Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Caminhavam pela floresta, agora de dia, e Chris parecia não perceber
– ou não se importar – com o cansaço de sua companheira de viagem.
Dulce o observava, sempre indo na frente, determinado e distante, falando
pouco e mal prestando atenção nela. Isso ficou claro quando ela tropeçou
num galho e caiu. Ele se virou sem demonstrar emoção.
– Caiu?
– Não! – respondeu ela. – Sentei pra assistir ao jogo da Copa!
Ele continuou olhando para ela sem entender.
– Claro que eu caí! – respondeu ela, esperando que ele se mexesse
para ajudá-la.
– Ah, tá! Então levanta! Temos que ir.
E continuou andando na frente. Dulce balançou a cabeça,
horrorizada. Levantou-se e foi atrás dele.
– Um pouco de cavalheirismo não vai matá-lo, viu? – disse ela.
– Um pouco de quê? – perguntou ele distraído.
– Ah, deixa pra lá...
Dulce não queria dar o braço a torcer e dizer que estava cansada.
Mas estava. Estava moída, e estava com fome, e exausta, e precisava parar.
– Podemos parar um pouco? – pediu ela, num fiapo de voz.
– Melhor continuarmos, ou seus amigos podem ir embora antes de
chegarmos. Se é que já não foram...
– Chris!
Ele se virou e percebeu que Dulce estava parada, recostada numa
árvore.
– Eu não consigo mais andar – explicou ela. – Estou cansada, estou
faminta e estou exausta. Então, eu lamento, se você quiser ir, te encontro lá.
Eu estou parando.
E então se sentou, recostada na árvore e ofegante.
Ele pareceu hesitar, como se realmente estivesse pensando em
largá-la para trás. Então continuou andando. Dulce não acreditou, mas
estava tão cansada que não disse nada. Fechou os olhos por alguns
minutos. Se suas forças voltassem, ela tentaria ir atrás dele. Ou não. No
momento estava tão acabada que qualquer mínimo esforço parecia
impossível.
De olhos fechados, ouvia os pássaros e o farfalhar das folhas das
árvores. Viu ela e Anahí em uma colina e milhares de balões voando acima
delas em um céu impecavelmente azul. Seus pais estavam lá. Viu Eileen
rindo entre eles. Viu Chris lhe oferecendo flores lindas e dizendo:
– Coma!
Ela não entendeu. Mas ele enfiou as flores no seu nariz repetindo.
– Come logo!
E então ela acordou com Chris diante dela com um punhado de frutas
nas mãos quase coladas em seu nariz.
– Coma logo para que possamos ir!
Dulce pegou uma das frutas e cheirou. Tinha cheiro de chiclete de
tutti-fruti. Ele se sentou perto dela.
– Achei que tinha ido embora.
– Você disse que estava com fome. Fui buscar algo para você comer.
Ele também pegou uma fruta parecida com um cacho de amoras e
comeu.
– Quando fomos ao reino de Manuel pela primeira vez – disse ela, –
ele não era o rei. Era um príncipe. Seus pais é que comandavam o reino.
– É mesmo? – perguntou ele sem muito interesse.
– Onde eles estão? Quer dizer, não pareciam assim pessoas
maravilhosas, mas será que apoiariam o filho se soubessem que ele está
tramando uma guerra?
– Talvez, se for uma guerra contra trolls – respondeu Chris. – Somos
odiados por todo o lugar.
– Porque vocês também procuram, né?
Ele olhou para ela.
– Sem ofensa, Chris, mas seu povo é uma praga!
– É o que somos. É o que sabemos fazer. Sempre foi assim.
– Tá, deixa isso pra lá, eu tô cansada demais para ter um papo
existencialista. Só queria saber o que houve com os verdadeiros regentes
do reino.
Retomaram a caminhada assim que comeram e Dulce sentia as
pernas doerem, mas compreendia a pressa.
Poncho e Anahí já deveriam
estar na floresta, indo sabe-se lá para onde, depois do atalho do círculo das
fadas. Estava tão cansada que não pensou na possibilidade deles não terem
entrado no círculo das fadas depois que ela foi levada pelo troll. Nem no
que aconteceria se eles não estivessem por lá. Nem no que fazer se Chris não
pudesse voltar a ser quem ele de fato era.
Algumas horas depois, chegaram, a floresta em que estavam acabou
e viram o descampado que se estendia até a Colina dos Amores Perfeitos.
Ela parecia multicolorida, e o motivo eram as milhares de flores que nela
cresciam.
– Ela é linda!
