Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Com a aproximação da noite, não viram alternativa a não ser parar.
Com poucas palavras, escolheram um lugar perto de uma grande árvore e
começaram a recolher gravetos para fazer uma fogueira. Anahí
acompanhou Dulce, ajudando-a a pegar alguns galhos do chão.
– No que está pensando? – perguntou Anahí.
– Estou pensando na última vez que minha vida fez algum sentido...
Anahí riu.
– Considerando que você é você, acho que nunca!
– Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu começo a odiar esse
lugar! – desabafou Dulce.
– Achei que gostasse daqui!
– Eu também!
Dulce se abaixou para pegar um feixe de gravetos que estava logo à
frente. Ela o pegou e começaram a voltar para o acampamento.
– Mas este mundo está tomando tudo o que eu tenho! Tomou Chris,
tomou meu pai, tomou Eileen! E sempre que eu acho que estou me
acostumando, surge alguma coisa bisonha, como aquela coisa lá atrás, de
um braço, uma perna e um olho!
– É... Aquilo foi esquisito... – concordou Anahí.
– Começo a achar que Chris tem razão. Esse lugar é lindo, mas quando
escurece, ele é sombrio demais!
Dulce sentiu os gravetos pesarem mais do que deveriam, então
parou um pouco para ajeitá-los. Percebeu que Anahí carregava os dela
sem dificuldade e não quis pedir ajuda, porque não queria ficar para trás.
– Há muitas coisas legais aqui... Mesmo Manuel era um cara legal até
bem pouco tempo!
– Era nada! – quase gritou Dulce. – Nunca valeu nada aquele lá!
Você é que é uma tonta em ainda ver alguma coisa de boa nele!
– Por que está zangada comigo?
– Porque você é a única que não percebeu que Poncho está caidinho
por você! Ele faz tudo por você e em troca você fica citando o cretino do
Manuel o tempo todo!
Anahí parou de andar.
– Poncho está caidinho por mim?...
– Está, sua idiota!
Dulce tentou ajeitar os gravetos que pareciam pesar uma tonelada.
– Quer ajuda? – perguntou Anahí.
– Não, estou bem! Vamos voltar logo antes que alguma coisa
esdrúxula aconteça!
– Dulce, nem tudo aqui é estranho ou bizarro! Tem muita coisa
bonita!
Sem aguentar mais, Dulce acabou deixando os gravetos todos
caírem no chão. E então, o feixe de gravetos se levantou com uma
gargalhada aguda e começou a dançar diante delas. As duas moças gritaram
e deram um salto para trás, enquanto os galhos dançavam e gargalhavam.
Até que saíram saltando pela floresta.
Dulce olhou para Anahí com olhos arregalados.
– O que você dizia mesmo?...
*****
Trolls se sentiam mais à vontade sob o véu da noite. Chris ainda
estava se adaptando a sua nova forma, embora a sentisse muito familiar e
não se lembrasse de ter sido outra coisa a não ser um troll. Eles fizeram
uma farta refeição com carne e batatas com Kajinski, enquanto este lhe
passava algumas informações.
– Já temos cerca de 500 trolls e mais algumas centenas vão se unir a
nós. Se sua majestade desejar, já podemos fazer alguma coisa hoje à noite.
– Que coisa? – perguntou Chris, que estava distraído.
– Um ataque, majestade! Não foi para isso que mandou reunir os
trolls?
– Foi, mas não podemos vencer Manuel, que terá milhares de elfos,
humanos, anões, centauros e sei lá mais o que com apenas 500 trolls!
– Mas podemos mandar um recado! Podemos atacar uma cidade,
matar alguns humanos!
– Sem matar!!! – gritou Chris, batendo na mesa.
Kajinski semicerrou os olhos e recostou-se na cadeira.
– Como desejar, majestade.
Chris bocejou. Sentiu os olhos pesarem e um cansaço inesperado se
abateu sobre ele.
– Estou cansado...
– Claro. Descanse majestade. Estarei a postos, caso precise.
Chris se levantou quase trôpego.
