Fanfics Brasil - Meto A Cura ~ La Marionnette

Fanfic: A Cura ~ La Marionnette | Tema: MEJIBRAY


Capítulo: Meto

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Koichi's Pov


― Eu tenho que fazer isso, Meto. ― repeti, encarando os comprimidos em minha mão e o copo no criado mudo. E ele, que estava deitado logo atrás de mim, me encarava pelo reflexo do espelho no canto do quarto. ― Só dessa vez. Ryo-san vai ficar bravo comigo se chegar a imaginar o que faço com os remédios...


― Que vão te fazer mal. ― completou com um tom de voz cheio de preocupação. ― Não dou a mínima pra o que esse cara diz e tenho certeza de que ele não vai te fazer mal nenhum, entãovocê sabe... Me  isso aqui...


― Mas Meto-


― Sem mas. É pro seu bem. ― pediu outra vez e então o olhei por cima do ombro, cedendo àquela expressão calma. Entreguei os comprimidos a ele e me deitei a seu lado, acariciando o antebraço e prontamente recebi um beijo demorado na testa.


Ficamos assim por alguns minutos, trocando carícias e beijos. Na verdade, até ele cair no sono. Ver ele dormindo era sempre reconfortante por mais que pareça estranho. Desde o dia que chegou, jamais fechou os olhos pra descansar, mas em momento algum isso me assustou porque até hoje me faz sentir seguro; sob sua constante vigilância e cuidado. Não sei mais se seria capaz de viver sem isso. Mas tenho certeza de que sem ele não conseguiria. Sem querer sorri. Sem querer o abracei com todas as minhas forças. Sem querer agradeci por ele estar comigo. Sem querer me apaixonei. Mesmo que sem querer, lá no fundo eu queria e fazia todos os dias. Seus olhos negros pareciam responder a tudo da mesma forma e a cada segundo que passava, mais eu acreditava no que eles me diziam em silêncio, desacreditado no quão bondoso foi o destino (mais conhecido como Tsuzuku) quando trouxe o Meto pra mim.


No mesmo momento em que aproximei ainda mais meu rosto ao de Meto a porta do quarto foi aberta. Me sentei na cama e estreitei os olhos ao ver meu irmão. Não parecia nada feliz. Também estava horrível. Parecia um morto vivo. Totalmente diferente da última vez que vi ele, há quase um ano atrás. O cabelo, ainda castanho, bagunçado. A maquiagem, leve, borrada e visivelmente mal feita. As roupas escuras pareciam mais largas e digo isso porque aquele parecia um uniforme de muito mau gosto feito para me visitar. Odiava ver ele naquilo. Ainda odeio, mas ele insiste em vestir isso mesmo que eu o repreenda. Carregava uma sacola e o que tinha nela me agradou bastante. Os meus doces favoritos. Fiquei um pouco surpreso por ele ainda lembrar deles. Ele entrou e fechou a porta. Veio pra mais perto e fez menção de que se sentaria na ponta da cama, mas o impedi.


― Meto está com os pés aí. ― expliquei e então ele fez a volta na cama com uma expressão confusa no rosto.


― Meto?...


― Sim... ― sussurrei e afastei o lençol dos ombros do Meto, o apontando, em seguida voltando a cobrir ele. ― Meto. Não lembra?


― Mas ela é só uma m-


― Ele. ― corrigi. ― Ele é "ele".


― Certo... Mas desde quando ele tem nome? ― pediu ainda com aquela expressão e eu não consegui não rir da pergunta dele.


― Desde quando nasceu. Ou um pouco antes. Quem sabe desde sempre... Não tenho certeza. Ainda não conheci a mãe dele pra saber quando ela escolheu o nome... ― expliquei depois de revirar os olhos. Quando voltei a fitá-lo percebi que ele parecia meio perdido. Concluí que ele estava lerdo demais e que aquela pergunta boba era no que ele estava pensando. Talvez ele só estivesse reprovando a si mesmo, mas não me contive em perguntar. ― O que faz aqui com essa roupa horrível de novo? Depois de todo esse tempo achei que já tivesse jogado isso fora.


― Mas... ― ele se interrompeu e suspirou. ― O trabalho anda me desgastando. Peço desculpas por não ter vindo antes. ― disse ele.


