Fanfics Brasil - Capítulo Um The Wedding

Fanfic: The Wedding | Tema: Drama, Casamento, Romance, Suspense


Capítulo: Capítulo Um

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“Posso chorar, arruinando a minha maquiagem



Lavando todas as coisas que você tomou”


O falatório no quarto me incomodava, assim como o longo vestido branco em meu corpo. Mulheres passavam para cá e para lá no cômodo. Com bebidas, revistas, panos, sempre falando, conversando, atrapalhando. Todas essas pessoas me irritavam. Queria cada uma delas fora de minha casa. Que parassem de invadir a minha vida.


 Mas a esta altura, eu deveria ter me acostumado com os intrusos. Eles sempre estiveram aqui, me vigiando, marcando cada passo que eu dava. Fazendo relatórios, tirando fotos, comentando, me dizendo o que fazer. Pouco a pouco, levando tudo de mim.


 Nunca quis que este dia chegasse. Nunca quis nada do que está para acontecer. Nunca pude tomar uma só decisão na minha vida. Nunca pude escolher. Nunca... eu odeio tanto esta palavra, mas ela é exatamente o que se resume a minha existência. Nunca tive uma vida, esta é a verdade.


— Você está linda, Liv — Madison cochichou para mim.


— Obrigada, Maddie — tirei os olhos do espelho e me virei para minha irmã mais nova. Ela sorriu para mim. Eu sorri para ela, embora tudo o que eu quisesse fosse chorar.


 Encarei-me novamente no espelho. Odeio minha aparência, pareço linda e perfeita, não gosto disto. A garota de cabelos castanhos, assim como seus olhos, parecia triste e bela, poderia ser algum quadro de um pintor renascentista. O branco e longo vestido de noiva marca meu corpo, não de uma forma vulgar, é claro. É um bonito vestido, preciso admitir. Entretanto não fui eu quem escolhi. Como tudo em minha vida.


— Olhem minha menina! — minha mãe surge atrás de mim e ajusta os botões da parte de trás de meu vestido. — Está perfeita, Olivia — pude ver seu sorriso pelo espelho.


 Não consigo sorrir agora. Nem forçando. Ela é culpada por tudo isto.


— Ele irá se apaixonar assim colocar os olhos em você — ela apertou mais o espartilho e isto me fez suspirar procurando ar. — Bem senhoras, — minha mãe virou para as mulheres — Olivia precisa de um momento para se encontrar com o senhor Blunt. Será que as madames poderiam me dar um tempo a sós com ela? — ela sorria como se este fosse o melhor dia de todos. Para mim, é o início dos piores dias de todos.


 As seis mulheres sorriram educadamente e me desejam sorte enquanto esvaziavam o cômodo. Maddie olhou para mim com pena, ela é um dos poucos que me entendem. E se retirou também. Ela é o único motivo para mim nunca ter fugido de tudo isto.


 Eu desci do pequeno “palco” baixo e redondo do meio da sala. Minha mãe se sentou em um dos sofás com apenas dois lugares e indicou que eu me sentasse ao seu lado. E assim eu fiz. Obedeci, como sempre.


— Olly — meus apelidos se dividiam em muitas variações: Liv, Olly, Olive, Livs. Algumas vezes eu me perdia quando me chamavam, mas eu preciso ser perfeita o tempo inteiro então sempre me desculpava, mesmo que fosse por nada. — Sei que deve estar ansiosa.


 Oh, não. Nem um pouco. Não estou ansiosa para conhecer meu futuro marido, não estou ansiosa para sair do meu país e morar com um estranho, não estou ansiosa para destruir minha vida. No entanto, isto é exatamente o que eu irei fazer.


 Por que as coisas precisam ser assim?


— Claro, mãe — eu digo, ela segurou minhas mãos e me deu um sorriso falso, sabendo que eu mentia.


— Não acho que precise lhe dizer isto, mas pelo amor de Deus, Olivia, seja gentil e educada. Isto é tudo.


 Minha primeira reação seria revirar os olhos e dar um tapa em suas mãos com nojo. Porém, eu controlo minhas vontades e as cubro com muita educação ensaiada de anos.


 Eu preciso ser perfeita.


— Sei de tudo isto, mãe. Me ofende que pense tão pouco de mim — me faço de coitadinha e abaixo os olhos para o chão.


