Fanfics Brasil - Capítulo 13 *9/10 Pecados no inverno *vondy* (adaptada)

Fanfic: Pecados no inverno *vondy* (adaptada) | Tema: vondy


Capítulo: Capítulo 13 *9/10

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O funeral foi na manhã seguinte. Christopher tinha feito um excelente trabalho de planejamento, de algum modo conseguindo atingir o equilíbrio perfeito entre a sóbria dignidade a pompa teatral. Era o tipo de cortejo que Fernando Saviñón teria adorado, tão grande que ocupou toda a extensão de St. James.


     Havia uma carruagem fúnebre preta e dourada e duas carruagens para os enlutados, ambas puxadas por quatro cavalos, todos com as cabeças adornadas com grandes plumas de avestruz. O belo caixão de carvalho, enfeitado com pegadores de metal e uma placa brilhante com uma inscrição, fora forrado de chumbo e soldado a fim de evitar a intrusão de ladrões, um problema comum nos cemitérios de Londres. Antes de a tampa ser fechada sobre o corpo de seu pai, Dul viu um dos anéis de ouro de Cam no dedo dele, um presente de despedida que a comoveu. Também a comoveu ver Christopher penteando os cabelos ruivos desbotados de Fernando Saviñón quando pensava que ninguém estava olhando.


     Fazia muito frio. O vento cortante penetrava no pesado manto de lã de Dul, que estava sentada sobre um cavalo enquanto Christopher andava ao seu lado segurando as rédeas. Doze homens atuando como pajens e os cocheiros caminhavam no fim do cortejo, sua respiração formando nuvens brancas no ar do início do inverno. Eram seguidos por uma multidão de enlutados, uma curiosa mistura de gente rica, comerciantes, vistosos aristocratas e rematados criminosos. Amigos e inimigos estavam lá. Independentemente da ocupação ou do estado de espírito, a tradição do luto tinha de ser seguida.


     Esperava-se que Dul não fosse ao funeral porque a natureza feminina era considerada delicada demais para suportar essa tão dura realidade. Contudo, ela insistira em participar. Encontrava conforto no ritual, como se a ajudasse a se despedir do pai. Christopher estivera inclinado a se opor, até Cam intervir:


    – Saviñón deve ser livrado dos grilhões da dor da filha – dissera o cigano para Christopher quando a discussão começara a se tornar acalorada. – Os ciganos acreditam que, se alguém chorar demais a morte de um ente querido, o falecido será forçado a voltar através do véu para tentar confortá-lo. Se participar do funeral a ajudará a deixá-lo ir...


     Ele havia se interrompido e encolhido os ombros. Christopher lhe lançara um olhar contundente.


     – Fantasmas de novo!


    Mas havia deixado aquilo para lá e cedido aos desejos de Dul.


    Dul conseguiu acompanhar estoicamente todo o funeral, mesmo quando a terra começou a ser jogada sobre o caixão. Contudo não conseguiu impedir que algumas lágrimas salgadas deslizassem pelos cantos de seus olhos quando o caixão foi totalmente coberto. Cam se aproximou com um pequeno cantil de prata. Segundo a tradição cigana, despejou solenemente um pouco de conhaque na sepultura.


     Furioso com o gesto,o clérigo idoso deu um passo para a frente, repreendendo-o:


     – Pare com isso!Não queremos nenhuma de suas práticas pagãs! Macular um lugar sagrado com bebida barata...


     – Senhor – interrompeu-o Christopher, indo para a frente e pondo sua grande mão no ombro do clérigo. – Não acho que nosso amigo Saviñón se importaria. – Ele esboçou um sorriso conspirador ao acrescentar: – É conhaque francês, e de uma excelente safra. Talvez me permita enviar algumas garrafas para a sua residência para prová-lo.


    Aplacado pelo grande charme do visconde, o clérigo sorriu de volta.


    – Isso é muito gentil, milorde. Obrigado.


