Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Dulce acordou com um sentimento de urgência que a fez abrir os
olhos com o coração saltando. Percebeu que ainda estava muito cansada,
mas não conseguiu ficar na cama. Assim que se recostou na cabeceira da
cama, percebeu que Frabatto estava no quarto com ela, sentado numa
confortável poltrona preta com um livro nas mãos.
– Boa tarde! – disse ele com um sorriso. – Dormiu menos do que eu
esperava!
Dulce piscou algumas vezes, tentando acordar seu cérebro.
– É mesmo? – balbuciou ela com uma voz que não parecia a sua.
Ela pigarreou antes de falar de novo.
– Ainda estamos no mesmo dia? – voltou ela, preocupada. – Porque
não podemos perder tempo!
Ela se sentou rapidamente, procurando os sapatos.
– Preciso de sua ajuda em mais uma coisa, Frabatto!
– Lá vamos nós de novo...
Dulce tinha pressa e não percebeu que estava sendo ríspida,
chegando com sua lista de pedidos para o mago como se ele fosse algum
balconista de mercadinho.
– É Chris! Você viu como ele está! Tem alguma forma de fazer com que
ele volte? O que eu tenho que fazer? Você tem um mapa? Acho que vamos
precisar para...
– Pare!
Dulce, que já estava de pé, se virou para ele, confusa.
– O quê?
Frabatto se levantou e deixou o livro sobre sua poltrona. Caminhou
até ela decidido e a segurou pelos ombros, fazendo-a olhar em seus olhos.
– Pare – repetiu. – Pare e respire.
– Mas...
– Cale a boca. Pare e respire.
Sem entender, Dulce obedeceu. Parou de falar e respirou
profundamente com impaciência, não sentindo mudança nenhuma. Olhou
para o mago, aguardando novas ordens.
– Não está fazendo direito. Não é só parar de falar, mas parar de
pensar. Esvazie a mente e respire profundamente.
Dulce percebeu que se não fizesse direito, ele não a deixaria em
paz. Então fechou os olhos, esvaziou a mente e respirou profundamente.
Quando abriu os olhos, notou que estava mais lúcida e havia uma outra
mudança nela que não conseguia discernir com clareza. Mas algo estava
diferente, com certeza.
– O que você fez? – perguntou ela.
Frabatto a soltou.
– Nada. Você fez sozinha... – Caminhe comigo.
Eles começaram a andar pelo castelo onde enormes quadros de
moldura dourada mostravam pessoas e paisagens estonteantes. O tapete
azul índigo abafava seus passos e nenhum som era ouvido.
– Você disse que eu tinha mudado... – disse Dulce. – Em que
sentido?
– Sim, você mudou... E não foi para melhor.
Dulce o olhou surpresa. Achou que era uma pessoa melhor agora,
mas quando ele disse isso, percebeu que não se sentia melhor em nada.
– A Dulce que pisou neste castelo da primeira vez podia ter medo
de fantasmas, mas não tinha medo de enfrentar o que aparecesse na sua
frente – disse Frabatto, chegando numa grande janela que dava para os
jardins, onde fadas que pareciam flores flutuavam graciosamente e flores
de formatos bizarros pontuavam árvores.
– Agora – continuou ele, – você está com medo. E seu medo é tão
grande que mudou você. Você não é mais destemida. O que aconteceu?
Dulce se apoiou no parapeito de pedras Ponchocas da janela com ar
triste.
– Perdi Chris. E foi horrível. Aí voltei para o meu mundo só para
descobrir que eu tinha perdido tudo lá também.
– Mas você teve uma segunda chance, não teve?
– Tive, mas...
– Mas o quê?
Dulce franziu o cenho, confusa.
– Doeu demais perder as pessoas que eu amo! Não posso nem
imaginar que eu possa perdê-las de novo! E se eu as perder, como saberei
que terei uma segunda chance?
Frabatto pensou um pouco. Então se virou para ela. O sol batia em
seus rostos, aquecendo-os.
– Sempre vamos perder alguma coisa... – respondeu ele. – Porque na
verdade, elas não nos pertencem. Nos são... emprestadas! E nós devemos
deixá-las partir quando for o momento. Você precisa aprender a se
desapegar, porque o apego está gerando um medo tão terrível que está
paralisando você! Quanto mais medo você tiver, mais vai construir as
situações que você teme!
– Tipo O Segredo?
– Tipo o quê?
– O Segredo! – tentou explicar Dulce. – Um livro que fala que tudo o
que pensamos atraímos para nós.
– E é a mais pura verdade! É assim no seu mundo. Porém, aqui,
nesse mundo, isso é muito mais perigoso – explicou Frabatto. – Tudo o que
você pensar tem mais chances de acontecer nesse mundo, porque tudo aqui
vibra na mesma faixa dos pensamentos. Você atrai o que você pensa. Você
atrai o que você teme. Você atrai o que você odeia. Se está no seu
pensamento, está sendo construído no seu futuro.
Dulce demorou um pouco para processar todas as informações até
que finalmente arregalou os olhos em terror.
