Fanfics Brasil - Capítulo Dois The Wedding

Fanfic: The Wedding | Tema: Drama, Casamento, Romance, Suspense


Capítulo: Capítulo Dois

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 A festividade ainda segue. O relógio marca nove horas da noite.



 Eu procuro minha mãe, sei que ela irá adorar ver o grandioso e cruel anel que Christopher me deu. Acho que ele sozinho é capaz de cobrir boa parte de nossas infinitas dividas.


 Diamantes. Isso resumia meu anel. Lapidado em forma de trillion e com a luz criava lindos reflexos.


— Mãe — eu a chamei enquanto ela conversava com uma mulher. — Veja só — exibi meu anel para todo mundo ver.


 A atitude irá agradar minha mãe que adora se aparecer.


 Seus olhos brilham tanto quanto a pedra. Sua boca se abre, faminta pelo poder que aquele objeto significa.


— Puta merda! — ela exclama e gargalha segurando minha mão.


 Ela mesma diz que nunca devemos falar palavrões, porém nem mesmo ela pode se segurar ao ver o anel perfeito que ganhei.


 Eu me sentia como um animal em exposição. Minha mãe saiu me exibindo para todo mundo. Ela colocou minha mão bem na cara de tia Gina, que revirou os olhos e saiu andando irritada. A risada da minha mãe era alta, horrível, cheia de maldade contra todos aqueles que não tinham ou teriam um casamento grande e um anel tão belo como o meu.


 Celeste e Cristal me olhavam como se pudessem me matar com um laser que sairia de seus olhos. Pela primeira vez, fiquei feliz com a situação, dei um olhar convencido para as irmãs patéticas e mostrei minha língua.


 Quando acabou o show de minha mãe, me juntei a Madison que estava com meu outro irmão.


— Ei, Livs, como se sente? — Zach me perguntou, mas ele sabia a resposta. Ele queria parecer normal. Tornar a situação normal. No entanto, isto nunca será normal.


— Péssima. Ridícula. Pior impossível. Mas obrigada — eu desabei. — Não aguento mais sorrir tanto. Ser tão perfeita.


 Todos nós suspiramos cansados. Vendo nossa mãe para lá e para cá rindo e se gabando, sabendo que ela é a nossa opressora. Meu pai observava de longe, se sentindo pequeno e exausto das atitudes de sua esposa. Ele olhou para todos os seus filhos reunidos e sorrio como nunca tinha visto antes e caminhou tranquilamente até nós.


— Crianças — ele sempre se dirigia a nós assim. Madison saltou do banco e o abraçou e ele retribuiu, mexendo em seus cabelos. — Quero conversar com você, Livs.


 Zach apertou meu ombro para me confortar e estendeu a mão para Maddie, que o cutucou e ele devolveu. Começando assim uma guerra inocente de dedos. Eu queria ficar com eles. Mas meu futuro me chama. Talvez ele queira tratar de negócios.


 Sigo meu pai até seu escritório. O som da música e das pessoas falando diminuem quando ele fecha a porta.


— Querida — ele me abraçou tão forte que me machucou e me assustou, porém eu nada disse e o abracei tão forte quanto pude. Eu sinto toda a sua dor. — Eu tentei, Livs, eu tentei tanto evitar isto — sua voz embargou. Meu pai estava chorando. Eu estava chorando. — Trabalhei como um louco. Buscando outras maneiras de não deixar você ir embora. Eu sinto tanto, meu amor — meu choro aumenta e o dele também. — Saiba que eu nunca, nunca quis isso. Tudo ideia de sua mãe. Ela está ficando cada vez mais louca. A fissura pelo dinheiro, pelos dias dourados que vivíamos. Ela se acostumou mal.... Eu apenas... sinto muito.


 Apesar de que eu seja mais parecida com minha mãe, eu sempre fui mais apegada ao meu pai. Mesmo antes de tudo acontecer, meu pai sempre foi mais querido para mim. Acho que o modo que minha mãe age me deixe incomodada.


— Eu sei, papai, eu sei — eu o abracei mais, pressionando meu rosto em seu peito. Ele tem um cheiro gostoso, cheiro que apenas pais tem. — Porém, vejamos o lado bom, — eu limpei minhas lagrimas. — com o dinheiro que irão receber, você poderá finalmente se separar dela, cuidar de Maddie. E finalmente ser feliz. Tudo o que estou fazendo é por vocês. Por mim, eu teria fugido a muito.