 Comecei com meu teatro. Ela mesma me ensinou a ser assim.


 Ser inocente, tímida e submissa. Este será meu papel pelo resto de minha vida. Enquanto tiver que manter a fachada de esposa e mãe perfeita, como fui ensinada a ser. Bela e contida.


 Porém, algo dentro de mim sempre era mais forte. Eu sou temperamental. Muitas vezes não conseguia controlar meus sentimentos, minhas vontades e esta minha “rebeldia” me rendeu palmadas e castigos. Como se ser obrigada a me casar com um completo estranho, viver uma vida de mentiras não fosse castigo suficiente.


— Fico feliz de finalmente compreender a finalidade do casamento, querida — ela apertou minhas mãos, indicando que eu a olhasse. O que eu fiz. — Christopher chegara em pouco tempo. Então, — Diana, minha mãe, soltou minhas mãos e se levantou — tome um banho e coloque aquele vestido que te falei. Ajeite bem esse cabelo e por favor, passe maquiagem — sou voz era de uma dominadora e esperava que ela estalasse um chicote para me incentivar, porém ela fez o contrário e acariciou meu cabelo e me deu um olhar quase encorajador. — Esteja pronta em uma hora. Sem mais.


 Assim, ela saiu do cômodo. Eu olhei para baixo, para o chão.


 Não conseguia mais segurar. Não depois de um dia como este.


 Me permiti chorar. Não como uma dama deveria chorar, suave e abafado. E sim um choro duro, sofrido, que fazia minha garganta doer, meu rosto ficar muito molhado e nariz escorrendo.  Minha mãe odiaria me ver assim, diria que estou sendo fraca.


 Eu odeio chorar. Odeio sentir qualquer coisa. Porque tudo o que eu sento é desespero e uma imensa vontade de fugir para bem longe desta coisa que chamo de vida.


 Com o vestido mesmo, me encolhi no sofá, mas ele se negava a me deixar dobrar os joelhos. Eu queria rasga-lo, cuspir nele e depois atear fogo e dançar em volta, sorrindo. No entanto, não posso.


 Sendo assim, delicadamente, o retirei, o envolvi em um plástico para que ficasse protegido e o pendurei dentro do closet. Em uma semana, eu o usaria novamente.


 Coloquei meus tão amados jeans e camiseta e fui para meu quarto. Limpei minhas lagrimas no caminho e espero que ninguém perceba que estive chorando.


 Então, esta é minha seguinte situação: minha família está quebrada. Sem nenhum fundo para sustentar sua fachada de riqueza que quer mostrar para todos os vizinhos e conhecidos. Os Haze estão falidos. Mas ninguém pode saber.


 Minha mãe me negociou. Sim, ela fez isto. Seus amigos, – entende-se compradores – a família Blunt, pediram uma esposa fiel e bonita para seu filho. Para que quando eu completasse dezoito anos eu me cassasse com ele, mantendo a imagem que todos querem ver: um homem trabalhador, uma esposa fiel, uma família feliz e perfeita. Sendo invejada por seus vizinhos, familiares. Seriamos aquele retrato perfeito que todos querem ter e ver. A família do comercial, da revista, dos cobiçadores. E eles também ganhariam algum benefício com os negócios de minha família.


 Eu sabia que seria prometida para alguém, sempre soube. Algo sempre me dizia que minha vida seria uma merda. Meus pais têm muitas dividas, e um casamento visando negócios é sempre bem-vindo. Então, com medo da concorrência, os Blunt davam uma mesada mensal ao longo deste tempo para não perder o produto, no caso, eu. Há pelo menos dois anos que o tal acordo foi firmado.


 E quando eu e Christopher nos unirmos, eles dariam uma gorda e grande fortuna enquanto o casamento durasse e claro, enquanto eu agradasse seu querido filho e andasse na linha.


 Mas isto me custa minha dignidade. Uma vida que nunca pude ter. Opções e escolhas sobre o que quero fazer.


 Para se assegurar que eu seria virgem, educada, e impecável, fui para um internato apenas para meninas e depois educada em casa e não poderia em hipótese alguma ter contato com o sexo oposto, a menos que fosse meu futuro marido.


 Assim, eu nunca beijei ninguém, nunca me deitei com ninguém, o único contato que tive com meninos sempre eram meus parentes.


 Pura e casta. Isto é o que tenho ser.


 Será que mais ninguém vê o quanto isto é doentio?


