Fanfic: A Canção dos Quatro Ventos - Finalizada | Tema: Vondy - Adaptada
Dulce andava para lá e para cá enquanto o fogo crepitava e soltava
pequenas faíscas que se elevavam ao céu.
– Eu não estou maluca! – dizia Dulce.
– Não, imagine! – concordou Anahí. – Você está agindo como uma
pessoa super normal agora!
– Foi só um sonho, Dulce – explicou Poncho.
– Não foi um sonho! – Dulce parou de andar para encará-los. –
Frabatto esteve aqui e me levou até um lugar onde Chris e os trolls estavam
atacando! Foi muito real!
– Ninguém veio aqui e você não saiu – explicou Poncho. – Eu teria
visto!
Foi aí que Dulce olhou para o fogo, deixando que sua mente se
iluminasse com a razão.
– Tem razão... – concordou ela. – Nós passamos quase na sua frente e
você nem tchum!
Poncho não sabia o que tchum queria dizer, mas preferiu deixá-la
terminar seu raciocínio, ou o que quer que fosse aquilo.
– Eu não saí! Meu espírito saiu!
Anahí arregalou os olhos.
– Como um fantasma? – perguntou ela.
– Sim, eu já li algo a respeito! Eu saí em viagem astral! E Frabatto
veio aqui assim também! Por isso Poncho não nos viu!
– Nossa! E você já fez isso antes? – perguntou Anahí, curiosa.
– Sei lá! Acho que aqui as coisas são mais intensas! Porque eu
lembro de tudo como se fosse real! Do calor, dos gritos, do cheiro de
queimado...
Eles se sentaram perto da fogueira e Poncho quis saber mais.
– Como era o lugar? – perguntou ele.
Dulce contou o que viu. Poncho reconheceu o lugar como uma das
plantações de frutas de Manuel. Um ataque a uma plantação dessas
comprometeria a alimentação do reino.
– O que ele está tentando fazer? – perguntou Anahí.
– Se vingar, acho... – respondeu Dulce. – Ele ia matar Arland, o
capitão da guarda... Ia mesmo! Eu vi nos olhos dele e era ódio puro!
– E por que ele não matou? – perguntou Poncho.
– Porque eu pedi! Eu gritei pra ele e ele me viu! E me ouviu quando
pedi que ajudasse o elfo a sair do celeiro que pegava fogo.
– Estando em espírito, você seria vista? – pensou alto Anahí.
– Talvez... – respondeu Poncho. – Considerando quem estava com ela,
tudo é possível... Frabatto é um mago bem peculiar, pelo que dizem.
Dulce abraçou os joelhos e apoiou o queixo neles.
– Chris não é mais Chris...
Ficaram em silêncio ouvindo os estalos da fogueira por alguns
momentos, até que Anahí levantou a cabeça e saiu de seu aparente torpor.
– Não, não é! Mas ele se lembra de alguma coisa!
Os outros a olharam curiosos. Anahí se levantou, animada.
– Dulce, ele ainda pode ser o Chris que conhecemos! Talvez ele só
precise que nós o lembremos, como você fez agora! Pense bem: ele poderia
ter matado Arland! Na verdade, ele ia matá-lo! Mas parou por você! E
depois, ainda o tirou do celeiro em chamas e retirou os trolls,
interrompendo um ataque que estava indo muito bem até agora. Isso quer
dizer que há algo nele que só precisa de uma ajuda para vir à tona... Como
uma brasa que precisa ser soprada!
Os olhos de Dulce brilharam com a constatação de que a amiga
estava certa. Ela se virou para Poncho, que sempre parecia friamente sensato.
– Ela tem razão... – concordou o elfo de cabelos cor da noite. – Agora,
conte-nos tudo o que Frabatto lhe disse! Talvez possa nos ajudar!
Dulce então contou tudo o que aconteceu, tentando se lembrar dos
mínimos detalhes. Eles memorizaram o que consideraram importante,
antes de finalmente dormirem por algumas horas.
*****
Quando os trolls retornaram ao seu covil, o estardalhaço lembrava
homens bêbados sacudindo lonas enquanto falavam muito alto. Kajinski foi
até Boldan, um troll grande e que tinha um chifre de ponta quebrada e que
Kajinski considerava razoavelmente inteligente.
– O que aconteceu? – perguntou Kajinski. – Por que voltaram tão
cedo?
– O rei interrompeu o ataque! Ordenou a retirada.