― E eu vou te desculpar. Mas só porque eu sou o melhor irmão desse planeta e porque você trouxe doces. ― resmunguei fazendo bico e ele riu, assim como eu, segundos depois de dizer aquilo. Ele me entregou a sacola e ficou sério de novo. Abri uma barra de chocolate, ofereci a ele e depois de sua recusa, tirei um pedaço e coloquei na boca. ― Tá de mau humor?


― Longe disso... Estava aqui pensando sobre esse tal de Meto.


― Como assim? Você mesmo que o trouxe pra cá.


― Realmente... O que mais você sabe sobre ele?


― Não acredito que não se lembra... Imagina se ele fosse um psicopata?! Francamente, Tsuzuku. ― rolei os olhos e cruzei os braços. ― Meto. Um garoto de treze anos, sendo assim, uma ano mais novo que eu. Viveu com os pais até o ano passado quando um rapaz muito bonito o encontrou perdido em uma loja de bonecas. Esse rapaz bonito tinha um irmão numa casa cheia de gente maluca e antes de ir embora deixou o garoto com o caçula. E antes que ache que esse rapaz bonito é você, já digo: Você é só o subordinado horroroso do rapaz bonito, entendeu? Está horroroso. Falo mesmo. ― dei de ombros e ele riu. ― Meto gosta de ursos de pelúcia, mas especialmente de um com o nome de Ruana. ― apontei o urso que se encontrava ao lado de seu dono e prossegui. ― Gosta também de ler, assistir filmes, desenha muito bem, canta melhor que o rapaz bonito, mas só pra mim. Odeia coisas amargas, insetos, remédios e subordinados horrorosos que se vestem mal... Ah, ele também é tímido, mas costuma falar bastante com quem ele gosta.


― Estou impressionado. ― declarou sorrindo de canto. ― Ele deve gostar bastante de você pra contar tudo isso, ne?


― É. ― disse meio sem jeito. Incerto. Com medo de contar o que tenho com Meto e ele não gostar muito.


Encolhi os ombros e me calei, assim como ele. Até pensei em tentar puxar assunto, mas não tive sucesso. A única forma que vi de escapar da vontade de contar tudo o que sentia e como estava feliz foi me entreter com os doces que há tempos não via. E eu o fiz. Esquecendo até mesmo que não estava sozinho por alguns minutos.


― Senti sua falta. ― confessou em voz baixa e eu o encarei. ― Queria ter aparecido antes... Ne... Eu...


― Não precisa se explicar. Meto disse uma vez que você é teimoso demais e não aceita que eu fique aqui de graça. Além do mais, Meto me fez companhia e cuidou de mim. Ficaria mais feliz se pudesse ficar aqui com a gente, pra eu cuidar de você, mas não precisa se preocupar. Tá tudo bem, okay? ― sorri e abri os braços, o acolhendo entre eles. ― Foi você quem trouxe ele e isso é o bastante.


Um abraço quente e apertado. Totalmente diferente dos que estava acostumado a receber, mas ainda assim muito bom. Afagando suas costas com as duas mãos passei a sentir algumas gotas quentes em minha camisa e os soluços baixinhos eu ouvi. Foi aí que percebi que, sem querer disse o que eu queria dizer a ele, mas percebi que poderia ser esse o motivo de suas lágrimas. Pedi desculpas por tudo, várias vezes e de nada adiantou pois isso não o acalmou, e tudo o que eu queria era entender o porquê.


 


x x x


 


 


Tsuzuku's Pov


 


E quanto mais ouvia sua voz baixa nos contínuos pedidos de desculpa, mais culpa sentia; as lágrimas caíam; o peito doía. A diferença de seis anos de idade entre nós nunca fora motivo para que a compreensão o deixasse de lado e até aquele momento só via isso como uma qualidade. Obviamente, como irmão mais velho, deveria me orgulhar por ele continuar sendo o mesmo garoto que tanto amo e que muito me esforcei para cuidar e educar, mas, por outro lado, sabia que a situação em que ele se encontrava era totalmente distinta a que eu desejava depois de tanto tempo. Havia sim me afastado, no entanto não tive opção além dessa e como ele mesmo havia dito, Meto  havia explicado meus motivos, ainda que jamais houvesse dito a ninguém além de Ryoga e o mesmo tivesse jurado sigilo. Minha preocupação se devia estritamente ao fato de que ele jamais voltaria atrás com sua palavra conhecendo o caso melhor que qualquer outra pessoa.


