Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Fernando não era um assassino e ele sabia disso. Porém, naquele
momento, se arrependia muito, muito mesmo de não ter dado um fim em
Galdrun. Perguntava-se onde estava o outro. Estava de novo dentro de uma
carroça, uma outra, mais reforçada, e dessa vez estava bem preso. Abriram
sua boca e forçaram a frutinha vermelha. Tentou não engoli-la, mas foi em
vão.
– O prejuízo que você causou foi tão grande que agora terei que dar
um jeito de você compensá-lo.
Galdrun trocou palavras com os outros homens. Fernando se debateu
inutilmente, fazendo as correntes tilintarem. Se perguntava como não vira
os homens chegando, como não pressentira o perigo. Ao menos, Dulce e
Anahí estavam a salvo. Torceu para que Poncho as protegesse. Agora,
infelizmente, ele não lhes seria muito útil. Seus olhos pesaram e ele sentiu
que a frutinha do diabo estava fazendo efeito. Esta carroça não tinha frestas
e ele estava na total escuridão, totalmente sozinho. Percebeu que não
conseguiria lutar contra o efeito do sonífero e acabou por apagar de vez.
*****
Caminharam por cerca de meia hora pela floresta, falando pouco,
pois cada um estava concentrado em encontrar uma solução para o
problema premente. Dulce tentava se agarrar ao momento de iluminação
que teve no riacho. Mas conforme adentrava a floresta, seu coração tremia
com as más notícias. Eileen havia morrido. Seu pai fora capturado. E ela
estava muito longe para ajudar Chris. Lembrou do que sua mãe lhe dissera
quando achou que seu mundo estava acabando.
“Confie um pouco mais, querida. Coisas incríveis acontecem o tempo
todo”.
Mas como confiar com tanta nuvem negra acima de nós?
– Eu tive uma ideia! – disse Anahí, de repente.
Os dois pararam e esperaram que ela contasse.
– Bom, precisamos de um círculo de fadas, certo? Mas não sabemos
onde tem um. Nem para onde ele vai. Porém, se achássemos uma fada, ela
poderia nos dizer!
– Tenho olhado para ver se encontro uma entre as folhas – disse
Poncho, – mas não estou encontrando nenhuma.
– Essa é a minha ideia! – interrompeu Anahí. – Vamos atraí-las!
– Como? – perguntou Dulce.
– Fadas gostam de coisas bonitas e tudo relacionado à arte. Podemos
fazer algo que as atraia, como dançar, cantar, declamar uma poesia...
Poncho parecia meio cético quanto ao plano, mas foi minoria. Assim,
Dulce resolveu tentar cantar Blue Moon.
Nada aconteceu.
Anahí fez seu número de dança com uma música imaginária.
Nada aconteceu.
Viraram-se então para Poncho, que permanecia de braços cruzados,
vendo aquela papagaiada.
– Não vou fazer isso.
Se você for um rapaz e tiver amigas mulheres, ou mesmo irmãs, sabe
como elas são convincentes quando usam argumentos inteligentes, como
bater os pezinhos e fazer bico. Foi o que Dulce e Anahí fizeram,
convencendo finalmente Poncho, que, a contragosto, recitou uma poesia sem
muita vontade e não muito alto.
– “Quanto mais fecho os olhos,
melhor vejo...
Meu dia é noite quando estás ausente...
E à noite eu vejo o sol
se estás presente...”
Ficaram esperando alguma coisa e...
Nada aconteceu.
– Viu? Eu disse que isso não ia funcionar! Fadas são muito espertas.
– Que bonita essa poesia! – disse Anahí. – Você que fez?
– Não, é de Shakespeare.
– Shakespeare? – estranhou Dulce. – Como pode isso?
– As obras verdadeiramente inspiradas dos humanos sempre
chegam até aqui.
Uma vegetação mais fechada próxima deles se mexeu, colocando-os
em alerta. Seriam as fadas? Ou seria outra coisa?
Do meio da vegetação, uma donzela surgiu. Tinha as feições finas e
delicadas e um lindo vestido de brocado cor de rosa. Logo atrás dela surgiu
um jovem de belas feições e olhos surpresos. O trio se deparou com o casal
e ficaram todos se encarando paralisados.
– Vocês são fadas? – perguntou Dulce. – Porque não parecem fadas.
O rapaz imediatamente se colocou a frente da moça e ergueu a
espada. Poncho imediatamente fez o mesmo.