 Pegar a vida de alguém e tomar conta. Rende-la e domina-la, obriga-la a realizar seus desejos como assim lhe convém. Minha mãe me ensinou etiqueta e a perfeição. Sou fluente em cinco línguas, toco piano, violino, cozinho, sou saudável – apta para ter filhos -, magra, alta, cabelos brilhantes, pele excessivamente perfeita. Tudo em mim precisa ser delicado, como se eu fosse feita de porcelana. Como se pudesse quebrar com um toque grosseiro.


 Mas em verdade, não tenho quase nada delicado, interiormente. Eu não consigo ser assim. Um chamado interior me faz mais brusca do que deveria ser, mais irônica e sarcástica do que uma dama poderia ser. Não consigo controlar minha língua e respostas afiadas. Sinceramente, minha personalidade precisa ser “exorcizada”, como diria minha mãe.


 Minha mãe e meu pai, Nicholas, fizeram um casamento em busca de bens também. Sei que eles não se amam, que mal podem se olhar, não dormem no mesmo quarto, não se tocam, a menos que estejamos em reuniões de família. Fazendo um teatro, como meu pai sempre murmura para mim.


 Meu irmão mais velho, Zachary, se casou e se mudou tem dois anos, por sorte ele se casou por amor. Mas minha mãe quis negocia-lo também anos antes do casório, com uma viúva rica, entretanto ela morreu antes de pôr as garras em meu irmão.  Fico feliz por ele. Ao menos um dos Haze fugiu da maldição de ser um Haze.


 Bem que Christopher poderia desaparecer ou então assumir que é gay e fugir com um negro musculoso. Isto daria o que falar. E me livraria do infortúnio.


 Porém, enquanto isto não acontecer. Me casarei com ele em uma semana, irei para a América, e viverei ao seu lado. Com um sorriso no rosto! Como minha mãe sempre me ordena e segue com um cutucão nas costelas.


 Em minha cama, está o vestido. Deus, o que é isso? É um vestido longo, branco, com detalhes brilhantes e delicado. Parece com meu vestido de casamento, para que eu pareça mais virgem e pura. Porque é isso o que o branco representa. Eu tomo um banho ligeiro e o visto, como tenho que fazer.


 No espelho encaro a garota que é refletida. Meus cabelos são longos, abaixo dos seios, grandes demais. Assim tem um ar de inocente, Diana falava antes de cortar só as pontinhas das pontinhas. Nunca foram tingidos, sendo assim tem seu tom natural castanho médio. Meus olhos queriam ser mais claros, mas decidiram ser castanhos. Assim como minha pele não sabia se queria se branca ou parda, então assim sou uma morena clara, senão morena pálida, assim como eu e Maddie sempre falamos, por nunca sair de casa e ver o sol. Embora, aqui em Nottingham quase nunca tenha muito sol.


 Minha vida tem sido assim nos últimos quatro anos. Estudar e estudar. Nunca sair de casa, apenas para festas de família.


 Meu aniversário de dezoito anos foi mês passado e minha mãe não perdeu tempo, já saiu ligando para todo mundo avisando que meu casamento iria acontecer. Ela já tinha marcado o casamento um ano antes, tudo está pronto. Só falta o noivo.


 Por conta dos Blunt, é claro. Em vista que minha família não tem mais nada. Mas eles não reclamaram. Aquela tradição de “por conta do pai da noiva” foi quebrada.


 Um fato curioso, nunca, nunca vi meu futuro marido. Ele nunca veio aqui e pediu minha mão em casamento, nunca nem nos falamos. Nem sei como ele é. É tudo mantido em segredo. Por que? Não sei. Talvez ele seja extremamente feio, feio de doer. E não queiram me mostrar ele. Sim, deve ser por isso. E também por isso ele precisa de um empurrão dos pais para arrumar uma esposa.  Por que, porra, será que o babaca mimado não consegue arrumar uma mulher sozinho? Esta seria a única explicação plausível.


 Me maquio, como se não tivesse passado nada, dou um brilho nos lábios e uma cor nas bochechas. Meus cabelos caem irritantemente perfeitos ao meu lado.  Dou mais uma olhada e procuro defeitos. Preciso parecer maravilhosa para meu futuro marido. Argh, a palavra me causa enjoos.


