Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Chegaram à Cidade Obscura antes de escurecer. Era uma cidade
grande com muitas pessoas nas ruas. Falava-se alto e havia sempre algum
negócio acontecendo. Pé de Vento fez algumas perguntas e logo voltou com
informações.
– Há três arenas na cidade. Ele pode estar em qualquer uma delas.
– Como vamos saber em qual? – perguntou Blanca, ansiosa por estar
tão perto.
– Vamos ter que sair perguntando... – respondeu Pé de Vento.
Sair perguntando não parecia uma ideia tão boa quando não se sabia
o que exatamente perguntar. Não usariam o nome dele para anunciar uma
luta, pois a primeira coisa que escravos perdem é o nome.
E tudo isso
baseados num palpite de Pé de Vento. Numa hipótese terrível, Fernando
poderia ter sido enviado às minas, ou ter sido vendido a piratas. Mas eles
não queriam pensar nisso. Estavam ali agora e fariam tudo o que pudessem
para encontrá-lo.
Depois de uma hora de perguntas, alguém se interessou pelo que
estavam procurando. Um senhor altivo de cabelos brancos e manto escuro,
elegantemente vestido, se aproximou deles depois de ouvi-los perguntando
para ambulantes.
– Estão procurando algo muito específico, pelo que ouvi... – disse ele.
– Posso saber por quê?
Eles não esperavam esse tipo de pergunta e gaguejaram respostas
incompreensíveis. O senhor os olhou nos olhos.
– Vocês conhecem o escravo que estão procurando, não conhecem?
Blanca não conseguiu evitar olhar para Marcel e Marcos.
– É meu marido – confessou ela. – Achamos que ele foi trazido para
cá, mas não conseguimos achá-lo.
O homem fez sinal para que falasse baixo e diminuiu também o tom
de voz dele.
– Parentes e amigos de escravos não costumam ser bem vistos aqui.
São sinal de problemas. Venham comigo.
Ele se virou e seguiu pelas ruas apinhadas de gente e os quatro o
seguiram. Marcel, como sempre, estava desconfiado, mas aquilo era o mais
perto de uma pista que eles foram capazes de encontrar.
Depois de virar num beco escuro, o homem entrou numa porta à
direita.
– Acho que vamos acordar numa banheira cheia de gelo e sem os
rins... – murmurou Marcos.
Blanca segurou a mão de Eileen. A menina olhava atentamente para
ela e Blanca temeu pela sua segurança. Uma coisa era eles se arriscarem.
Outra bem diferente era arriscar a vida da criança.
Pé de Vento não compartilhou a hesitação e entrou. Os três ainda se
entreolharam, mas não viram muita saída.
A porta dava para uma espécie de bar fechado. O homem foi até uma
mesa e os chamou. Pediu bebidas e todos se sentaram juntos.
– Meu nome é Jonas. Faço parte de um grupo anti escravidão que
procura comprar e libertar escravos. Geralmente, compramos os mais
fracos, os que terão menos chances de sobreviver nas arenas ou nas minas.
– Por que nos chamou aqui? – perguntou Marcel.
– Porque eu acho que vi o homem que procuram.
****
Fernando e Leanan foram levados cabisbaixos para a arena. Antes de
entrarem, o ex-padre olhou para a fada cativa.
– Está pronta?
Ela anuiu com a cabeça, os olhos azuis brilhando.
Ouviram quando os anunciaram. Aumentaram seus feitos de forma
que ele parecia um herói de três metros e pintaram Leanan como se ela
fosse alguma vilã superpoderosa de histórias em quadrinhos.
– Se pudermos fazer metade do que dizem, ficaremos muito bem... –
comentou Leanan.
O portão de grades se abriu e eles entraram. A multidão berrou.
Fernando olhou o lugar, já calculando o próximo passo. Ele estava algemado,
assim como Leanan, e olhou para ela surpreso.
– Não vão nos soltar?!
– Eu lhe disse que eles não nos dariam chance...
Eles caminharam para o meio da arena. No céu acima deles, as
estrelas já brilhavam. O lugar era enorme e estava lotado. Então, ele se
virou para ela.
– É a hora!