— Eu sei. E eu teria te encobertado sem problemas — nós rimos embora tenhamos lágrimas. — Amo você demais, Livs, eu sinto muito. Por todos vocês. Sinto muito por nunca ter tido a chance de dar mais — ele olhou em volta e então para mim. — Queria que tudo fosse diferente. Que não tivéssemos hipotecado a casa para pagar as dívidas de jogo de sua mãe. A faculdade de Zach, seu internato, os estudos, as viagens... — ele começa a citar cada uma das nossas dívidas.


 E assim, eu me lembro o porquê de tudo. Eu serei forte e aguentarei por eles. Pagarei com minha liberdade, a felicidade deles. Apenas por eles eu seria capaz de fazer tal sacrifício.


 Eu faço como Diana sempre me ordena: peito para fora, barriga para dentro, respire fundo e vá. Você é melhor que todos.


— Pai, — minha voz sai gélida, como tem que ser — por favor, pare. Estou me casando, não morrendo — na verdade... é o funeral de minha vida. — No final, todos seremos beneficiados. Não quero mais ter que discutir isto. Está fechado e não há volta.


 Ele sorri, o sorriso mais triste que já vi na vida. Nicholas toca meus cabelos, longos demais para meu gosto, e me olha mais uma vez.


— Minha pequena tempestade. Você vai virar a vida deste cara de cabeça para baixo. Foda com tudo.


 Eu gargalhei e pisquei para ele.


...


 Finalmente, os convidados começam a se dispersar. Indo embora, pegando seus carros. Deixando minha casa, parando de me observar, como se pudessem ver o porquê de meu casório.


 Minha mãe insistiu que Christopher dormisse aqui, e ele relutou o máximo que pode, porém ele não conhecia o poder de persuasão de Diana Haze e cedeu.


 Fico tensa em saber que ele está apenas do outro lado do corredor. É como se ele estivesse invadindo um espaço que não deveria ser seu, assim como ele está fazendo com minha vida.


 Em meus pijamas, me joguei na cama, refletindo sobre o dia de hoje e como foi turbulento. Olhei para o anel cruel que tinha em meu dedo.


 Quanto isto custou?


 Minha vida.


 Poxa, é um preço caro a se pagar por apenas um anel.


 Pela segunda vez hoje, eu comecei a chorar.


 Novamente aquele choro sofrido e que doe. O que estou fazendo? O que será de minha vida quando me mudar para os Estados Unidos com Christopher?


 Meu choro se intensifica com todas as ideias horríveis que passam pela minha cabeça do que ele pode fazer comigo e eu terei de aceitar, porque ele será o provedor do dinheiro de minha família e meu marido.


 E se ele for um depravado sexual? Me obrigar a fazer coisas degradantes por puro prazer de me ver sofrer?


 Ou se ele for agressivo? Se por qualquer motivo, simplesmente me bater por fugir um pouco da linha?


 Quando eu me tornar Olivia Haze Blunt, precisarei tomar todas as precauções para não sofrer qualquer tipo de assédio ou abuso por parte de meu marido.


 Precisarei mudar completamente minha maneira quase grosseira de agir. Precisarei mudar quem eu sou. Me tornar gentil e amável. Compassiva e submissa. Me moldar da forma que mais o agradar, ou melhor, deixar ele me mudar da maneira que ele quiser. Porque tudo o que tenho que fazer é deixa-lo feliz e satisfeito pelo simples fato de me ter ao seu lado.


 Sorrisos e falsas impressões é o que tenho que dar. Christopher me pareceu misterioso, mas não maldoso. Mas nada sei sobre ele como ele sabe sobre mim. Isto me parece injusto. Por que sobre ele tudo é sigiloso e sobre mim é exposto? Ele deve saber até minha cor da calcinha!


 Não sei nada do que irá acontecer. Não sei o que minha vida se tornara. Minha ignorância é uma tragédia, no entanto, é tudo o que me resta.


...


 Acordei cedo naquela manhã, embora tenha ficado deitada um bom tempo, tentando ignorar o que está por vir.


 Sem me preocupar muito com minha aparência, sai de meu quarto, com os olhos meio fechados, causados pelo sono. Meu corpo se chocou com outro, maior e mais forte, fazendo-me recuar alguns passos e despertar na hora.


— Jesus! — eu disse, coçando os olhos. — Será você não olha... Perdão, senhor Blunt. Eu não vi que era você, mil desculpas — eu comecei meu discurso.


 Quem eu penso que eu sou para quase gritar com meu futuro marido? Abaixei o olhar para o chão, chateada com minha primeira reação. Sobre o que você andou pensando a noite inteira, Olivia? Mude a droga de seu comportamento. Pare de agir como uma vaca rude.