 Alguém bate na porta e eu grito um “pode entrar” para depois me arrepender, se for minha mãe, ganharei um tapa na boca. Uma dama nunca levanta a voz, diria ela com a voz firme.


 Mas por sorte, é apenas Madison que enfia a cabeça na abertura da porta.


— Ele chegou — sua voz é baixa e carregada de dor.


 O que? Já se passou uma hora? Não, por favor, não. Não me sinto pronta.


— Tudo bem — digo e aperto o vestido em nervosismo.


 Eu tento ser durona o tempo inteiro, mas eu ainda sou uma garotinha.


— Liv, — Maddie entra no quarto — eu sinto muito — ela vem até mim e me abraça. — Não queria que você fosse embora.


— Nem eu — sua cabeça bate na altura de meu peito e eu abraço e beijo seus cabelos. — Mas é preciso. É por você, sabe disso. Se eu não for com ele, você será a próxima e nunca iria me perdoar se te obrigarem a passar por isso. Você não merece.


— Nem você — seus olhos enchem d’agua. Ela teve a sorte de ter os olhos claros, assim como nosso irmão. Eles se parecem mais com meu pai e eu, com minha mãe. — Queria que as coisas fossem diferentes — ela me abraça mais forte e eu retribuo e me seguro para não chorar também.


 Eu também, Maddie, eu também. Mais do que qualquer coisa no mundo.


 Ela sai na frente. Descendo as escadas com delicadeza. Ela foi ensinada a ser perfeita também. Estou parada no topo da escada, respirando fundo e me preparando para encontrar aquele que será o pai dos meus filhos, aquele que me terá na coleira pelo resto de tempo que eu viver. O que com certeza serão muitos anos, porque todo castigo para Olivia Clarkson Haze é pouco.


 Piso em cada um dos degraus com o pensamento de não caia, não caia. Mas meus passos são firmes e seguros, como se eu me sentisse assim de verdade. Como se não me machucasse profundamente ter me casar com ele. Um homem que não conheço. Virar uma bonequinha em suas mãos, para que ele possa realizar seus desejos comigo, como uma prostituta, pois ele estará pagando um bom dinheiro por mim. 


 Há um homem alto de costas, com ombros largos e aparentemente forte embaixo de todo o terno caro que ele usa, trocando palavras com minha mãe que parece pequena perto dele. Embora todos da minha família fossem altos, ele conseguia ser mais, não absurdamente alto, apenas alto.


 É ele, é ele. Puta merda, é ele.


 Minha mãe olhou para mim quando eu estava no meio da escada e indicou com a mão e com um sorriso minha pessoa. Fazendo o homem virar para me ver.


 E quando ele fez isso, fiquei quase encantada. Meu Deus. Eu não sei se é porque nunca tive contato com homens antes e não tinha permissão para ver, mesmo aqueles da televisão, então não tenho um tipo de cara. Mas, nossa, ele é realmente bonito e isto agrada meus olhos.


 Seus olhos azuis são intensos, do azul mais forte possível, escuros. Seus cabelos estão bem penteados e são castanhos escuros, seu maxilar é forte e bem desenhado, não tem barba e tem lábios bem esculpidos também. Ele poderia ser um modelo sem problemas, pousando com um relógio caro e bonito em um outdoor, com um olhar sério, visando o nada. Seu nariz é reto e se adequa ao seu rosto. Seus olhos vagueiam meu corpo de baixo a cima, até parar em meus olhos. E acho que ele pode notar meu nervosismo.


 Então seus lábios se curvam para cima, sorrindo lentamente. Queria saber o que ele está pensando, mas apesar do sorriso, não consigo ler suas expressões porque não há nada em seus olhos.


— Christopher, esta é Olivia — minha mãe pega em minha mão quando meus pés tocam o andar térreo de casa, puxando-me para mais perto dele. — Olivia, este é Christopher. Fico emocionada em finalmente vocês estarem se conhecendo — ela parece um cachorrinho feliz.


— Me sinto da mesma forma, senhora Haze — ele continua me encarando, mas eu não consigo olhar mais seus olhos e desvio para minha mãe.


— Se me dão licença, irei deixá-los sozinhos — minha mãe me larga e sai apressada, quase saltando de felicidade.


 Não, mãe. Volte aqui, não me deixe sozinha com ele. Eu grito em minha mente, mas ela não pode me ouvir e se pudesse, não voltaria de qualquer maneira.


