Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Jurubin estava comendo um pernil de alguma coisa que ele nem
sabia o que era e pouco lhe importava, pois estava faminto. Quando o rei
apareceu, ele se engasgou, acreditando ter levado a moça errada.
– Jurubin, acompanhe-me! – ordenou o rei.
O troll limpou as mãos nos pelos do corpo e seguiu atrás de sua
majestade. Entraram por um corredor e o rei abriu uma porta. Era uma sala
tosca como todas as outras onde guardavam coisas pilhadas que ninguém
queria (sim, os trolls também são acumuladores, dentre outras coisas).
– Você voltou sozinho – disse o rei. – O que houve com Task e
Boldan?
– Sucumbiram, majestade... – respondeu Jurubin.
– A que?
– Quando achamos a moça, havia mais humanos com ela. Dois eram
homens armados com quem Task e eu brigamos. Matamos um, mas Task
perdeu a cabeça.
– Ele fez alguma loucura? – perguntou o rei.
– Não, majestade, ele perdeu a cabeça mesmo! O homem negro o
decapitou com um facão que ele pegou numa carroça.
– Hum... E Boldan?
– Então! Aí eu fui atrás dos humanos que fugiram e, seguindo a
trilha, achei o corpo de Boldan. Não sei quem ou o que o matou, mas talvez
tenham sido os humanos que perseguíamos.
O rei se virou, caminhando um pouco entre um velocípede da
Estrela e um órgão da Atma.
– Alguém lhe deu uma ordem diferente da minha, Jurubin? Sobre
trazer a menina viva?
– Não, majestade! Não que eu me lembre!
– Sabe se Boldan comentou alguma coisa estranha com vocês?
Jurubin baixou os olhos e colocou a mão no queixo, fazendo um
beiço. Era assim que ele ficava quando pensava.
– Não, majestade! Ele não comentou nada depois que conversou
com Kajinski.
Chris arregalou os olhos, confirmando suas suspeitas.
– Está bem, Jurubin – disse, enfim. – Você fez um ótimo trabalho.
O troll riu, feliz com a aceitação.
– Pode voltar a comer. Darei ordens para que você possa comer e
beber tudo o que quiser por três dias!
Jurubin ficou tão feliz que deu um salto e fez alguns barulhos
estranhos. Então saiu correndo. O rei sorriu, contagiado pela felicidade do
troll. E então ele pensou. Por que estava feliz? Não era ele que ia comer e
beber a vontade – embora pudesse. Ficou pensando em algumas coisas,
antes de sair, dando alguns passos entre Aquaplays sem água, latinhas de
Coca-Cola que dançam e guarda-chuvas da Madonna.
*****
Fernando comeu a gororoba que lhe deram e bebeu a água avidamente.
Percebeu que a tontura e fraqueza que sentia era fome. Sentiu-se melhor
imediatamente assim que comeu. Já podia pensar em como sair daquela
enrascada de novo.
Olhou ao redor com mais atenção. Aquela cela fria lhe lembrava
muito a cela em que ficara em Loudun e isso fez sua coluna e nunca se
arrepiarem. Galdrun lhe dissera que iria pagar. Sentou-se, preocupado.
Fernando já fora torturado antes. Tinha sido uma experiência assustadora,
horrível e que ele se esforçara muito para esquecer. Nunca comentava a
respeito, mesmo quando Blanca entrava no assunto, porque ele nunca
deixaria seu orgulho ser quebrado dessa maneira. No entanto, de vez em
quando, ainda tinha pesadelos terríveis que o faziam acordar gritando e
suando. Será que teria que passar de novo por aquilo?
Galdrun também dissera que o fariam recuperar o prejuízo. Isso, por
incrível que pareça, não era ruim. Significava que precisariam dele vivo. E
inteiro. Sentiu-se menos aterrorizado com essa possibilidade. Olhou para a
cela onde a fada se escondera. A comida e a água continuavam intocados.
Foi até a grade.
– Leanan? – chamou ele.
Ela não respondeu.
– Vamos, Leanan... – insistiu. – Precisa comer...
– Estou horrível... – lamentou-se ela lá de dentro.
– Não está, não. Você é linda. Aqueles idiotas nunca viram uma
mulher tão linda na vida deles!
Houve uma pausa.
– Obrigada...
Ele percebeu que ela sorrira quando dissera aquilo. Mas ainda não
pegara a comida.
– Façamos um trato! – disse ele. – Eu lhe darei uma coisa! Se você
gostar, come a comida!
– O que você pode me dar estando preso aí dentro? – perguntou ela.
Fernando deu sua risada contagiante.
– Você que é uma fada deveria saber que há coisas que ninguém
pode tirar da gente, que nenhuma grade pode deter, que nenhum grilhão
pode aprisionar! Então? Aceita a minha proposta? Lhe darei algo. Se não
gostar, não come. Mas se gostar, vai comer essa deliciosa iguaria de prisão
para ficar mais forte.
Houve mais uma pausa e ele teve certeza de que venceria pela
curiosidade, comum não por ela ser uma fada, mas por ser uma mulher.
– Está bem! Trato feito.
Fernando sorriu e ele não sabia, mas de seu canto escuro, o coração da
fada se iluminou ao ver aquele sorriso. Ele encostou-se à parede e
procurou na memória o presente perfeito para aquele momento. Então
começou.
