Fanfics Brasil - Capítulo 3 - Parte um Mentira Perfeita - Adaptada

Fanfic: Mentira Perfeita - Adaptada | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 3 - Parte um

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Christopher


 


     Desejei, e não pela primeira vez, estar em qualquer lugar do mundo que não fosse ali, na sala de estar do apartamento do meu irmão mais velho. Na fila do correio com um office boy armado com duas gordas pastas bem na minha frente; aguardando uma consulta num hospital do SUS; acompanhando minha mãe em uma loja de departamentos. Qualquer uma dessas alternativas seria melhor que ficar ali ouvindo a gritaria sem sentido da minha família.


— Não posso aceitar, Victor! Ele é só um bebê! — Minha mãe soluçava.


     Alexandra Uckermann era uma das mulheres mais duronas que eu conhecia. A menos, é claro, que o assunto fosse um dos seus filhos.


—Alexandra, calma, por favor. — Meu pai tentava, em vão, fazê-la parar de andar de um lado para o outro na sala pouco espaçosa do apartamento de Poncho e Anahí.  — Ninguém vai se mudar e ponto-final.


— Vou sim, vocês queiram ou não — desafiei. — Agora, podemos cortar o drama e jantar?


— Christopher, pelo menos ouça — demandou meu irmão. Poncho ainda não tinha se manifestado até então. Parecia dividido entre a preocupação e o entendimento de que eu já não era um garoto.


— Pra quê, Poncho? — retorqui. — Eu já tomei a minha decisão. Não tenho que pedir permissão, sou maior de idade. Você saiu de casa sem nenhum escândalo.


Ele revirou os olhos.


— Isso é o que você pensa.


— Por que você quer se mudar, Christopher? — Minha mãe se ajoelhou na minha frente, pegando minha mão e a aninhando entre as suas. — Não me opus quando você saiu da chácara porque achei que ficar com o seu irmão poderia ser bom.


     Você está bem instalado aqui. Pra que sair? O Poncho não tem te tratado bem?


     Soltei o ar com força.


— Mãe, o Poncho e a Anahí são ótimos. Sério. Mas eu quero um canto só pra mim. — Não era pedir muito, era?


— Mas você não pode ter um canto só pra você, meu querido. — Seu rosto se contorceu de angústia. — Porque... porque você...


— Mãe — Poncho interferiu. — Não.


     Mas eu sabia como aquela frase teria terminado se meu irmão não tivesse se intrometido. Porque você é um maldito aleijado. Era assim que ela acabaria.    Não que minha mãe fosse dizer com todas as letras.


     Provavelmente escolheria algo sutil, na linha do “pessoa com deficiência”, ou o meu favorito: “portador de necessidades especiais”. A babaquice do politicamente correto.


     Eu estava farto. Estava cansado dos olhares preocupados de minha mãe, de meu pai se levantar cada vez que eu respirava para perguntar se eu precisava de alguma ajuda, de atrapalhar o relacionamento do meu irmão.


     Estava de saco cheio de tudo isso.


     Eu entendia que toda aquela preocupação era porque eles me amavam. Mas até o amor cansa às vezes. Eu queria encontrar um canto onde pudesse ouvir meus pensamentos sem ter que me preocupar se um dos meus familiares se ofereceria para fazer isso por mim.


     Além disso, eu estava apenas antecipando as coisas. A lesão em minha medula não era total, e meu quadro tinha mudado havia pouco mais de um ano. Voltei a ter sensibilidade nas pernas e nos pés e, segundo minha ortopedista, isso era indício de que ainda havia uma chance de voltar a andar. Então, no fim das contas, eu só estava me preparando para o momento em que minha vida sairia daquele limbo tenebroso.


     Eu até tinha voltado a estudar — por exigência de Poncho, mas ainda assim. Esse tinha sido o acordo para que eu pudesse sair da chácara onde meus pais moravam e vir para a cidade. Eu frequentava as aulas todos os dias, conseguira um emprego. O salário não era lá essas coisas, mas dava para sair umas seis vezes por mês sem ter que pedir dinheiro para ninguém.


     Minha família entendia isso?