— Sem problemas, Liv — sua voz é bonita, já disse isso? — Posso chama-la pelo apelido? — engulo em seco e tomo um bom gole de coragem para olhar para ele.


 Não quero ter medo dele. Serei obrigada a viver com este homem pelo resto de minha vida. Não posso teme-lo. Não posso teme-lo. Recito minha ladainha como se pudesse acreditar nela. Talvez se eu repetir bastante, eu acredite que um dia poderia gostar dele.


 Mas em verdade, eu não quero dar oportunidades românticas a ele.


— Claro que pode — pode me chamar do que quiser enquanto sustentar minha família. — E bom dia — dei meu melhor sorriso brilhante de garota americana. Sim, sim, eu andei pesquisando.


 Ele sorri também, sem mais sorrisos maliciosos. Apenas um sorriso de bom dia.


— Bom dia — seus olhos caem do meu rosto para meu corpo, de novo. E já estou incomodada com isto.


— É algum tipo de tique? — minha boca é mais rápida que minha consciência e assim escapa o maior vexame de minha vida.


— O que? — seus olhos azuis fitam os meus com uma completa atenção.


— Seus olhos ficam subindo e descendo. Você tem um problema para enxergar? — tento amenizar minha grosseria e dou mais um sorriso encantador para amansar o homem.


 Ele ficou me olhando e então começou a rir sem parar, ele se curva e se apoia nos joelhos por conta da alta frequência de risadas que o atingiu.


 O que eu disse de tão engraçado?


 Conforme suas risadas iam parando, ele se ergueu novamente e pareceu tão alto comparado a mim, de modo que preciso inclinar a cabeça um pouco para trás para poder vê-lo por completo.


— Ah, Olivia... — balançou a cabeça. — Você não faz a mínima ideia, não é mesmo? — encarou meus olhos. Eu fiquei encabulada e movi a cabeça para os lados, negando. — Acho bom que continue assim, por um tempo — não havia um traço de humor. Ele parece sério.


 Não gosto quando ele fica sério. Christopher se torna cinco vezes mais intimidador deste modo, e aqueles olhos azuis escuros que ocultam segredos e pensamentos impróprios, disso eu tenho certeza.


 Acho que consegui captar sua mensagem; ele quer eu continue inocente.


 Só então, eu noto seu toque em meu ombro. Sua mão é quente e grande, eu estou olhando para ela tocando minha pele, por eu usar uma regata de alças finas, então sigo olhando em frente para seus longos braços, vendo as veias que ressaltam embaixo de sua pele. Seu pulso é grosso e tem uma pulseira de couro, mais adiante, seu braço é forte. Ele com toda certeza faz exercícios. Lentamente, pego cada pedacinho de seu corpo, seu peito largo, até chegar em seu rosto. Christopher está sério, ainda. Olhando em minha direção, encarando meus olhos, com a mesma atenção de antes.


 Engulo lentamente, ficamos nos encarando por um tempo. Posso olhar bem seu rosto. É um rosto bonito. Certeza que ele sai sem defeitos nas fotos.


 É como se o mundo a minha volta tivesse parado de se mover, o ar começa a sumir.


 Suspiro, porque ele é um tipo especial de homem que faria você suspirar se o visse.


 Ele me examina também. Acho que ele gosta do que vê. Porque ele está sorrindo.  Mesmo sendo aquele sorriso matador, eu retribuo, porque estou completamente sem reação e envergonhada por estar o cobiçando, assim tão descaradamente.


 Espero que ele saiba diferenciar sorrisos sinceros de sorrisos coagidos.


 Porque isto é exatamente o que ele faz, invade e me coage. E eu deixarei ele fazer isso, enquanto nosso casamento durar.


— Oh, vocês já estão de pé — a voz de minha mãe me assusta e me desperta do canto da sereia masculina que Christopher colocou em mim.


 Eu me deixei levar? O que foi isso? Como ele me dominou desta forma, sem usar as palavras ou ações? Ele apenas ficou ali, parado.


 Se apenas com um simples toque ele me deixou paralisada, imagine se usar todo este corpo contra mim? Então eu estarei totalmente rendida.


 E o pior de todos os meus pesadelos se tornaria realidade: eu me apaixonaria. Deixaria ele tomar conta. Mente e corpo.


 Não, eu não posso deixar isto acontecer.  


— Bom dia, senhora Haze — Christopher já está indo em direção de minha mãe, a beijando no rosto. Ela reage como uma criança ganhando doce. Pura e completa felicidade explodindo de seu corpo.