 


Permaneci naquele abraço até que a porta fosse aberta e uma funcionária aparecesse ali, me chamando para o lado de fora. Pedi a Koichi que aproveitasse os doces, que não os comesse de uma vez e que me esperasse, pois logo voltaria para me despedir dele, seguindo então a mulher por entre os corredores cheios de cores alegres e pessoas sorridentes mas que particularmente me causavam tremendo incômodo. Quando alcançamos a sala próxima à entrada do local, a agradeci por me acompanhar e a vi partir, entrando no cômodo sem mais delongas. Não me surpreendi por encontrar ele sorrindo, atrás da mesa e dos amontoados de pasta. Jamais vou entender o que ele vê de tão interessante nesse ramo, ou até mesmo como podia sorrir daquele jeito enquanto fora da sala havia gente com muitos problemas para ele resolver. Enquanto Koichi ainda estava lá. Pediu com um gesto para que me aproximasse, oferecendo o lugar a sua frente e o aceitei já que não havia opção além daquela. Ryoga voltou a mexer nos papeis despreocupado com minha presença, em seguida voltou-se ao visor do computador e, com receio, mesclado a um pouco de nervosismo, não tentei chamar sua atenção. Passaram-se alguns segundos até que ele finalmente me desse atenção, sustentando a expressão alegre na face.


 


― Leia esses relatórios. Vou deixar correndo as imagens do quarto dele e peço que preste atenção em tudo. Nada pode passar. E certifique-se de que não entrei naquele lugar em nenhum momento. Tudo o que ele diz e faz é muito importante. ― disse ele e eu assenti, sem entender muito bem o que tudo aquilo poderia significar; sem questionar por ter sentido mais firmeza naqueles pedidos que em quaisquer outros que já me tenha feito. Me ofereceu seu lugar atrás a mesa depois de fazer aquilo que havia avisado e foi até a porta. ― Vou dar uma volta mas logo retorno para conversarmos.


 


Assenti outra vez, fazendo a partir dali o que ele pediu.


・・・  


Era inacreditável. Simplesmente fora do comum.


Por vezes achei que estivesse lendo ou interpretando mal os relatórios, mas as imagens confirmavam precisamente, batendo com as conclusões feitas por Ryoga e até mesmo as minhas. Eu, sinceramente, jamais imaginaria que o que havia presenciado no quarto de Koichi tivesse como piorar. Seu caso era ainda mais grave de quando tive que o deixar e evidentemente a culpa era minha. Estava a ponto de explodir. A cada um passo que dávamos juntos à frente, voltávamos ao ponto inicial, se não mais atrás e isso me frustrou. Meus esforços não resultavam em nada e mais do que nunca me senti incapaz de prosseguir. Não o abandonaria, claro que não, mas se continuasse regredindo, acabaria tendo de ficar de vez ali.


Ryoga abriu a porta do cômodo, mas não entrou. Percebeu meu estado, mas não deixou de sorrir. Completamente irritante. E se antes eu tinha vontade de destruir tudo o que me rodeava, ela se concentrou naquele homem idiota que me deu os motivos para tal. Me levantei e segui o caminho que me levaria a ele com pressa, as mãos em punhos e o pouco de calma que ainda tinha em mim me fez parar a sua frente, sem manifestar metade do que minha mente retratava como prêmio pela indiferença dele perante o único motivo por qual eu todos os dias lutava. Sua mão pousou em meu ombro. Seus olhos perseguiram os meus. Sua calma se tornou palpável e por um instante pude lembrar o quanto ele já havia feito por nós.


― Pra me olhar desse jeito só pode ter entendido errado. ― comentou vagamente, soltando um suspiro e deixando alguns tapinhas no ombro. ― Tsuzuku, o que tem a dizer sobre o que viu?


― O que acha que eu tenho a dizer, Ryoga?! Koichi está pior do que antes e você ainda me vem perguntar isso! ― gritei, afastando seu toque e em seguida agarrando o jaleco branco. ― Sabe melhor que ninguém o que tenho feito por ele, o que tenho passado por anos pra que um dia tirasse ele desse lugar e o quanto estou cansado. Não tem um segundo que não me preocupe com ele. Acho que não preciso dizer que ele não merece isso aqui, não é? Eu que te pergunto agora; o que tem a dizer sobre tudo isso?! O que mais você precisa pra terminar com o meu dia? Ele está morrendo! Eu estou morrendo! Se já não morto e ainda assim você sorri! Não consegue ver? Eu só queria levar ele comigo e ter uma vida normal...