E quando ela ainda admirava o lugar, Chris a pegou nos braços e
levantou voo.
– Achei que não queria se arriscar a ser visto – disse ela, abraçada ao
seu pescoço.
– Andar num descampado é o mesmo que voar num céu limpo.
Então...
Dulce olhou lá embaixo pequenos animais correndo e a floresta de
onde viera, que separava a colina enfeitiçada que era a morada dos trolls da
Colina dos Amores Perfeitos. Do outro lado dessa colina era o reino de
Manuel, composto em sua maioria por elfos e humanos. De fato, Dulce não
se lembrava de ter visto outros seres encantados por lá.
Dulce olhou Chris, tão perto dela e, ao mesmo tempo, tão distante.
Ele se virou e deu de cara com o rosto da menina a alguns centímetros do
dele.
– O que está olhando? – perguntou.
– Você, oras!
Dulce percebeu que ele começou a ficar sem graça e ela se divertiu
com isso. Ela desejou muito dar um beijo nele e transformar aquela na cena
mais romântica de sua vida inteira. Mas da última vez que tentou, foi um
fracasso. Então ela se contentou em viver aquele momento.
Chegaram ao alto da colina. Chris colocou Dulce no chão e caminhou
para ver melhor a área que os cercava. Dulce se deparou com o lugar mais
colorido e florido que ela já vira na vida. Perfumes diferentes se elevavam,
tornando o ambiente doce.
As flores pareciam ter flores de outras cores
nelas e Dulce se inclinou para observar uma melhor. Nisso, Chris se virou
para falar alguma coisa e bateu suas enormes asas de morcego.
Imediatamente, dezenas de milhares de borboletas voaram numa reação
em cadeia. Tinham todos os tamanhos e todas as cores e voavam em torno
deles, suas asas brilhando com o sol. Dulce sorriu e abriu os braços, num
giro gracioso e lento, deixando que as borboletas voassem em volta dela.
E depois de alguns minutos vivendo esse momento de encanto e
doçura, ela percebeu que Chris estava de pé diante dela, a apenas alguns
passos, olhando-a fixamente. Ele ia dizer algo, mas ela o interrompeu.
– Por favor, Chris! Não venha me dizer que são apenas insetos!
Ele não disse nada, mas continuou olhando para ela com um olhar
estranho. Então ele deu um leve sorriso.
– Eu só ia dizer que você está muito bonita...
Ela ficou atônita, as borboletas ainda a circulando, os cabelos
balançando algumas mechas com a brisa perfumada, a saia do vestido
acompanhando o movimento das flores. Ela sorriu, sem perceber que
também ruborizou.
E então as borboletas foram pousando nas flores ou indo embora,
rareando, ficando apenas algumas a voar em torno deles. Ela caminhou até
ele e olhou a vista estonteante.
Reconheceu de imediato a antiga cidade de
Anahí, onde ela e Sachti causaram alvoroço ao pousar quando levaram
Chris quase morto e pediram ajuda. Chris, ao lado dela, apontou para um
bosque cor de cobre e ouro a alguns quilômetros do reino.
– Seus amigos devem ter saído ali, se passaram mesmo pelo círculo
das fadas. Claro que daqui parece uma área bem menor. Ainda teremos que
andar bastante quando chegarmos ao bosque, pois círculos de fadas
costumam ficar mais escondidos.
– Podemos perguntar para uma fada! – disse Dulce.
Chris riu.
– Claro! Se encontrarmos uma que não saia voando desesperada
assim que me vir!
– Suas asas não recolhem? – perguntou Dulce.
Ele a olhou sem entender.
– Quando você era um anjo, estava sempre recolhendo suas asas.
– Não faço ideia do que você está falando.
– Tá, deixa pra lá. Podemos ir voando daqui até o bosque?
Chris olhou, preocupado com as imediações.
– Há seres encantados ao pé dessa montanha. E Manuel mantém
guardas em suas torres. Elfos têm uma visão muito boa, poderiam nos
avistar.
– OK... – conformou-se ela. – Viação canela, então.
– O quê? – perguntou ele, sem entender.
– Deixa pra lá...
****
Blanca temia que o caminho até a Cidade Obscura fosse
desconfortável. Ela ainda estava digerindo o que acontecera nas ruínas lá
atrás e receava que Marcel se tornasse... diferente.
E, de certa forma, ele se tornou. Marcel estava mais falante e parecia mais
leve, como se tivesse tirado um peso dos ombros. Blanca se perguntava
como ele pudera viver todo aquele tempo com tamanha dor. Ela também se
lembrava de que não fora o primeiro grande amor de Fernando.