– Quem são vocês? – perguntou o rapaz. – E o que querem?
– Quem são vocês? – devolveu Poncho. – E por que estão aqui?
– OK, rapazes! – interrompeu Dulce, ficando entre as duas espadas
erguidas. – Vamos dar um tempo nessa festa de testosterona e agir como
seres inteligentes! Baixem suas armas.
Houve hesitação entre os dois, até que Dulce gritou:
– AGORA!
Eles baixaram as espadas e Dulce falou primeiro.
– Eu sou Dulce. Este é Poncho e aquela é Anahí. Estamos tentando
chegar na Colina dos Amores Perfeitos e tentávamos atrair fadas para que
nos mostrassem um círculo de fadas que pudesse nos levar lá mais
rapidamente. Sua vez.
– Meu nome é Fergus e esta é...
O rapaz pareceu hesitar e a moça passou a sua frente.
– E eu sou Maeve. Lamento nossa apresentação desastrada, mas há
perigos por toda parte hoje em dia...
– Estão sozinhos? – perguntou Fergus, olhando desconfiado em
volta.
– Estamos! – respondeu Dulce, um tanto rápido demais.
– Estamos indo na mesma direção – disse Fergus. – Se importariam
se acompanhássemos vocês?
O trio se entreolhou e concordou. Assim, retomaram o caminho
agora com dois estranhos.
– Por que suas roupas estão do avesso? – perguntou Maeve.
– Ah, é! – respondeu Poncho. – Tínhamos nos esquecido.
Eles contaram sobre o ataque dos springgans, o que pareceu
horrorizar a moça. Anahí logo notou que os dois andavam de mãos dadas
e sorriu, imaginando que eram um belo casal.
– Há quanto tempo estão juntos? – disparou Anahí.
Imediatamente, eles soltaram as mãos e pareceram um gato pego
com a boca cheia de penas e a gaiola vazia.
– Não estamos... digo... Somos... – Fergus não conseguia falar.
Dulce e sua sutileza de trator terminou o serviço que Anahí
começara.
– Vocês não deveriam estar juntos, né?
Fergus e Maeve se entreolharam assustados e eles juraram que
aqueles dois iam sair correndo com as mãos para cima naquele exato
instante. Mas eles apenas olharam de volta com aquela expressão de quem
não tem a menor ideia do que dizer.
– Tudo bem! Fiquem calmos! – disse Dulce. – Se vocês se amam,
podem contar conosco para ajudarmos no que pudermos.
Eles sorriram, mas não falaram mais sobre o assunto, voltando a
perguntar sobre os springgans e sua brilhante fuga. Com a fome e o cansaço
começando a fazer o papo murchar, decidiram parar e comer um pouco.
Maeve e Fergus dividiram com eles alegremente o que tinham. Dulce, Poncho
e Anahí colocaram pães, queijo e bolo que Frabatto lhes dera e
perceberam a grande diferença entre os alimentos que eles tinham e os
alimentos que Maeve e Fergus traziam.
Os deles eram finos bolinhos
decorados, tortas salgadas douradas e frutas belíssimas. Aqueles alimentos
pareciam ser muito delicados e finos. Pareciam ser caros! Anahí já tinha
reparado na roupa de Maeve e começou a desconfiar que ela era uma
nobre. Já Fergus, apesar de um rapaz lindo, tinha roupas simples, muito
parecidas com as roupas de um guarda ou soldado. Anahí preferiu não
comentar nada, mas Dulce não se importava em ser inconveniente.
– Você é rica? – perguntou Dulce. – Está fugindo com ele porque ele
é pobre e seus pais ricos não aceitam o casamento?
Poncho riu. Anahí olhou para o nada, imaginando porque ainda se
dava ao trabalho de ser discreta se sua amiga fazia tudo para derrubar
todos os talheres e pratos num restaurante.
– Podemos confiar em vocês? – perguntou Maeve.
– Claro! – respondeu Dulce, comendo um pedaço de bolo.
– Sou a princesa Maeve do Reino do Sul, herdeira do trono do Fogo,
filha do Rei Augustus e da Rainha Maura. Fui prometida para o filho do
Reino do Norte, mas me apaixonei por Fergus, que era o capitão da guarda
que liderava a comitiva que estava me levando. Então, hoje, nós decidimos
fugir!
– Oh, uma história de amor! – disse Anahí.
– Peraí... – preocupou-se Poncho. – Então vocês dois estão sendo
procurados?