 Eu ainda estou pregada no chão, imobilizada. Quando meus olhos tomam foco mais uma vez, vejo o chão e balanço a cabeça, como que limpando a mente. E sinto minhas pernas caminhando em direção de minha mãe, meio que desamparada. E a cumprimento com beijos no rosto também.


— Bom dia, mãe — digo com a voz abafada, ainda abalada.


 Todos nós seguimos em silencio até a cozinha para tomar café da manhã. Estou andando atrás deles, tentando recuperar minha dignidade que deixei cair no momento que analisei Christopher quase que inteiramente.


 Ele olhou por cima do ombro uma vez no caminho, mas não disse nada. E fico grata por seu silêncio.


 Meu pai e meus irmãos já estão sentados à mesa. Ainda sem iniciar o café, à espera de todos estarem em volta.


 Novamente, estou ao lado de Madison e Zachary está a minha direita. Ele me cutuca sorrindo com o bobo que é. Eu devolvo o toque e sorrio também.


 A mesa está farta. Mais comida do que normalmente temos. Minha mãe quer impressionar. Reviro os olhos porque ela já começou o dia me irritando.


 Tenha modos a mesa, Olivia! Me policio porque rolar os olhos não é algo que uma dama deva fazer.


 Uma dama é educada e não retruca. Em uma briga, uma dama não discute, apenas sai do recinto onde ocorre a intriga, evitando descer ao nível daquele que lhe aflige.


 Basicamente, foge dos problemas.


 Mas eu nunca estou disposta a fugir de uma boa briga. Para mim, o que as palavras não resolvem, um soco no meio do rosto, resolve.


— E Jenn? — eu pergunto, para assim ter algum som a preencher o ambiente.


— Dormindo — ele dá um sorrisinho, como que escondendo algo sujo. — Ela está bem cansada da noite passada.


 Eu entendo na hora.


 Tento parecer zangada e lhe dou um tapinha fraco no braço, mas minha risada não me ajuda em meu papel de brava. — Zachary Haze, não diga coisas como essa na mesa.


— Vocês dois, tenham modos diante dos convidados — minha mãe nos chama atenção e seu olhar é severo.


 Então eu e Zach nos calamos e comemos em silêncio pelo que se segue do café da manhã.


 Nenhum dos presentes da mesa estão falando, até que minha mãe baixa os talheres e seus olhos castanhos estão reluzindo alguma ideia.


 Oh, não. Não gosto deste olhar. A última vez que o contemplei foi quando ela teve a genial ideia de me vender aos Blunt.


— Christopher, por que não permanece conosco até o dia da cerimônia? Garanto que aqui será muito mais confortável que um hotel aos arredores.


 Não. Não! Por favor, diga não.


 Eu quero aproveitar os últimos dias sem a presença de Christopher para que eu possa fingir que nunca o conheci, que ainda terei chances de ser uma garota normal, que não me casarei com ele. Por favor, deixe que eu me iluda.


 Vendo a suplica silenciosa em meus olhos, meu pai tenta intervir. — Não sei se é uma boa ideia, Di. Acho que o senhor Blunt precisa ter seu próprio espaço. Não seria adequado. Com as meninas zanzando pela casa... — Nicholas olhou para mim e depois para minha mãe.


 Ela sorri docemente e segurou a mão dele.


— Oras, Nick, não seja tolo. Christopher tem olhos apenas para Olivia. E isto seria o mínimo que podemos fazer por ele — Diana se virou para meu noivo. — Não aceito “não” como resposta.


 Christopher avaliou sobre o pedido. Deu uma olhada em mim e sorriu. — Iria adorar passar esta semana com vocês — seus olhos azuis continuam em mim.


 Puta. Merda.


...


 Eu e Maddie estamos correndo no jardim. Brincando de pega-pega. Ela é melhor que eu, em vista que eu pareço uma girafa de salto altos correndo e caindo o tempo inteiro.


— Você é a pior corredora do mundo inteiro, Liv — Maddie mostrou a língua. — Você nunca irá me pegar — ela está correndo de costas para poder me ver caída até que Zach a capta no ato e ela solta um gritinho.


— Mas eu sim — ele grita brincando também e a gira em seus braços.


 Cansada, sento-me e fecho os olhos. A risada de Madison é maravilhosa de se ouvir e sorrio.


 E um momento como este, me faz lembrar novamente o porquê de estar indo me casar com o senhor Blunt. É por Madison, Zach, meu pai e até mesmo minha mãe. Não poderia deixar eles na mão e simplesmente fugir. Seria algo extremamente egoísta.


