Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Diante deles estava uma das mais bizarras criaturas que qualquer
um já viu. Da altura de um humano normal, ele tinha apenas um pé, um
olho, um ouvido e uma mão que saía de um braço bem do meio de seu
corpo.
E ele gritava. Um grito horrível que parecia um urro num túnel
muito longo. Anahí e Dulce se agarraram gritando. A criatura gritou de
novo. Poncho correu para as moças e tentou acalmá-las.
– Calma! Calma! É só o Tachan! Não vai nos fazer mal!
Elas pararam de gritar, mas o ar ainda parecia pouco e seus
corações pulavam. A criatura parou de gritar. E então começou a chorar.
Um choro horrível! Barulhento, desagradável, e fluido saía de seu nariz,
misturando-se com as lágrimas de seu único olho.
– Viu? Vocês o assustaram! – reclamou Poncho.
– NÓS o assustamos?!!! – gritou Dulce.
A criatura chorou ainda mais alto e Poncho fez um sinal nervoso com a
mão para Dulce para que não falasse mais nada. Ele se aproximou devagar,
retirando uma fruta da mochila. Era uma maçã vermelhinha que eles
compraram na cidade, junto com outras coisas.
– Calma, Tachan! Ninguém vai machucá-lo! Tome, uma maçã bonita
pra você. Agora pare de chorar, está bem?
O Tachan pegou com sua única mão a maçã e a analisou
rapidamente, parando de chorar, mas ainda fungando. Então começou a
comê-la.
– O que é isso??? – sussurrou Anahí, ainda horrorizada. – Parece
que fugiu do desenho dos Monstros S.A.!
– É o Tachan! – respondeu Poncho. – É um elemental, não faz mal a
ninguém, mas muitos jogam pedras nele porque ele é muito esquisito, até
para os padrões do mundo das fadas... Mas ele pode ajudar numa coisa!
Poncho virou-se para ele com um sorriso enquanto o Tachan devorava
o resto da maçã.
– Tachan, você por acaso sabe nos dizer se viu guardas elfos por
aqui na floresta?
A criatura olhou para cima com seu único olho, como se estivesse
pensando. Então balançou a cabeça.
– Nããão...
Poncho agradeceu e já ia se virar quando a criatura continuou.
– Mas eu vi homens maus com escravo... Por ali!...
O jovem elfo se virou para ele sem esconder o medo nos olhos.
Agradeceu mais uma vez e o Tachan saiu pulando em seu único pé,
desaparecendo floresta adentro.
– Isso é mau...
– O que foi?
– Ele viu traficantes de escravos por aqui...
– Escravos?! Que coisa horrível! – exclamou Anahí que nunca tinha
ouvido falar disso em seu período ali.
– É gente ruim – ponderou Poncho, olhando as imediações. – Muito
ruim. Não podemos esbarrar com essa gente, ainda mais com Manuel
pagando qualquer coisa pelas nossas cabeças. Vamos na direção oposta.
– Mas não vamos perder tempo? – questionou Dulce.
– Vamos – respondeu Poncho. – Mas é melhor do que perdermos
nossas cabeças!
****
Fernando tentava marcar o caminho e imaginava que se encontrariam
logo em uma cidade. Numa cidade, as distrações são maiores e seriam
maiores suas chances de fugir. E ele não estava errado. Quando a noite caiu,
avistou ao longe luzes de um povoado. Estava cansado, mas mantinha-se
alerta. Sua chance ia chegar, era só esperar.
– Nosso amigo de preto está bem calado... – provocou Cadman.
– Deve ser a fome...
Os homens riram. Fernando lutou contra a ira que crescia dentro dele.
Depois de quase 20 anos, sabia que explodir quando a fúria o consumia
nem sempre – na verdade, quase nunca... – era solução para os seus
problemas.
Porém, eles pararam muito antes de entrar na cidade. As luzes de
lamparinas ainda estavam longe quando pararam numa casa feita de
pedras perfeitamente intercaladas. Um homem veio recebê-los com uma
lamparina.
