Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Dentro da carroça, parecia haver horas que estavam ali a sacolejar
pelo caminho de terra. Fernando tentava, vez por outra, olhar pelas frestas
para ver o caminho, mas só via árvores que iam ficando mais secas
conforme seguiam adiante.
– Ouça, Edward... – sussurrou Fernando para o jovem ao seu lado.
Edward se virou para ele. Dessa vez, seus olhos pareciam mais
cheios de consciência.
– Há quanto tempo estamos nessa carroça? – perguntou o rapaz.
Fernando não tinha um relógio e estranhou a pergunta.
– Há um dia e meio, acho.
– E não paramos para dormir? Ou comer?
Fernando arregalou um pouco os olhos.
– Paramos ontem. Nos deram pão e água e você me falou sobre
aquele ser esquisito de um pé, um olho e um braço, o Tachan.
Edward sacudiu um pouco a cabeça, confuso.
– Lembro-me vagamente do Tachan, mas achei que tinha sonhado...
– Me escute, rapaz! Eles estão nos dando uma frutinha vermelha que
é como uma droga. É isso que está deixando você lerdo e confuso. Da
próxima vez que lhe derem aquilo, não coma.
– Tudo bem... – respondeu Edward, vendo que havia algo mais
naquela recomendação. – O que está planejando?
– Estou planejando fugir. Se quiser vir comigo, pare de comer aquela
porcaria. Não posso levar um zumbi comigo.
– Escravos que fogem são severamente punidos! – disse Edward,
sempre sussurrando, mas em tom de extrema preocupação.
– Não sou escravo de ninguém – respondeu Fernando. – E vou sair
daqui. Tenho uma lista de coisas a fazer. Achar minha família e matar três
homens. Se não quiser vir comigo, tudo bem, seja feliz em sua vida de
escravo. Só não fique no meu caminho.
Edward não disse mais nada.
A carroça parou. A porta foi aberta e, como da outra vez, eles foram
retirados. Fernando olhou em volta, reconhecendo o terreno. Podia ser a
chance de sua fuga.
O sol o cegou momentaneamente. Assim que voltou a enxergar,
preocupou-se. Não estavam numa floresta, como da outra vez. Era uma
espécie de porto. Havia mais homens e os dois homens que os levavam
conversavam com um sujeito barbudo e corpulento. Fernando viu uma escuna
sendo carregada. Seu coração acelerou.
Viu o mar diante deles e imaginou
que se entrasse naquele barco, suas chances de realizar suas duas missões
iam ficar muito, muito pequenas. Olhou em volta o mais discretamente que
pode, tentando ver suas chances de fuga. Havia estivadores e piratas, além
de outros barcos menores e maiores ancorados.
Viu facas e espadas nas
cinturas dos homens. Viu algumas mulheres, também piratas. Se lembrou
de seu dom de atrair a simpatia das mulheres na mesma intensidade em
que atraía a ira dos homens. Se pudesse ter um breve contato, mesmo que
fosse um relance, com alguma daquelas piratas, talvez sua sorte mudasse.
O homem negro veio e pegou o homem ao lado de Fernando, um que
parecia sempre assustado. Entregou-o ao barbudo e recebeu sua sacola de
dinheiro. Isso feito, mandou que eles subissem novamente na carroça. Já lá
dentro, Fernando ainda viu por uma fresta quando o prisioneiro foi levado
para dentro do navio.
– O que vão fazer com ele? – murmurou para si mesmo, sabendo que
poderia ser ele ali.
– Pode ser só um escravo para trabalhar no barco... – disse Edward.
Fernando se virou para ele, pressentindo um “ou”.
– Ou devem estar atrás de algum tesouro...
– Não entendi – disse Fernando.
– Precisam de alguém descartável quando vão atrás de um tesouro –
explicou Edward. – Alguém para testar as armadilhas, ou ser dado para
algum monstro carnívoro como distração enquanto passam.
– Isso é horrível! – foi só o que Fernando foi capaz de falar.
A carroça se moveu. Ele olhou em volta. Agora eram cinco. Pelo
menos não estava num navio, prestes a cruzar os sete – quantos mares
aquela terra tivesse.
– Temos que fugir hoje – murmurou Fernando.
Edward olhou para ele seriamente.
– Conte comigo.
O estômago roncava, mas Fernando não sentia a fome. Passava e
repassava seu plano na cabeça enquanto a carroça seguia seu caminho.
Tudo o que pedia é que pudessem pernoitar mais uma vez em um local
deserto. Ele já estivera numa prisão de trolls e sabe como foi difícil escapar
de lá. Esperava que um covil de trolls não estivesse no itinerário dos
escravagistas. Os outros homens cochilavam ou permaneciam alheios a
eles. Ele aproveitou para passar em sussurros o que pretendia para
Edward.
Fernando se esforçava para manter o foco. Aprendera a se controlar a
duras penas depois que fugira de Loudun com a ajuda de Blanca, Marcel e
Marcos. Seus primeiros anos nesse admirável mundo novo foram difíceis e
ele não teria conseguido sem a ajuda desses valiosos amigos. No entanto,
lembra-se com clareza que por mais que aquelas três pessoas tivessem
feito toda a diferença em sua vida, quem mudou seu coração para sempre
foi aquela coisinha pequenininha embrulhada numa manta cor de rosa.