 Se há uma possibilidade de salvar minha família, então irei aproveita-la.


 Mas não significa que deixarei as coisas mais fáceis para o senhor Blunt. Sem chances. 


 Hoje, meu pai e Christopher foram resolver papeladas e contratos do casamento. Papeis que não me interessam. Talvez eu devesse, mas a única coisa que eu quero fazer nesta minha última semana, é me esquecer de tudo.


 Ficar ao lado da minha família pela última vez.


 Porque quando eu me mudar, seremos apenas eu e ele. Nós dois em uma casa. Sozinhos. A ideia me dá calafrios.


 Fico pensando no que iremos fazer na noite de núpcias. Céus, que ele não queira colocar coisas estranhas em mim. Respiro fundo e tento me manter positiva.


 Um psicopata não conseguira manter sua fachada por muito tempo, certo? Se ele for um maluco, posso cair fora. Tenho certeza que há leis contra isso.


 Encaro o céu fechado de Nottingham. Minha cidade ficara para trás, assim como todas as outras coisas que existiam em minha vida. Serei uma nova pessoa, não porque eu quero, mas porque me foi imposto. Curiosamente, o clima se reflete ao meu estado emocional. E isto, não é nada bom.


...


 Chegou o grande e majestoso dia.


 É um sábado.


 Meu casamento.


 Meu velório.


 Estamos em um hotel perto da igreja.


 As pessoas dentro do quarto comigo estão surtando. Falando ao celular, dando ordens, recebendo ordens, correndo, conversando. Tudo ao mesmo tempo. Isso me deixa maluca. Toda essa desordem me deixa ainda mais ansiosa e nervosa.


 Eu nunca quis que este dia chegasse.


 Mas o tempo não estava ao meu favor. A última semana passou voando bem rápido, como um pássaro fugindo de seu caçador. Tudo foi tão corrido.


 Christopher se manteve longe. Não conversamos uma só vez. Eu evitava ficar perto dele de toda e qualquer maneira. O máximo que pudesse ficar longe, melhor.


 Se ele notou meu afastamento, não comentou e não pareceu incomodado.


 Ele sempre acordava as sete horas da manhã, então eu levantava as seis, tomava café da manhã e me trancava no quarto. Eu passei a almoçar e jantar em meu quarto ou então fora de casa.  Passava o dia deitada, ouvindo músicas, conversando com Madison, ou dormindo.


 Quase inerte.


 Eu apenas queria me afastar, ignorar meu futuro iminente.


 Mas agora ele se chocou com meu presente. E meu futuro casamento se tornou meu presente casamento e isto me apavora. Seguro uma onda de choro com o medo me consumindo.


 É real. É real. Eu irei me casar. Talvez se eu chorar eles confundam com felicidade. Mas acho que nunca mais saberei o que é isso. Serei forçada a ser uma nova pessoa, uma criatura perfeita, uma coisa nunca serei capaz de ser.


 Não, eu não irei chorar. Não mais.


 Encaro-me no espelho grande e luminoso a minha frente. Eu pareço maravilhosa. A equipe de maquiadores e cabelereiros são profissionais no que fazem.


 Ainda sou eu por baixo de todo o enfeite para me tornar impecável. No rosto, o que chama atenção são meus lábios, agora cobertos por um batom vermelho lindo. Meu cabelo está preso em um penteado que não compreendo como foi feito, apesar de estar aqui a todo momento. Eu apenas desliguei.


 Ignorei tudo ao meu redor e deixei eles trabalharem.


 Com a ajuda de minha mãe entro no vestido de casamento.


 Minhas mãos estão tremulas, eu pisco para afastar as malditas lágrimas, uma comoção acontece dentro de meu peito porque tudo o que fazer e deitar no chão e chorar.


— Você está tão linda, Olivia — ouço Diana falar. Mas sua voz, assim como todas as outras, soa distante. — Me desculpe — então como um clique, eu acordo.


 Ela disse isso mesmo? Eu olhei para minha mãe, chocada. Ela está chorando. Não de alegria como as mães fazem quando veem seus filhos se casando, seu olhar está baixo, chateado mesmo.


— Tudo bem — minha voz sai rude e ela parece magoada.


 Tarde demais para pedir desculpas.


— De coração, querida — eu tento, eu realmente tento ser malvada com ela. Mas ela é minha mãe e não existe nada no mundo que seja mais reconfortante que o abraço de uma mãe. — Me desculpe — seus braços me apertam mais.


 As pessoas a nossa volta, familiares e amigos, chamam nossa atenção para a realidade e que precisamos nos apressar.