 Eu demoro mais dois segundos até finalmente ter coragem para encara-lo. Ele continua me olhando, com aquele sorriso que me deixa tímida. Aperto os lábios, complemente sem graça em sua presença. Até seu perfume é bom.


— Por favor — ele diz indicando um lugar no sofá, onde ele se senta e eu o acompanho. — Como se sente?


 Intimidada! Eu penso antes de responder, porque por mim eu diria tudo o que está entalado em minha garganta desde meus dezesseis anos.


— Estou muito bem, obrigada, senhor Blunt — minha voz sai meiga. Ele sorri mais com isso.


— Me chame de Christopher, por favor. Senhor me faz com que me sinta velho — seus olhos me deixam constrangida. Respiro fundo e tento encontrar minha voz.


— Como desejar, senh... Uh, Christopher — entrelaço meus dedos para que ele não note minhas mãos inquietas no colo.


 Ele parece um pouco mais velho do que minha mãe havia dito, do pouco que falou sobre o rapaz. Ele deve estar na casa dos vinte e cinco anos. E minha mãe havia dito vinte. Eu fico com raiva. Mais mentiras, mais farsas. Não sei quanto tempo mais poderei suportar viver assim.


 Apenas o resto da minha vida, fingindo ser feliz ao lado dele. Reflito e isso dói.


— E você, como se sente? — perguntei.


— Bem, bem. Estou feliz em finalmente te conhecer — novamente aquele sorriso apareceu e seus olhos descem em meu corpo e sobem para meus olhos. — Dois anos, não? — sua voz é bonita, gosto dela. Mas eu o odeio de qualquer forma. Por tudo que serei obrigada a fazer por ele. Por causa de seus caprichos.


— De fato, um longo tempo — não sei mais o que poderia dizer. — Mas a espera acabou — eu tento dar uma leveza no ar.


 É como se até mesmo o ar ficasse mais pesado e difícil de respirar quando ele está por perto. Ainda mais quando usa aquele sorriso.


 Ele dá uma pequena risada e permanece com um sorriso, e graças a Deus, não é o sorriso matador.


— Sim, acabou — sei que ele quer dizer algo mais, porém prefere se calar.


 Fico feliz por isso.


— O jantar está pronto — minha mãe vem da cozinha, ainda com um sorriso enorme e uma alegria de capaz de ser sentida do outro lado do mundo.


 Eu me levanto e ele me segue. Sinto sua presença marcante em mim, me incomoda e faz minha pele coçar. Não gosto disto.


 Depois de eu cumprimentar mais pessoas, Christopher continua me seguindo até a sala de jantar. A casa estava cheia e barulhenta. Não gosto disto também.


 Sento-me ao lado de Madison que me dá um cutucão no braço e inclina a cabeça na direção de Christopher, que agora conversa com meu pai, e seu olhar quer dizer “ele é bonito”. Eu aceno. Ela entende o meu “eu sei”.


 Alguns minutos depois, meu irmão chegou com sua esposa, eu sorri quando o vi. Sentia muitas saudades. Ele pediu milhões de desculpas pelo atraso. E Jennifer acenou para nós e deu um olhar demorado em Christopher e depois olhou para mim com as sobrancelhas erguidas. Sim, sim, o babaca é bonito, porém isto não me ajuda em nada. Zach se sentou próximo, mas antes parou para beijar meu cabelo e me dizer “oi”.


 Quando todos estavam na mesa, meu pai se levantou. Como um bom patriarca tem de fazer. Embora, minha mãe é quem manda nesta casa.


 Ela é a abelha rainha.


— Caros, — ele disse para todas aquelas pessoas em volta, nossos parentes — estamos aqui para celebrar o noivado de Olivia, minha filha do meio, — aponta para mim com um sorriso — com Christopher Blunt, amigo de longo prazo dos Haze — então se vira para meu futuro marido, que está sentado à minha frente.


 Algumas das moças da mesa ficam sorrindo demais para ele e todas parecem em suma meio idiotas. Podem ficar com ele, se quiserem. Me livraria de um peso enorme.


— Quero agradecer a presença de todos nesta data especial. Então, por favor, podem se deliciar nas comidas que minha bela esposa, Diana, preparou com tanto carinho — ele voltou a sentar e minha mãe, atriz como é, sorriu para ele, como se estivesse apaixonada.