Ele sorriu, lembrando-se de Dulce em seus primeiros anos. Foi por
ela que aprendeu a buscar soluções mais sensatas. Foi por ela que procurou
se tornar melhor. Abriu os olhos, desfazendo o sorriso que a memória lhe
trouxe. Onde estaria sua filha agora? Esperava que ainda estivesse com Chris.
Confiava no rapaz para cuidar dela e, como ela contou, ele já a guiara para
fora dali uma vez. Sacudiu a cabeça. Não era hora de pensar nisso. Dulce
estava bem. Era inteligente e sabia se cuidar. Ele a criara assim. Preocuparse
não ia ajudá-la. O que ele precisava era se concentrar em se livrar
daqueles grilhões.
A carroça finalmente parou. Os homens desceram. Esticaram-se,
sentindo dores da viagem desconfortável. Mandaram que se sentassem e
deram uma frutinha vermelha para cada um. Todos jogaram a frutinha na
boca. Fernando viu que os três homens começaram a sorrir e a olhar o céu
com um ar de contentamento que não condizia com suas condições.
Percebeu que Edward também estava com seu ar apatetado olhando as
estrelas. Preocupou-se do jovem ter engolido a fruta carmesim, mas este
lhe deu um cutucão. Fernando ouviu o tilintar das chaves atrás dele e começou
a olhar apaixonado para o céu também.
O homem que tinha as chaves na
cintura lhes deu pão e água que eles tomaram calmamente, apesar de não
terem visto comida decente naquele dia. Ou no outro. Disfarçado pelo
cabelo que lhe encobria o rosto, Fernando observava os movimentos dos dois
homens. O negro com o chicote era meio assustador. Era forte e tinha um
olhar de quem vai te matar se você respirar fora do ritmo. Já o outro não
parecia tão ameaçador. Claro que aparências enganam. Era bom ficar
pronto para tudo, por mais redundante e impossível isso pudesse parecer.
Os três homens começaram a se deitar, e Edward fez o mesmo.
Fernando os imitou. Em algumas horas estariam bem longe dali. Ou mortos.
A fogueira crepitava e os dois homens ainda conversavam baixinho
entre si quando um grito foi ouvido entre os prisioneiros. Edward se
contorcia, gritando e babando, enquanto os outros acordavam lentamente.
Fernando tentava ajudar, mas foi empurrado quando os dois homens
chegaram para tentar ajudar o rapaz.
Empurrado para trás, Fernando ficou exatamente onde precisava estar.
Fora da vista dos homens, viu quando Edward roubou o molho de chaves e
jogou na direção dele discretamente, disfarçando pelo seu ataque, onde se
contorcia e revirava os olhos. Fernando usou a chave para libertar seus pés,
mas não libertou as mãos, pois receava que o rapaz não tinha muito tempo
até perceberem sua armação ou o desacordarem de vez. Num movimento
rápido, usou as correntes que prendiam seus braços para estrangular o
homem negro, o que julgou ser mais difícil de negociar.
O outro homem, pego de surpresa, tentou reagir, mas Edward puxou
suas pernas, fazendo-o cair de cara no chão. Menos de um segundo depois,
o jovem soldado estava em cima dele, esmurrando-o com toda a força que
tinha.
O homem estrangulado reagiu dando cotoveladas em seu agressor.
Fernando sentiu as pancadas, mas não aliviou a pressão. O homem se jogou
para trás, tentando acertar uma cabeçada que certamente faria com que
seu oponente o soltasse, mas Fernando apenas caiu para trás também,
evitando o golpe. Os homens rolaram no chão, até que o homem sem ar
parou de resistir e finalmente perdeu os sentidos. Fernando se levantou e
correu para ajudar Edward, que estava tendo problemas com o outro.
Apesar de ter lhe dado os socos mais fortes de que era capaz, foi o
mesmo que nada. O homem o olhou com ódio nos olhos e lhe deu um soco
que o tonteou. Virou o jogo, colocando-o por baixo e começou a socá-lo. Ia
dar o terceiro soco quando uma corrente enroscou em seu pescoço.
Edward se levantou e lhe deu mais alguns murros, até que finalmente o
homem caísse desacordado.
Fernando pegou a chave e soltou os grilhões dos pulsos. A seguir,
soltou pés e mãos do rapaz, que se levantou e pegou a faca que tinha na
cintura do homem que derrubaram. Fez menção de matá-lo, mas Fernando
segurou seu braço.
– Não foi isso que combinamos.
– São mercadores de escravos! – retrucou o jovem que perdera toda
a serenidade no rosto. – Roubam vidas, roubam honra, são monstros!
– Eles são assim. Nós, não.
Edward afrouxou a mão e Fernando o soltou. Deu-lhe as chaves.
– Tome, solte os outros.
– Eles não vão conseguir fugir assim.
– Talvez não agora, mas amanhã já estarão menos apatetados –
explicou Fernando, usando as correntes para prender os homens desmaiados.
Com ajuda de Edward, acorrentou os dois mercadores numa árvore
e desatrelou os cavalos. Cada um ficou com um, deixando a carroça
desparelhada. Pegaram uma besta, que ficou com Edward, e uma espada,
que ficou com Fernando. Os três homens, agora livres, ainda os olhavam com
ar confuso quando Fernando e Edward montaram nos cavalos e cavalgaram
para dentro da escuridão da floresta.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2