 Convidei apenas duas garotas da minha vizinhança. Riley e Sam e elas são as únicas com quem realmente me relacionei, assim serão minhas madrinhas também. Considerando o fato de eu ter vivido em um internato até meus quatorze - lugar que eu odeio - não tive chances reais de conviver em sociedade.


— Parece fantástica, Olive — Riley diz para mim, tocando na manga de meu vestido.


— Se você não usasse ele agora, eu pegaria para mim — Sam tenta me animar.


 No entanto, é obvio para todos os presentes o meu desconforto. Não quero disfarçar isso. Que fique estampado meu desgosto com este casamento.


 A raiva é melhor que a tristeza, e isto é tudo o que meu coração tem agora.


 Congelo todo e qualquer sentimento bom que poderia ter sobre hoje. Não me importo em como meu vestido é lindo e caro. Em como minha maquiagem me deixa incrível. Que irei me casar com um homem bonito, rico. Que tenho muito mais que muitas mulheres podem apenas almejar: um casamento grande e excêntrico.


 Minha mãe fez questão de convidar vários parentes, até aqueles distantes para exibir para todo mundo que os Haze estão emergindo das cinzas. Seu plano é que conforme eu me casar com Christopher, meus filhos serão de uma nova linhagem poderosa. E os Blunt ganham a imagem de família acolhedora, sou o presentinho para seu único filho. Sou a fachada, um símbolo de pureza que este mundo precisa. Serei a moça meiga e pobre nos braços de um milionário simpático.


 Queria que as coisas fossem diferentes.


 O que eu não daria por uma chance? A oportunidade de ser feliz?


 Eu vejo muitas mulheres dizendo que queriam se casar com homens ricos e bonitos, que seu maior sonho é este. Mas qual é o preço? Cá estou eu, fazendo tal realização. Porém, não há um traço de felicidade em meu rosto e muito menos motivos para comemoração.


 Meu lado romântico iria querer se casar por amor. Simplesmente não compreendo como existem pessoas que se casam por interesse, há algo pior que isso? Olhar nos olhos do outro, dizer que o ama e divulgar isto para o resto do mundo, quando na verdade, só é visado a conta bancaria que aquela pessoa tem. Ter a coragem de beijar e se deitar com alguém pelo simples fato de seu status.


 Eu me odeio porque o que estou fazendo é isto. Me vendendo. Deixando ser levada para um mundo que não me pertence. Sei que será um mundo cercado por riqueza, glamour e frieza, e não faço parte disso.


 Me vejo andando pelo longo tapete vermelho. Minha mãe, Madison, Jenn e minhas duas amigas caminham na frente. Eu estou segurando firme no braço de meu pai, da mesma forma que ele me prende a si, como se Nicholas fosse capaz de me prender a minha vida antiga. E eu queria que ele fosse capaz.


 Eu me lembro do que minha mãe disse. Sorria, Olivia. Este deve ser o dia mais feliz de sua vida.


 Sorrir? Eu nunca vi um defunto sorrir em seu próprio velório.


 Estou até vestida a rigor, um longo vestido branco para uma virgem. Apropriado, devo dizer.


 Estou de cabeça baixa. Andando de olhos fechados e aperto mais forte o buque. Tentando pelos meus últimos segundos, desconhecer minha realidade.


— Olivia? — meu pai chama quando chegamos ao pé do altar e eu volto de minha dormência. — Amo você — beija minha testa e ele entrega minha mão a Christopher.


 Engulo com dificuldade e o encaro. Ele está sério. Nem mesmo sorri. Parece uma máquina, assim como eu.


 Me viro para o padre que inicia suas palavras. Eu não escuto nada. Estou chocada demais para isso, estou olhando a parede atrás do homem santo, vendo os desenhos dos vidros da igreja. Christopher ainda segura minha mão, a sua, contrapondo a temperatura da minha, é quente e acolhedora. A minha é gelada, porque eu morri.


— Sim — a voz de Christopher me desperta.


 O que? Eu me sinto perdida. Oh, sim. A aceitação. O consentimento. O momento que você se entrega a pessoa a amada. No entanto, minha situação é o inverso disso.


— Olivia Clarkson Haze, você aceita Christopher Bateman Blunt como seu legítimo esposo? — o padre tem uma voz calmante e sem pressa.


 Eu pondero. Olhei para Christopher e ele me encara, impassível. Então olho para minha mãe que está respirando com dificuldade e tem seus olhos arregalados, desejando que apenas uma resposta afirmativa saia de minha boca. E uma vontade louca de gritar NÃO me atinge como um relâmpago, eu tenho certeza que ela cairia dura no chão, falecida.


