Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Sua cela não dava margem a uma fuga e isso ele já percebera. Por
outro lado, Fernando não era só inteligente. Era muito criativo. Quando
pequeno, era muito pobre e aprendera a tirar leite de pedra e a fazer
limonada com os pouquíssimos limões que a vida já lhe dava. Leanan Sidhe,
a fada na cela em frente, era uma grata surpresa.
Ela lhe confidenciara seus
poderes e agora ele sabia de tudo o que ela era capaz. No entanto, com os
braceletes de ferro encantado que seus captores lhe colocaram, ela era
apenas uma mulher normal que mudava de aparência conforme as palavras
que lhe eram ditas e os sentimentos que lhe eram dedicados, mais ou
menos como quase todas as mulheres do mundo.
– E então? – perguntou a fada. – Já tem um plano para nos tirar
daqui?
– Estou trabalhando nisso... – respondeu Fernando.
– O que falta?
Ele pensou em tudo o que tinha nas mãos e não era muito, pois tudo
estava bloqueado. Ele não podia lutar preso, Leanan não podia ajudar com
os braceletes e assim permanecia num impasse, como se tivesse com fome
diante de um restaurante com um cartão de crédito bloqueado.
– Uma oportunidade... – respondeu ele, finalmente.
Algumas horas depois, ouviram barulho de passos, vozes e o tilintar
de chaves num molho. Prestaram atenção e logo surgiu um homem bem
vestido na companhia de outros que eles reconheceram como os
carcereiros que apareceram antes. O homem bem vestido tinha cabelos
grisalhos e barba rente. Tinha joias que perdiam seu brilho na escuridão da
prisão.
Ele ficou diante de Fernando, analisando-o com um sorriso.
– Ora, ora, ora... O que temos aqui? O fujão que me custou cinco bons
escravos. Vejamos como você pode me ser útil...
Então ele se virou para a cela de Leanan.
– E como está nossa fada do inferno? Está gostando de suas
acomodações?
Ele se virou para os carcereiros.
– Achei que ela estava horrorosa!
– E estava! – defendeu-se um dos homens.
O homem rico se virou para Fernando, decifrando a charada.
– Ah, ela deve ter encontrado palavras gentis e bons pensamentos
então...
A fada não respondeu. Apenas encarava o homem com olhos
brilhantes. O homem ficou no meio dos dois, dirigindo-se à Fernando.
– Não se deixe enganar, amigo... Ela parece uma deusa, mas é um
demônio. Ela vai encantá-lo, lhe dar tudo e depois lhe tirar o chão. E
quando nada mais lhe restar, ela vai tirar sua vida.
– Seu filho tirou sua própria vida! – disse Leanan, se lançando para
frente e segurando nas grades. – Foi uma escolha dele, não minha. Nem sua.
O homem bateu na grade com um bastão que um dos carcereiros
trazia, como um cassetete de policial, acertando os dedos dela. A moça
gritou, se afastando.
– Você me tirou meu filho! E eu vou vê-la ser destruída, assim como
vi meu filho ser destruído pelo seu feitiço!
– Seu covarde! – gritou Fernando.
O homem se virou para ele, o rosto contorcido de rancor.
– Você a defende?
– É uma mulher e está indefesa – respondeu Fernando. – Quer
vingança, coloque-nos na arena!
– Cale a boca, Fernando! – gritou a fada.
– Que tipo de vingança é essa? Nos colocar numa cela e ficar nos
alimentando! – continuou Fernando.
– Na Arena, pelo menos teremos alguma chance e, se falharmos,
você terá sua vingança de um jeito que todos poderão ver!
– Cale a boca, seu tolo! – vociferou Leanan. – Não sabe o que está
dizendo! Vai acabar nos matando!
– Ao menos teremos uma chance! – berrou Fernando.
– E você acha que ele nos daria algum tipo de chance de sairmos
vivos de lá?
– Silêncio vocês dois! – gritou o homem.
Todos ficaram quietos e o homem sorriu. Fernando fez uma expressão
de que não tinha pensado nisso e que talvez tivesse sido precipitado. O
homem virou-se para Leanan Sidhe, vendo o quão ela estava nervosa.
– Parece que seu novo amigo deu sua sentença, fada... – disse. –
Colocarei os dois na arena. Os dois são belos, vão fazer a plateia vibrar!
Ganharei nas entradas e nas apostas e ainda terei o prazer de ver os dois
serem destroçados diante da multidão.
Fernando fechou os olhos, desolado, e Leanan caiu de joelhos, em
pranto. Ele riu, satisfeito com a decisão e saiu, levando seus homens
consigo e dando uma ordem.
– Alimente-os bem hoje! Quero-os fortes para durarem alguns
minutos na arena amanhã. Espalhem a notícia que teremos uma atração
especial.
Assim que eles desapareceram na escuridão dos corredores e
nenhum som era ouvido, Fernando ergueu a cabeça e as sobrancelhas.
Leanan
tirou as mãos do rosto sem nenhuma lágrima e olhou para o corredor para
se certificar que estavam sozinhos. Então, os dois sorriram um para o
outro.
– Aí está nossa oportunidade! – disse Fernando.