 


― E pode fazer isso. ― disse ele, agarrando, dessa vez, os dois ombros. Aquelas palavras me fizeram parar. Não só de falar. Da mesma fora súbita que as batidas em meu peito se aceleraram, se acalmaram. Permaneci naquela posição. Tentando absorver aquela frase pequena e ao mesmo tempo tentei me convencer de que Ryoga estivesse brincando. Pensei ser loucura dele no mesmo instante em que prosseguiu com a fala. ― Ele não está curado, eu sei, afinal, nao existe cura pra isso, mas ele pode ir. ― deu um passo para trás e iniciou uma caminhada lenta pra longe dali. Sem perceber, já tinha fechado a porta e ia junto com ele para o enorme jardim. Ele sabia que me devia uma explicação lógica e mesmo assim  permaneceu calado até chegarmos em um banco de praça, de onde via claramente o alvo do assunto que tratávamos anteriormente. E que, querendo ele ou não, continuaríamos.


 


x x x


 


 


― Lembra da última vez que o viu na área de convívio? ― perguntou depois de muito enrolar, fitando o mais novo sem cansar. Rindo baixo. Talvez aquele fosse o único momento de minha vida onde não quis dar atenção a meu irmão e, devido a demora dele, junto com a impaciência e ansiedade, me fixei em seu rosto, tentando achar alguma pista, qualquer sinal que evidenciasse suas intenções na frase que deixou no ar anteriormente. Mesmo sabendo que não encontraria nada. ― Tsuzuku...?


 


― Eu lembro. O que tem ela? ― atendi e só percebi a rispidez e pressa nas palavras depois de já ditas. Ele riu. Com certeza ele me lembraria daquele episódio e meu desagrado, por mais que visível, pareceu inexistente.


― Koichi estava agressivo demais naquela tarde e a garota com quem ele brigou ficou dias sem sair, por medo. E você pode não acreditar, mas isso acontecia todos os dias, com pessoas diferentes, por motivos bobos,...


― Se continuar com essa palhaçada eu juro que acabo com a sua raça. ― o interrompi e cruzei os braços. Era mesmo capaz de cumprir com minha palavra e partir para outra. Já não suportava mais o suspense. Não suportava mais ouvir o que não precisava. Mais uma vez ele suspirou e só então me encarou, apoiando os braços no recosto do banco. ― O que quis dizer com aquilo?


 


― Senta aí.


― Ryoga!


― Por tudo que há de mais sagrado, Tsuzuku, se acalme. ― pediu com a voz mansa. Sem sorrisos. Sem expressões. Respirei fundo e me sentei ao seu lado, sem querer, esbarrando no cenário onde se encontrava Koichi e mais duas garotas, fechando os olhos. ― Koichi, apesar de agressivo, tomava todos os remédios receitados, cumpria com os horários e tudo mais. Não pude aumentar as doses porque a vez que tentei ele dormiu por dois dias consecutivos. Ele ficou isolado por dois meses e mesmo assim procurou encrenca e deu trabalho aos funcionários, mas não chegou a causar estragos grandes. Ainda delirava durante a noite e tinha drásticas mudanças de temperamento durante a madrugada. Até a última vez que você veio...


Uma pausa aconteceu. Mas, dessa vez, não fez mal. Boa parte daquelas informações já eram conhecidas por mim e as que não, começavam a se encaixar às imagens. De fato, lembro mesmo de ter visto nos relatórios, escritos à lápis por ele, "péssimo dia" e coisas desse tipo, mas no dia do aniversário de Koichi não havia comentário ou nota nenhuma.


― Quando você trouxe Meto pra cá as coisas começaram a melhorar, digamos assim. ― murmurou, como se contasse um segredo.  ― No primeiro dia eu achei que seria como em todos os outros. Acordar, alimentar, "passear" e sedar... ― mais uma pausa. Curta. ― Pode me contar o que aconteceu?


