Fanfics Brasil - Capítulo 27 - Um presente para uma fada triste A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada

Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada


Capítulo: Capítulo 27 - Um presente para uma fada triste

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Jurubin estava comendo um pernil de alguma coisa que ele nem

sabia o que era e pouco lhe importava, pois estava faminto. Quando o rei

apareceu, ele se engasgou, acreditando ter levado a moça errada.

 

– Jurubin, acompanhe-me! – ordenou o rei.

 

O troll limpou as mãos nos pelos do corpo e seguiu atrás de sua

majestade. Entraram por um corredor e o rei abriu uma porta. Era uma sala

tosca como todas as outras onde guardavam coisas pilhadas que ninguém

queria (sim, os trolls também são acumuladores, dentre outras coisas).

 

– Você voltou sozinho – disse o rei. – O que houve com Task e

Boldan?

 

– Sucumbiram, majestade... – respondeu Jurubin.

 

– A que?

 

– Quando achamos a moça, havia mais humanos com ela. Dois eram

homens armados com quem Task e eu brigamos. Matamos um, mas Task

perdeu a cabeça.

 

– Ele fez alguma loucura? – perguntou o rei.

 

– Não, majestade, ele perdeu a cabeça mesmo! O homem negro o

decapitou com um facão que ele pegou numa carroça.

 

– Hum... E Boldan?

 

– Então! Aí eu fui atrás dos humanos que fugiram e, seguindo a

trilha, achei o corpo de Boldan. Não sei quem ou o que o matou, mas talvez

tenham sido os humanos que perseguíamos.

 

O rei se virou, caminhando um pouco entre um velocípede da

Estrela e um órgão da Atma.

 

– Alguém lhe deu uma ordem diferente da minha, Jurubin? Sobre

trazer a menina viva?

 

– Não, majestade! Não que eu me lembre!

 

– Sabe se Boldan comentou alguma coisa estranha com vocês?

 

Jurubin baixou os olhos e colocou a mão no queixo, fazendo um

beiço. Era assim que ele ficava quando pensava.

 

– Não, majestade! Ele não comentou nada depois que conversou

com Kajinski.

 

Chris arregalou os olhos, confirmando suas suspeitas.

 

– Está bem, Jurubin – disse, enfim. – Você fez um ótimo trabalho.

 

O troll riu, feliz com a aceitação.

 

– Pode voltar a comer. Darei ordens para que você possa comer e

beber tudo o que quiser por três dias!

 

Jurubin ficou tão feliz que deu um salto e fez alguns barulhos

estranhos. Então saiu correndo. O rei sorriu, contagiado pela felicidade do

troll. E então ele pensou. Por que estava feliz? Não era ele que ia comer e

beber a vontade – embora pudesse. Ficou pensando em algumas coisas,

antes de sair, dando alguns passos entre Aquaplays sem água, latinhas de

Coca-Cola que dançam e guarda-chuvas da Madonna.

 

*****

Fernando comeu a gororoba que lhe deram e bebeu a água avidamente.

Percebeu que a tontura e fraqueza que sentia era fome. Sentiu-se melhor

imediatamente assim que comeu. Já podia pensar em como sair daquela

enrascada de novo.

 

Olhou ao redor com mais atenção. Aquela cela fria lhe lembrava

muito a cela em que ficara em Loudun e isso fez sua coluna e nunca se

arrepiarem. Galdrun lhe dissera que iria pagar. Sentou-se, preocupado.

 

Fernando já fora torturado antes. Tinha sido uma experiência assustadora,

horrível e que ele se esforçara muito para esquecer. Nunca comentava a

respeito, mesmo quando Blanca entrava no assunto, porque ele nunca

deixaria seu orgulho ser quebrado dessa maneira. No entanto, de vez em

quando, ainda tinha pesadelos terríveis que o faziam acordar gritando e

suando. Será que teria que passar de novo por aquilo?

 

Galdrun também dissera que o fariam recuperar o prejuízo. Isso, por

incrível que pareça, não era ruim. Significava que precisariam dele vivo. E

inteiro. Sentiu-se menos aterrorizado com essa possibilidade. Olhou para a

cela onde a fada se escondera. A comida e a água continuavam intocados.

 

Foi até a grade.

 

– Leanan? – chamou ele.

 

Ela não respondeu.

 

– Vamos, Leanan... – insistiu. – Precisa comer...

 

– Estou horrível... – lamentou-se ela lá de dentro.

 

– Não está, não. Você é linda. Aqueles idiotas nunca viram uma

mulher tão linda na vida deles!

 

Houve uma pausa.

 

– Obrigada...

 

Ele percebeu que ela sorrira quando dissera aquilo. Mas ainda não

pegara a comida.

 

– Façamos um trato! – disse ele. – Eu lhe darei uma coisa! Se você

gostar, come a comida!

 

– O que você pode me dar estando preso aí dentro? – perguntou ela.

 

Fernando deu sua risada contagiante.

 

– Você que é uma fada deveria saber que há coisas que ninguém

pode tirar da gente, que nenhuma grade pode deter, que nenhum grilhão

pode aprisionar! Então? Aceita a minha proposta? Lhe darei algo. Se não

gostar, não come. Mas se gostar, vai comer essa deliciosa iguaria de prisão

para ficar mais forte.

 

Houve mais uma pausa e ele teve certeza de que venceria pela

curiosidade, comum não por ela ser uma fada, mas por ser uma mulher.

 

– Está bem! Trato feito.