    Quando a maioria das pessoas foi embora, Dul deixou seu olhar perambular para as vitrines das lojas, as casas e a fábrica de graxa ao redor da praça. Subitamente o rosto de um homem em pé ao lado de um poste de luz no outro lado da praça chamou sua atenção. Ele usava um casaco escuro e um gorro cinza sujo. Ela só o reconheceu quando um lento sorriso surgiu em seu rosto.


     Era Joss Bullard, percebeu sobressaltada, prestando suas homenagens a Fernando Saviñón, ainda que apenas a distância. Contudo, ele não tinha a expressão de um homem enlutado. Parecia diabólico, o rosto contorcido com uma malícia que causou um arrepio em Dul. Sem parar de observá-la, ele passou um dedo pela garganta em um gesto inconfundível que a fez dar um passo involuntário para trás.


    Notando o movimento, Christopher se virou para ela, segurando seus ombros com as mãos calçadas com luvas pretas.


    – Dul – murmurou, olhando para o rosto pálido da esposa com um toque de preocupação. – Você está bem?


    Dul assentiu, voltando a olhar para o poste. Bullard se fora.


    – Só estou com um pouco de frio – respondeu, batendo os dentes quando uma rajada de vento tirou o capuz de seu rosto.


    Christopher o recolocou imediatamente no lugar e puxou o manto para mais perto do pescoço dela.


     – Eu a levarei de volta para o clube. Darei algumas moedas para os cocheiros e depois iremos embora.


     Ele tirou de seu sobretudo uma pequena sacola de couro e foi até o grupo de homens que esperava respeitosamente perto da sepultura. Vendo o olhar ansioso de Dul, Cam se aproximou com a marca de uma lágrima seca em seu rosto magro. Ela o pegou pela manga e disse baixinho:


    – Acabei de ver o Sr. Bullard. Ali, no poste de luz.


     Os olhos de Cam revelaram espanto e ele assentiu com a cabeça. Eles não tiveram a oportunidade de dizer mais nada. Christopher voltou e pôs um braço ao redor dos ombros de Dul.


    – A carruagem está esperando.


    – Não havia nenhuma necessidade de ter providenciado uma – protestou ela. – Eu poderia ir a pé.


    – Ordenei que preparassem o aquecedor de pés – disse Christopher, esboçando um sorriso ao ver o brilho de antecipação no rosto dela. Ele olhou para Cam. – Venha conosco.


    – Obrigado – foi a resposta precavida do rapaz –, mas prefiro caminhar.


    – Então eu o verei no clube.


    – Sim, milorde.


    Enquanto acompanhava Christopher até a carruagem, Dul tentou não se virar para trás e olhar para Cam. Perguntou a si mesma se ele conseguiria encontrar Bullard e o que poderia acontecer se o fizesse. Ela entrou no veículo e rapidamente arrumou sua saia sobre o aquecedor de pés, estremecendo de prazer ao sentir o calor subir até seus joelhos. Christopher se sentou ao seu lado, com um leve sorriso nos lábios.


     Para Dul, a louca viagem para Gretna Green parecia ter sido há uma eternidade. Ela se aconchegou em Christopher, satisfeita por ele não tentar afastá-la.


  – Considerando-se tudo, você se saiu muito bem – disse ele enquanto a carruagem começava a se mover.


     – Foi o cortejo fúnebre mais elaborado que já vi – respondeu ela. – Meu pai teria adorado.


     Christopher deixou escapar um bufo de divertimento.


     – Na dúvida preferi pecar pelo excesso. Amanhã vou mandar esvaziar os aposentos do seu pai. Caso contrário, nunca me livrarei do cheiro de doença.


    – Acho que essa é uma ótima ideia.


    – O clube reabrirá daqui a duas semanas. Vou deixar que fique por lá durante esse meio-tempo, para se acostumar com a morte de seu pai. Mas quando as portas se abrirem de novo, quero-a confortavelmente instalada em minha casa na cidade.


    – O quê? A sua casa em Mayfair?


     – É bem equipada e tem um corpo completo de empregados. Se isso não a agradar, encontraremos outra coisa.


    – Você está planejando... morar em Mayfair comigo?


    – Não. Continuarei a morar no clube. É muito mais conveniente para a administração do negócio.