 Então, vejo minha irmãzinha sorrindo para mim e consigo encontrar minha voz. É por você, Maddie.


— Sim, eu aceito — murmurei fraca e aceitando tudo como tem que ser.


 O padre tem um olhar estranho para mim, claramente questionando minha demora para responder, mas ele logo disfarça. E prossegue, pedindo agora nossos votos.


 Eu e Christopher ficamos frente a frente. E ele está lindo de smoking e cabelos bem penteados, consigo sentir o cheiro de seu perfume delicioso. Me pergunto se seus pais estão aqui.


— Olivia, eu prometo ama-la e protege-la, ser um marido digno de seu amor, e lutar até o fim de meus dias para faze-la feliz — ele deve acreditar no que diz, porque sua voz sai firme.


 Talvez ele queira fazer esta porra dar certo, mas eu quero mais é que se foda. Eu estou revoltada. Embora eu ache que ele esteja recitando a droga de um script.


— Christopher, — eu procuro as palavras que minha mãe me fez ensaiar e decorar um mês atrás — prometo ser fiel, devota e gentil a ti. Trabalharei todos os dias de minha vida para agrada-lo e te fazer feliz — eu digo.


 Sem. A. Fodida. Chance.


— Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva — o padre finaliza.


 Minha expressão deve ser a pior possível, crua e frígida, porque o padre novamente me olha de uma maneira estranha. Devemos ser o casal mais frio que ele viu.


 Fico esperando ele me beijar, mas isto não acontece. Ele apenas sorri e aperta minha mão, agora com meu novo anel.


...


 O salão de festa explode em luzes e tocando alguma música eletrônica e diversas vozes se misturam, quase enlouquecedor. Vejo as pessoas conversando, comendo, se divertindo as minhas custas.


 Estou sentada na cadeira junto a mesa redonda, sozinha. E ninguém se atreve a chegar perto. Vejo a arrumação perfeita que fizeram, como tudo deve ter custado muito dinheiro. Vejo agora Christopher conversando com um homem que nem sei quem é, Christopher não parece interessado na discussão.


 Então, eu encaro a mesa. Tem um pratinho com bolo para mim, mas nem toquei nele. Parece realmente delicioso, e apesar de ser uma grande apreciadora de doces, meu estômago está fechado. Assim como minha expressão.


 Os corajosos vem me parabenizar. Mas nem me movo para responder, continuo encarando o nada. Vendo minha vida escapar diante de meus olhos. Meus olhos ardem pedindo por lágrimas, meu corpo clama por uma dosagem forte de choro. Entretanto, não darei nada disso.


— Liv? — a voz de meu marido ressalta em meus ouvidos. Continuo parada, olhando o chão. — Olivia? Você está bem? — sua mão toca meu ombro, mas não há sentimentos conflitantes em meu corpo agora.


 Eu simplesmente não sinto nada.


 Ele me deixa. E mentalmente agradeço.


 Era muito fácil pensar no casamento, viver nele que é difícil. Estou apenas algumas horas casada e consigo sentir todo o peso que este laço traz consigo. Toda a bagagem que ele carrega. Se era doloroso pensar no dia que me juntaria com Christopher, doe muito mais ser casada com ele.


 Encaro minha mão com seu novo anel. Uma beleza em diamantes em formato de uma flor. Ele é robusto e tem muita presença. Não sinto apenas o peso do ouro em minha mão, como também é difícil ignorar o brilho da enorme coroa de diamantes. É de muito bom gosto, apesar dele ser de um formato peculiar, me agrada demais. Christopher foi muito confiante por pegar algo não convencional. Talvez ele saiba meu gosto por coisas exóticas.


— Olivia, venha comigo agora — escuto a voz de minha mãe. Mas a mãe adorável e arrependida sumiu sem deixar rastros, substituída pela megera que já conheço há tantos anos.


 Com muita força de vontade, me levanto e caminho atrás dela. Sinto os convidados me observando, comentando minha atitude insolente.


 Atrás do palco, escondidas pela cortina, estamos eu e ela.


 Sem palavras, ela simplesmente golpeia meu rosto com sua mão, acertando um tapa forte, fazendo minha cabeça virar com tudo para o lado.


 Aterrorizada com o ato e a dor chocante, coloco minha mão sobre meu rosto no local que agora arde e olho para minha mãe que está enfurecida.


— O que você acha que está fazendo? — ela está gritando. — O que é isso?


— Eu não estou feliz! Quer que eu celebre o pior dia da minha vida? — eu grito de volta, incapaz de conter meu temperamento.