– Ai, meu Deus!
– Entende agora por que vi tanta diferença em você? – tornou
Frabatto. – A Dulce que conheci tinha medo do perigo real, não do perigo
imaginário. E ela sempre esperava o melhor. Por isso ela teve uma segunda
chance.
Ele tocou no ombro dela como um pai.
– Domine seu medo, minha amada amiga. Ou ele vai dominar você.
– E como faço isso, quando tenho tanto a perder? – perguntou
Dulce.
– Simples! Concentre-se no que você tem agora!
Dulce ouviu seu nome e se virou para o fim do corredor de onde
surgiam Poncho e Anahí. Eles se aproximaram e ela sorriu.
*****
Eles estavam juntos. Chris não entendia como, pois ele era um troll e
essa era a única coisa que sabia. Mas, ainda assim, estavam juntos no
mundo dos homens. Ah, o mundo dos homens! Estavam em um parque de
diversões e riam entre luzes coloridas que traçavam caminhos coloridos
com as estrelas brilhando acima deles. Ela segurava sua mão e sua mão não
tinha garras escuras, como agora.
Abriu os olhos, tendo a certeza de que a música que tocava no
parque, melodiosa e bela, ainda ecoava pelo quarto de pedras escuras.
Levantou-se, sentando-se na cama coberta com peles de animais. Olhou
para suas mãos e viu que suas garras pareciam unhas crescidas. Eram
negras, mas na raiz eram Ponchocas, como unhas humanas.
Foi até um grande espelho que tinha no quarto real e se olhou. Seu
corpo era humano. Muito humano. Apenas suas asas e suas garras o
denunciavam. Como teria chegado ao mundo dos homens assim? E por que
não se lembrava de nada? A lembrança da moça e seu sorriso maravilhoso
encheram seu coração e ele sorriu. Aquela sensação era boa e não queria se
desfazer dela.
Fechou os olhos, relembrando e tentando puxar mais alguma
lembrança. Quando abriu os olhos de novo, olhou para suas mãos e viu suas
garras ficando Ponchocas e transformando-se em unhas humanas.
Seu coração disparou. Então, será que poderia se transformar em
um humano? E viver o que eles viviam? O amor, a alegria, a arte, o poder de
criar e aprender?
Batidas na porta precederam a entrada de Kajinski.
– Majestade?
Chris se virou, o semblante totalmente diferente e seu conselheiro
percebeu imediatamente.
– O que deseja, Kajinski?
– Vim lhe trazer um chá, Majestade. Vai ajudá-lo a recuperar a
memória.
Kajinski entregou a caneca de louça para o rei que a recebeu. Notou
que Kajinski percebeu a mudança em suas garras que agora se pareciam
com unhas grossas e mal cuidadas, um tanto compridas demais, mas bem
diferentes das garras negras capazes de rasgar uma garganta.
– Que memórias? – perguntou Chris.
– Aquelas que sua majestade deseja recuperar... – respondeu
Kajinski.
– Obrigado. Pode ir, eu tomarei em minha cama.
Kajinski hesitou, mas viu que o rei o encarava, esperando que ele
deixasse o aposento. Então, fez uma reverência e o deixou só.
Depois que ele saiu, Chris olhou para a caneca longamente. Ninguém
mencionara suas memórias perdidas até aquele momento. Nem ele. Na
verdade, tudo o que sabia é que era um troll e estava em uma guerra contra
Manuel, que o traíra e torturara. Talvez suas memórias perdidas pudessem
lhe dizer quem era aquela moça. Então, bebeu de um só gole o chá amargo
que lhe fora dado.
No último gole, caiu de joelhos. As memórias vieram. Horríveis,
sangrentas, revoltantes. Sentiu seu estômago se revirar e viu Manuel e a
ponta do chicote. Viu sua pele ser queimada. Viu seu sangue derramar.
Sentiu sua carne sendo aberta e machucada. Viu suas asas sendo
arrancadas. Ouviu o grito e o lamento da moça cujo nome não sabia, seu
rosto banhado de lágrimas enquanto mãos firmes a seguravam. E viu sua
vida se esvair, deixando de viver tudo o que poderia.
Com um grito de dor e o rosto coberto de lágrimas, ele se virou e
jogou a caneca contra o espelho, quePonchodo sua imagem. Olhou suas mãos
e viu suas garras negras e afiadas de volta.
*****
No castelo de Frabatto com suas grandes torres se elevando ao céu,
era hora do almoço. A mesa farta estava posta e Dulce pediu alguns
minutos antes de se juntar a eles, tendo falado algumas palavras para
Frabatto que, sorrindo, chamou uma de suas criadas para acompanhá-la.
Quando Dulce desceu, estava de vestido. Ele era azul escuro e bege
com detalhes em dourado e vermelho e um capuz que fazia parte dele. Ela
desceu animada as escadas.
– Nossa! Adorei o visual! – disse Anahí.
– Está ótima, mas... E a sua ideia de disfarce? – perguntou Poncho.