 Minha mãe, na cozinha? Não, nunca. Ela apenas sabe dar ordens, então as empregadas, que conseguimos manter com muito custo, fizeram tudo embaixo dos berros de instruções de minha mãe.


 Não sei o porquê de toda esta cena. Ele nem me pediu em casamento, nem somos noivos ainda. Não somos nada ainda. Apenas prometidos, e isto é tudo. Me pergunto quando ele irá fazer o pedido. Será quando já estivermos no altar? Com o padre e o público e tudo?


 Encaro o prato de comida. Nunca pegue muita comida, faça pequenas porções e coma devagar. Me lembro das regras. Mesmo se quisesse, nunca poderia fugir delas. Elas fazem parte de mim. Eu começo a comer, mas é difícil fazer a comida descer quando tudo o que quero fazer é vomitar.


 Esta cena, esta farsa me deixa aborrecida. Tudo isto me deixa enjoada. Como meus pais, aqueles que deveriam querer o melhor para mim, podem me casar com um homem que não amo e que não me ama? Tudo por interesse financeiro. Será que não sou mais importante que o dinheiro? A ganância é um pecado. E não é à toa.


 Entre meus pais, Nicholas é o único que parece ter um pouco de arrependimento nos olhos. Ele varia o olhar entre mim e Christopher esporadicamente, para mim é sempre carregado de dor e ele balança a cabeça triste por ser obrigado a me vender.


 Ao contrário de minha mãe, que está se gabando, rindo e bebendo do melhor vinho. Ela realmente conta com o dinheiro que virá do casamento. Foi assim que nossa herança foi embora, com gastos desnecessários, viagens e compras sem sentido. Com a ambição de minha mãe. Com seus hábitos de riqueza desenfreados. Sua fortuna e de meu pai secou em sete anos de casamento.


 Eu a amo e a odeio. Algumas vezes eu a odeio demais. Hoje é um daqueles dias que eu a odeio demais. Me sinto mal por dizer que a odeio, afinal ela é minha mãe e me deu a vida. Porém, tirou o meu direito de viver.


— Olivia é perfeita para o senhor Blunt — ela já está bêbada e está falando mais alto que o normal. — Não concorda, Christopher? — ela quer se certificar que todos saibam que Christopher me deseja.


 Ele sorri e coloca aqueles olhos intimidadores em cima de mim e pisca. — De fato, senhora Haze. Olivia é perfeita.


 É como se ele pudesse escanear meus ossos, eu me mexo desconfortável na cadeira embaixo daquela pressão. É como se ele pudesse me ver por completo. Pior, como se pudesse me despir na frente de todos. Jogo o cabelo para trás me sentindo sufocada. Todos os olhos da mesa se movem para mim. Com sorrisos falsos e segundas intenções, querendo algo com meu casamento também.


 Todos sempre querem uma casquinha do que é dos outros.


 A risada da minha mãe é alta e zombadora. Ela adora ser a melhor.


— Não poderia encontrar uma esposa melhor que esta — ela continua. — Treinada. Bonita. Educada. Inteligente.


 Tudo bem mãe, você já vendeu seu peixe agora pode parar de tripudiar em cima das solteironas. Eu reviro meus olhos para ela.


 Christopher, em resposta, apenas sorri e volta a comer. Meu pai coloca a mão no braço de minha mãe, tentando conter seu entusiasmo, em vão. Ela nunca sabe a hora de parar. Não quando se trata de ser a melhor.


 Precisamos sempre estar no topo. Você não pode mostrar franqueza diante dos outros, Olivia. Sempre tem que ser melhor que eles. Diana sempre diz.


— E você, Gina, se divorciou mesmo? — ela provoca.


 Gina é minha tia por parte de pai. A rixa entre ela e minha mãe vem de muitos anos antes. As duas adoram trocar farpas sempre que podem. Uma vez a coisa ficou séria quando as duas saíram no tapa por conta de uma peça de jantar de prata de tia Gina que sumiu. Minha tia acusou minha mãe e a coisa não ficou boa.


 A família de meu pai, os Haze, são raivosos. Os de minha mãe, os Clarkson, são estressados. E a junção dos dois em meu nome, fazem uma mistura não tão agradável porque ambos genes dos dois lados são agressivos. Costumo pensar que é por isso que sou do jeito que sou. Simples.


— Vai começar — Zach murmurou e balançou a cabeça.