– Por quê?!
– Não sabemos! Ele ia matar o capitão da guarda. Então o jogou
dentro de um celeiro e depois o tirou de lá e ordenou a retirada.
Boldan não sabia dizer mais nada e Kajinski foi até os aposentos de
sua majestade. Não podia deixar que sua antiga personalidade aflorasse de
jeito nenhum. Precisava mantê-lo numa vibração que lhe permitisse
continuar sendo um troll.
Kajinski entrou no quarto e se deparou com seu rei andando
nervosamente pelo aposento. Dava para ver pelos seus olhos que ele não
estava de fato ali.
– O que aconteceu, majestade? – perguntou Kajinski.
– Com o que? – retrucou Chris, sem parecer muito interessado.
– Com o ataque à plantação do reino de Manuel! Boldan me disse que
vossa majestade ordenou a retirada quando estavam em clara vantagem!
– Ah, isso! – Chris fez um movimento com a mão no ar. – Não importa,
esqueça!
– O quê?!
– Nós precisamos achá-la!
– Achar quem, majestade?
– A moça! Ela apareceu pra mim e eu senti... algo! Era como se eu
fosse outra pessoa e vivesse em outro lugar! Ela deve saber! Precisamos
achá-la!
Kajinski viu o brilho nos olhos de Chris. O que ele temia estava
acontecendo. Lhe dera três doses da poção das sombras para aumentar a
escuridão na alma dele. E bastou apenas um olhar, um segundo na presença
da menina que a escuridão já começava a recuar.
– Claro, majestade! Como quiser!
– Mande os melhores trolls! Os mais inteligentes, porque não quero
que a machuquem, entendeu? Não, deixe! Melhor eu mesmo dar essa
ordem! É importante demais!
– Majestade! – interpelou-o Kajinski, que queria estar a sós quando
desse a ordem que pretendia aos trolls. – Pode deixar que eu faço isso!
Chris o olhou e então, como se percebesse alguma coisa em seus
miúdos olhos avermelhados, respondeu.
– Não. Eu faço isso.
Ele saiu e Kajinski o seguiu, tentando disfarçar seu contragosto.
Chegaram aos aposentos dos trolls que eram considerados mais fortes e
inteligentes, os que comandavam os outros. Eram mais de quarenta e Chris
queria mandar todos, mas Kajinski lembrou que eles também estavam sob
ataque, pois agora a guerra era uma realidade, já que atacaram uma das
plantações do reino. Chris pensou um pouco.
– Está bem. Talvez seja melhor, não quero assustar a moça... Irão
apenas três.
– Majestade, escolha Boldan. É um troll eficiente, vai conseguir o que
vossa majestade pediu.
Chris concordou, escolhendo então Boldan, Task e Jurubin.
– Quero que prestem atenção! Procurem por uma moça de cabelos
escuros! Ela tem uma aura brilhante, um tom de voz engraçado, um brilho
no olhar!
Os trolls se entreolharam confusos.
– Talvez seja melhor dar uma descrição menos poética, majestade...
– ajudou Kajinski.
– Ah, claro!
Chris se virou, pensando um pouco. Então descreveu Dulce como
pode. Lembrou de uma única coisa que talvez fizesse diferença.
– Ela usa uma garrafinha de cristal no pescoço, como um colar!
Bom, não eram muitas moças que usavam tal adorno peculiar, então
isso podia ajudar.
– E lembrem-se! Não a machuquem! Eu a quero aqui inteira,
entenderam?
Chris os dispensou e saiu. Kajinski ficou para trás e chamou Boldan,
enquanto os outros se dirigiam para a área de alimentação, onde comeriam
antes de saírem nessa estranha missão.
– Boldan, preciso que faça uma coisa para mim...
****
Escurecera. Os cavalos trotavam calmamente e a conversa
subitamente morreu. Blanca, Marcos e Marcel olhavam em volta. As folhas
da floresta negra eram escuras e brilhantes e os cascos das árvores
pareciam feitos de petróleo. Eileen seguia no cavalo de Blanca e
permanecia quieta.
– Estou preocupado... – disse Marcel.
– Você?! – debochou Marcos. – Preocupado? Nossa, que surpresa...
– Está muito quieto aqui...
O cavalo de Marcel se agitou e ele parou.
– Há perigo adiante... – murmurou Marcel.
Todos sentiam o calafrio que precede um perigo. Parte da intuição
ou de um instinto mais antigo que o homem, o da sobrevivência, os fizeram
sentir que havia algo errado.
