava era ilusão, algo para paralisá-la e facilitar o

trabalho dele.

 

Dulce respirou um pouco.

 

– E onde está Anahí?

 

Poncho olhou pra ela. E Dulce sentiu o coração gelar.

 

****

 

Foi numa fração de segundo. Geralmente, é como as tragédias

ocorrem. Num momento você está vivo, saltitando por aí e no outro, BUM!

 

Vem um carro e te pega que nem tomate. Num momento as coisas estão

bem e tudo está certo. E no outro... Bem, no outro tudo muda... É

geralmente numa fração de segundo...

 

Poncho estava ao lado de Anahí quando Dulce simplesmente

desapareceu na névoa. Eles a chamaram, mas ninguém respondeu. Sons de

galhos partidos ao seu redor fizeram com que Anahí segurasse sua mão. E

ele lembra perfeitamente de que, naquele momento de perigo, tudo o que

pensou foi no calor da mão dela.

 

Ciente do perigo que os rodeava, ele a puxou para o castelo. Se

Dulce estava certa, era o lugar mais seguro dali, embora isso parecesse

muito difícil de acreditar. Foi então que a mão dele foi puxada. Anahí

tinha caído e estava sendo arrastada por mãos em forma de galhos para um

túmulo.– Segure-se em mim!!! – gritou ele.

 

Ela estava gritando e ele não podia nem imaginar perdê-la. Nunca

tivera nada, então não se incomodava de perder o pouco que tinha. Até

conhecer Anahí. A partir daquele momento, ela se tornou seu tesouro

mais precioso, mesmo que ela nem imaginasse.

 

Ele caiu no chão, tentando segurá-la, mas sua mão foi escorregando

e as mãos do túmulo eram muitas. Então, Anahí se foi. A terra a consumiu

e ela desapareceu.

 

Houve um momento de silêncio. Então Poncho começou a gritar feito

um louco e a cavar o túmulo onde ela desaparecera. Chamou por ela e então

ouviu alguém responder. Mas não era ela...

 

– Seu inútil! – disse a voz. – Não faz nada direito!

 

Poncho se virou e puxou a espada, procurando quem falava com ele.

 

Reconhecia aquela voz, alguém do passado, alguém que o assombrara por

muito tempo.

 

– É um fracassado! Um nada! Um ninguém! – continuou a voz.

 

– Cale a boca! – gritou Poncho, sentindo a voz falhar por desespero ou

ira.

 

– Sua mãe devia tê-lo afogado assim que nasceu! Aliás, era o que eu

devia ter feito quando aquela imprestável morreu me deixando esse

enjeitado!

 

Poncho tapou os ouvidos, mas a voz não se calava e ele ainda podia

ouvi-la. E, tantos anos depois, ela ainda o feria da mesma maneira.

 

– Você é uma fraude! Uma farsa! Quanto tempo acha que vai enganálas?

Você não é o que diz ser! Você não é nada! E vai fracassar sempre que

tentar!

 

Palavras são mais poderosas que a espada. Elas ferem, machucam e

destroem com tanta força quanto uma pancada bem dada, e, depois de

proferidas, continuam corroendo por dentro como ácido, destruindo tudo

em seu caminho. 

 

Nunca, nunca subestime o poder das palavras.

Poncho ouvia de novo o que ouviu quando criança e enquanto crescia.

Sempre se sentindo menos que nada, sempre infeliz em nunca ser capaz de

agradar a família que o recebeu depois da morte da mãe e do abandono do

pai. Não os via há muitos anos e essas palavras foram trancadas numa

gaveta bem escondida dentro de seu coração. Até agora.

 

Justamente quando perdia seu bem mais precioso, aquelas palavras

voltavam para se fincar em seu coração. Encolhido no chão, sentindo as

lágrimas banhando seu rosto, pensou que seria melhor desistir. Eles tinham

razão. Ele era um inútil e confiar nele era o maior erro que se poderia

cometer.

 

Havia alguém na frente dele...

Ele não erguera a cabeça e ainda sentia o coração sangrando. Mas

sentia que havia alguém na frente dele. Alguém ruim...

Foi quando ouviu a voz de Anahí.

 

– Eu confio em você.

 

Palavras ferem. E também curam. Bastou que ele ouvisse uma vez

para que pegasse a espada e fincasse na criatura diante dele.