 Gina abaixou o garfo com uma educação falsa e sorrio. — Sim. Melhor que manter um casamento forjado e mentiroso — ela olhou para minha mãe e meu pai e deu um sorriso malévolo.


 As duas nojentas de suas filhas sorriram também. Cristal e Celeste, as gêmeas malignas. Minhas primas odiáveis. Eu e Madison precisávamos nos defender sempre que pudéssemos. Meus punhos conhecem bem o rosto das duas, todas as vezes que elas nos provocavam, eu lhes dava um soco bem dado no meio da face. Adorei quebrar o nariz de Celeste, aquela cretina. Minha mão doeu por muito tempo. Ela me chamou de vadia. Não pude aceitar. Mas fui punida, tia Gina bateu tanto no meu traseiro que doeu por vários dias. Mas valeu a pena.


— O que quer dizer? — minha mãe se fez de desentendida. — Eu e Nicholas somos completamente felizes. Se seu casamento faliu, não venha desviar do assunto mudando o foco para meu. Todos sabemos que Harry te largou porque você é uma cobra venenosa.


 Gina ficou mais do que chocada e levou a mão ao peito como se minha mãe estivesse mentindo.


 Todos aqui mentem.


 Minha mãe e meu pai somente não se separaram por não terem dinheiro para o divórcio. Sei que eles não se suportam, mas as aparências precisam enganar. E minha mãe manterá isto o máximo que puder. Até o dia em um deles fugir deste casamento horrível. Assim como Harry, que era o cachorrinho da minha tia. Até que ele se cansou.


 Este é um dos meus maiores medos. Ficar aprisionada em um casamento sem amor, carinho e respeito. E é exatamente isto que está para acontecer entre mim e este completo estranho.


— Acho melhor tomar cuidado com suas palavras, farsante — Gina se levantou da mesa e encarou minha mãe com um desafio nos olhos.


— Meu Deus — Maddie murmurou ao meu lado e sua cabeça mexia em nervoso, ela apertou minha mão e me olhou, buscando algum conforto e uma solução em meus olhos.


 Apesar do nome Clarkson Haze, Madison era bem mais calma que eu. Ela era mais tranquila como meu pai e meu irmão. Agora eu e minha mãe... Bem, nós estamos sempre prontas para uma discussão acalorada.


 Que baita impressão estamos causando em Christopher! Não que eu me importe com o que ele pense. Na verdade, até que é bom ele ver isto. Que sirva de aviso, que ele saiba que não se mexe com a dignidade de um Haze sem que ele lute até o fim.


— Por favor, Gina e Diana, vamos todos nos acalmar — meu pai se pôs em pé e usava as mãos para apaziguar as duas. — Sentimos muito por seu divórcio, Gin. Sei que é um momento difícil para você, entretanto, por favor, temos convidados — maneou a cabeça, indicando as pessoas. — Vamos manter a classe e a compostura.


 Gina balançou a cabeça em concordância e voltou a sentar como uma dama. A mudança de cadela do inferno para rainha virtuosa é impressionante.


 Eu meio que esperava que minha mãe se arrastasse por essa mesa e puxasse os cabelos de Gina. E enquanto isso, eu bateria em Celeste e Cristal, assim, sem motivo, porque eu as detesto e tenho muita raiva concentrada e preciso descontar em algo. Elas seriam uma boa distração. Talvez eu as provoque um pouco para ter um motivo.


— Obrigado — Nicholas se sentou e respirou fundo, feliz por ter contido uma guerra em grandes proporções.


 Eu segurei uma gargalhada da situação constrangedora. Olhei para Christopher para saber qual era sua expressão. E quando o fiz, ele me encarava, com aquele sorriso dançando nos lábios. Ele olhou em volta e sorrio mais ainda.


 Acho que ele gosta de um pouco de caos.


 Logo ele descobrira que eu sou uma tempestade. Embora que uma tempestade contida. Mas ainda assim, destruidora.


...


 O jantar se arrastou ainda por uma hora, eu fiquei calada o tempo inteiro. Apenas comi devagar e pouco. Sempre dava umas espiadas no senhor Blunt, e era a mesma coisa, ou ele estava me encarando ou conversando. Mas na maioria, estava me encarando. Tentando descobrir mais sobre mim.


 Como se ele não soubesse o suficiente!