– Mercadoria nova? – perguntou o sujeito, cujo rosto parecia sujo,
como todo o resto.
Cadman arrancou Fernando do cavalo e ele quase caiu. Puxou-o pelo
braço e ele ficou frente a frente com o homem.
– Achei que iam chegar aqui com uma mulher e uma criança... Além
de umas pepitas de ouro.
– Não tinha nada lá! E a mulher debandou com a criança antes de
finalizarmos a transação. Mas trouxemos algo melhor! Um Feiticeiro da Lua
Negra, bravo como um gato selvagem!
O homem de cara suja ergueu a lamparina para olhar melhor o rosto
do homem de mãos amarradas.
– E tem um belo rosto também... Vai fazer sucesso nas arenas... Terá
melhor preço do que nas minas!
Então o puxaram para dentro da casa. Lá dentro, nada demais.
Apenas uma mesa com algumas cadeiras na sala com cheiro de cerveja,
vinho, carne e outras coisas que Fernando não identificou, e um aposento fora de vista.
Os homens continuaram falando de preços e Fernando deu uma olhada
ao redor. Notou que a cozinha estava vazia e apagada. De onde vinham os
aromas que sentia?
Um dos homens ficou na janela, vigiando. O outro segurou Fernando, e
os dois restantes afastaram a mesa. Debaixo de um tapete puído, um
alçapão foi revelado. E abaixo dele, uma escada. Empurraram-no para baixo
e ele não teve escolha.
A lamparina iluminava os degraus tortos de madeira e um cheiro de
umidade subiu, misturando-se aos outros aromas, que pareciam ainda mais
fortes ali embaixo.
Chegaram ao que Fernando achou ser um porão, desses de filme de
terror, mas assim que um dos homens ergueu a lamparina, percebeu que
havia um caminho estreito, um túnel. Um ligeiro empurrão o fez entender
que era para ir por ali. Seguiram por mais alguns minutos até que
encontraram outro alçapão. Desceram novamente.
O cheiro ficou muito forte, tão forte que Fernando chegou a sentir
fome. E um burburinho de vozes se tornou uma constante crescente.
Chegaram num aposento pequeno com apenas uma porta. Assim
que ela se abriu, o inferno se mostrou.
Uma feira subterrânea de todo tipo de criaturas fervilhava. Carne
era assada e vendida assim como bebidas, joias e mercadorias que Fernando
nem imaginava o que fossem. Cachimbos de cristal colorido eram fumados,
deixando seus usuários caídos na sarjeta com um olhar perdido e
embaçado. Mulheres, crianças e homens eram vendidos como animais.
Gritos por lances se misturavam ao choro dos mais fracos.
Seu coração bateu mais rápido. A ideia de arrumar uma distração
para fugir não parecia tão boa. Não era nem ao menos viável...
O guiaram por um tumulto de pessoas suadas, criaturas estranhas e
ele se sentiu um pouco enjoado. Viu um corpo no chão. Não era alguém
simplesmente caído. Era alguém que definitivamente estava morto. Há
alguns dias... E as pessoas continuavam passando por ali, sem se importar.
Nem sentiu direito quando parou. Estava numa fileira com gente de
cabeça baixa. Viu um elfo de traços tão finos que parecia uma pintura, uma
criança agarrada com uma mulher e homens e rapazes. A fila prosseguia,
com mais humanos chegando para serem vendidos.
Os homens que os
cercavam, mantendo-os sob controle, eram brutos e grosseiros. Alguém
gritou e uma briga começou do outro lado. Dois homens começaram a
brigar selvagemente, trocando socos e pontapés. Um deles caiu contra uma
barraca, provocando a ira de outros. No final, uns cinco homens se
amontoaram contra o primeiro, espancando-o sem parar.
– Parem! Vão matá-lo!!!