Então eles ficaram de frente um para o outro, se aproximaram e se
beijaram longamente.
A multidão fez um súbito silêncio, espantada com aquela reação
inesperada de dois amantes se despedindo, de duas pessoas lindas dando
seu último beijo.
Nas arquibancadas, um homem baixinho lembrou do seu
primeiro amor e imaginou como ela estaria agora, tantos anos depois. Uma
mulher que antes gritava por sangue, naquele momento desejou um dia ser
beijada daquela maneira.
Um jovem pensou que gostaria de um dia
provocar aquela reação nas pessoas. Um jovem que tinha o coração amargo
sentiu um pouco de doçura ao imaginar que ele também poderia encontrar
a pessoa ideal. Uma mulher madura sentiu o coração se encher de tristeza
ao saber que aquele beijo era um adeus.
Foram apenas alguns segundos de perplexidade, mas milhares de
pensamentos e sentimentos foram lançados.
Quando seus lábios se separaram, Leanan sorriu. Ela podia sentir os
corações e almas dando-lhe um fio de sonho e energia necessária para o
plano dar certo.
Suas algemas caíram no chão, assim como os braceletes de ferro
encantado que detinham seus poderes. Imediatamente, asas enormes
surgiram em suas costas, irisadas e brilhantes, com detalhes em violeta,
azul e furta-cor.
Vendo o que estava acontecendo, Klaus deu a ordem para que
soltassem logo o oponente. Fernando e Leanan viram o outro portão se abrir,
mas não viram o que estava lá dentro. Ele estendeu para ela os pulsos
acorrentados.
– Rápido!
Ela os tocou e imediatamente as correntes caíram na areia. E então o
chão tremeu.
Passos pesados vinham da escuridão, vendo a porta aberta. Gemidos
terríveis se seguiram e um estranho som de correntes. Fernando sentiu a
nunca se arrepiar e Leanan pareceu paralisar, pois ela sabia o que era isso.
E então surgiu na arena um gigante de aparência tenebrosa, com
correntes que passavam pelo seu corpo, botas feitas com peles de animais e
cabeças decapitadas amarradas em sua cintura.
E as cabeças gemiam,
presas numa morte sem fim, os olhos revirados, as bocas semiabertas
escorrendo uma baba viscosa. O gigante, repleto de cicatrizes no rosto,
trazia um tacape com pregos e pontas e olhava em volta, analisando o
território.
– On s’est vachement trompé... – disse Fernando, de queixo caído.
– É Jack, o Acorrentado! – disse Leanan.
E como se ouvisse o seu nome, Jack olhou para eles e deu um passo
em sua direção. Leanan alçou voo num salto e desapareceu. Fernando chegou
a ver o rastro de pontos brilhantes que ela deixou e então Jack chamou
novamente sua atenção. Voltando a si, Fernando começou a correr
procurando algo que pudesse fazer, além de ser destroçado por um gigante.
Um grupo que gritava por sangue viu surgir diante deles a fada que
desaparecera. Ela soprou sobre eles um pó brilhante e imediatamente um
homem teve uma ideia para construir um segundo andar para sua casa e
transformá-la num bar.
Outro teve uma ideia para uma poesia que
honrasse Diane, a deusa da caça. Outro ainda pensou em como seria bom se
pudesse pintar os móveis de sua casa, tornando-a mais bonita e
aconchegante e desejou fazer um altar para os deuses nórdicos.
E a cada ideia, Leanan sentia-se mais forte e mais brilhante. Voou
para um grupo mais perto de onde Fernando estava e soprou neles sua magia
de inspiração. Uma mulher desejou esculpir um animal incrível, um tigre
dentes de sabre totalmente branco, mesmo que não esculpisse nada há
anos.
Outro homem teve um sopro de inspiração para uma canção que
falasse da superação, e pensou em voos mais altos. Em um homem de meia
idade inspirou a vontade de ver uma luta justa.
O homem se levantou e
saltou para perto da arena, onde um guarda armado estava. Pegou sua
espada e a jogou para o homenzinho que fugia do gigante. Não fora difícil
tirar a arma do guarda porque ele estava embevecido pela beleza de
Leanan, flutuando diante dele.