As fadas… eu creio nelas!
Umas são moças e belas,
Outras, velhas de pasmar…
Umas vivem nos rochedos,
Outras, pelos arvoredos,
Outras, à beira do mar…
Algumas em fonte fria
Escondem-se, enquanto é dia,
Saem só ao escurecer…
Outras, debaixo da terra,
Nas grutas verdes da serra,
É que se vão esconder…
O vestir… são tais riquezas,
Que rainhas, nem princesas
Nenhuma assim se vestiu!
Porque as riquezas das fadas
São sabidas, celebradas
Por toda a gente que as viu…
Quando a noite é clara e amena
E a lua vai mais serena,
Qualquer um as pode espreitar,
Fazendo roda, ocupadas
Em dobar suas meadas
De ouro e de prata, ao luar.
O luar é os seus amores!
Sentadinhas entre as flores
Ficam-se horas sem fim,
Cantando suas cantigas,
Fiando suas estrigas,
Em roca de oiro e marfim.
Eu sei os nomes de algumas:
Viviana ama as espumas
Das ondas nos areais,
Vive junto ao mar, sozinha,
Mas costuma ser madrinha
Nos batizados reais.
Morgana é muito enganosa;
Às vezes, moça e formosa,
E outras, velha, a rir, a rir…
Ora festiva, ora grave,
E voa como uma ave,
Se a gente lhe quer bulir.
Que direi de Melusina?
De Titânia, a pequenina,
Que dorme sobre um jasmim?
De cem outras, cuja glória
Enche as páginas da história
Dos reinos de el-rei Merlim?
Umas têm mando nos ares;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem na mão
Aquela vara famosa,
A vara maravilhosa,
A varinha de condão.
O que elas querem, num pronto,
Fez-se ali! Parece um conto…
Mesmo de fadas… eu sei!
São condões, que dão à gente
Ou dinheiro reluzente
Ou joias, que nem um rei!
A mais pobre criancinha
Se quis ser sua madrinha,
Uma fada… ai, que feliz!
São palácios, num momento…
Beleza, que é um portento…
Riqueza, que nem se diz…
Ou então, prendas, talento,
Ciência, discernimento,
Graças, chiste, discrição…
Vê-se o pobre inocentinho
Feito um sábio, um adivinho,
Que aos mais sábios vai à mão!
Mas, com tudo isto, as fadas
São muito desconfiadas;
Quem as vê não há de rir,
Querem elas que as respeitem,
E não gostam que as espreitem,
Nem se lhes há de mentir.
Quem as ofende cautela!
A mais risonha, a mais bela,
Torna-se logo tão má,
Tão cruel, tão vingativa!
É inimiga agressiva,
É serpente que ali está!
E têm vinganças terríveis!
Semeiam coisas horríveis,
Que nascem logo no chão…
Línguas de fogo, que estalam!
Sapos com asas, que falam!
Um anão preto! um dragão!
Ou deitam sortes na gente…
O nariz faz-se serpente,
A dar pulos, a crescer…
É-se morcego ou veado…
E anda-se assim encantado,
Enquanto a fada quiser!
Por isso quem por estradas
For, de noite, e vir as fadas
Nos altos, mirando o céu,
Deve com jeito falar-lhes,
Muito cortês e tirar-lhes
Até ao chão o chapéu.
Porque a fortuna da gente
Está às vezes somente
Numa palavra que diz.
Por uma palavra, engraça
Uma fada com quem passa
E torna-o logo feliz.
Quantas vezes já deitado,
Mas sem sono, inda acordado
Me ponho a considerar
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar…
O que seria? Um tesoiro?
Um reino? Um vestido de oiro?
Ou um leito de marfim?
¿Ou um palácio encantado,
Com seu lago prateado
E com pavões no jardim?
Ou podia, se eu quisesse,
Pedir também que me desse
Um condão, para falar
A língua dos passarinhos,
Que conversam nos seus ninhos…
Ou então, saber voar!
Oh, se esta noite, sonhando,
Alguma fada, engraçando
Comigo (podia ser?)
Me tocasse co’a varinha
E fosse minha madrinha,
Mesmo a dormir, sem a ver…
E que amanhã acordasse
E me achasse… eu sei! Me achasse
Feito um príncipe, um emir!…
Até já, imaginando,
Se estão meus olhos fechando…
Deixa-me já, já dormir!
Houve um silêncio. Fernando deixou o sorriso em seu rosto ficar ali por
mais um tempo. Ele lera tantas vezes essa poesia de Antero de Quental para
Dulce quando pequena que a decorou. Juntou-a ao seu acervo mental de
poesias que faziam ninho em seu coração.
Lembrou da pequenina com
olhos brilhantes ouvindo com atenção cada palavra, surpreendendo-se com
o mundo das fadas. “Talvez tenha sido um tipo de presságio...”, pensou ele.
E então ele viu a mãozinha branca sair da escuridão da cela em
frente e pegar o prato de mingau.
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Autor(a): vondynatica
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O rei voltava para seus aposentos quando deu de cara com Kajinski batendo boca com os guardas na frente do seu quarto. – Majestade! – disse Kajinski, fazendo uma reverência breve. – Esses idiotas não me deixam entrar em seus aposentos! – Eu sei – respondeu secamente de braços cruzados. &nda ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2