Dul imediatamente se lembrou de que no mês anterior Maite lhe falara sobre suas suspeitas de estar grávida.
– É claro, eu... Ah, Maite, eu estava tão pre-preocupada com meus próprios problemas que nem mesmo pensei em perguntar como você estava se sentindo! Então é verdade? O médico confirmou?
– Sim – interrompeu-a Daisy, levantando-se e executando uma pequena dança da vitória, como se fosse impossível para ela continuar parada. As duas pularam em uma alegria infantil, enquanto Maite continuava sentada e as observava, divertindo-se.
– Céus, olhem para vocês! Queria que Anahí estivesse aqui. Sem dúvida teria algum comentário a fazer sobre essa louca comemoração. A menção do nome de Anahí foi o suficiente para diminuir a alegria de Dul.
Ela se sentou de novo no sofá, olhando para Maite com preocupação.
– Será que Anahí vai me pe-perdoar por eu ter me casado com St. Uckermann depois do que ele fez com ela?
– Claro – disse Maite gentilmente. – Você sabe quanto Anahí é leal... Ela lhe perdoaria tudo, exceto assassinato. Talvez até mesmo isso. Perdoar St. Uckermann é algo totalmente diferente. Daisy franziu as sobrancelhas e esticou suas saias.
– Com certeza St. Uckermann fez de lorde Alfonso um inimigo. O que torna as coisas difíceis para o resto de nós. A conversa foi interrompida quando o chá foi trazido por uma criada.
Dul serviu um pouco da delicada infusão cor de âmbar para si mesma e para Maite. Daisy não quis tomar chá, preferindo andar pela sala e examinar as prateleiras de livros. Olhou atentamente para os títulos gravados nas lombadas.
– Há uma camada de poeira na maioria desses livros – exclamou. – Parece
que não são lidos há anos!
Maite ergueu seu olhar do chá com um estranho sorriso.
– Aposto que poucos os leram, se é que alguém os leu, querida. É improvável que os cavalheiros que frequentam este clube escolham se ocupar com livros quando há tantas coisas mais estimulantes para fazer.
– Por que ter uma sala de leitura se ninguém lê nela? – perguntou Daisy,parecendo indignada. – Não posso imaginar nenhuma atividade mais estimulante do que ler. Porque, às vezes, quando a história é particularmente envolvente, sinto meu coração disparar!
– Há uma... – murmurou Maite com um sorriso travesso. Mas Daisy, que se afastara mais examinando as fileiras de livros, não a ouviu.
Olhando no rosto de Dul, Maite disse em voz baixa:
– Já que estamos falando nesse assunto, Dul... preocupa-me você não ter tido ninguém com quem conversar antes de sua noite de núpcias. St. Uckermann foi atencioso?
Dul sentiu as bochechas arderem ao assentir rapidamente:
– Como era de esperar, ele foi muito hábil.
– Mas foi gentil?
– Sim... acho que sim.
Maite sorriu.
– Esse é um assunto delicado, não é? – perguntou suavemente. – Mas se você
tiver alguma dúvida sobre essas coisas, espero que me pergunte. Sabe, sinto-me como se fosse sua irmã mais velha.
– Também sinto isso – respondeu Dul estendendo o braço para apertar a mão da amiga. – Acho que realmente há algumas coisas que eu gostaria de perguntar, mas elas são tão...
– Caramba! – exclamou Daisy do outro lado da sala.
Ambas ergueram os olhos e a viram puxando uma das estantes de mogno.
– Quando eu me apoiei nesta estante, ouvi um clique e a coisa toda começou a se abrir.
– É uma porta secreta – explicou Dul. – Há várias portas e passagens secretas no clube, para esconder coisas se houver uma batida policial ou alguém precisar sair rapidamente...
– Aonde leva? Temendo que explicar mais encorajasse a aventureira Daisy a entrar, Dul murmurou vagamente: – Ah, a nenhum lugar para onde você queira ir. Certamente a um depósito. É melhor fechá-la, querida.
– Hummm.Enquanto Daisy continuava a examinar as estantes, Dul e Maite retomaram sua conversa em voz baixa. – A verdade é que lo-lorde st. Uckermann concordou em passar por um período de castidade, por mim. E se ele for bem-sucedido, nós re-recomeçaremos nossas relações conjugais.
– Ele o quê? – sussurrou Maite, arregalando seus belos olhos azuis. – Meu Deus! Não creio que as palavras “castidade” e “St. Uckermann” já tenham sido mencionados na mesma frase. Como conseguiu convencê-lo?
– Ele disse... que me deseja o suficiente para tentar . Maite balançou a cabeça e sorriu, perplexa.
– Isso não parece típico dele. Nem um pouco. Ele trapaceará, é claro.
– Sim, mas acho que suas intenções são sinceras.
– St.Uckermann nunca é sincero – disse Maite ironicamente.Dul se lembrou da urgência desesperada do abraço de Christopher naquela mesma sala. Da respiração dele saindo sofregamente. Da ternura da boca do marido em sua pele. E da paixão na voz dele ao murmurar: eu a quero mais do que já quis qualquer coisa neste mundo.