 

Fernando sorriu e ele não sabia, mas de seu canto escuro, o coração da

fada se iluminou ao ver aquele sorriso. Ele encostou-se à parede e

procurou na memória o presente perfeito para aquele momento. Então

começou.

 

As fadas… eu creio nelas!

Umas são moças e belas,

Outras, velhas de pasmar…

Umas vivem nos rochedos,

Outras, pelos arvoredos,

Outras, à beira do mar…

Algumas em fonte fria

 

Escondem-se, enquanto é dia,

Saem só ao escurecer…

Outras, debaixo da terra,

Nas grutas verdes da serra,

É que se vão esconder…

O vestir… são tais riquezas,

Que rainhas, nem princesas

 

Nenhuma assim se vestiu!

Porque as riquezas das fadas

São sabidas, celebradas

Por toda a gente que as viu…

Quando a noite é clara e amena

E a lua vai mais serena,

Qualquer um as pode espreitar,

Fazendo roda, ocupadas

Em dobar suas meadas

De ouro e de prata, ao luar.

O luar é os seus amores!

 

Sentadinhas entre as flores

Ficam-se horas sem fim,

Cantando suas cantigas,

Fiando suas estrigas,

Em roca de oiro e marfim.

Eu sei os nomes de algumas:

Viviana ama as espumas

Das ondas nos areais,

Vive junto ao mar, sozinha,

Mas costuma ser madrinha

Nos batizados reais.

Morgana é muito enganosa;

 

Às vezes, moça e formosa,

E outras, velha, a rir, a rir…

Ora festiva, ora grave,

E voa como uma ave,

Se a gente lhe quer bulir.

Que direi de Melusina?

De Titânia, a pequenina,

Que dorme sobre um jasmim?

De cem outras, cuja glória

Enche as páginas da história

Dos reinos de el-rei Merlim?

Umas têm mando nos ares;

Outras, na terra, nos mares;

E todas trazem na mão

 

Aquela vara famosa,

A vara maravilhosa,

A varinha de condão.

O que elas querem, num pronto,

Fez-se ali! Parece um conto…

Mesmo de fadas… eu sei!

São condões, que dão à gente

Ou dinheiro reluzente

Ou joias, que nem um rei!

A mais pobre criancinha

 

Se quis ser sua madrinha,

Uma fada… ai, que feliz!

São palácios, num momento…

Beleza, que é um portento…

Riqueza, que nem se diz…

Ou então, prendas, talento,

Ciência, discernimento,

Graças, chiste, discrição…

Vê-se o pobre inocentinho

Feito um sábio, um adivinho,

Que aos mais sábios vai à mão!

Mas, com tudo isto, as fadas

 

São muito desconfiadas;

Quem as vê não há de rir,

Querem elas que as respeitem,

E não gostam que as espreitem,

Nem se lhes há de mentir.

Quem as ofende cautela!

A mais risonha, a mais bela,

Torna-se logo tão má,

Tão cruel, tão vingativa!

É inimiga agressiva,

É serpente que ali está!

E têm vinganças terríveis!

Semeiam coisas horríveis,

Que nascem logo no chão…

Línguas de fogo, que estalam!

Sapos com asas, que falam!

Um anão preto! um dragão!

Ou deitam sortes na gente…

 

O nariz faz-se serpente,

A dar pulos, a crescer…

É-se morcego ou veado…

E anda-se assim encantado,

Enquanto a fada quiser!

Por isso quem por estradas

For, de noite, e vir as fadas

Nos altos, mirando o céu,

Deve com jeito falar-lhes,

Muito cortês e tirar-lhes

Até ao chão o chapéu.

Porque a fortuna da gente

Está às vezes somente

Numa palavra que diz.

Por uma palavra, engraça

Uma fada com quem passa

E torna-o logo feliz.

Quantas vezes já deitado,

 

Mas sem sono, inda acordado

Me ponho a considerar

Que condão eu pediria,

Se uma fada, um belo dia,

Me quisesse a mim fadar…

O que seria? Um tesoiro?

Um reino? Um vestido de oiro?

Ou um leito de marfim?

¿Ou um palácio encantado,

Com seu lago prateado

E com pavões no jardim?

Ou podia, se eu quisesse,

Pedir também que me desse

Um condão, para falar

A língua dos passarinhos,

 

Que conversam nos seus ninhos…

Ou então, saber voar!

Oh, se esta noite, sonhando,

Alguma fada, engraçando

Comigo (podia ser?)

Me tocasse co’a varinha

E fosse minha madrinha,

Mesmo a dormir, sem a ver…

E que amanhã acordasse

E me achasse… eu sei! Me achasse

Feito um príncipe, um emir!…

Até já, imaginando,

Se estão meus olhos fechando…

Deixa-me já, já dormir!

 

Houve um silêncio. Fernando deixou o sorriso em seu rosto ficar ali por

mais um tempo. Ele lera tantas vezes essa poesia de Antero de Quental para

Dulce quando pequena que a decorou. Juntou-a ao seu acervo mental de

poesias que faziam ninho em seu coração. 

 

Lembrou da pequenina com

olhos brilhantes ouvindo com atenção cada palavra, surpreendendo-se com

o mundo das fadas. “Talvez tenha sido um tipo de presságio...”, pensou ele.

E então ele viu a mãozinha branca sair da escuridão da cela em

frente e pegar o prato de mingau.  

 

 


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Autor(a): vondynatica

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38

    Amei,PARABÉNS!!!S2

  • kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35

    Continua!!!Ta acabando??s2

  • kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47

    Continuaa!!!s2

  • kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28

    Posta++!!s2

  • kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28

    Amando,continua!!!!s2


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