Fanfics Brasil - Capítulo 2 Mentira Perfeita - Adaptada

Fanfic: Mentira Perfeita - Adaptada | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 2

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Dulce


 


     Não me deixaram entrar na UTI. Nem mesmo ficar no corredor! Me enxotaram dali como se eu fosse um cão sarnento. Talvez o fato de eu ter tentado entrar à força tenha algo a ver com isso.


     Christian ficou ao meu lado o tempo todo e tentava me consolar, afirmando que tudo daria certo e que ela sairia dessa, como aconteceu das outras vezes. Eu queria muito acreditar nele. Queria desesperadamente, mas já não podia.


— Eu não devia ter inventado aquela história, Christian — murmurei, tentando conter os soluços.


— Agora ela pode ir embora e a última coisa que eu falei para ela foi uma mentira!


— Não, florzinha. A última coisa que você falou para ela foi “Eu te amo”.


Dona Oliva invadiu a sala de espera lotada. A mãe de Christian tinha os olhos inchados e o cabelo escuro enrolado em bobes do tamanho do meu pulso.


— Eu só soube agora, Dulce. Estava no cabeleireiro — ela foi dizendo.


— Como a minha amiga está?


— Por que você não senta um pouco, mãe? — Christian se levantou e deu o lugar a ela. Eu tive que me levantar também. Ver Oliva sem minha tia por perto


parecia errado. As duas eram como fone de ouvido e iPod desde que ela e o pequeno Christian se mudaram para o sobrado amarelo em frente ao nosso.


     Meu amigo atualizou a mãe, e não tardou para que ela se desmanchasse em lágrimas, tirando um terço preto de dentro da bolsa.


     Aquilo foi demais para mim. Comecei a andar de um lado para o outro, um olho no relógio, o outro na porta que dava para o corredor da UTI. Levou muitas horas para que o cardiologista de minha tia passasse por ela.


     Quando por fim ele apareceu, trazia no rosto uma expressão indecifrável.


— Acho melhor falarmos na minha sala — ele anunciou com a voz grave.


Não, não, não!


Ainda assim, assenti uma vez, reprimindo o desejo de sair correndo aos berros.


— Quer que eu vá com você? — Christian perguntou.


— Não precisa. Cuida da sua mãe. — Dona Oliva havia tomado um calmante e estava meio chapada.


     Ele pegou minha mão e a apertou de leve.


     Fingindo uma coragem que eu não sentia, fui atrás do médico.


     O dr. Miguel fechou a porta assim que passei por ela e foi se sentar atrás de sua mesa, as mãos unidas, os olhos nos meus. Inspirou fundo antes de começar.


     Prendi a respiração.


— Dulce, sua tia teve três paradas cardíacas...


     Fechei os olhos, meu próprio coração ameaçando parar de bater. Ele continuou falando.


— ... e nós conseguimos trazê-la de volta, com algum custo.


Abri os olhos de imediato.


— Na última, pensei que ela não fosse resistir — prosseguiu. — Mas alguma coisa aconteceu e ela sobreviveu. Não só isso, Dulce. O quadro todo teve uma melhora espantosa.


     Eu apenas ouvia e piscava enquanto ele se recostava na cadeira e olhava para mim.


— Ela está bem. — Sorriu. — Aliás, está bem como há muito tempo não ficava. A doença ainda existe, ainda é grave. A sua tia aindaprecisa do transplante. Preciso fazer mais alguns exames, mas, ao que tudo indica,


ganhamos um pouco mais de tempo. Estou me perguntando o que fez o quadro mudar tão depressa e não chego a nenhuma conclusão. Acho que foi um...


— Milagre — completei. Ele concordou com a cabeça.


Ah, meu Deus. Eu havia recebido mais um. Diversas emoções perpassavam meu corpo, o tremor me sacudindo de leve.


— Ela ainda requer cuidados — o médico prosseguiu —, por isso vai ficar


conosco mais alguns dias, mas em breve vai poder voltar para casa. As recomendações anteriores devem ser seguidas à risca. Alimentação, pegar leve com atividades motoras... Você está bem? — ele perguntou, preocupado.


— Sim, eu... posso usar o banheiro?


     Deixei a mochila na cadeira e atravessei a sala correndo, sentindo o olhar curioso do médico me seguir durante todo o percurso. Assim que entrei e fechei a porta, meu corpo não aguentou mais. Tombei contra o painel de madeira e cobri a boca com a mão para que o dr. Miguel não ouvisse meus soluços.


     Obrigada! Obrigada! Obrigada!


     Assim que meu colapso terminou e eu voltei a ter controle sobre minhas emoções, retornei para a sala e pedi que ele me deixasse falar com tia Maria. Eu precisava ver com meus próprios olhos que ela estava bem, que ele não estava inventando aquilo tudo.


— Claro que pode — o dr. Miguel respondeu, amável. — Ela está chamando por você desde que recuperou a consciência. Só peço que seja cuidadosa e não a deixe nervosa. No mais, pode permanecer o tempo que quiser, mas seus amigos vão ter que esperar. Ela pode ficar agitada se receber muita gente no quarto, e nós não queremos arriscar até os novos exames ficarem prontos.


     Fiquei de pé. Ele sorriu diante de minha impaciência, mas se levantou e liderou o caminho.


     Bateu uma vez e abriu a porta da UTI, enfiando a cabeça entre ela e o batente.