****
A estalagem era esquisita. Um homem e uma mulher de meia idade os
serviram com um sorriso, mas pareciam um tanto... quietos. Estavam todos
famintos e o encontro inesperado com o jovem casal que definitivamente
não deveria estar ali foi colocado de lado. Marcos olhava em volta enquanto
esperavam a comida. As paredes tinham flores e pássaros num papel de
parede cor de marfim. Os móveis eram antigos e alguns quadros coloriam
as paredes.
– Interessante a decoração desse lugar, não? – comentou ele. –
Parece meio século XIX...
Os outros olharam e perceberam que o lugar estava vazio.
– Aparentemente ninguém vem muito a esta cidade... – comentou
Marcel.
– Deve ser porque ela não está no mapa – respondeu Blanca.
– Tem bolo? – perguntou a fadinha.
– Deve ter querida! – disse Blanca, fazendo um afago na menina que
estava muito abaixo deles por causa da cadeira. – Nunca vi ninguém comer
tanto açúcar quanto você! Além do Marcos, claro!
A comida foi servida. Eles comeram grãos parecidos com arroz, só
que mais saborosos e mais coloridos, carne e uma torta de legumes
deliciosa. De sobremesa, veio um bolo de cacau com um recheio de frutas
vermelhas divino. Um leve gosto de vinho apontava lá longe, o que abriu o
apetite para tomarem o licor que foi oferecido logo depois.
– Foi a melhor coisa que eu já comi! – disse Blanca. – Muito
obrigada!
A senhora de cabelos loiros presos num coque sorriu e balançou a
cabeça, aceitando o elogio. Quando terminaram, subiram para os quartos
pelas amplas escadarias de madeira que rangiam.
– Vocês notaram algo estranho aqui? – perguntou Pé de Vento.
– Só o fato de ninguém ter tentado nos matar, o que é muito
estranho realmente... – respondeu Marcel, feliz com a barriga cheia e mais
feliz ainda com a perspectiva de uma cama quentinha.
Os quartos ficavam muito próximos, o que era tranquilizador. Não
eram muito grandes e seguiam o estilo do restaurante. Marcos foi até sua
janela e ficou observando as pessoas na rua por alguns minutos. Logo
depois, bateu na porta de Marcel, que já se preparava para um banho.
– Pé de Vento tem razão – disse Marcos, assim que entrou. – Tem
alguma coisa estranha aqui.
– Ah, nem vem! Pé de Vento sempre acha que o lugar tem um
problema! É muito exigente esse cara! Não tem nada de errado com esse
lugar, é perfeito! Olhe! Tem até uma sala de banhos!
– Mas...
– Mas nada! Estou indo para meu banho e depois para uma cama
quentinha! Vai perturbar a Blanca com suas neuras!
E foi empurrando o amigo para fora do quarto, fechando a porta
assim que o expulsou.
Marcos ficou parado alguns segundos e então foi para o quarto ao
lado. Assim que Blanca abriu a porta, ele entrou.
– Pé de Vento tem razão. Tem alguma coisa estranha aqui.
Apesar de cansada, Blanca não estava tão desesperada por um
banho e uma cama quanto Marcel e quis saber mais sobre o que Marcos
vira. Ele a levou até a janela.
– Olhe isso!
Blanca observou um casal passeando de braços dados numa
calçada. Um senhor passeava com o cachorro na coleira. Uma mulher obesa
ia na mesma direção. Uma chuvinha fina tinha começado e as pessoas da
rua abriam seus guarda-chuvas.
– Qual o problema? – perguntou Blanca.
– Eu fiquei alguns minutos observando essas pessoas e elas não se
falam! – disse Marcos. – Elas passam rentes umas às outras e não se
cumprimentam, não falam nada.
– Algumas cidades são assim mesmo, Marcos – explicou Blanca,
indo pegar Eileen para lhe dar um banho.
– Não sei... Ainda acho estranho...
Marcos voltou para seu quarto e Blanca e Eileen entraram na sala
de banhos. Havia uma banheira de madeira redonda e velas acesas. As duas
estavam nuas dentro da banheira e Blanca lavava o cabelo fino da menina,
enquanto ela brincava com a espuma.
– Quando acharmos Ban, nós vamos embora? – perguntou Eileen.
– Embora para onde, querida? – Blanca estava um pouco distraída,
talvez pelo cansaço.
A menina se virou para ela com seu rostinho lindo.
– Embora pra casa! Vocês vão levar Eileen, não vão?
– Você não tem família aqui?
A menina abaixou a cabeça e a balançou dizendo que não, fazendo
um beicinho.
– E quanto a Maite e Christian? Eles vão sentir sua falta se você
partir?
– E Eileen vai sentir sua falta se você for... E de Poncho. De Marcos.
Marcel... Dulce... Chris...
Blanca sentiu que a menina estava ficando tristonha. Pegou o
rostinho delicado com a mão e lhe sorriu.
– Vamos combinar uma coisa, está bem? Quando for a hora de irmos,
faremos tudo para você ir conosco!
A menina abriu um sorriso e saltou em cima dela, jogando água e
espuma para todo lado. Blanca retribuiu o abraço, pensando se não estava
prometendo mais do que poderia entregar.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
-
kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
-
kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2