— Desculpe, meu amor. — Minha mãe piscou algumas vezes, então se levantou e desabou no sofá, enterrando o rosto afogueado entre as mãos. Seus ombros sacudiram de leve. — Eu me preocupo com você. Quero cuidar de você.


— Eu sei disso, mãe. — Soltei um longo suspiro. — Mas não estou fazendo nada perigoso. Só vou viver por conta própria. Todo mundo faz isso.


— E se você escorregar da cadeira na hora do banho, Christopher? — Ela ergueu a cabeça, o horror estampado no rosto. — Quem vai te acudir?


— Eu mesmo, suponho. — Como qualquer outra pessoa que mora sozinha, pensei. Mas aparentemente fui o único.


— Isso não vai dar certo. Ele vai tentar de novo, Victor. — Ela voltou a chorar.


— E vai fazer parecer um acidente, como da outra vez. Eu não vou suportar.     Não vou suportar perder o meu menino.


— Ele não vai fazer nada estúpido, mãe. — Poncho me olhou duro. — Não seria tão burro.


— Como podemos saber, Poncho? — ela quis saber. — Como podemos ter certeza?


— Eu nunca tentei me matar, caramba! — Soquei a roda da cadeira.


     Poncho se aproximou e virou meu pulso para cima, exibindo a cicatriz irregular sem dizer uma única palavra.


     Grunhi baixinho, fitando a marca em meu pulso direito. Aquilo me perseguiria pelo resto da vida. Eles não acreditaram quando expliquei que havia sido um acidente. Desde então ninguém me permitia chegar perto demais de comprimidos, facas, cadarços, parafusadeiras...


     Ok, pareceu que eu havia tentado dar um fim a tudo, e as estatísticas também não colaboravam. O índice de suicídio entre a população cadeirante é altíssimo.


     Mas eu não tentei me matar. Não mesmo. O que aconteceu foi a porra de um acidente.


     Meu pai estava em sua oficina — ele sempre adorou trabalhar com marcenaria — e eu estava sem nada para fazer. Fiquei ali com ele, ajudando a pregar o fundo do que seria uma jardineira. Então, bati o cotovelo sem querer na caixa de ferramentas sobre a mesa. Tentei pegá-la antes que tudo se espalhasse pelo chão, mas estava pesada, e o impacto empurrou meu braço para baixo. Meu pulso encontrou a cabeça de um prego meio solto e foi rasgado de um lado ao outro. Um ato desastrado que me rendeu dezoito pontos e um ano de terapia.


     Não que eu não tivesse pensado em algo do tipo, confesso. Mas, depois de ver o estado em que meus pais ficaram, para não mencionar Poncho, que ainda se sentia responsável pelo acidente, já que a moto havia sido um presente dele, percebi que seria egoísta demais pensar apenas em mim.


     Eles tentavam o melhor que podiam para fazer da minha vida o mais “fácil” possível. Aqueles últimos três anos haviam sido um inferno, mas teriam sido muito piores sem a minha família por perto.


— Foi um acidente — falei pela milionésima vez. — Você acha que eu sou burro a ponto de tentar me matar cortando os pulsos e ficar ali agonizando por sabe-se lá quantas horas? Existem meios muito mais rápidos e indolores — expliquei, esperando que com isso colocássemos uma pedra sobre esse assunto.


     No entanto, meu pequeno discurso surtiu o efeito contrário.


— Ele vai fazer de novo, Victor! — Minha mãe chorou enquanto Poncho me olhava feio e murmurava um “idiota”.


Meu pai chegou mais perto, plantando as botas na minha frente, braços cruzados sobre o peito, o rosto fechado numa carranca que poderia muito bem pertencer a um coronel do exército.


— Me diga a verdadeira razão de querer sair da casa do seu irmão. E não minta, ou juro por Deus que vou te dar uma surra daquelas.


Sorri de leve. Era por coisas assim que eu amava tanto o meu velho.


— O Poncho e a Anahí vão se casar em poucas semanas. Eles precisam de privacidade.


     A porta da sala se abriu. A noiva em questão apareceu meio descabelada, e logo percebeu o clima pesado.