– Não precisarei...
– Deixarei os trolls a postos, caso mude de ideia sobre hoje à noite.
Chris alcançou a cama forrada com uma colcha feita com peles de
animais. Antes de fechar os olhos, ainda balbuciou uma resposta.
– Não mudarei...
******
Na floresta, a fogueira os aquecia. Poncho ainda ria do susto que as
duas levaram.
– Qual o nome da criatura? – perguntou de novo Dulce.
– Hedley Kow – respondeu Poncho. – Ele sempre faz isso. Ele não é
perigoso, só travesso. Ele gosta de assustar as pessoas com uma gargalhada
e grito estridente.
– Ele faria muito sucesso nesses programas de pegadinhas... –
murmurou Dulce.
Eles comiam pão e queijo que haviam comprado na cidade. Anahí
despertou sua curiosidade sobre o elfo que agora ela via com outros olhos.
– É verdade o que você disse para Bariato?
Poncho ergueu os olhos negros, sem entender muito bem.
– Que sua vida foi sem graça?
– Bem, se comparada a de vocês, com certeza!
Anahí esperava que ele continuasse, mas ele voltou a mastigar seu
pão.
– Como foi sua infância? – perguntou Anahí, que decidiu não largar
o osso.
Poncho parou um pouco e olhou para a fogueira. Pareceu pensar
longamente, como se Anahí tivesse lhe perguntado o sentido da vida.
Então respondeu:
– Uma droga...
E voltou a mastigar seu pão e seu queijo.
Pouco depois, estavam se ajeitando para dormir. Poncho disse que
ficaria de guarda no primeiro turno, mas Anahí não achou necessário.
Estavam no meio da floresta, ela não acreditava que os guardas de Manuel
fossem tão longe atrás deles, até porque não tinham a menor ideia de onde
eles poderiam estar depois que entraram no círculo das fadas. Porém, Poncho
lembrou que há outros perigos no mundo das fadas, além dos soldados de
Manuel.
Por isso, ele ficou de guarda na primeira parte da vigia, deixando a
segunda parte para ser dividida entre as duas, dando-lhes assim mais
tempo para dormirem.
Dulce estava cansada e mal humorada. Algo dentro dela não ia bem.
Por isso mesmo, dormir lhe pareceu incrivelmente atraente, um verdadeiro
alívio. Ajeitou-se e olhou as estrelas no céu negro. Eram tantas estrelas que
parecia que alguma criança arteira tinha jogado um balde de purpurina de
todas as cores para o céu.
Dulce percebeu que não estava cansada de
andar, mas de pensar. Pensar no que tinha que fazer e em como Chris e sua
família estavam, a deixaram mentalmente exausta. Então decidiu relaxar.
Fechou os olhos e deixou que o mundo girasse sem ela por algumas horas.
****
Sentiu a água fria no rosto. Voltou a si com um susto, tentando
entender o que estava acontecendo. Sentiu os pulsos presos numa parede
fria. Reconheceu com horror o calabouço onde fora torturado. Manuel
estava bem a sua frente.
O corpo doía e o coração disparava. Aquilo já
durava horas. Ouviu elfos rirem e sentiu o sangue escorrer pelas costas.
– Diga!
– Dizer o quê?
– Diga! – gritou o elfo.
– Eu não sei o que você quer! – insistiu Chris.
Manuel pegou um ferro em brasa e o aproximou dele.
– DIGA!!!
– Eu não sei!!!! – respondeu com um grito inconformado.
Então o ferro em brasa encontrou seu peito. O cheiro de carne
queimada subiu e a dor foi inimaginável. Acordou gritando na enorme
cama em seu quarto real. Debatendo-se, rolou e caiu no chão, onde rastejou
até a parede mais próxima.
Levou a mão ao peito e sentiu a cicatriz da
queimadura, estranhamente quente. Passou a mão no rosto suado e frio.
Kajinski estava dando ordens para dois trolls num salão quando a
porta do quarto do rei abriu-se num supetão. Chris saiu de lá com olhos
faiscantes e furiosos.