— Pronta para sua primeira visita, Maria?


— Estou pronta já faz horas! — a voz firme reverberou pelo quarto e me alcançou.


     Era real. Ela estava bem. Ainda estava comigo.


— Ela é toda sua. — O médico se afastou para me dar passagem.


     Aprumei os ombros, empurrei os óculos para cima e entrei. Encontrei minha


tia sentada naquela cama de aparência pouco confortável, raspando um copinho de plástico com uma colher.


— Dulcinha! — Ela passou a mão no rosto, limpando os restos de gelatina do


queixo.


     Corri para ela e a abracei com força, tomando cuidado para não esbarrar em nenhum fio ou mangueira.


— Ah, tia Maria...


— Eu sabia! Sabia que você ia ficar preocupada. Aquele médico malvado não me deixava ver você. — Ela me agarrou pelos ombros e examinou meu rosto. Uma expressão aflita tomou conta dela. — Falei para o dr. Miguel que você ficaria assim, mas aquele homem insensível não acreditou quando eu garanti que não ia morrer. Isto é, depois que o meu coração baleado voltou a bater e tudo o mais.


— A senhora devia estar comendo? — Peguei o copinho de suas mãos e o coloquei sobre a mesa de apoio. 


Ela fez uma careta.


— Tecnicamente não, mas eu estava morta de fome, e uma enfermeira muito boazinha contrabandeou um potinho de gelatina para cá. Não precisa fazer essa carinha. Estou bem, viu? Acredite em mim! Eu não vou embora tão cedo!


Minha visão embaçou e eu tive que piscar algumas vezes para evitar chorar de novo. O dr. Miguel tinha pedido para pegar leve. Chorar a deixaria abalada, e ela precisava de descanso e tranquilidade naquele instante.


— O médico me disse que a sua melhora foi um milagre.


— Claro que foi! E foram as novidades que operaram esse milagre!


— Que novidades? — perguntei, com a incômoda sensação de que não queria saber a resposta.


Ela deu risada e um tapinha na minha mão.


— Não finja que não é importante! Você acha mesmo que eu iria perder o seu casamento? Não vai ser uma insuficiência cardíaca aguda de merda que vai me impedir de ver o meu sonho se tornar realidade. Você se casar com um vestido desenhado e confeccionado por mim! — E me encarou com aqueles enormes olhos castanhos. — Você me deu uma razão para lutar. E eu venci! Você é o motivo de eu ainda estar aqui, meu amor. Quando é que eu vou conhecer o seu futuro noivo?


O quê?


Não, eu não tinha entendido direito. Não podia ser esse o motivo que a trouxera de volta das paradas cardíacas. Não podia ser. Se fosse, eu estaria ferrada.


— Tia, eu... Humm...


Ela arfou e um som de engasgo lhe escapou da garganta.


— Você não estava falando sério? Dulce, você mentiu para mim? — Tia Maria piscou como se algo a ferroasse e levou uma mão ao peito. Gemeu.


Ah, merda!


Ah, meu Deus!


— Não, não, não! Ninguém mentiu! Fica calma. — Eu me estiquei para apertar o botão que avisava a enfermaria, mas minha tia segurou meu pulso.


— Não mentiu? — arfou, ainda pressionando o peito, os olhos nos meus.


— Claro que não. Que ideia, tia. — Tentei sorrir. — Eu realmente tenho um namorado e estou apaixonada. Muito apaixonada. Tanto que... eu nem... humm... sei dizer.


— Ah! — Sua respiração começou a voltar ao ritmo normal. A mão em meu pulso afrouxou. — Que susto, menina! Então, quando vou conhecê-lo?


Assim que eu conhecer, eu quis dizer.


— Logo, tia. Ele tá... humm... viajando a trabalho, mas assim que voltar eu apresento para a senhora. — Isso! Assim eu ganhava um pouco mais de tempo para pensar no que fazer sobre aquele assunto. Onde diabos eu iria conseguir um namorado tão em cima da hora? E não qualquer um, mas o homem perfeito que eu descrevera para tia Maria!


     Desde que a doença dela se agravara, eu praticamente só saía de casa para ir para o trabalho. Como eu poderia me envolver com alguém se a minha vida estava um caos?


     Eu nunca me socializei com facilidade, nunca fui capaz de conversar com pessoas que não conheço, como vejo os outros fazerem. Passei pela escola sem deixar saudade em ninguém, tenho certeza. Exceto, talvez, nos professores. A questão é que as pessoas, uma hora ou outra, acabam te decepcionando. Era por isso que relacionamentos, de qualquer gênero, eram tão complicados para mim. Você conta com alguém, ama esse alguém de todo o coração, e ele vai embora sem aviso. Aprendi isso muito cedo, e evitava a todo custo me relacionar. Doía demais quando as pessoas iam embora.


     Mas tudo bem. O que importava agora era manter a minha tia estável e calma. Todo o restante se ajeitaria depois. Uma mentirinha de nada não podia ter consequências tão graves assim.


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------PS: Vi que já tem gente lendo haha, e aos que virão bem vindos sz vim comunicar que vou dividir os capítulos em 2, para que eu poste mais rápido e não fique tão extenso aqui :* logo logo Christopher aparece {#emotions_dlg.kiss}{#emotions_dlg.laughing}



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Autor(a): secretvondy

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