– Bem... – titubeou Maeve com um sorriso amarelo. – Talvez!
Poncho se levantou.
– Se formos pegos com eles, seremos todos presos!
– Mas nós não fizemos nada!!! – reclamou Dulce, ainda com a boca
cheia de bolo.
– Não interessa! – continuou Poncho. – Vão nos acusar de
cumplicidade! Ou de sequestro! E aí pode esquecer de ajudar o Chris!
– Quem é Chris? – perguntou Maeve, como se isso fosse de alguma
forma relevante.
– O rei dos trolls! – respondeu Anahí.
E aí foi a vez de Fergus se levantar apreensivo.
– Vocês estão ajudando o rei dos trolls?!
– Não é o que parece! – disse Poncho.
– Tudo bem, isso foi um erro! – Fergus começou a arrumar suas
coisas e ajudou Maeve a se levantar. – Sigamos nosso caminho, vocês
seguem o de vocês!
Dulce e Anahí se levantaram também.
– Calma, gente! – disse Anahí. – Tenho certeza de que podemos nos
entender.
Sem dar tempo para maiores explicações, Fergus e Maeve partiram.
Dulce colocou as mãos na cintura e se virou para Poncho.
– Pô, Poncho! Você é um grosso!
– Estou tentando nos manter vivos! – explicou o elfo. – E isso está
ficando cada dia mais difícil!
Dulce sentou emburrada e continuou a comer, porque não era
qualquer coisa que lhe tirava o apetite.
Assim que terminaram o lanche, e Dulce e Anahí ficaram felizes
por Fergus e Maeve terem deixado os bolinhos e a quiche de queijo que
estavam divinos, se levantaram e continuaram a andar.
A tarde ia embora, a noite se aproximava e Poncho se preocupou.
– Precisamos de um lugar para passar a noite... – disse ele.
– Precisamos é de um milagre! – reclamou Dulce. – Você disse que
levaremos cinco dias para chegar lá. Em cinco dias o Chris já matou toda a
torcida do Flamengo!
– Matou quem? – perguntou Poncho.
– Um monte de gente! – traduziu Anahí.
– Eu não sei o que podemos fazer a respeito, Dulce! – defendeu-se
Poncho. – Mas aceito sugestões!
Dulce caminhou, vendo o dourado do sol se transformando em
laranja, sentindo o tempo escorrer pelos seus dedos.
– Precisamos arrumar algum lugar para dormir, não podemos andar
por aí de noite, é muito perigoso – insistiu Poncho.
– Eu só queria um jeito de chegar logo e pelo menos avisar Chris que
ele não pode matar ninguém!
Dulce olhou para o sol, começando seu caminho de despedida.
– Uma pena eles terem ido embora... – lamentou Dulce. – Fergus e
Maeve poderiam ajudar.
– Ajudar como? – respondeu Poncho. – Atraindo uma legião de
soldados para cima de nós?
– Não, seu grosso! Talvez tivessem alguma ideia sobre atrair fadas!
– Estavam tão apaixonados! – comentou Anahí.
E então Dulce teve um lampejo. Virou-se para eles com um sorriso
de vitória.
– É isso!!!
– Isso o quê?
– Nós fizemos tudo errado! Não basta recitarmos uma poesia, ou
cantarmos, ou dançarmos. Temos que fazer isso com amor! Com
sentimento, com emoção! Temos que emanar amor! Aí as fadas aparecem.
Anahí e Poncho não pareciam muito convencidos, mas o que tinham a
perder?
Dulce via o crepúsculo e sentia que aquele era o momento.
– Melhor então colocarmos as roupas direito – lembrou Poncho. –
Roupas do avesso podem ofender as fadas.
Cada um foi para um canto mais oculto na mata e desviraram suas
roupas. Quando voltaram, Dulce esfregava as mãos animada.
– Vamos conseguir! Só precisamos escolher o que vamos fazer e
fazer com o coração.
Dulce ficou em silêncio. Ela já cantara pela sua vida e pela de Chris e
sabia que não podia ser qualquer música. Tinha que ser uma música que
tocasse o coração. O dela e o dos outros. Portanto, tinha que ser algo que
ela estivesse sentindo naquele momento.
Poncho e Anahí esperaram enquanto Dulce buscava dentro de si a
canção certa.
– Como vamos saber se deu certo? – sussurrou Anahí, tentando
não atrapalhar a amiga.