    Dul tentou lidar com a indiferença do marido. Qual era o motivo dessa súbita frieza? Ela não o incomodava. Pedira-lhe muito pouco, mesmo em sua dor. Confusa e zangada, olhou para as mãos e cruzou os dedos enluvados.


     – Eu quero ficar– disse em voz baixa.


     Christopher balançou a cabeça.


    – Não há nenhum motivo para você continuar lá. Você não é necessária. Será melhor para todos os envolvidos morar em uma casa adequada, onde poderá receber suas amigas e não ser acordada o tempo todo à noite pelo movimento no andar de baixo.


    – Eu tenho sono pesado. Isso não me incomoda. E posso receber minhas amigas no clube...


    – Não abertamente.


    Não fazia nenhuma diferença se ele tinha razão.Dul ficou calada, enquanto a frase “você não é necessária” ecoava desagradavelmente em sua cabeça.


     –Quero que viva em um ambiente seguro e respeitável – continuou Christopher. – O clube não é um lugar para uma dama.


     – Eu não sou uma dama – retrucou Dul, tentando adotar um tom levemente sarcástico. – Sou filha de um jogador e a mulher de um patife.


     – Mais um motivo para mantê-la longe da minha influência.


     – Mesmo assim, não quero. Talvez possamos discutir isso na primavera, mas até lá...


     – Dul – disse Christopher em voz baixa. – Não estou dando uma escolha.


    Ela se afastou dele. Um quarto inteiro cheio de aquecedores de pés não poderia ter afastado o frio em suas veias. Sua mente procurou freneticamente argumentos para dissuadi-lo, mas ele tinha razão. Não havia motivo para sua permanência no clube.


    Desesperada, sentiu um aperto na garganta ao pensar que a essa altura já deveria estar acostumada com o fato de ser indesejada e a solidão. Por que em nome de Deus isso ainda doía? Ah, como gostaria de ser como Christopher, ter uma barreira de gelo ao redor do coração.


     –E quanto ao nosso acordo? – perguntou. – Pretende ignorá-lo ou...


     –Ah, não. Viverei casto como um monge até chegar a hora de receber minha recompensa. Mas será mais fácil resistir à tentação com você fora de alcance.


    – Talvez eu não resista à tentação – Dul se ouviu murmurar. – Posso encontrar um cavalheiro obsequioso para me fazer companhia. Você não se importaria, não é?


    Até as palavras saírem de seus lábios, ela nunca teria se imaginado capaz de dizer uma coisa dessas. Contudo, foi dominada por uma necessidade desesperada de feri-lo, enfurecê-lo, provocar-lhe emoções. Após um curto silêncio, ouviu a resposta suave de Christopher:


    – De jeito nenhum, querida. Seria egoísmo da minha parte negar essa diversão em suas horas particulares. Faça o que quiser, desde que esteja disponível quando eu precisar. 


 


 


 


 



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Autor(a): Laryy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 116



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  • millamorais_ Postado em 20/06/2017 - 07:02:00

    Maiiiis, continua por favor!!!

  • tahhvondy Postado em 10/06/2017 - 17:07:31

    continua

  • Nat Postado em 06/06/2017 - 17:19:26

    CONTINUA!!!*-*

  • millamorais_ Postado em 05/06/2017 - 12:05:28

    Que bom que voltou. Não some por favor:D

  • tahhvondy Postado em 04/06/2017 - 12:14:14

    continua

  • Nat Postado em 04/06/2017 - 10:48:33

    CONTINUA! Não some de novo, por favor!*-*

  • jucinairaespozani Postado em 14/03/2017 - 23:28:18

    Continua

  • Nat Postado em 14/03/2017 - 22:16:03

    *-*Alguma chance da Daisy e o Cam ficarem juntos?CONTINUA!S2S2S2

  • jucinairaespozani Postado em 10/03/2017 - 17:29:25

    Posta mais

  • Nat Postado em 08/03/2017 - 20:37:08

    *0*Meu Deuuusss!!!CONTINNNNNUUUUUAAAAA!!!!!S2S2S2


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