 

Foi quando viu o ser horripilante. Era uma mulher que parecia um

esqueleto, com cabelos ralos grudados no crânio e dentes lhe faltando. A

pele repuxada colada no corpo e no rosto era de tom cinza e seus braços

eram mais longos do que o normal.

 

 Com suas órbitas vazias ela o olhou,

tentando retirar a lâmina de seu estômago. Então, ela emitiu um grito

horrível e se transformou em milhares de pequenos morcegos negros que

se espalharam pela noite.

 

Ofegante, o elfo se virou e ouviu passos apressados de animais.

Animais bem grandes. Correu na direção do castelo e entrou pela porta da

frente. Assim que a trancou, percebeu que o castelo em ruínas tinha um

grande buraco no teto e a Lua era a única iluminação que tinha. Felizmente,

como elfo, ele conseguia enxergar muito bem no escuro. 

 

Precisava

encontrar uma maneira de ajudar Anahí, pois ainda acreditava que ela

estava viva, talvez presa num covil de trolls. Começou a andar pelo castelo,

procurando outra saída. Foi quando ouviu gritos e correu na direção,

esperando ser Anahí.

 

 Ao invés dela, encontrou Dulce, brigando contra

um goblin monstruoso. E agora ele tinha que responder a pergunta que ele

mesmo não queria fazer.

 

– E onde está Anahí?

 

*****

 

Estavam sentados contra a parede gelada do castelo abandonado em

silêncio. Lá fora, o vento fazia um som assustador, mas eles não o ouviam.

Estavam imersos em seus próprios pensamentos.

 

– Eu sinto muito... – disse finalmente Poncho. Eu devia tê-la segurado

mais forte!

 

– Pare de se culpar... – respondeu Dulce. – Eu conheço Anahí. Ela

está viva. Só precisamos encontrá-la.

 

Poncho olhou para o lugar, não vendo nada além de desolação.

 

– Achei que fôssemos encontrar ajuda aqui...

 

Dulce olhou para o teto.

 

– Eu também...

 

– O que acha que aconteceu?

 

– Sei lá... Talvez seja o castelo assombrado errado... Eu nunca fui boa

de direção mesmo...

 

Ficaram em silêncio mais alguns minutos, até que Poncho falou.

 

– O que quer fazer?

 

– Ver um filme debaixo das cobertas comendo pipoca quentinha...

 

– Podemos ir, se quiser... – disse ele.

 

– Não... Não há mais nada a temer... Vamos descansar um pouco e

então continuaremos a procurar Anahí.

 

Poncho não reclamou da sugestão. Estava exausto e um descanso de

alguns minutos não lhes faria mal. Dulce recostou a cabeça no ombro dele

e ele a abraçou. Ela se aninhou, sentindo uma súbita saudade de Chris, apesar

da última imagem aterradora que tivera dele.

 

– Só vou fechar os olhos por alguns minutos... – prometeu ela.

 

– Tudo bem... – concordou ele.

 

*****

Dulce acordou e a primeira sensação que teve foi a de um travesseiro sob

sua cabeça. Sentiu o tecido suave e um perfume de lavanda. Assim que

sentiu isso, levantou num salto. Estava sozinha, num quarto em que nunca

estivera, ricamente decorado com temas florais. Olhou pela janela e viu

jardins com flores coloridas e pássaros num céu azul.

 

Correu até a porta e assim que a abriu deu de cara com Poncho, que

parecia tão surpreso quanto ela.

 

– O que aconteceu? – perguntou ela.

 

– Sei lá! Nós cochilamos e acordei agora numa cama confortável!

Vim ver se você estava aqui!

 

Dulce segurou a mão dele e o puxou pelo corredor. Desceu as

escadarias conhecidas com ansiedade, ignorando as perguntas dele.

 

E então entraram numa sala com uma enorme mesa com um farto

café da manhã. Na cabeceira da mesa, Frabatto sorria, enquanto preparava

seu chá.– Vejam só quem acordou! – disse ele.

 

E na mesa, compartilhando o café da manhã, Anahí abriu seu belo

sorriso. Ela se levantou e correu até os amigos. Os três se abraçaram

longamente, aliviados do pesadelo ter acabado. Bom, ao menos aquele

pesadelo!

 

 


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Autor(a): vondynatica

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38

    Amei,PARABÉNS!!!S2

  • kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35

    Continua!!!Ta acabando??s2

  • kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47

    Continuaa!!!s2

  • kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28

    Posta++!!s2

  • kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28

    Amando,continua!!!!s2


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