Fernando viu a espada voar em sua direção e a pegou no ar com
maestria. Então parou de fugir. Derrapou e parou em posição de combate,
olhando para o gigante que vinha correndo em sua direção, erguendo o
tacape para um golpe fatal.
Fernando esperou que ele se aproximasse e então
rolou para o lado ao ver o tacape descendo e explodindo ao seu lado.
Imediatamente, deu um corte no pulso, agora ao seu alcance, com toda a
sua força. A pele cinzenta se rasgou e sangue jorrou na arena, enquanto um
urro se elevava.
Enquanto isso, Leanan continuava seu processo de inspirar aquelas
almas brutas. Era como jogar sementes em solo pedregoso, mas sempre
havia um ou outro que podia se inspirar. E a cada inspiração que nascia no
coração de alguém, ela recebia de volta em dobro a energia dada, ficando
mais forte.
Olhou para a arena e viu que Fernando, depois de cortar o pulso do
gigante, saltou sobre seu braço e, com mais um salto, cortou seu rosto.
Agora o gigante soltara a clave e levava a mão no rosto ferido, com mais um
urro de dor.
Irritado e com muito ódio, o gigante passou a perseguir Fernando sem
o tacape, tentando acertá-lo como se ele fosse um inseto. Assim que desceu
a mão para tentar esmagá-lo, Fernando se abaixou e ergueu a espada,
esperando o impacto.
Outro urro de dor invadiu a arena, pois Jack enfiara sua própria mão
na espada em riste de Fernando.
Segurou a própria mão com uma carranca de
dor e então ficou com muita raiva.
Fernando correu e Jack foi atrás dele. Quando estava quase o
alcançando, Fernando parou bruscamente e mudou de direção, passando por
baixo de suas pernas, confundindo o gigante. Assim que chegou perto dos
pés, desferiu um golpe terrível no tendão de aquiles. Jack gritou e caiu sob
um joelho, perdendo o equilíbrio.
E então veio o golpe que Fernando não esperava.
Num movimento
rápido com a mão, Jack acertou Fernando e o jogou tão longe que ele bateu na
murada que cercava a arena e caiu no chão, provavelmente desacordado.
Jack riu e se levantou, caminhando confiante na direção de sua presa.
Fernando sentia o perigo se aproximando e tentava se levantar,
atordoado, mas seu corpo não lhe obedecia.
A visão estava turva e sentiu a
respiração ficar difícil. O chão tremeu com a aproximação de Jack que
ergueu a clava para esmagar seu oponente caído.
Leanan surgiu de repente diante dele como uma luz rápida e
cegante. O gigante, incomodado com sua luz, tentou espantá-la com a mão
livre, mas logo uma surpresa o atingiu. A cada vez que Leanan sumia, ela
reaparecia com uma forma diferente.
Como uma deusa nórdica, ela ergueu o martelo e o acertou no
queixo, fazendo-o dar alguns passos para trás. Ele revidou, tentando acertála
com a clave, mas ela desapareceu. Quando surgiu, o fez pelas costas no
chão, e dessa vez era Diana, a deusa da caça, apontando para ele sua flecha.
Uma após a outra, acertou o gigante no peito. Irritado, ele ergueu o enorme
pé para esmagá-la.
A turba se levantou em gritos, ansiosa pelo desfecho daquela luta
épica e inesperada. O gigante esfregou o pé, tendo certeza de que tinha
esmagado a fada. Quando o retirou, porém, não havia nada além de areia.
Ela surgiu novamente, dessa vez como um tigre dentes de sabre.
Avançou nas costas do gigante, arranhando suas costas. Dessa vez, porém,
Jack conseguiu ser rápido. Agarrou o animal e ele voltou a ser novamente a
fada Leanan. Ele a segurou diante dos seus olhos, furioso, e então começou
a esmagá-la lentamente.
Leanan sentiu a morte chegar. Jack, como muitos seres encantados,
era imune à sua magia de inspiração e ela não conseguia se concentrar o
bastante para fazer outra coisa. Fernando gritou e correu na direção do
gigante de espada em punho.
Jack se inclinou e esticou sua mão livre para
esmagar Fernando contra o chão. Apoiado em seu joelho, ele conseguiu.