Ele amava
Madelaine. Talvez, se ela não tivesse tido aquele trágico e inesperado fim,
ela nunca tivesse tido sua chance. Como Marcel, talvez os visitasse
frequentemente e ajudasse a criar seus filhos, sem nunca dizer o que ia em
seu coração.
Os caminhos do coração são íngremes. E complicados. Todos
precisamos aprender a lidar com esses caminhos, pois são eles que nos
levam ao destino final. Marcel escolheu ficar perto do amor de sua vida e se
tornar parte do mundo dela.
Ele poderia ter escolhido desaparecer, como
fazem tantos amores perdidos por aí. Mas ele escolheu ficar ao lado dela e
aceitar a amizade de Fernando, o que também é uma forma de amor. Para isso, não bastava ter um coração grande, mas também um coração nobre e forte.
Blanca pensava nisso tudo enquanto via Marcel rir com as bobagens
de Marcos e Pé de Vento. Ela nunca tinha percebido que grande homem ele
era, e que coração encantadoramente belo ele tinha. Seus olhos se
cruzaram e ela não desviou. Ela lhe sorriu e entrou na conversa.
Antes do fim daquele dia, eles se depararam com algo que não
estava no mapa.
– Por que tem uma cidade aqui? – perguntou Marcel, confuso
olhando o mapa. – Essa é a Cidade Obscura?
Pé de Vento também parecia confuso.
– Pode ser que nem as favelas lá no Rio, gente – explicou Marcos. –
Você passa de dia não tem nada e quando passa de tarde já tem uma
comunidade inteira lá, com conflito com a polícia e tudo.
– Bom, talvez o mapa não esteja correto – ponderou Blanca. – Erros
acontecem.
A cidade não era muito grande e parecia bem normal.
Aparentemente, era uma cidade de humanos, pois não chegaram a ver
encantados nas ruas semivazias.
– Isso é ótimo! – comemorou Marcel. – Poderemos ficar numa
estalagem! Isso quer dizer que dormiremos numa CAMA! Poderemos
comer em PRATOS!
Ele estava tão feliz que não cabia em si. Continuaram andando
observando as casas simples, o mercado e uma carroça que vinha
lentamente e parou diante do que parecia uma estalagem.
– Olha! Olha! Uma estalagem!!!
Marcel apertou o passo, puxando seu cavalo, com um sorriso de
criança no rosto. Os outros o seguiram. Assim que chegaram na entrada,
um casal descia da carroça. O rapaz deu a mão para a moça, mas ela pisou
em falso e caiu. Marcos e Marcel ajudaram imediatamente e então
perderam a cor ao reconhecerem aquelas pessoas.
– Princesa Maeve?! – espantou-se Marcel.
– Fergus?! – chamou Blanca, que estava chegando com Eileen.
A princesa saltou de alegria no pescoço de Marcel, abraçando todos
os outros a seguir. Fergus os cumprimentou entusiasticamente, enquanto a
carroça ia embora tão lentamente quanto chegou.
– O que... O que estão fazendo aqui? – perguntou Marcel, que ainda
torcia para uma explicação razoável.
– Nós fugimos! – respondeu ela.
E ficaram os dois rindo para eles, esperando talvez alguma
congratulação.
– Vocês ficaram loucos?! – explodiu Marcel.
– Vocês sabem que podem começar uma guerra? – interferiu Blanca.
– Você me disse para ver o que acontecia! – explicou Maeve. – Pois
nós ficamos e a verdade é que o príncipe não tinha o menor interesse em
mim. Ele estava muito mais interessado em ir caçar com o Fergus do que
em ficar comigo!
– Eu disse! – riu Marcos. – Eu disse que esse gato é Félix!
Por algum motivo que ninguém entendeu, Eileen achou isso muito
engraçado e começou a gargalhar. Marcel e Blanca se entreolharam, vendo
que o problema que ajudaram a criar voltara para assombrá-los.
– Vamos entrar e comer alguma coisa – sugeriu Marcel. – Depois
vemos o que fazemos.
E então eles entraram e pediram quartos e um bom jantar.
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Autor(a): vondynatica
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Sua cela não dava margem a uma fuga e isso ele já percebera. Por outro lado, Fernando não era só inteligente. Era muito criativo. Quando pequeno, era muito pobre e aprendera a tirar leite de pedra e a fazer limonada com os pouquíssimos limões que a vida já lhe dava. Leanan Sidhe, a fada na cela em frente, e ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2