― Koichi não desgrudou de Meto. ― respondi pronta e automaticamente. Talvez a euforia tivesse me impedido de interpretar o que assisti nos vídeos. Mas aos poucos as coisas começaram as fazer um pouco mais de sentido. Ryoga pediu, num fio de voz, pra que eu continuasse. ― Ele e Meto conversaram bastante e Koichi se ocupou por dias não só com isso, mas com a aparência dele...


― Exato.


― Quer dizer então que o que ele precisava era de algo pra cuidar?


 ― Errado... ― ele riu e continuou. ― Meto tem uma história bem chocante não é?


― Vai começar de novo... ― resmunguei, revirando os olhos.


― Ok... Koichi, de fato, se ocupou bastante com Meto. Entre eles não faltou assunto e como pode ter notado, desde aquele dia, Koichi praticamente não fechou a boca e é impossível esquecer que, antes disso, seu irmão só o fazia para discutir com as pessoas daqui. Esse foi o nosso primeiro avanço. Antes que discorde, não era apenas com Meto que ele interagia. Infelizmente não temos câmeras aqui, mas quiser podemos falar depois com um dos supervisores.


― Não precisa, confio em você.


― Ótimo. Ah, isso me lembrou uma coisa. Não me viu entrar no quarto dele, não é?


― Não. ― neguei, sabendo onde ele queria chegar. ― Algum funcionário deve ter nos ouvido.


― Uma das regras da casa que mais cobro de todos é, em hipótese alguma, ouvir as minhas conversas. Não há câmeras no meu escritório; portas e paredes à prova de som. E você confia em mim.  ― apontou e então eu ri. ― Foi Meto quem contou. Só não me pergunte como. Mia, o supervisor que mais trata de Koichi por conta da preferência do mesmo, me contou que quando ele vem pra cá e não se mistura aos outros, conta com detalhes o que você está fazendo. Toda a sua rotina ele diz conhecer.


― Impossível. Nem mesmo você conhece...


― Hoje, quando você acordou, exatamente às sete horas e trinta e cinco, regou a roseira dele. O café da manhã foi pizza da noite anterior por que estava sem tempo para preparar algo melhor e não queria se atrasar. No metrô uma jovem ocidental pediu uma informação, mas você não soube dar. Quando chegou na esquina tropeçou e quase caiu... Se nada disso tiver acontecido, desconsidere.


― Como...?


― Eu disse pra não perguntar, droga.


― Ryoga, você não pode estar tentando dizer que Meto contou isso a ele.
― Essa foi a alegação do Koi pro Mia, que a pedido meu tem o observado de perto. Mas isso não é ruim. Está longe de ser. Enfim... Koichi, uma semana depois do aniversário dele, parou de tomar as medicações. Somente as vitaminas foram salvas. Seus delírios cessaram. Sua alimentação melhorou consideravelmente. Seu comportamento quando perto das pessoas simplesmente mudou da água pro vinho. E levando em conta que qualquer proximidade rendia em dor de cabeça aos encarregados dessa parte, seu irmão melhorou sim. ― ele apontou em direção ao garoto de cabelos rosados mais a frente, a qual havia me esquecido por um tempo. Koichi agora arrastava consigo uma cadeira de rodas, onde estava Meto, um rapaz loiro caminhava com eles ao encontro de um homem deitado no gramado, na sombra de uma árvore de porte grande. Eles falavam uns com os outros e sorriam sem parar. ― Era esse o efeito que as medicações deveriam ter e mesmo quando ele ainda as consumia, tendo Meto por perto, nada de ruim acontecia. Consequentemente não errei.


 


― O que mais tem a dizer sobre isso?


― Koichi age como antigamente. Não estou me precipitando e você seria mais do que um idiota se não concordasse. Fiz um teste recentemente. Tirei Meto do quarto enquanto Koi dormia e voltamos àquele garoto que chegou aqui. E isso me fez chegar à conclusão de que tendo Meto consigo tudo continuaria como agora está. Não sei exatamente o porquê das mudanças terem acontecido, mesmo tendo estudado tanto para entender esse tipo de coisa, mas eu tenho certeza de que é isso. Nada mais. Ele pode ir com você. Pode ter uma vida normal. Basta que Meto também vá e faça o quer que tenha feito esse tempo todo.