– Dizem que um vento precede as fadas – explicou Poncho.
Então Dulce levantou a cabeça decidida.
– Eu vou cantar... – disse ela. – E vocês dois vão dançar.
– Como assim? – perguntou Anahí, meio nervosa. – Juntos?
– É!
Dulce foi até eles e os colocou juntos.
– Fadas gostam de casais. E no momento, eu não sou um casal. Sou
uma coitada solitária apaixonada por um troll que deve beber, fumar e
bater em todo mundo. Vocês vão completar a canção, vão torná-la
verdadeira!
– Mas...
– Mas nada! Dancem!!!
Então ela voltou para um ponto onde o sol banhava tudo de dourado
e laranja. Respirou fundo. Achou o tom e então cantou. Era uma música
antiga, uma das favoritas de sua mãe, uma canção em inglês de uma banda
progressiva do Reino Unido dos anos 70 chamada Renaissance. Dulce
sempre desafinava quando a cantava, mas ia se esforçar para não desafinar
ali.
Precisava da ajuda das fadas. Olhou em volta mais uma vez, vendo
Anahí e Poncho juntos como duas vassouras. Esperava que eles relaxassem e
não estragassem tudo. As árvores se moviam lentamente, o sol jogava sobre
tudo caminhos dourados, as folhas de início de outono no chão pareciam
um tapete e as folhas tinham uma miríade de tons de verde. Era o cenário
perfeito.
Dulce achou que seria uma ótima sequência de uma animação da
Disney, se não estivessem tão desesperados. Dulce fechou os olhos,
concentrou-se e deu o seu melhor. Apesar das palavras serem em outro
idioma, Dulce sabia o que cantava e isso parecia fluir com sua voz:
Dando um tempo para encontrar o verso certo
Falando calmamente com os pensamentos que você quer dividir
Inclinando-me, eu sinto você crescendo em minha mente
Descendo furtivamente, eu sinto você crescendo em minha mente
Poncho e Anahí começaram se mover, nitidamente constrangidos.
Poncho lutava com todas as suas forças para não cavar um buraco no chão e
se enfiar nele. Anahí tinha deixado claro que não tinha nenhum
sentimento por ele e colocá-lo naquela situação era cruel. Teve vontade de
estrangular Dulce, mas ela parecia não perceber – ou não se importar –
com a situação vergonhosa em que eles se encontravam. Continuava
cantando.
É preciso ir devagar, levando o amor na única direção
É preciso apenas deixar fluir, fazendo amor e dando tempo para ele
crescer
Encontrando maneiras de achar o verdadeiro você
Passando dias apenas de mãos dadas e se sentindo livre
Brinque e veja o sol vindo e atravessando tudo
Venha comigo, fique por perto e veja o amor crescer com você.
Em algum momento, não havia mais para onde desviar o olhar.
Poncho
terminou encontrando os grandes olhos de Anahí e ela não os desviaram.
E então seus corpos, tensos e sem ritmo, encontraram a fluidez da canção,
movendo-se lentamente, belamente, livremente. Dançar é uma expressão
de liberdade, mas dançar com alguém é uma prova de confiança. Naquele
momento, descobriram que confiavam um no outro.
Dulce sentia as palavras nascerem no coração e se espalharem por
entre as árvores. Balançava o corpo dançando com o acompanhamento
imaginário e sorriu, sabendo que estava conseguindo tornar sua canção
sincera, como fizera quando cantara para os grifos de Belinda.
É preciso ir devagar, levando o amor na única direção
É preciso apenas deixar fluir, fazendo amor e dando tempo para ele
crescer
Dando a você o amor que você me deu
Vivendo o amor com as coisas que nós temos para compartilhar
Poesia, ouça as palavras que você diz para mim
Fique por perto, aqui comigo, mantenha nosso amor fluindo
livremente
Um vento balançou as árvores e elas derrubaram pequenas flores
amarelas sobre eles. Poncho e Anahí continuavam sua dança, presos um nos
olhos do outro. Pássaros cantaram e o sol pareceu retardar sua partida
para vê-los.
É preciso ir devagar, levando o amor na única direção
É preciso apenas deixar fluir, fazendo amor e dando tempo para ele
crescer
E então um pequeno ser alado de cor viva voou diante de Dulce.
Outros mais surgiram e cercaram Poncho e Anahí. Surpresos, eles pararam e
sorriram, percebendo que o plano funcionara.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2