– Kajinski! – gritou o rei. – Prepare um grupo! Vamos atacar hoje!
Kajinski sorriu.
– Sim, majestade...
*****
Dulce dormia pesadamente. Tão pesadamente que não sentia mais
nada. Não tinha consciência de que tinha um corpo, e que esse corpo estava
deitado na relva numa floresta no meio da noite. Até que ouviu uma voz
conhecida.
– Acorde menina!
Dulce sentiu os olhos e o corpo pesarem muito. Ela já teve aquele
tipo de sono, o tipo que parecia minar todas as defesas do corpo, o tipo que
ela não acordaria nem se a cama estivesse pegando fogo. Mas a voz insistiu.
– Dulce! Acorde!
Então ela abriu os olhos devagar e viu ao seu lado dela um velho
amigo ajoelhado. Focou os olhos e o reconheceu.
– Frabatto???
– Ande logo! Levante-se!
Dulce fez um enorme esforço para se levantar e precisou que
Frabatto a ajudasse. No entanto, quando se pôs de pé, sentiu-se bem
novamente.
– Você nos achou??! Que bom! Precisamos da sua ajuda!
– Agora não! – interrompeu Frabatto. – Você precisa fazer uma coisa
antes!
Ele a guiou para longe da fogueira e Dulce viu Poncho sentado bem
perto deles. No entanto, o jovem chegou a olhar na direção deles, mas não
demonstrou reação.
– Grande vigia esse daí! – reclamou Dulce.
Quando já estavam longe, Frabatto explicou.
– Eu sei que estão com problemas, mas terão que chegar até meu
castelo. O que precisam está lá.
– Estamos tentando!
– Eu sei que estão. Mas agora temos um problema premente! Venha
comigo!Ele pegou na mão de Dulce. – Pense em Chris.
Dulce obedeceu, embora não entendesse por que. Então ela viu o
lugar em volta deles mudando. Era como se a floresta de repente ficasse
translúcida e outro lugar surgisse. Era um lugar quente, com grandes
labaredas e fogo.
E então, eles estavam no meio de um ataque de trolls, com humanos
correndo e um grande pomar em chamas.
Frabatto a puxou para trás de uma carroça.
– Preste atenção! Chris não pode matar ninguém! Se ele matar alguém,
se ele derramar sangue, ele estará para sempre preso na forma em que está
e perderá de vez a memória de quem ele já foi.
Dulce arregalou os olhos diante da possibilidade tenebrosa.
– E por que ele mataria alguém?
– Porque ele está ferido... E pessoas feridas agem de maneira
estúpida. Você precisa impedi-lo!
– Eu????! Como????
– Você consegue! Vai!
E então Frabatto a empurrou e Dulce se viu no meio de uma
batalha desigual. Os humanos corriam atarantados, sendo pegos por trolls e
jogados no ar. Dulce ouviu cavalos e viu um grupo de soldados elfos
chegando. Virou-se para pedir ajuda à Frabatto, mas ele não estava mais lá.
Foi então que viu o capitão Arland, homem de confiança de Manuel,
liderando um grupo com cerca de 15 elfos.
Seis deles prepararam
rapidamente seus arcos e atiraram flechas nos trolls. E então, um troll voou
e atacou Arland, tirando-o do cavalo e erguendo-o a mais de três metros.
Dulce reconheceu aquele troll.
Não era difícil. Ele se destacava dos outros com clareza. Chris jogou Arland com violência a alguns metros de
distância. O elfo passou por uma porta de madeira de um celeiro e ela ainda
o ouviu derrubando algumas coisas na queda.
Chris caminhou até ele, as asas negras abertas. Lá dentro, Arland se
levantou rapidamente, a tempo de escapar de um ancinho que voou em sua
direção. A espada tinha caído na queda e ele não teve tempo de procurá-la.
Quando Chris partiu para cima dele, Arland esquivou-se do primeiro soco,
mas não se esquivou do segundo. Caiu num monte de feno e dois cavalos e
uma vaca se agitaram.