Uma bofetada explodiu no rosto de Fernando. Era Cadman, mandandoo
calar a boca. O leilão não tinha sido interrompido e todos pareciam
concentrados em seus negócios. Fernando viu o homem espancado parar de
se mover depois de um espasmo. Os outros saquearam seus bens e o
arrastaram para um canto, jogando-o no lixo.
Sentindo-se num pesadelo, Fernando olhou aquilo tudo. Vivera num
lugar e numa época onde muitas coisas aconteciam. Mas nunca tinha visto
nada como aquilo... O elfo de cabeça baixa foi levado e colocado no pequeno
palco onde a mercadoria era apreciada. Os lances foram altos por ele.
Fernando imaginou o que poderiam fazer com ele, por que um elfo seria tão
valioso. Fosse o que fosse, não era bom. A criança ao seu lado chorou e a
mulher a pegou no colo.
– É sua? – perguntou Fernando para a mulher de cabelos longos e
ruivos.
– Não... A mãe morreu antes de chegar aqui...
Fernando olhou a face do menino que não devia ter mais do que dois
anos e se lembrou de Eileen. Seu coração doeu. Ele tentou sorrir para o
menino, que se fixou em seus olhos negros.
– Vai ficar tudo bem...
A criança resfolegou mais um pouco e parou. Talvez estivesse muito
cansada, ou talvez tivesse acreditado nele.
No palco, um movimento súbito levou a um desfecho trágico para o
elfo. O jovem conseguiu pegar uma adaga que o homem que o leiloava
tinha. E então a enfiou em si mesmo. Caiu em sangue, enquanto alguns
homens praguejavam pela perda de seu investimento.
A criança voltou a chorar. E Fernando engoliu em seco, sentindo um nó
na garganta e lágrimas subirem. Não as deixou cair. Não estava acabado.
Não estava. Não pra ele. Não para aquela criança. Não para Dulce e
Blanca... Então, ergueu a cabeça com sua postura altiva.
A mulher e a criança não chegaram a subir ao palco dos horrores.
Um homem alto de cabelos grisalhos vestindo um manto de veludo azul
negociou por elas. Fernando viu o saco de moedas passando para as mãos de
captores e então a mulher e a criança o acompanharam.
– Esse estranho Kilian... – comentou um dos homens que o
capturaram. – Sempre vem aqui e oferece um bom dinheiro pelos piores
lotes.
Ao perceber que Fernando prestava atenção, o homem se dirigiu a ele.
– Os mais fracos, como mulheres e crianças. Não aguentam trabalho
pesado, só dão despesas. Mas Kilian sempre os leva.
– O que faz com eles? – ousou perguntar Fernando, sem ter certeza se
queria ouvir a resposta.
– Quem sabe?
– É um mago! – interveio outro que Fernando não conhecia. –
Provavelmente faz experiências macabras com eles. É assim que esses
magos descobrem novas fórmulas.
Fernando observou a mulher e o menino desaparecerem na multidão,
seguidos de perto pelo homem de manto azul. Cadman se aproximou dele
com um sorriso de deboche.
– Pena que ele não quis você, feiticeiro! Ia ser ótimo ver seus órgãos
dentro de vidros depois que as experiências acabassem!
Um “lote” foi gritado e Cadman pegou Fernando pelo braço e o lançou
na plataforma de madeira. O sangue ainda estava sob seus pés. Os homens
gritavam lances. Ele olhou para aqueles rostos, imaginando como chegaram
àquele ponto.
Escravizar alguém é tão baixo, tão vil, que rebaixa qualquer
alma a um estado inferior a um animal. Como aquilo acontecera com
aqueles homens? Ele baixou a cabeça novamente, olhando o sangue sob
seus pés, enquanto os lances subiam.
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Autor(a): vondynatica
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Com a aproximação da noite, não viram alternativa a não ser parar. Com poucas palavras, escolheram um lugar perto de uma grande árvore e começaram a recolher gravetos para fazer uma fogueira. Anahí acompanhou Dulce, ajudando-a a pegar alguns galhos do chão. – No que está pensando ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
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kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
-
kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2