— Saco. — Soltou um longo suspiro ao deixar a bolsa sobre a mesa, que ainda nem havia sido posta. Deus do céu, o jantar seria servido só no café da manhã?


— Fiquei presa no trânsito. O que eu perdi?


— Nada de tão importante. — Poncho foi até ela e a beijou brevemente. — Não decidimos nada ainda.


— Falem por vocês — resmunguei. — E eu já resolvi. Agora, quando é que a gente vai comer?


     Anahí se desprendeu de Poncho para se aproximar de minha mãe, beijando-a delicadamente no alto da cabeça, depois se empoleirou no braço do sofá.


— Pelo clima estranho, ninguém é a favor dessa mudança — Anahí ponderou, olhando para cada um de nós. — Tá legal, vamos encarar os fatos. O Christopher é cadeirante e isso complica as coisas.


— Valeu, Anahí! — Olhei feio para ela.


— Ainda não terminei. — Ela voltou a encarar minha família. — Mas complicar não é o mesmo que impossibilitar. Se ele acha que está pronto para viver sozinho, então nós deveríamos acreditar. Ele é adulto, não vai ser estúpido a ponto de se colocar em risco só para provar um argumento.


— Você não sabe o que está falando — Poncho retrucou, e eu podia apostar que ele estava se lembrando de quando éramos crianças e apostamos quem comeria mais minhocas.


     É claro que eu venci. E também passei três dias no hospital, vomitando.


— Poncho. — Ela pegou a mão de seu ex e agora futuro marido e o encarou com aqueles enormes olhos azuis enganosamente doces. — Ele tem se mostrado responsável. Não faltou a nenhuma aula desde que voltou para a faculdade. É sempre o primeiro a chegar ao trabalho e o último a sair. Eu acho que vocês deviam dar uma chance a ele.


     Era por coisas como aquela que eu amava tanto Anahí. Poncho tinha ganhado na loteria. Tinha mesmo. E estava prestes a ceder à súplica de sua noiva, percebi pela expressão em seu rosto.


— Mas, querida... — minha mãe se aprumou, como se percebesse que perdia terreno. — Ele nunca ficou por conta própria.


— Ele se vira bem na cozinha. Bem melhor do que eu.


     Qualquer um com duas mãos esquerdas se virava melhor que Anahí.


     Estremeci ao lembrar a noite em que Poncho ficou preso em uma reunião e ela disse que cuidaria do jantar. Ainda não entendo como é que ela conseguiu transformar miojo em algo intragável. E olha que eu não sou de frescura com comida.


— Sim, eu sei. Ensinei meus filhos a cozinhar. — Minha mãe deu de ombros.


— Nenhum deles vai morrer de fome, mas...


— Eu sei, dona Alexandra. — Anahí pousou uma das mãos no braço dela e lançou um daqueles seus sorrisos. — Também vou ficar preocupada. Mas a gente pode dar um jeito nisso.


— Como, querida?


— É, como? — eu quis saber. Porque eu topava. Quaisquer que fossem os termos, eu topava.


— Ele podia... podia... — Anahí olhou para a sala como que em busca de inspiração. O canto de sua boca se ergueu repentinamente. — Ele podia contratar um acompanhante!


— O quê? — Não. Qualquer coisa menos isso! Era tudo de que eu não precisava. A p*orra de uma babá grudada em mim o dia todo.


Poncho, aquele traidor, sorriu de leve.


— É uma boa ideia.


— Concordo — minha mãe cedeu, parecendo um pouco menos nervosa. — Eu ficaria mais tranquila se ele tivesse alguém por perto.


— Não. De jeito nenhum! — Fui para perto da janela, sentindo uma necessidade doentia de bater em alguma coisa.


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Como informei estou começando a divir os capítulos para vcs poderem ler mais rápido ;)



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Autor(a): secretvondy

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Gente vim comunicar que infelizmente está tudo corrido e nesse mês não é possível postar mais :( sinto em decepcionar vcs mas parece que jogaram uma bomba na minha vida, vou começar a trabalhar e a estudar ao msm tempo, quero ver pra ir no show da Dulce e tenho que programar td certinho, vou entrar em uma escola nova e fazer um curso ...


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