 Minha mãe mandava relatórios mensais pelos últimos dois anos. De toda e qualquer atividade que eu fazia, para que ele soubesse que eu estava sob controle.


 Claro, ela omitia o fato de algumas vezes eu me rebelar e ter tentado fugir uma vez. Só que tudo deu tão ridiculamente errado, que nem tentei mais. Simplesmente aceitei meu destino, ainda mais quando ela ameaçou casar Madison com um outro pretende, porque precisávamos do dinheiro e se eu não fosse, alguém precisava ir e então quando minha irmã completasse quatorze anos se casaria com um completo estranho.


 Eu não deixaria isso acontecer.


 Não tinha ideia que os Haze eram assim tão concorridos.


 Entretanto pelos murmúrios que ouvia, sempre há alguém querendo uma jovem virgem e recata. É nojento e repulsivo. Assim como Christopher, ele é um homem e eu sou apenas uma garota. E mesmo assim, se escondera na fachada de um casamento para que possa fazer o que quiser comigo. Tenho certeza que ideias mirabolantes estão em sua cabeça toda vez que ele me olha e tem aquele sorriso nos lábios delineados.   


...


 As pessoas agora estão divididas aos arredores da casa.


 Eu estou caminhando pelo jardim, observando a noite cair tranquilamente. A lua está cheia e brilha lindamente.


— Olivia? — ouço alguém chamar atrás de mim, viro-me buscando o locutor.


 É Christopher. Merda, estou sozinha com ele. Eu sorrio porque é tudo o que posso fazer.


— Sim! — minha voz denuncia meu nervoso.


— O jantar foi divertido — ele caminha até mim com as mãos nos bolsos.


— Oh, não — eu finjo tristeza. — Não quero que tenha uma impressão errada. Não quero que pense que somos selvagens. Normalmente, esse tipo de coisa não acontece. Sinto muito pelo vexame — faço meu papel de virgem imaculada. Talvez ele goste disto.


 Ele balança a cabeça e sorri. — Eu gostei. Sua família é diferente da minha. Pois a minha é bem severa.


— A minha também — confessei. — Você apenas chegou em “um bom dia” — fiz as aspas com os dedos. — Somos bem comuns, para dizer a verdade.


 Ele se aproxima mais ainda, até estar a menos de um braço de distância. Consigo esconder o modo como ele irrita minha pele quando chega perto.


— Adoro seu sotaque britânico — aquele sorriso voltou e seus olhos desceram pelo meu corpo de novo. Estou começando a achar que isto é algum tipo de tique. — Seu vestido é lindo.


 Eu olhei para o vestido e fiz uma careta. — Acho que sim. Minha mãe quem escolheu.


 Assim, como todas as outras coisas.


— Olivia — meu nome saia com prazer de sua boca. Ele gosta de dizer meu nome. — Preciso te pedir uma coisa.


 Mais? Quero gritar. Você tomou tudo antes mesmo de me conhecer, senhor Blunt.


— Claro — sorrio, contrariando todos meus pensamentos e sentimentos.


 Ele retirou a mão do bolso junto com uma caixinha envolta de um tecido aveludado.


 Minha respiração era pesada e tenho certeza que ele podia notar meu nervosismo, que tomava conta de cada parte do meu corpo.


 É quase real. Quase oficial agora.


— Você aceita se casar comigo? — ele abre a caixinha e tem um anel incrivelmente caro, isso eu posso dizer, terrivelmente lindo.


 É o último prego para fechar meu caixão.


 Ele me pergunta, como se eu pudesse escolher, como se eu tivesse opção. E se tivesse, eu nem saberia o que fazer, porque nunca soube o que é isso.


— Sim — sussurro com um sorriso fraco, estendendo minha mão para ele.


 Eu consigo ver do alto, minha vida, orgulho e dignidade sendo enterrados quando ele coloca o anel em meu dedo anelar e me dá um olhar e aperta minha mão, deixando-me sozinha.


 Eu sou uma noiva. Nós somos noivos.


 


 



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Autor(a): silverman

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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 A festividade ainda segue. O relógio marca nove horas da noite.  Eu procuro minha mãe, sei que ela irá adorar ver o grandioso e cruel anel que Christopher me deu. Acho que ele sozinho é capaz de cobrir boa parte de nossas infinitas dividas.  Diamantes. Isso resumia meu anel. Lapidado em forma de trillion e com a luz criava li ...



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