– O que fazemos?
Eles estremeceram. A temperatura havia caído abruptamente,
embora não houvesse vento. O silêncio era total e nem mesmo as folhas
eram ouvidas em seus murmúrios. Marcel desceu rapidamente do cavalo.
– Rápido! – ordenou ele. – Desçam e amarrem os cavalos!
Marcel falava e agia com a propriedade de quem sabia o que estava
fazendo, embora Marcos e Blanca não tivessem ideia de como isso seria
possível. Obedeceram e amarraram os cavalos em uma árvore muito
próxima, enquanto Marcel traçava um círculo com um pó Ponchoco em volta
deles e dos cavalos.
– O que é isso? – perguntou Blanca.
– Não faço ideia! – respondeu Marcel, terminando o círculo. – Mas
Oisin me deu e disse que nos protegeria de seres encantados mal
intencionados!
Na pressa, ele não traçou um círculo enorme, mas apenas o
suficiente para que todos coubessem dentro dele.
Blanca pegou Eileen no colo, pois a menina estava assustada. A
floresta em volta deles continuava escura e silenciosa como uma mortalha e
o círculo de pó Ponchoco não parecia proteção contra coisa nenhuma.
Ouviram galopes. Eram secos e o chão tremia. Juntaram-se dentro
do círculo, Marcos e Marcel puxando suas espadas, Blanca apertando a
fadinha no colo. Os cavalos se agitaram e relincharam, tentando se livrar e
se não estivessem amarrados, teriam corrido para muito longe dali em
poucos segundos.
E então, do meio do breu da floresta, surgiu uma visão apavorante.
Um cavalo negro galopava em sua direção. A ausência da cabeça fez os três
gritarem. No lugar desta, labaredas de fogo avermelhado iluminavam o
forte corpo do cavalo que vinha em desabalada correria na direção deles.
O primeiro impulso foi saírem correndo, mas Marcel gritou para que
não saíssem do círculo. Quando a criatura alcançou a linha do pó Ponchoco
estancou com violência, empinando agressivamente. A coisa deu alguns
passos para trás e então cavou a terra com um dos cascos dianteiros.
Começou a correr em volta do círculo, apavorando os cavalos, que
começavam a se soltar.
– Segurem os cavalos! – gritou Blanca. – Eles não podem sair do
círculo!
Apesar da paralisia que o terror lhes impingia, eles se moveram.
Tentaram acalmar os cavalos, enquanto a criatura continuava correndo
desvairada em volta deles. Os animais estavam apavorados e um deles
empinou e derrubou Marcos, que caiu de costas no chão. Então, Blanca fez
algo insano. Virou-se para a criatura do inferno e gritou com todas as suas
forças.
– Vá embora!!! Nós não temos medo! Eu sou mais forte que você e eu
te ordeno que vá embora! Volte para o buraco de onde você saiu AGORA!!!!
E então, havia apenas silêncio.
Os cavalos se acalmaram. A floresta retornou ao silêncio. A criatura
tinha desaparecido.
Blanca, sentindo as pernas bambas, caiu de joelhos. Eileen voltou a
se pendurar em seu pescoço e ela a abraçou.
– Isso foi corajoso... – disse Marcel.
– Não... – respondeu Blanca. – Isso foi desespero...
Marcos se levantou e se aproximou dos outros com os olhos
arregalados e a pele Ponchoca de susto.
– Gente!... – disse ele. – Isso foi uma mula sem cabeça???
Compartilhe este capítulo:
Autor(a): vondynatica
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo
Terem sido atacados pela mula sem cabeça deu um nó em suas cabecinhas. Mas serviu para mostrar que naquele lugar tudo era possível. Diante dos perigos da noite, preferiram ficar dentro daquele círculo mágico e dormir um pouco. Tinham mantas e comeram um pouco antes de se aninharem uns nos outros e dormirem. &nbs ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
kaillany Postado em 28/01/2017 - 16:41:38
Amei,PARABÉNS!!!S2
-
kaillany Postado em 21/01/2017 - 17:31:35
Continua!!!Ta acabando??s2
-
kaillany Postado em 19/01/2017 - 16:58:47
Continuaa!!!s2
-
kaillany Postado em 10/01/2017 - 14:32:28
Posta++!!s2
-
kaillany Postado em 07/01/2017 - 18:03:28
Amando,continua!!!!s2