– Não vamos nos preocupar com isso agora, meu querido amigo
Poncho! – respondeu Dulce, sentando-se à mesa. – Agora, vamos viver o
momento!
Ela se virou para Frabatto e ambos riram, começando a se servir. Na
mesa, tinham tortas de legumes, sopa, um tipo de grão parecido com arroz
absurdamente delicioso, quiche de queijo e batatas fritas. Anahí arregalou
os olhos quando viu.
– Batata frita???? Há quanto tempo eu não como batata frita!!!
Frabatto também se servia, sempre com seu sorriso de amigo
confiável e cuja presença já tranquilizava.
– Eu também acho muito interessante as iguarias que seu povo tem!
De vez em quando, nos meus passeios por lá, copio algumas receitas!
Poncho perguntou como ele conseguia isso e Frabatto explicou-lhes
sobre sua capacidade para se desdobrar e assim visitar, com ajuda dos seus
espelhos mágicos, várias outras dimensões, incluindo a dos humanos. O
papo girou em torno da curiosidade dos jovens e das explicações sempre
bem humoradas do mago, até que a sobremesa chegou.
– Nossaaaa!!!!
Era um bolo de chocolate vermelho com uma calda Ponchoca de glacê e
recheio de creme branco. A aparência era simplesmente divina. Frabatto
cortou a primeira fatia e serviu à Dulce.
– Esse é o Red Velvet? – perguntou Dulce, que gostava de ver de vez
em quando alguns reality shows sobre cozinheiros. – Eu vi uma vez na
televisão! É outro bolo que você copiou da gente?
– Não, minha cara! – respondeu ele, servindo o próximo pedaço à
Anahí. – Esse, vocês roubaram de nós!
Depois do almoço divino e da sobremesa maravilhosa, Eles se
reuniram numa sala de poltronas e sofás confortáveis e Frabatto lhes disse
o que poderia fazer quanto ao problema de Chris.
– O que aconteceu com seu amigo é muito incomum – explicou
Frabatto. – Não é comum que um anjo volte como um humano, ainda mais
numa espécie de paradoxo temporal. Acho que alguém lá em cima deve ter
feito uma gambiarra... Tudo ficaria bem se ele não tivesse voltado para cá,
um lugar que desperta suas memórias de sua vida de troll.
– Mas ele não virou um troll quando veio para cá – lembrou Dulce.
– Não, foi um gatilho que fez isso. Acredito que a violência que ele
sofreu sendo torturado nas mãos de Manuel. Ah, o que a ganância pode
fazer...
– Podemos reverter isso? – perguntou Anahí.
– Eu fiz um encanto muito especial para essa situação...
Frabatto se levantou e pegou um saquinho de veludo vermelho e
cordinhas prateadas.
– Isso é um pó do Espelho das Almas!
Houve um silêncio, até que Anahí se pronunciou.
– Parece nome de filme de terror.
Frabatto riu.
– Fique tranquila, é um artifício para acessarmos vidas passadas.
Vejam!
Frabatto pegou um pouco do pó e o jogou no ar bem na frente dele.
Imediatamente, as partículas brilhantes que lembravam purpurina ao sol
se uniram em riscos de luz prateada e criaram um espelho flutuante tão
fino que quase não se podia vê-lo de lado e tão nítido que não se saberia
dizer a diferença entre o que ele mostrava e a realidade.
Eles viram no espelho um sacerdote egípcio sem cabelos e de baixa
estatura, sorridente, flutuando pedras gigantes para as pirâmides. A
imagem mudou para alguém que acharam ser Merlin, pois estava cercado
de cavaleiros e de um homem que parecia ser o Rei Arthur. Depois viram
outros homens, até verem um elegante conde francês circulando numa
corte do século XVII. Em todos os casos, eles sabiam que aquelas pessoas
eram Frabatto.
Com um movimento de mão, Frabatto desfez o feitiço e o espelho
voltou a ser pó, que flutuou por toda a sala até desaparecer.
– Que incrível! – murmurou Poncho.
Frabatto fechou o saquinho.
– No momento, Chris está vivendo uma vida não planejada, como se
fosse uma entrelinha. Vocês devem jogar isso na frente de Chris. Ele verá
suas vidas passadas, mas seu coração vai escolher a vida que ele quer viver
agora. Aquela que ele escolher vai transformá-lo de vez.
Ele entregou o saquinho para Dulce.
– E se ele escolher ser um troll, ou um anjo, e não o Chris que ia ao
cinema comigo? – perguntou a moça num tom preocupado.
Frabatto fez um movimento com os ombros.
– Lamento, menina... É escolha dele quem ele quer ser, não sua.
Dulce olhou para o saquinho em suas mãos. Ele podia ser sua
salvação, ou confirmar definitivamente sua perda.
– E mais uma coisa! – tornou Frabatto. – Ele não pode matar
ninguém com as próprias mãos, ou ficará preso irremediavelmente na
forma em que está agora. Então, sugiro que se apressem!
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2