— Olivia, você está sentada lá a horas. Não come, não se mexe, não fala. Os convidados estão comentando sua atitude grosseira...


— Que se foda os convidados. Que se foda esta mentira — uso meus braços para indicar o lugar. — Eu odeio tudo isto. Se você foi capaz de se casar com um homem que você odeia e aceitar tudo, eu não serei capaz — minha voz ainda é alta. Eu gosto de gritar, tira toda a dor que carrego no peito.


— Você precisa! Você quer nos destruir garota? — ela agarra meu rosto e suas unhas compridas raspam em minhas bochechas. Seguro em seu braço, pronta para uma briga. — Você vai voltar lá. Vai sorrir. E vai obedecer cada uma das regras que ele impor para você.


— Eu não sou uma cachorra. Eu não seguirei ordens de um homem que não conheço. Ele é meu marido, não meu dono.


 Diana parecia impaciente e soltou um gemido de frustação, e rolou os olhos.


— Você vai fazer isto funcionar, Olivia. Ou eu juro por Deus...


— Vai fazer o que? — eu a desafiei e a afastei dando um tapa em seu braço. — Você já tirou tudo de mim — cruzo em meus braços. — Não há nada que possa fazer para me machucar.


 Ela fica de costas e parece pensativa. Quando se voltou para mim, aquele brilho nos olhos apareceu. Uma ideia maligna estava em sua cabeça.


— Madison — ela citou e isto fez minha parede de proteção ruir.


— Não — minha voz carregava medo. — Você prometeu... você prometeu — lágrimas começam a cair com a ideia dela vender minha irmã também.


 O que ela pretende fazer? Madison só tem treze anos!


— Siga as regras, Olivia — seu tom era cruel e sem emoções. — Sou uma mulher de palavras. Faça essa droga funcionar. E Madison vivera livre. Fizemos um trato e então acho bom você começar a cumprir suas promessas. Ou então... — olhou para os lados, zombando de mim. — Faça isso funcionar — é a última coisa que ela diz antes de me deixar sozinha e destroçada ali.


— Eu odeio você demais — sussurro.


 Eu abraço a mim mesma e começo a chorar mais ainda.


 Quando eu tinha dezesseis anos e me dei conta do que um casamento significava, tentei fugir, e fui pega pela polícia enquanto corria pelos arredores de Nottingham, buscando um lugar para me refugiar. Para me ter sob controle, minha mãe fez uma ameaça visceral e destruidora. Ela disse, não, ela não disse, ela prometeu que se eu não me casasse com Christopher Blunt ao fazer dezoito anos, ela casaria Madison quando a mesma completasse quatorze com algum rico que desse um bom lance.


 Naquele dia, eu pude ver o demônio que vive dentro de minha mãe. Um demônio cedendo por poder, luxo e glamour. Naquele dia, eu não a reconheci. Naquele dia, eu percebi que não poderia confiar nela. Naquele fatídico dia, eu percebi que a odiava.


 E depois disso, nunca me deu motivos para mudar meus sentimentos mistos sobre ela. Diana era uma mulher peculiar. Algumas vezes mostrava seu lado maternal, amorosa e preocupada. No entanto, na maior parte do tempo, ela era apenas uma mulher que vivia a sombra de seu passado de riqueza e que agora, não tinha mais chances de esbanjar dinheiro. E sua maior meta era voltar a ser rica novamente, subir na pirâmide social. Usar joias, vestir roupas caras, viagens desnecessárias, tudo do que for mais fútil, é o que ela quer.


 Certa vez ela em uma crise de alcoolismo comentou que deveria ter mais filhos, para que pudesse fazer mais casamentos rentáveis. Aquilo me marcou. Mostrou que nunca fui uma filha para ela. Apenas uma peça de troca. E meu pai, pobre homem, a mercê dela. Um homem fraco, sem esperanças e um lugar para fugir. Sinto pena dele.


 Logo, me deparo com todas as maldades que já me foram feitas. Todas as manipulações que fui submetida, todos os ensinamentos que passei para obedecer a meu marido, todos os castigos que me foram infligidos por não aceitar ser destinada a uma vida que não queria.


 Eu nunca mais irei deixar fazerem isso comigo de novo. Eu estou cansada de ser apenas uma peça. Farei o que for possível para mudar minha situação, mesmo que eu tenha que mudar.


 Eu me casei. Ganhei um novo nome. Serei uma nova pessoa. Mas ainda sou eu.


 Eu ainda sou Olivia Clarkson Haze.


 



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Autor(a): silverman

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