Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Numa floresta escura e assombrada por almas perdidas, havia uma
cabana de cuja chaminé subia uma fumaça escura. Uma mulher velha
remexia num caldeirão como um cliché quando alguém bateu à porta. Ela
reconhecia as batidas e já abriu a porta sorrindo.
– Como vai, Kajinski! Não esperava vê-lo tão cedo!
Kajinski entrou, desconfiado. Se a bruxa não sabia prever que ele
poderia aparecer, como poderia prever outras coisas?
– Sente-se! Estou fazendo uma sopa de cogumelos!
Ela serviu a sopa para o troll que torceu o nariz.
– Não vim aqui para comer, velha.
– Você está tão mal humorado, seu velho diabo... O que houve? Achei
que agora que conseguiu que o último membro da realeza assumisse o
trono, seus problemas tinham acabado...
A mulher de cabelos crespos e esvoaçantes, já meio grisalhos,
sentou-se diante dele e mergulhou um pedaço de pão na sopa quente.
– O problema é que ele anda tendo sonhos com sua vida como
humano. Quero saber se há o risco dele se lembrar de tudo.
– Hum... Entendo... Trouxe meu pagamento?
Kajinsky retirou um saquinho de seu manto e entregou para a
mulher que o pegou e abriu com ansiedade. Pedras coloridas brilharam à
luz da lamparina sobre a mesa.
– São lindas! Mas muito pequenas! Veja se me traga pedras maiores
da próxima vez, seu troll pão duro!
O troll bufou, mas a mulher nem ligou. Começou a olhar para a sopa
diante dela e a dizer palavras que ele mal ouvia. Então, ela começou a dizer
o que via em seu próprio prato.
– Bem... As lembranças dele querem voltar... Se voltarem, ele
mudará. Voltará a ser o que era. É isso.
E então ela voltou a comer.
– Ele não pode se lembrar!!! Kajinski bateu na mesa. – Vai colocar
todo o meu plano a perder!
A bruxa nem piscou, continuando a saborear sua sopa.
– É muito simples, meu caro Kajinski. Basta que você alimente nele
as memórias que o fazem ser um troll. E afaste toda e qualquer lembrança
do que ele já foi. Com certeza, há coisas e pessoas que vão despertar o
melhor nele. E o melhor nele é o que você não quer.
Kajinski olhou longamente para um canto escuro. Havia alguém em
especial andando pelo reino que certamente despertaria o passado de Chris.
E essa pessoa seria um perigo constante enquanto caminhasse livremente
por aí...
*****
O caminho foi desconfortavelmente silencioso até a Cidade dos
Ventos. Aparentemente, cada um estava imerso em seus próprios
pensamentos e sentimentos. Não demorou muito a avistarem a cidade.
Caminharam entre as pessoas – ou o que quer que fossem – numa rua
movimentada como dia de feira num domingo. Era uma cidade bem maior
do que a Vila das Fadas D’Água, com grandes construções em estrutura
greco-romana e centenas de pessoas caminhando por suas largas ruas.
– É o lugar ideal para desaparecermos na multidão – disse Poncho.
E nesse exato momento, uma guarda élfica foi avistada ao fim da rua
onde caminhavam. Arregalaram os olhos ao identificar os uniformes dos
soldados de Manuel. Poncho imediatamente puxou as meninas para uma rua
lateral, onde podiam se esconder nas sombras.
– Estão procurando pela gente? – perguntou Anahí.
– Não, estão comprando meias-calças! – respondeu Dulce. – É claro
que estão procurando a gente!
– Vamos ter que ser cuidadosos. Venham!
Poncho as guiou até uma loja de roupas, perucas e sapatos cuja vitrine
mostrava um chapéu engraçado com um manto, numa combinação meio
estranha. Meia hora depois, saíram os três de lá com outras roupas. Anahí
escolheu também um chapéu com uma aba que ocultava parte de seu rosto,
já que os guardas certamente a reconheceriam imediatamente se a vissem.
Poncho preferiu um manto com capuz, muito utilizado por viajantes em geral.
Já Dulcepreferiu se vestir de homem. Prendeu o cabelo e o escondeu
dentro de uma boina, sentindo-se muito confortável com as calças e o
colete sobre a camisa de algodão.
– E agora? – perguntou Anahí.
– A mulher da loja me disse que tem um homem muito velho na
cidade que sabe de todos os seres abissais do reino. Vamos até ele.
Provavelmente, ele saberá nos indicar onde fica o Castelo de Frabatto ou as
horríveis referências que Dulcetem do lugar.
Atravessaram as ruas com cuidado. Os soldados já não estavam na
rua, mas eram sempre um perigo. Caminharam apreensivos, observando
tudo com atenção, seguindo pelas ruas que a senhora indicou na loja. Pouco
antes de entrarem na rua indicada, mais um grupo de seis elfos armados
com o brasão do reino de Manuel surgiu, caminhando em sua direção,
olhando atentamente no rosto das pessoas. Apressaram-se e entraram na
rua antes de toparem com eles, chegando num beco sem saída.
– Isso não pode ser bom sinal.
– Calma! Tem uma porta ali! – apontou Poncho.
Foram até aquela porta azul já descascada e bateram. Aguardaram.
Nada aconteceu. Bateram novamente.
– Talvez ele não esteja em casa... – chutou Dulce.
– Ele tem que estar! Ou vamos acabar dando de cara com os guardas
de Manuel! – disse Poncho, preparando-se para bater de novo.
Quando Poncho ergueu a mão para bater pela terceira vez, a porta se
abriu. Um rosto surpreso surgiu, olhando para eles.