Chris saltou em cima do elfo, impedindo que ele se
levantasse e então apertou seu pescoço. Arland tentou lutar, mas o ar lhe
faltava e as mãos que o sufocavam pareciam irredutíveis. Os olhos de Chris
brilhavam de ódio enquanto via a vida do elfo se esvair em suas mãos.
– Chris, pare!!!!
Chris olhou para frente e viu aquela garota. Como ela chegara ali?
– Pare!! Por favor!! Você não pode fazer isso! Você tem que parar!
Chris olhou para Arland, já roxo, e então, sem saber exatamente por
que, soltou-o. Arland levou as mãos ao pescoço, tentando recuperar o
fôlego, tossindo e engasgando-se.
O troll se levantou e se aproximou da garota que o intrigava. Parecia
conhecê-la, mas não se lembrava de como, ou quando, ou onde.
– Quem é você? – perguntou ele. – E por que está aqui?
Ouvir isso partiu o coração de Dulce. Ele não se lembrava dela...
– Você não lembra?... – perguntou ela, sentida.
Os animais se agitaram de novo e somente então eles viram que o
celeiro estava em chamas.
– Você tem que ajudá-lo! – disse Dulce, em tom de urgência.
– Por quê? – perguntou o troll, olhando o elfo no chão, ainda
desorientado demais para se levantar e correr.
– Porque é assim que você vai se salvar! – respondeu Dulce. – Você
me perguntou porque estou aqui! Estou aqui por você!
As chamas lambiam rapidamente o lugar e Chris não conseguia tirar
os olhos dela. Algo naquela moça o comovia, o tocava, o mudava, o tornava
diferente. Tornava tudo diferente. Dulce correu para os animais e os guiou
para fora. Estes prontamente seguiram seu comando.
Pouco depois, do celeiro em chamas, saíram dois cavalos, uma vaca,
algumas galinhas e um troll carregando um elfo ferido. Ele deixou Arland
no chão e outros elfos vieram correndo em seu socorro, apontando espadas
e flechas para o troll.
Este se afastou alguns passos e então alçou voo. Do
alto, ele olhou em volta e não viu mais a moça. Gritou para os trolls que
retornassem. E, assim como vieram, eles se foram, deixando um rastro de
fogo e destruição ao seu redor. Muitos feridos, mas nenhum morto.
Dulce saíra do celeiro e deu de cara com Frabatto.
– Onde você estava??! – gritou ela.
– Aqui, ué! – respondeu ele, com seu ar bonachão.
– Chris! Preciso ir atrás dele!
– Não agora. Você foi bem, mas é hora de voltar!
– Mas...
Frabatto pegou sua mão e olhou em seus olhos.
– Sem mas. É hora de voltar para seu corpo!
– O quê?
E então, Dulce se sentiu flutuando acima de todo aquele caos e fogo.
– Como...?
Ela não terminou a frase. Soltou a mão de Frabatto numa distração e
caiu. Passou pelas copas das árvores, debatendo-se e gritando até
finalmente cair em seu próprio corpo.
Anahí estava ao seu lado, aflita.
– Dulce, você está bem?
Ela sentou-se e olhou em volta, levantando-se em seguida.
– Pra onde ele foi?
– Ele quem? – perguntou Poncho.
– Frabatto! Ele estava aqui!
– Eu estava de vigia, Dulce. Ninguém veio aqui.
– Ele veio! E me levou! E passamos quase na sua frente, seu elfo
míope, e você não nos viu!
Então Dulce parou, percebendo que estava agindo como uma louca.
Passou a mão nos cabelos e respirou.
– Eu vi Chris.
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Autor(a): vondynatica
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Dulce andava para lá e para cá enquanto o fogo crepitava e soltava pequenas faíscas que se elevavam ao céu. – Eu não estou maluca! – dizia Dulce. – Não, imagine! – concordou Anahí. – Você está agindo como uma pessoa super normal agora! &nda ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
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kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
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kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
-
kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
-
kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2