 


x x x


 


 


Talvez minha confiança em Ryoga e a nossa amizade tenham se fortificado quando ele concluiu aqueles esclarecimentos. De alguma forma não vi porquê não acreditar, diferentemente das palavras presas aos papéis daqueles relatórios ou as gravações guardadas do dia a dia de meu irmão mais novo. Ele foi quem teve o cuidado de sanar boa parte das dúvidas que me incomodariam, cuidar, mesmo que a distância de todos os pormenores daquele garoto que era tão querido por ele quanto por mim. Ele conhecia muito bem toda a história e a narraria mesmo que já tivesse esquecido o próprio nome, disso tenho certeza. Ryoga não era somente um amigo de infância nela. Era também o jovem que se dispôs a estudar uma área totalmente distinta da que queria por saber que eu não teria condições de fazer. A perda de minha mãe foi um dos motivos para que eu tivesse de começar a trabalhar cedo demais e certamente, por ser o irmão mais velho e o único parente próximo a qual Koichi gostava, não era uma opção buscar outro caminho. Ele tinha à mim. Sempre teve. Sempre teria.


Com essa perda, abdiquei de tudo o que não tivesse relação a Koichi, não como um dever, mas sim porque eu sabia que ela seria o fim de qualquer chance de melhoras. Koichi sempre fora um garoto sensível demais, qualquer pequena decepção poderia desmontá-lo em pedaços e, é claro, sendo o meu bem mais precioso, em situação como essa não o deixaria desamparado. Trabalhei, vinte e quatro por vinte e quatro, sempre tendo ele a minha volta, não permitindo que nada que fizesse passasse despercebido até certo período. Quando ele completou dez anos, me obriguei a aceitar que ele não era como os outros garotos, ainda que de longe parecesse; que precisava de cuidados especiais e que os meus eram insuficientes. Confiei, desconfiando, a vida de meu irmão mais novo a uma casa como aquela e às escondidas, Ryoga completou a faculdade de psiquiatria, erguendo secretamente sua clínica sem propósitos maiores que tratar de Koichi, sem se preocupar se aquele caminho traria ou não benefícios a ele, que sempre sonhou ser um compositor conhecido. Mais dois anos se passaram até que fosse reconhecido como um bom psiquiatra e só aí ele me contou tudo, pedindo então a guarda de Koichi, propondo o tratamento totalmente gratuito.


Sem nem pensar neguei o acordo, mas confesso que me senti aliviado por deixar Koichi nas mãos de quem já o conhecia. Entretanto, Ryoga não aceitou também qualquer agradecimento por tudo isso, e o mínimo que poderia fazer era pagar por seu trabalho, sabendo que de qualquer forma seria o melhor pro Koi. E era por esse motivo que me encontrava mais distante de Koichi; que trabalhava o dobro e tentava me convencer todos os dias de que, com Ryoga, meu irmão estaria seguro de qualquer mal... Enfim...


 


Hoje aqui estamos e devo tudo isso a ele.



Assim que ele terminou, voltamos ao escritório, acertamos a "alta" de Koichi e conversamos um pouco mais, sobre assuntos aleatórios e alguns pontos importantes referentes a Meto e sua história muito bem trabalhada, a ponto de parecer real. Com tudo pronto, fomos até o tão conhecido quarto juntos e pela pequena janela retangular da porta observávamos o garoto de cabelos rosados a conversar com sua única companhia daquele momento, debruçados no batente da janela aberta, observando o dia ensolarado no lado de fora.


 


Sim, me desesperei só de imaginar ter causado a ele um mal imensurável, com algo que a meu ver, não seria capaz. Porque de uma forma ou de outra, a princípio, eu tive medo de nunca poder vê-lo bem. Mas depois de tudo, percebi que era assim que ele estava.


Koichi acariciava a face da marionete com ternura, como se se tratasse de algo mais frágil que ele, algo especial e de grande valor. Entendi por fim que não se tratava simplesmente de uma marionete qualquer a qual ele guardava apreço, ou uma simples peça em tamanho real, com a aparência de uma pessoa, que ele cuidava com carinho.


Meto era o menino de treze anos de idade que Koichi, mesmo sem ter dito em palavras, amava de todas as formas possíveis. O melhor de todos os presentes que fui capaz de escolher a ele. O remédio para todas as suas feridas abertas e consequentemente as minhas. Meto era, literalmente, a cura.



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Autor(a): ovnyor

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