– O que querem?
– A senhora da loja de roupas nos dis...
– Quem? A Mercedes?
– É, acho que é...
– O que aquela bruxa quer? Eu a odeio! Ela me vendeu uma calça e
os fundilhos rasgaram! Ela disse que foi culpa minha! Não quis devolver
meu dinheiro! Ladra safada!
O trio se entreolhou.
– Será que o senhor podia nos dar umas informações?
O homem os olhou com desconfiança. Olhou para os dois lados do
beco, como se procurasse mais alguém. Nesse momento, um pequeno
tumulto chamou a atenção deles. O grupo de guardas estava revistando
pessoas bem na frente do beco. Se eles resolvessem entrar naquela rua sem
saída, seria um problema.
– Vocês querem o meu dinheiro! Todos querem o meu dinheiro!
– Não, nós só queremos informação, só isso! Nós juramos! – insistiu
Anahí, meio apavorada.
– Nós compramos a sua calça rasgada! – sugeriu Dulce.
Então ele abriu a porta e os deixou entrar.
A casa por dentro era simples e por um momento eles se
perguntaram onde estaria o dinheiro que ele julga que todos querem. Mas
foi só um momento, porque estavam mesmo nervosos com a aproximação
dos guardas.
– Por que estão fugindo dos guardas? – perguntou o velho homem,
assim que entraram.
– Err... Não estamos...
– Vocês mentem muito mal! E você, menina, porque está vestida
como um rapaz?
Dulcerespirou, tentando achar uma explicação, mas não conseguiu.
– Moço! O senhor faz umas perguntas muito difíceis!
********
Horas antes, quatro homens estavam em volta de uma fogueira. Um
deles estava amarrado. O céu estava escuro e o vento, frio, o que tornou
aquela fogueira necessária. Um dos três voltou para perto dos outros
depois de sua tarefa cumprida.
– Espalhou o sal?
– Espalhei. Essas coisas encantadas não nos aborrecerão essa noite.
Olharam para o homem desacordado, os cabelos negros cobrindo
quase todo o rosto.
– Quanto acham que conseguiremos por ele?
– Depende de para quem vendermos... Mas temos que ter cuidado.
Esse aí é tinhoso...
Cadman se lembrava bem da briga com o homem na taberna, dias
antes. E, depois, na casa do minerador. Dava-lhe um prazer único tê-lo
agora subjugado, mas não esqueceu os golpes que levou. Subitamente, o
homem caído acordou. Ergueu-se esperneando, pronto para lutar, correr
ou sabe-se lá o quê. Vendo-se com as mãos amarradas às costas, não
demorou para perceber que estava entre seus captores, que agora o
olhavam com cinismo.
– Teve um pesadelo, Feiticeiro? – perguntou Cadman.
Fernando estava sentado e a visão estava um pouco embaçada, mas sua
última memória era tão aterrorizante que quase o fez gritar.
– A menina! Vocês incendiaram a cabana com a menina ainda lá
dentro!
– Que menina? – perguntou em tom monossilábico o outro. – Aquela
fadinha que estava com você?
Fernando grunhiu e tentou se soltar, aflito.
– A menina fada! Ela estava lá dentro!!!
Ele esperava alguma reação dos homens. Uma coisa é capturá-lo.
Fernando Grandier vivera o bastante para saber que odiá-lo e querer lhe dar
uma surra não era exatamente um pecado, muito menos o pecado de
poucos. Mas Eileen era uma menina! Uma criança de quatro ou cinco anos!
Achou que os homens iam se levantar correndo e procurar por ela.
Não tinha noção de quanto tempo se passara, mas não podiam estar tão
longe. No entanto, os homens riram. Gargalharam, na verdade.
– Você está desesperado por causa de uma fada? – riu um deles. – Há
milhares delas por aí! Todas inúteis! Se ao menos pudéssemos vendê-las...
E então continuaram rindo.
Fernando os encarou por uns instantes, atônito. Então, olhou para a
fogueira, onde imaginou que a menina de quem cuidara nos últimos dias –
que já lhe pareciam anos – estava morta, queimada viva num incêndio
criminoso. As lágrimas lhe subiram aos olhos e ele virou o rosto, evitando
que os homens o vissem.
O dia clareou e ganhou tons cinzentos. Ao longe, nesgas de nuvens
alaranjadas anunciavam o sol que ainda não surgira. Fernando não pregara o
olho, apesar do cansaço. Tentara, no entanto, forçar as cordas que lhe
apertavam os pulsos. Só conseguiu se ferir. Os homens se levantaram e
apagaram a fogueira. O puxaram, obrigando-o a se levantar.
– Vamos, Feiticeiro! Temos uma longa estrada pela frente e muitas
moedas ao final dela!
Fernando fingiu estar grogue e, quando o homem estava na posição
que ele queria, chutou-o com tanta força que Cadman caiu na fogueira
apagada. Jogou-se em cima de um segundo, que também foi ao chão, mas
logo foi novamente dominado. Cadman o encarou surpreso pela audácia.
– Você é muito abusado, Feiticeiro da Lua Negra! Só não o mato
agora porque você vale dinheiro.
– Esse dinheiro não vai pagar sua vida... – rosnou Fernando, com a fúria
a brilhar nos olhos negros. – Porque eu juro, eu vou matar vocês.
Cadman esboçou um sorriso, esperando que os outros rissem. Mas
nenhum deles sentiu muita vontade de rir. Aquelas palavras tinham peso.
Tinham textura. Tinham profundidade. E, o que era muito desagradável...
Tinham verdade...
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
-
kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2