Fernando não conseguia se mover para sequer arranhá-lo e não conseguia
respirar direito. Não acreditou que aquele seria seu fim.
***
Blanca, Marcos, Marcel e Pé de Vento andavam apressados acompanhados
de Jonas e estranhavam o movimento do lugar.
Acharam que aquele não
era um lugar para Eileen e a deixaram com Sarah, uma das mulheres
resgatadas por Jonas que agora trabalhava com ele ajudando outros exescravos
numa casa usada como refúgio na floresta.
O burburinho era constante e aromas diversos se misturavam. Era
como uma partida de final de campeonato, com muita animação e
vendedores de bebidas e petiscos. Nenhum muito apetitoso. Marcos chegou
a ver um que parecia um espetinho torradinho de ratos. Ele fez uma cara
parecida com a que você está fazendo agora.
Depois da entrada, caminharam um pouco e acharam um lugar bem
na frente. Não sabiam o que estava acontecendo, pois a multidão estava em
silêncio, boquiaberta. Olharam para a arena e seus queixos caíram também.
Fernando estava beijando uma linda mulher de cabelos escuros no
meio da arena.
Antes que pudessem falar qualquer coisa, uma pancada fez o estádio
tremer. Logo depois, viram surgir o gigante de cerca de cinco metros com
cabeças penduradas na cintura. A seguir, viram Fernando se livrar das
correntes como por magia e a mulher desaparecer num voo.
– Ele vai morrer! – gritou Blanca. – O que vamos fazer?!
Marcel apontou um local por onde poderiam passar. Só precisavam
passar pela multidão e saltar a murada. Tinham vindo com suas armas,
claro, escondidas por baixo de mantos, e agora, mais do que nunca
precisariam delas.
No tempo que levaram para passar pela multidão viram Fernando
fazer o que sabia fazer muito bem: surpreender numa boa briga. Viram a
mulher aparecer e desaparecer na arquibancada e não tinham a menor
ideia do que ela estava fazendo.
Quando estavam quase chegando à murada, foram detidos por um
homem enorme e careca que não gostou de vê-los tentar passar a frente
dele.
– Este lugar é meu! Voltem lá pra trás!
– Calma, nós só queremos...
O homem apertou o pescoço de Marcos com uma só mão. Blanca,
Marcos e Pé de Vento lhe deram vários socos e pontapés, e foi como se eles
fossem mosquitos que não conseguiam nem ser inconvenientes. Então Pé
de Vento desistiu e jogou os braços para o ar.
Ele virou um tufão que jogou o homem para cima. Quando caiu,
esmagou outros espectadores. Ainda como tufão, ele abriu caminho para
que eles pudessem chegar até a murada.
****
Fernando ainda tentava resistir, mas Jack o estava esmagando contra a terra,
enquanto esmagava a fada com a outra mão. E de repente, o gigante urrou
de dor, pois alguém lhe cortara os tendões da outra perna. Ao mesmo
tempo, Fernando viu que o gigante retirara rapidamente a mão sangrando.
Então ele viu Blanca com a espada suja de sangue logo a frente dele. Mais a
frente, viu Marcos e Marcel atacando as pernas e pés do gigante, enquanto
um inexplicável tufão do tamanho de um humano levava poeira e areia
para os olhos de Jack, deixando-o cego e desorientado.
Ele soltou a fada, já meio desacordada, e Pé de Vento a pegou no ar
antes que caísse no chão. Ele a apoiou nos braços.
– Você está bem?
Ela abriu os olhos azuis e sorriu. E ele se apaixonou imediatamente,
como qualquer homem o faria, pois ela estava pronta para usar sua magia
de novo.
Marcos, Marcel, Blanca e Fernando cercaram o gigante, atacando-o
sem parar. Leanan surgiu mais uma vez, dessa vez como uma águia gigante
que atacou o gigante com bicadas poderosas em seu olho e em sua cabeça.
Usando a corda que Marcos fizera tanta questão de levar, enlaçaram suas
pernas e o derrubaram. O som que ele fez ao cair no chão foi tão grande que
todo o estádio pareceu saltar. E então houve silêncio. O gigante caiu e não
se levantou.
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Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
-
kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
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kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2